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Repercussão jurisprudencial da teoria do domínio da vontade por meio de

Na jurisprudência nacional e internacional já existem diversos julgados aplicando o

domínio de organização, traduzindo a aceitação da teoria em diversos contextos.

139 ROXIN, Claus. Novos estudos de direito penal, p. 188-189. 140 ROXIN, Claus. Novos estudos de direito penal, p. 189.

Na Argentina, em 1985, foram julgados os comandantes das Juntas Militares que lideraram a ditatura militar no país. A Corte Federal condenou os militares de altas patentes, valendo-se das concepções de Roxin.

O penalista portenho Edgardo Alberto Donna descreve essa decisão, notadamente como os juízes subtraíram dos dispositivos legais vigentes a teoria do domínio de

organização:

También es ejemplificativo el caso de los comandantes de las juntas militares, juzgadas en 1985 por la Cámara Federal del Crimen: [...] En el juicio la Fiscalía afirmó que las órdenes prescribieron la realización de secuestros, la participación de tormentos y eliminación física de una vasta cantidad de personas definidas vagamente sobre la base de la genérica categoría de “subversivos”; órdenes éstas que también importaron la aceptación de que en el ámbito operativo en que debían ejecutarse habían de cometerse otros delitos como robos, abortos, violaciones y supresión del estado civil de menores. Por ello, los considero autores mediatos de los delitos cometidos por el personal bajo su mando, pues dominaron el hecho a través de un aparato organizado de poder que les permitió sobredeterminar la causalidad mediante la fungibilidad de los ejecutores, lo que aseguró la consumación del delito. Entendió así que la calidad de autor mediato derivaba tanto del texto del artículo 514 del Código de Justicia Militar como la última parte del artículo 45 del Código Penal, en cuanto extiende la pena prevista en el delito a quienes hubieran determinado a otros a cometerlo”141.

El tribunal entendió que resultaba aplicable al caso la norma contenida en el artículo 514 del Código de Justicia Militar, que dispone que: “Cuando se haya cometido delito por la ejecución de una orden del servicio, el superior la hubiere dado será el único responsable, sólo será considerado cómplice el inferior, cuando éste se hubiera excedido en el cumplimiento de dicha orden. A criterio de la Cámara Federal, este artículo prevé un supuesto de autoría mediata para quien ordena a su subordinado la comisión de un delito142.

Em 1988 o Supremo Tribunal Federal alemão mencionou a teoria, em caráter obiter

dictum, no julgamento do “Rei dos Gatos” ou “Rei dos Felinos”, mas somente em 1994 a

teoria reverberou de forma prática na justiça germânica. Nesse ano, foram julgados e condenados como autores mediatos os superiores hierárquicos da República Democrática Alemã (RDA) que deram instruções para o assassínio de todos que tentaram evadir-se da extinta Alemanha Oriental por meio do Muro de Berlim. Considerou-se que eram integrantes

141 DONNA, Edgardo Alberto. La autoría y la participación criminal, p. 38-39.

142 DONNA, Edgardo Alberto. La autoría y la participación criminal, p. 40. Porém, é importante rememorar que a Suprema Corte Argentina reformou parcialmente a decisão, subentendendo que a ação dos oficiais não poderia ser qualificada como autoria mediata. Donna conclui esclarecendo o resultado do recurso, porém salientou a correção da decisão de primeira instância: “Pero la Corte Suprema de Justicia no avaló este criterio, basándose en la doctrina científica en Derecho Comparado no ha aceptado que el criterio del dominio del hecho sea decisivo para distinguir el concepto de autor del de partícipe, y en que la corriente del ‘dominio del hecho’ (de Roxin) que reconoce que la inmediata realización del tipo implica la calidad de autor inmediato en coexistencia con la de autor mediato, cae en una inconsecuencia metodológica y en una ilegal extensión de autoría. […] Sin entrar en el análisis de esta sentencia, endentemos que la Cámara del Crimen Federal llevó razón en sostener que eran autores mediatos os comandantes que organizaron y ordenaron la represión y matanza de personas por fuera de la ley.” (DONNA, Edgardo Alberto. La autoría y la participación criminal, p. 41-43).

de uma maquinaria estruturada e preparada para matar e, assim, embora os executores imediatos dos disparos fatais tenham sido soldados, não tiveram dúvida a respeito da responsabilização dos comandantes143.

Alberto Kenya Fujimori, presidente do Peru de julho de 1990 a novembro de 2000, foi condenado pela Suprema Corte Peruana, que sentenciou o ex-chefe de estado como autor mediato de uma série de delitos cometidos serviço secreto Colina144. A decisão surpreendeu a doutrina penal por sua qualidade técnica e por considerar corretamente todos os estudos de Roxin, que declarou sua admiração pelos membros da corte:

Trata-se de julgamento de significado histórico. Afinal, raramente se chega à responsabilização penal de ex-chefe de Estado por fatos cometidos durante seu período de governo. Nos pouquíssimos casos em que isso ocorre, mais raro ainda é observar que o pano de fundo dos fatos foi levado em conta e avaliado juridicamente com o cuidado de uma monografia, e não se fez do caso – para usar uma expressão menos técnica – um “processo sucinto”145.

No Brasil, os primeiros julgados a fazerem menção ao domínio do fato, destacaram somente o domínio funcional do fato, nomeadamente nos crimes patrimoniais, reconhecendo que a distribuição de tarefas entre os agentes é suficiente para surgir a coautoria e afastar a mera participação, consoante já demonstrado acima.

Decerto, a teoria continuou sendo apreciada em vários julgados, inclusive no contexto da criminalidade econômica e empresarial, até que, finalmente, foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Penal n. 470, o célebre “Caso de Mensalão”, que será examinado no capítulo 6.

Portanto, a teoria nasceu das necessidades práticas de um notável julgamento e, posteriormente, foi granjeada com a recepção doutrinária e jurisprudencial, atingindo seu ápice no julgamento de Fujimori.

3.12 Compatibilidade estrutural da teoria do domínio do fato no ordenamento jurídico

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