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O Sistema Jurídico como Norma Jurídica e como Proposição Jurídica Proposição

3.1 SISTEMA JURÍDICO E AUTONOMIA JURÍDICA OS ASPECTOS PONTUAIS DA

3.1.5 O Sistema Jurídico como Norma Jurídica e como Proposição Jurídica Proposição

O conceito de sistema no Direito é um conceito abrangente que pode ser aplicado tanto à ideia de ordenamento - ordenamento jurídico como conjunto de normas devidamente organizadas -, como também à ideia teórica de investigação e compreensão deste ordenamento que é a Ciência Jurídica. Assim, podemos reconhecer o Sistema Jurídico como um gênero, de cujo gênero destacam-se como espécie por um lado um Sistema Normativo, este que compreende as normas jurídicas, mas por outro também um Sistema Propositivo, este que compreende proposições jurídicas. Na compreensão sistêmica do Direito, estas duas naturezas não podem ser confundidas pelo papel diferenciado que desempenham cada uma delas na identificação do fenômeno jurídico. Um sistema normativo não é o mesmo que um sistema propositivo, mas ambos são compreensíveis de um ponto de vista sistêmico.

Registre-se que um sistema normativo que retrata o Direito entre as várias modalidades normativas como a moral, a religião, etc, tem a missão de retratar sob uma forma peculiar o alcance normativo dotado de uma significação jurídica. Por sua vez o sistema propositivo que procura retratar o Direito, entre as várias proposições assertivas, tem também o seu papel estabelecido de um alcance propositivo para uma significação jurídica. Assim, num caso é descortinar uma pertinência envolvendo a norma jurídica, e noutro caso é descortinar uma pertinência envolvendo a proposição jurídica, que como já frisamos não se confundem.

Estabelecer o reconhecimento do Direito quanto ao seu sistema normativo - com a ideia de ordenamento -, e quanto ao seu sistema propositivo - com a ideia de cognição deste ordenamento -, isto providencia a sua autonomia jurídica na medida em que o coloca como um ente próprio, como também o coloca no universo do conhecimento geral dotado de teoria própria diante dos demais entes. Ao fazermos este aparte entre sistema normativo e proposição isto é um indicativo de uma necessária distinção entre Direito e Ciência do Direito. Nesta diferenciação, na medida em que o Direito não comparece como ciência, a ele resta o comparecimento como objeto da Ciência Jurídica, esta que tem como tarefa o papel de descrevê-lo. Por isso a teoria jurídica toma o Direito como objeto e se restringe, repita-se, em descrevê-lo, e no papel bifurcado do sistema jurídico deparamos com disposição normativa por um lado, e com disposição proposicional (proposição jurídica) de outro. O sistema jurídico, enquanto um sistema de normas, deixa perceber a estrutura do ordenamento jurídico

onde o equacionamento das normas haverão de obedecer tanto a um funcionamento estático como a um funcionamento dinâmico, conforme comentamos acima, mas também culminará por fazê-lo através dos institutos e modelos jurídicos, juntamente com o papel teleológico que é reservado à norma jurídica.

No primeiro caso que é o sistema normativo ele identifica o ordenamento jurídico. Sempre que falamos em ordenamento este vocábulo sugere um derivado de um estado de “ordem”, e ordem na dimensão normativa tem duas funções básicas que é tanto a sua significação para uma providência de comando, de determinação, ou de mandamento, características próprias da norma jurídica, como também a sua significação para uma providência de organização. No ordenamento identificamos também um estado de organização, em que se providencia a colocação das coisas nos seus devidos lugares. Assim, no ordenamento jurídico é possível se reconhecer ambas as providências, visto que mesmo no segundo sentido não é salutar se admitir a disposição das normas fora de uma organização, visto que na dimensão do Direito Positivo é exatamente o que se constata tendo em vista que o processo racional nele providencia não só a colocação compartimentada das normas, mas também busca equacioná-las cada uma no seu devido lugar e com a devida função conforme comumente se verifica da sua disposição sistemática. Com isto o conceito de ordenamento nas normas forceja também aqui o conceito de sistema jurídico.

Se no primeiro caso - sistema normativo - com as normas jurídicas temos o próprio ordenamento jurídico, no segundo caso com as proposições jurídicas temos a teorização sobre este ordenamento com espaço à possibilidade da Ciência Jurídica. Compreender isto é antes de tudo compreender o mundo da linguagem, cuja construção se opera mediante juízos proposicionais que deixam perceber uma estrutura lógico-linguística. Várias são as formas de proposições que podem ser identificadas na linguagem, mas que podem ser reunidas em três funções básicas na sua configuração discursiva para um alcance formal. Assim, num caldeamento geral da linguagem, e segundo Norberto Bobbio, temos a função descritiva, a função expressiva e a função prescritiva, com uma correspondente linguagem científica, uma linguagem poética e uma linguagem normativa177. Com isto temos também proposição descritiva, proposição expressiva e proposição prescritiva.

No âmbito da dimensão jurídica envolvendo o sistema jurídico podemos afirmar da pertinência tanto da proposição prescritiva como também da proposição descritiva. Quando tratamos do sistema jurídico com atenção na norma jurídica - ela como proposição na

estrutura do ordenamento jurídico - estamos tratando de proposição prescritiva. Nesse contexto a norma jurídica enquanto proposição prescritiva vai estar conduzida por um princípio deontológico com as funções deônticas do obrigatório, do permitido e do proibido. Diferentemente quando tratamos do sistema jurídico com uma atenção teórica em construí-lo mediante conceitos jurídicos que são extraídos e deduzidos das normas jurídicas positivas, bem como providenciar a solução de problemas jurídicos - donde se percebe em ambas as situações uma tratativa de cognição teórica -, estamos tratando de proposição descritiva. Assim, a natureza da norma jurídica, na classificação que fizemos, deve ser reconhecida como de proposição prescritiva, enquanto que a natureza da ciência jurídica, na conformidade da mesma classificação, deve ser conhecida como de proposição descritiva, esta que relata e descreve proposição prescritiva. A este conceito geral devemos estender ainda mais o conceito para proposição prescritiva jurídica e para proposição descritiva jurídica. É que em ambas as situações a atuação do jurista é de trânsito na seara de uma organização que traduz para ambos os casos a existência de um sistema jurídico. Assim, em qualquer das formas de atuação o jurista age por um sistema jurídico, e daí a afirmação de juízos por proposições jurídicas.