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RELAÇÃO ENTRE AS INFORMAÇÕES SOBRE PORÇÃO, MEDIDA CASEIRA E PRESENÇA DE GORDURA TRANS EM

No documento Anais do CONBRAN 2012 - Alimentação Coletiva (páginas 178-182)

RÓTULOS DE ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS

MACHADO, P.P1,2; KRAEMER, M.V.S.2; KLIEMANN, N.2; GONZALEZ-

CHICA, D.A.2; PROENÇA, R.P.C.2

1Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário, Trindade,

Florianópolis, Santa Catarina. E-mail: priscilamachadop@hotmail.com

2Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina

Resumo

A Organização Mundial da Saúde recomenda a eliminação do uso da gordura trans industrial nos alimentos. Apesar disso, a resolução brasileira nº360/2003 considera como “zero trans” os alimentos com teor de gordura trans ≤0,2g na porção. Já a resolução nº359/2003, que define as porções recomendadas, permite que sejam declaradas porções diferentes, bem como medidas caseiras fracionadas. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre a porção, a medida caseira e a presença de gordura trans em alimentos industrializados. Tratou-se de um estudo transversal que avaliou todos os alimentos industrializados disponíveis para venda em um supermercado de Florianópolis- SC. Foram coletadas informações nos rótulos dos alimentos, sendo a presença de gordura trans determinada pela lista de ingredientes. Estimou-se a prevalência de falsos negativos, considerando os produtos que na informação nutricional reportaram não ter gordura trans, mas que apresentaram este componente na lista de ingredientes. As análises foram realizadas no programa STATA 11.0, sendo analisados 1.889 alimentos. Encontrou-se que os alimentos com gordura trans, assim como os falsos negativos, apresentaram maior percentual de alimentos com medida caseira fracionada, principalmente entre alimentos com porção menor ou igual à porção recomendada. Estes resultados indicam a necessidade de revisão da legislação referente à porção de referência e à informação de medida caseira, tendo em vista a importância desse dado para o entendimento da porção e consequente controle do consumo de gordura trans.

Palavras-chave: Ácidos graxos trans; Rotulagem Nutricional; Informação nutricional; Alimentos industrializados.

Introdução

Nas últimas décadas ocorreram mudanças no padrão alimentar e no estilo de vida da população mundial, com destaque para o aumento no consumo de alimentos industrializados ricos em gordura trans (IBGE, 2010; WHO, 2004; LEVY-COSTA et al., 2005). Entretanto, o consumo desta gordura está associado ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis e outras enfermidades (MOZAFFARIAN et al., 2009; WHO, 2004). Considerando tais questões, a Organização Mundial da Saúde recomenda a eliminação do consumo de gordura trans industrial (WHO, 2004). Apesar disso, a legislação brasileira de rotulagem nutricional, a Resolução n◦360/2003, prevê que os

alimentos industrializados que apresentarem teor de gorduras trans menor ou igual a 0,2g na porção podem ser considerados e divulgados como “zero trans”, pois este valor é descrito como não significativo (BRASIL, 2003a).

O tamanho da porção recomendada em gramas (g) para cada alimento industrializado é regulamentado pela RDC nº 359/2003, que permite uma variabilidade de 30% para mais ou para menos deste valor recomendado. Esta resolução também exige a informação sobre a medida caseira correspondente à porção, com o intuito de promover o

entendimento das informações presentes na rotulagem nutricional. Porém, esta legislação permite a disponibilização de medidas caseiras expressas em fração e deixa sob a responsabilidade dos fabricantes decidirem qual medida caseira é a mais apropriada para cada alimento industrializado (BRASIL, 2003b).

Este estudo está inserido na linha de pesquisa Qualidade na produção de refeições, na temática Ferramentas de qualidade na produção de refeições, desenvolvidas pelo Núcleo de Pesquisa em Nutrição em Produção de Refeições – NUPPRE-UFSC, onde já foram gerados estudos sobre informação alimentar e nutricional da gordura trans em rótulos de produtos alimentícios industrializados (KLIEMANN et al., 2010, KRAEMER et al., 2011, SILVEIRA, 2011, KLIEMANN, 2012, MACHADO et al., 2012, SILVEIRA et al.,2012).

Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre as informações sobre porção, medida caseira e presença de gordura trans declaradas em rótulos dos alimentos industrializados.

Metodologia

Tratou-se de um estudo do tipo transversal. A coleta de dados ocorreu na forma de censo, em maio de 2010. Foram analisados os rótulos de todos os alimentos industrializados com gordura adicionada à sua composição, disponíveis à venda em um grande supermercado de Florianópolis-SC, Brasil. As informações coletada foram referentes ao produto, ao peso total da embalagem, às informações nutricionais e à lista de ingredientes.

O tamanho da porção (g ou ml) declarada nos alimentos industrializados foi categorizado em 5 grupos (<70%; 70-99%; 100%; 101-130%; >130%) de acordo com a sua adequação ao tamanho da porção recomendada pela RDC n°359/2003, considerando a variabilidade permitida de ±30%. Já a informação sobre a medida caseira foi categorizada conforme a presença ou não de fracionamento, por exemplo, ½ hambúrguer é uma medida fracionada e 2 unidades uma medida não fracionada.A presença de gordura trans foi determinada pela citação de componente-fonte com gordura trans na lista de ingredientes. Ainda, foi estimada a prevalência de falsos negativos para a ausência de gordura trans, identificando aqueles produtos que na informação nutricional reportaram não ter gordura trans, mas que apresentaram este componente na lista de ingredientes.

Para a análise da associação entre porção, medida caseira e presença de gordura trans foram estimadas as prevalências e aplicado o teste Qui-quadrado de heterogeneidade com correção de Yates, considerando um valor-p <0,05 como indicativo de significância estatística. A análise dos dados foi realizada no programa estatístico Stata versão 11.0 (StataCorp, College Station, TX, USA).

Resultados e Discussão

Analisou-se 1.889 alimentos industrializados, sendo que metade destes apresentou gordura trans na lista de ingredientes e 33% eram falsos negativos, ou seja, produtos que na informação nutricional declararam não ter gordura trans, mas que apresentavam componente-fonte na lista de ingredientes. Sugere-se que isso pode comprometer os princípios da rotulagem em relação à veiculação de informações que possam induzir o consumidor a equívocos frente à composição do alimento (BRASIL, 2003a; BRASIL, 2003b).

No presente estudo, também se observou que tanto os alimentos com gordura trans na lista de ingredientes quanto os falsos negativos apresentaram a medida caseira mais fracionada (p=0.001). Já entre os alimentos com gordura trans na informação nutricional não houve diferença (p=0.8). Observou-se, ainda, que tanto entre os alimentos com gordura trans na lista de ingredientes quanto entre os falsos negativos, o fracionamento foi mais prevalente naqueles alimentos com menor tamanho da porção (adequação < 70%), seguido daqueles seguiam a porção recomendada (adequação 100%) (p<0.001).

Supõe-se, portanto, que a declaração de porções menores que as recomendadas pode estar sendo utilizada para não demonstrar a presença de gordura trans na informação nutricional, mesmo que para isso seja necessário apresentar medidas caseiras com frações poucos aplicáveis. Um exemplo disto seria um biscoito com porção de 25g, medida caseira de ½ biscoito, com zero grama de gordura trans na informação nutricional, porém com gordura parcialmente hidrogenada na lista de ingredientes. Neste exemplo, além de o alimento não seguir a porção de 30 gramas, recomendada pela legislação, apresenta uma medida caseira pouco aplicável devido a seu fracionamento, como consequência não apresenta gordura trans na informação nutricional, apesar de conter componente fonte na lista de ingredientes. Desta forma, o consumidor pode ter dificuldade em controlar o consumo de gordura trans, tanto pela não especificação deste item na informação nutricional, quanto pela forma pela qual é apresentada a medida caseira nestes alimentos.

Além disso, a partir deste estudo é possível sugerir que inclusive o tamanho da porção recomendada pela legislação pode ser insuficiente para demonstrar a presença de gordura trans nos alimentos industrializados. Assim sendo, um indivíduo, sem saber, pode estar ingerindo quantidades significativas de gordura trans ao consumir mais de uma porção de um produto classificado como falso negativo (SCHEEDER, 2007). De acordo com Garsetti e colaboradores (2007), apesar de a informação nutricional por porção ser informativa em função dos alimentos serem consumidos em variadas porções, a informação nutricional por 100 gramas poderia informar melhor sobre a quantidade dos nutrientes presentes nos alimentos.

Conclusões

O elevado percentual de falsos negativos encontrados neste estudo evidenciou que considerar somente a informação nutricional para determinar o conteúdo de gordura trans dos produtos alimentícios pode ser pouco confiável, sendo necessário recorrer sempre à lista de ingredientes e a outras informações da rotulagem para ter uma avaliação mais apropriada sobre os produtos. Há a necessidade de revisão da legislação referente à informação nutricional, tanto em relação ao tamanho da porção de referência como ao modo de apresentação da medida caseira, tendo em vista a importância desse dado para o entendimento da porção e consequentemente controle do consumo de gordura trans. Sugere-se também serem necessários mais estudos que avaliem a melhor forma de apresentar a informação nutricional, bem como se a porção e a medida caseira sozinhas são suficientes para apresentar a quantidade de nutrientes presentes no alimento.

Referências

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DIAGNÓSTICO HIGIÊNICO-SANITÁRIO DAS CANTINAS DE UMA

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