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2.1 O PAPEL DO SISTEMA NO DIREITO

2.1.3 O Sistema Fechado e o Sistema Aberto

Uma providência organizacional do sistema na compreensão geral, e de conformidade com os fenômenos acontecendo fora dele, pode ser classificada sob dois modelos clássicos. Um reconhecidamente fechado, e daí a ideia de sistema fechado, e outro reconhecidamente aberto, e daí a ideia de sistema aberto. No primeiro caso o que se verifica é um mecanismo de autoconservação diante dos fenômenos ocorridos fora do sistema, e cuja organização vai obedecer aos processos das suas próprias convenções, não se admitindo com isto algo que o transcende, senão pela admissão do próprio sistema e mediante as regras postas por ele mesmo. Enquanto sistema fechado ele “não pode aceitar nenhum tipo de input de uma ordem que não esteja contida nele próprio”41. Neste caso a atitude do sistema é de forma mediata e indireta, com um programa previsível nas suas formulações convencionais, e onde sobressai uma característica na qual ele “tende para o estado de distribuição mais provável”, em que “o estado final é inequivocamente determinado pelas condições iniciais”42. Diferentemente, o

40 BRENANN, Richard. Gigantes da Física. op. cit., p. 34-35.

41 LUHMANN, Niklas. Introdução à Teoria dos Sistemas. op. cit., p. 62.

42 BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas - Fundamentos, Desenvolvimento e

sistema aberto vai estar sensível aos fenômenos fora dele, numa relação que seja possível intercambiar com as inovações acontecidas na exterioridade e inclusive com outros sistemas. Sob tal condição a atitude do sistema será receptiva e de forma imediata e direta, “na medida em que os estímulos provenientes do meio podem modificar a estrutura do sistema: uma mudança não prevista, no caso do biológico; uma comunicação surpreendente, no social”. Com isto as inovações ocorridas “devem levar à seleção de novas estruturas”43.

Ao estabelecermos um comparativo oportuno entre os dois modelos sistêmicos constatamos que o sistema fechado é de vocação em estabelecer limites e barreiras aos acontecimentos que se lhe rodeiam, assumindo um caráter ou um comportamento rígido quanto a uma possível assimilação das inovações, providência que acontece apenas após um processo de verificação mediante critérios a serem observado e impostos pelo próprio sistema. Não que ele seja refratário, totalmente hermético para um mundo que lhe rodeia e nunca sofrendo inovações. O que acontece é que as possíveis inovações haverão de obedecer a propriedades ou requisitos formais e rígidos, mas também a uma ordem ou sistema hierárquico44, e após uma verificação procedimental onde são observados mecanismos de sobrevivência do próprio sistema. Há nele uma seletividade. Pode-se dizer que o sistema fechado exerce uma convivência e uma existência concomitante com as circunstâncias que lhe rodeiam, porém sem se contaminar por elas, aceitando-as apenas após um procedimento de filtragem e naquilo que com ele é pertinente. Com isto ele demonstra que ele é cioso de si mesmo enquanto sistema, e pelos pontos valorativos que ele elege como relevante. O sistema fechado atua mediante um processo de autopreservação. Por isso, e como dissemos, o seu comportamento é seletivo. Ao se comportar desta maneira ele pede exclusividade do ponto de vista existencial diante do mundo fenomênico em geral. Como resultado, o que se verifica é uma providência já anteriormente lembrada e que está relacionada com as diferenças constatadas nos N sistemas, os quais poderão ser catalogados nas mais diversas formas de identificação pelos perfis que apresentam. Assim, cada ramo científico ou cada linha de pensamento filosófico irão apresentar sistemas próprios.

43 LUHMANN, Niklas. Introdução à Teoria dos Sistemas, op. cit., p. 63.

44 BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas - Fundamentos, Desenvolvimento e

Ao se pretender buscar qualquer relação que aconteça ente o sistema e o meio, nomeadamente o modelo fechado, dessume-se que este pode reagir de forma padronizada aos diferentes acontecimentos ou estímulos recebidos, elegendo formas homogêneas de reação, mas também apresentar reações diferentes diante de situações homogêneas mediante condições apenas internas (dele mesmo), e sem vinculação imediata com o meio45, o que demonstra o seu caráter de autonomia. Ademais disso, a compreensão das vigas básicas para uma sustentação ao modelo de sistema fechado, quando a teoria sistêmica apresenta o conceito de sistema diferenciando-o do meio, elege pontos fundamentais como “fechamento de operação, a recursividade, a autorreferência e a circularidade”. Com uma abordagem assim a Teoria dos Sistemas haveria de admitir “um sistema de auto-observação, recursivo, circular, autopoiético, dotado de uma dinâmica intelectual própria e fascinante, capaz de equiparar-se às abordagens problemáticas”46. Dessume-se, pois, da possibilidade conceitual não só de autonomia, mas também de encontrarmos no sistema fechado uma possibilidade conceitual de autosuficiência para a condução e o dirigismo das contingências e circunstâncias a serem equacionadas.

Já o sistema aberto comparece como paradoxal ao sistema fechado, visto que na sua organização ele não estabelece um limite às possíveis inovações automáticas e diretas que lhe digam respeito, embora possa comparecer com certa observância de critério. Com este comportamento ele “mantém-se em um contínuo fluxo de entrada e saída”, como comumente se verifica dos organismos vivos47. O sistema aberto não é cioso de exclusividade, visto que é sensível a um mundo que está em constante transformação, inclusive subsumindo-se às mudanças imediatas, e daí podendo ser surpreendido diante das inovações ocorridas.

Ao estabelecermos uma relação entre sistema e Direito, extrai-se que o Sistema Jurídico propende para o modelo fechado, ao estilo de Kelsen e de Bobbio. Isso se explica a partir da sua construção formal e que culmina pela sua dimensão, tanto estática como dinâmica, donde se verifica a sua conduta seletiva acerca do que é por ele eleito como verdade jurídica. Isto é sintomático quando se coloca em pauta o procedimento legislativo na construção legislativa por um lado - como é o modelo da Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 59 -, e de outro o cuidado no constitucionalismo universal - numa tendência generalizada - quanto ao controle de constitucionalidade, tanto com relação às decisões

45 LUHMANN, Niklas. Introdução à Teoria dos Sistemas, op. cit., p. 64. 46 Ibidem, p. 73-79.

47 BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas – Fundamentos, Desenvolvimento e

judiciais como com relação às decisões administrativas. Em ambos os casos (procedimento legislativo e controle de constitucionalidade judicial e administrativo) o sistema jurídico cuida da observância seletiva mediante critério formal e critério material, envolvendo tanto a elaboração das leis como também o cuidado com relação às antinomias normativas.