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2. RELAÇÃO, CONDIÇÃO E OPÇÃO DE ANTEU

2.1. A Relação de Anteu

2.1.6. Relação com o pensar filosófico

Chegados a este ponto, já muitos parâmetros do pensar torguiano foram aflorados. Vamos, no entanto, situá-lo um pouco mais, mantendo as limitações que logo no início do capítulo foram reconhecidas.

Diz Torga no terceiro dia d' A Criação do Mundo que a solidão o fizera

infeliz e anarquista319. Independentemente do alcance e da justeza dessa

autocaracterização, o conceito de anarquista tem implicações pragmáticas de ordem ético-política que, no mais profundo, assentam em concepções antropológicas e filosóficas.

315

GONÇALVES –Ser e Ler Torga, 73.

316 Câmara Ardente, 50-51. 317 Diário III, 161. 318 Diário III, 162. 319

Na segunda edição do terceiro dia d' A Criação do Mundo aparece em forma de desabafo a referência à falta de carinho pela morte prematura da mãe e a consequente tendência anarquista. Mas a edição compacta segue alterações várias até ao final da quarta edição e essa referência mais pessoal é retirada, sendo em várias passagens o texto bastante modificado.

A análise deste enquadramento requer um cuidado especial pelas implicações que terá no desenrolar do corpo do trabalho; mas merece também desde já alguns reparos de situação e até de limitação. Primeiro, surge a dificuldade de distinguir opiniões profundamente fundamentadas de outras que são meros chavões que, se ditos a propósito de pequenas passagens, poderiam ter algum sentido, mas ditos sobre o todo da obra não o têm. Segundo, aparecem opiniões destas não fundadas em profundidade que

sofrem de uma espécie de visão apologética320 que não sobrevive sem uma

denegrição de oposições contrárias, pelo menos na aparência. Terceiro, Torga

aparece como alérgico a citações321 e nesta faceta poderá estar mais a

vontade de expressar o que o toca ou lhe é significativo do que a intenção de encobrir fontes ou o simples orgulho cego de julgar só existir o seu umbigo. Finalmente, a dificuldade em enquadrar, e muito mais em sistematizar o pensamento de Torga, pode explicar alguma ligeireza na apreciação ou motivar até um passar ao lado da questão. Mas não justifica tudo, porque também não se poderia exigir de um poeta que antes ou depois de ser poeta formulasse uma teoria ou se sujeitasse a um esquema conceptual predeterminado. Diz Fernão de Magalhães Gonçalves que é inútil procurar na obra de Torga jogos de um sistema ético ou filosófico porque "a prática precede a moral e nenhuma experiência está submetida às normas do pensamento"322; e Tarcício Deretti

diz que em Torga há um filosofar desconexo e assistemático323. Mas, para

além de outros comentários possíveis324, o primeiro continua logo dizendo que Torga apresenta uma filosofia imanentista quanto a valores, que defende o carácter absoluto da ordem natural e que o espaço de experiência é tomado como sagrado; e o segundo continua também dizendo que Torga faz o elogio da vida em oposição ao inexplicável da morte, que analisa os dias de hoje

320

O artigo de Deretti – O Existencialismo de Miguel Torga em "Bichos"– tem um certo ar de apologia e denegrição e é muito superficial. Seria como se se afirmasse que Sartre não admitia a transcendência ou que fazia apologia do suicídio só por procurar fundamentar o ateísmo e fazer do homem 'paixão inútil', não sabendo que há transcendência humana em quem não age por má-fé e que o homem não pode fugir à liberdade para não ser mero objecto ou coisa.

321

Embora sem rigor matemático, tirando os provérbios, Torga não citará mais de meia dúzia de frases, e com duas características: não são frases textuais nem "sapienciais" ou "chavões" de grandes autores; e são aproveitadas para lhe servirem de pretexto de reflexão ou simples expressão já muito publicitada – não para fundamentarem por si mesmas uma posição ou opinião de Torga.

322

GONÇALVES –Ser e Ler Torga, 35.

323

DERETTI –O Existencialismo de Miguel Torga em “Bichos”, 247.

324 Que poderiam ter a ver com um naturalismo ou espontaneismo moral e uma irracionalidade axiológica difíceis de

vividos pela humanidade e que canta o efémero. Ora, para além das contradições imediatas dos dois, e até de falta de rigor no segundo caso, nem sequer a maior parte dos filósofos apresentam um sistema (isso terá terminado com o idealismo!) e Torga não destinou a literatura a uma reflexão, mas a uma expressão. E, por outro lado, caberá ao estudioso encontrar o nexo do conjunto da sua obra a partir do primeiro significado parcelar de cada uma das suas partes; e reconstruir depois uma significação mais enquadrada e até profunda através de uma justificação sistemática – que é sempre possível pela interpretação legítima de uma obra. O que o poeta diz di-lo com a força da emoção, o jeito da estética e a novidade do engenho. O que o poeta pensa está no que ele diz, no enquadramento do conjunto do dito e nas descobertas que o dito (poético ou não) permite fazer dentro e para além do explícito. A título de novo exemplo, vejamos dois comentários sobre a mesma obra – o

Diário, até ao volume XIV – cuja contradição é evidente: para Pierrette e

Gérard Chalendar325, o único nexo do Diário é o cronológico; para João Maia, os catorze volumes do Diário "formam uma obra coerente e de uma unidade feita de constância dos temas, do vigor da sensibilidade e da mente..."326.

E se o primeiro comentário é seguido da constatação de que a poesia e as reflexões filosóficas são mais do que as anotações, é fácil notar que para além da contradição entre dois autores há ainda algo de desconcertante quando um autor diz que o nexo é o das datas e a seguir diz que há poesia e reflexão filosófica. Como um diário não é um calendário de datas aleatórias, será o nexo significativo das reflexões e/ou dos poemas que interessará, mesmo que na sua base esteja um acontecimento ou data sem nexo com a anterior (pelo menos vista de longe e sem a cronologia pessoal, social ou histórica – que se torna inacessível ao fim de muitos anos e devido à quantida- de de referências!) mas que se tornou significativa no Diário pelo olhar perscru- tador ou pela sensibilidade do poeta.

Se o poeta não tem o poder de controlar os acontecimentos, tem o dom de lhes descobrir ou até dar um sentido; e sobre os acontecimentos a que a

325 CHALENDAR –Miguel Torga: o jogo estético do Diário, 25. 326

história já deu um significado cultural o poeta tem o dom de lhe dar uma actualização, uma nova perspectiva ou uma projecção futura.

Há ainda na perspectiva deste trabalho três outros reparos ou limitações que não poderiam ser omitidos. Primeiro, Torga será situado de um modo não exaustivo porque o âmbito de um enquadramento na filosofia europeia e nacional (?) seria de uma extensão e dificuldade difíceis de calcular à partida e talvez impossíveis de limitar na chegada. Basta pensarmos que toda a orientação cultural judaico-cristâ, a mitologia greco-romana, a história da ciência, o pensamento socialista e republicano, o existencialismo, etc., têm marcas na obra de Torga, para se aquilatar da grandeza de uma tarefa dessas. Segundo reparo, que é ainda mais limitação: a situação no pensamento nacional ainda teria de enfrentar a questão que mais ocupa os historiadores da filosofia em Portugal e até os que entram no número de filósofos portugueses, e que seria determinar até que ponto há ou não uma filosofia portuguesa. E, finalmente, por mais isenção que se possa ter ao estudar o enquadramento de um autor, não se foge a duas condicionantes: a perspectiva do próprio estudioso e a focagem desse enquadramento no sentido do tema de estudo que o ocupa e preocupa.

Feitos estes reparos, que já serviram também para indicar o sentido a tomar neste sub-capítulo, começaremos por resumir algumas reflexões de autores que exploram o tema; num segundo momento indicadas as linhas essenciais de preocupação da filosofia em Portugal; e num terceiro momento, serão apontadas algumas marcas justificáveis de influência da temática filosófica lusíada na obra de Torga e até do contributo do poeta para o aprofundamento de alguma dessa temática. Este terceiro momento receberá alguma resposta só no final de todo o trabalho de investigação sobre o autor – onde algo poderá ser dito com maior propriedade.

O que dizem do filosofar torguiano é contraditório, confuso, superficial, mera verdade à La Palice ou simplesmente incompleto. Queria situar-me pelo menos nesta última categoria e acrescentar alguns elementos. Como já comparámos, Tarcísio Deretti, no artigo já antes referido, procurou algumas relações entre a filosofia existencialista e o pensamento de Torga, que podem

depreender-se de Bichos. A afirmação inicial é a de que Torga apresenta um filosofar desconexo e assistemático327. Seguidamente, a opinião continua e caracteriza a temática torguiana como fazendo a apologia do efémero, do palpável, do pormenor, e considera que o autor privilegia a individualidade das personagens, o seu essimesmamento e a recusa de uma explicação exterior. Pior ainda: as personagens torguianas começariam no absoluto, regressariam à contingênia e acabariam na gratuitidade e Torga faria apologia da angústia, do absurdo e do desespero, em oposição à lógica, à paz e à esperança328. Dentro desta lógica: primeiro, os heróis de Torga só se empenhariam com o presente; segundo, Torga contribui não para o avanço mas para o retrocesso da filosofia porque passa do distinto para o obscuro e, por isso, o seu talento foi mal empregue329. Um exemplo destes justifica que se tenha iniciado o trabalho pela relação entre poesia e filosofia e alerta para a dificuldade e riscos constantes de interpretar correctamente uma obra literária. Se em filosofia é necessário distinguir atitude de dúvida filosófica e dúvida da atitude filosófica e se é justo distinguir também a procura da clareza e os resultados dessa procura, em literatura, e especialmente em poesia, é ainda mais justificável distinguir entre consciência e realidade e, sobretudo, entre consciência da realidade e realidade consciente. Ao poeta exige-se e reconhece-se a consciência da realidade. Só que essa consciência do poeta pode não conseguir tornar a realidade tão consciente, clara ou significativa como o filósofo gostaria. E na aparente turvação que o poeta produz pode ter de surgir o virar dos olhos para outro lado que tanto pode ser um caminho novo como um beco escuro. O poeta ajuda a tomar consciência da realidade. Qual a consciência que Torga tinha da realidade... mais adiante se procurará. Mas, sumariamente, dizer que a vida, o trabalho, o acontecimento só valiam pelo presente é demasiado simplista sobre qualquer filósofo, quanto mais sobre um poeta! De imediato, não será descabido afirmar que as personagens torguianas de Bichos e Novos Contos da Montanha e até de Pedras Lavradas são, no

327

DERETTI –O Existencialismo de Miguel Torga em "Bichos", 247.

328 Idem, 252. 329

mínimo, arquétipos da afirmação ou abdicação humanas, quer quando Torga antropomorfiza os bichos, quer quando bestializa o homem.

Em contrapartida, se bem que com possíveis exageros de quem era amigo e profundamente admirador, Fernão de Magalhães Gonçalves diz que "...a obra de Miguel Torga exprime algo mais que uma transposição estética da vida, desprovida de intenções. Nela se enquadra, de uma forma original, um sentido da existência e se dita uma série de atitudes em face dos valores humanos"330 – apesar de, como vimos, não lhe reconhecer um sistema de pensamento.

Num enquadramento de telurismo, que era o tema do artigo em causa, o autor orienta-se para a fundamentação no drama religioso de Miguel Torga e faz da revolta contra Deus a justificação da viragem para as forças naturais, para a mãe-terra, para a natureza renovável. Uma análise deste género permite também alguma reflexão que pode ser especificada em três pontos: primeiro, um sentido da existência é concomitante de 'atitudes face aos valores humanos' – ou simplesmente face aos valores, porque não há outros; segundo, torna-se necessário dar um sentido construtivo à revolta contra Deus, porque um homem não se pode medir essencialmente pela negação e tem antes de revelar-se ou pela alteração de sentido ou por substitutos válidos do que se nega; e, terceiro e complemento da referência anterior, a dimensão religiosa é intrínseca ao homem de modo que a atitude humana e a atitude religiosa, como a estética, hão-de estar interligadas, se não explícita, pelo menos implicitamente.

Se bem que, sobretudo para a orientação do homem, seja necessário saber o que se quer, quando se trata de conceptualizar ou de determinar o âmbito de uma imagem pode-se utilizar a perspectiva de negação: posso não ter ideia claro do que quero, mas sei o que não quero! No que depende do movimento ou da vontade, e como primeira expressão de autonomia, isto é suficiente. Mas, como já antes foi dito, a um homem maduro, responsável, e consciente exige-se mais. Portanto, Torga não é um céptico ou um menino que faz perrice. Diz Mário de Oliveira que o cepticismo torguiano é activo, é de

330

procura e que Torga não cai no nada sartreano porque admite que, mesmo que não encontre uma resposta, ela existe331. Para clarificar, entendamos por este nada o ser ou o en-soi, porque se há coisa que preocupa Torga é a consciência da realidade, o não-ser ou pour-soi. Mas essa resposta não se apresenta tão linear como a que ressaltaria de um ensaísta ou de um filósofo. E, por isso, será de todo injustificável ou ilógico procurar na fácil negação imediata a difícil afirmação mediata de algo em que se crê ou simplesmente se espera. Tomemos exemplos imediatos retirados do artigo que nos ocupa. Em 12 de

Julho de 1947332, dentro de um conjunto grande e quase consecutivo de

reflexões sobre a morte, escreve Torga: "institua-se uma ética com raízes no mesmo chão onde o homem caminha" – e não num post-mortem, tinha ele dito antes. Ora, sobre estas reflexões dá Mário Tavares de Oliveira a entender que isto não poderá ser o final da reflexão torguiana e que será antes um passo no processo da sua vida. Duas coisas convém referir: não se pode nem interessa retirar à frase de Torga o seu sentido radical e profundo; mas, por outro lado, também não podemos ser impedidos de pensar que Torga reconhecia que por cima do chão sob que se escondem as raízes há o tronco e que este tem resistência, mesmo sem as flores ou o fruto, mas que quando tem flores e/ou frutos apresenta outro encanto. Por isso, uma ética não poderá ser aferida pela negação de tudo o que se eleve da terra, de tudo o que supere o peso do corpo, de tudo o que não seja visivelmente consistente. E daí que Torga deixe em aberto o sentido do próprio caminhar e reconheça na vontade solidária um sentido construtivo. Certo é, necessariamente, que uma ética contra o homem não tem sentido. O que faltará determinar é o que seja ser homem. E sem pretender uma ortodoxia total em relação aos filósofos existencialistas e ateus ou de uma teologia antropológica, conviria chamar a atenção para o facto de autores como Kierkegaard, Nietzsche, Fuerbach e Sartre, por exemplo, terem sido muitas vezes truncados na extensão total do seu pensamento, ficando-se só pela dimensão de crítica necessária (embora nem sempre justa) a um sistema anterior, quer de pensamento, quer de moral; e a vertente de

331

OLIVEIRA –Miguel Torga: na rota de um peregrino I, 70 e 69, respectivamente.

332

Na 3ª edicção vem 12 de Junho, mas deve ser lapso de tipografia, porque Junho já tinha acabado, já havia a data de 06 de Junho, e, então aparecem repetidas datas de Junho ( 11, 12, 13 ), seguidas de 30 e 31 de Julho, 03 de Agosto, etc.

construção de uma afirmação humana passou muitas vezes despercebida ou relegada para segundo plano. Tomemos simplesmente Fuerbach e Nietzsche. Se o primeiro não deixa de alertar contra a alienação que uma religião não humana, isto é, de não relação entre os homens, pode produzir, não deixa também de referir que é natural ao homem relacionado fazer da relação o motor de perfeição e a oportunidade de realizar a perfeição idealizada necessariamente por cada homem. E em Nietzsche, se a negação de uma moral de proibições sem sentido e limitador da vida é objecto de recusa e imprecações, também não é menos certo que uma moral natural ou de vida não se reduz à satisfação instintiva imediata, nomeadamente quando daí possa resultar uma limitação ou até aniquilação da vida própria ou alheia; e se o governo pela vontade de poder é importante no homem, este poder não é o domínio da matéria nem terá sentido quando a própria vontade não existe para determinar uma moral mais humana ou globalizadora do homem – na moral judaico-cristã, platónica ou tradicional, esse poder era reduzido à dimensão boa do espírito e má do corpo.

O outro exemplo de que falávamos parte da afirmação que o mesmo autor faz logo de seguida dizendo que o humanismo de Torga não conduz a nenhuma clareira e que vencer a morte significará só dizer-lhe não, não a aceitar333. Para além de não ser de todo evidente a falta de sentido – pelo menos, há a opção pela vida e a procura de vencer a morte – a acção concreta de Torga prova fenomenicamente que se não há um sistema iluminado que o sossegue, há clareiras que se tornam mais ou menos claras ou escuras. De qualquer modo, não se pode imputar a quem tem uma luz e diz que ao redor está escuro mais cegueira do que a quem não acende luz nenhuma e, por isso, não dá conta do contraste ou de que à sua volta está tudo escuro. Torga procura acender sempre uma luz, embora se possa dizer que a apaga porque não ilumina até onde ele esperava. O que Torga não encontra e diz até que não quer porque não o satisfaz totalmente é uma luz alimentada por energias não humanas ou demasiado pesada que vergue o homem para o chão e o impeça de olhar em frente; e o que claramente recusa é a luz do poder ou da

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fama submissa. E se não quer uma candeia dessas para si, também considera que não é segura essa luz da candeia dos outros. Será este o sentido das palavras de Carlos Reis, a propósito de Orfeu Rebelde, citadas por Ribeiro da Silva: "a procura do paradigma poético corresponde de certo modo à dum paradigma existencial que a ânsia de absoluto vivida por Torga motiva incessantemente"334.

É por isso que o imediato do texto do poeta tem de referir-se ao mediato do contexto; e que se torna necessário num autor com o temperamento de Torga juntar os pedaços do positivo, que se encontram fragmentados pelo amontoado das expressões de negação. E quando esta tarefa for tentada não se pretende negar a sinceridade do que o autor escreveu: só se presente retirar o que nos pode servir de modelo positivo para o podermos contestar com justiça ou seguir com convicção, na nossa construção, afirmação e relação pessoais --porque é nisto que consiste um processo educativo335.

É no contexto da condição de poeta e de português que vive um tempo de regime político e que é influenciado por esse tempo. A luta contra a pobreza da aldeia, o modelo de tenacidade que herdou da família para combater a adversidade, são marcas psico-físicas que se reflectem nos processos mentais não só da criação artística mas também de concepção. Por isso, a crença na melhoria do homem é um dos esteios da sua esperança. E estará convencido até que não estará sozinho nessa crença: "os escritores portugueses... visionários que são, acreditam na melhoria constante do homem" – repete Miguel Torga palavras de 1949, numa entrevista concedida a Cremilda de Araújo Medina336. Será esta mesma razão que não permite a Torga deixar-se ficar na nostalgia do paraíso, como ficou Adão, apesar de remordido por dele ser expulso, e exigir uma luta; e também por isso Torga parece António Vieira quando invectiva Deus337, com o sentido de despertar a responsabilidade dos homens. A atitude de Torga não será a de uma invectiva retórica, mas de um desafio de oposição que, como foi dito antes, psicologicamente, poderá ter uma

334

SILVA –Miguel Torga: a fidelidade às origens, 328.

335

MAIA –Valores, Educação e Adolescência. Mais adiante a questão será retomada para se poder enquadrar a perspectiva sob a qual Torga será visto. Além disso, poderemos entender poética e sumariamente educar como dar a chave de um modelo eficaz de vida e fomentar o sonho de um modelo melhor.

336 MEDINA –Viagem à Literatura Portuguesa Contemporânea, 64. 337