• Nenhum resultado encontrado

Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

10. A Conferência de Cunha Leal na Sociedade de Geografia

Na sequência da revolta de 10 de Dezembro que contribuiu para a queda do governo nacionalista e para a posterior cisão deste partido, Cunha Leal apresentou na Sociedade de Geografia uma muito esperada e concorrida conferência. A sala estava repleta de republicanos ordeiros e de centenas de oficiais, desejosos de escutar uma mensagem de esperança para uma República descrente. Esta aparição do antigo ministro das finanças, ocorreu num ambiente ainda bastante tenso, a 17 de Dezembro, três dias após a queda do governo nacionalista, no mesmo dia da apresentação na Câmara dos Deputados do Grupo Parlamentar de Acção Republicana e na véspera da apresentação do XXXIX ministério presidido por Álvaro de Castro.

Cunha Leal, foi apresentado pelo seu antigo chefe de Governo, António Ginestal Machado, que o acompanhava na mesa, onde estavam outros companheiros desse executivo, Júlio Dantas e Óscar Carmona. O início da conferência foi atribulado uma vez que “a um canto da sala algumas dezenas de assistentes” recrutados na brasileira “ergueram gritos de hostilidade”, aos quais a maioria “reclamou ordem”. Cunha Leal não se intimidando bradou: “São assim tantas vezes as vozes da liberdade! A liberdade para alguns portugueses, consiste em abafar as vozes que querem falar livremente!”. Com a sala já mais calma pôde iniciar a sua conferência. Cunha Leal assentou a sua argumentação em três ideias centrais.

for ainda antes do Congresso, seja enviada ao Directório nota das Comissões nomeadas ou eleitas desse Distrito”. Carta enviada por António Alves de Oliveira Júnior, vogal do Directório do PRN, para Francisco Manuel Pereira Coelho, líder do PRN no Distrito de Beja, datada em Lisboa a 27-12-1923. Espólio Francisco Manuel Pereira Coelho – Coimbra (em posse do seu filho Francisco Pereira Coelho). Cf., O Jornal, nos últimos dias do mês de Dezembro de 1923; Distrito da Guarda, 6-1-1924, p. 2.

786 República, 25-12-1923, p. 1.

787 Cf., O Jornal, 24-12-1923, p. 2; idem, 26-12-1923, p. 2; O Figueirense, 30-12-1923, p. 1. 788

O Jornal, 18-1-1924, p. 4.

Cunha Leal depois de contextualizar a crise portuguesa no âmbito nacional e internacional, concluiu da necessidade de Portugal ter um governo forte e um Parlamento responsável que colocasse o país em «ordem». No entanto, a situação política portuguesa inviabilizava esse caminho, uma vez que até esse momento tinha sido inviável constituir dois partidos republicanos coesos e responsáveis que se revezassem no Poder. Aquilo que tinha sucedido no início da conferência era um exemplo claro da situação política portuguesa. Um grupo minoritário, radical, intolerante e por vezes violento e revolucionário inviabilizava constantemente a formação de uma corrente ordeira dentro do republicanismo. Cunha Leal lembrava o seguinte: “Parece, pois, ser desejo desses bons republicanos a existência apenas dum partido entalado entre os dois eufemismos de monárquicos e radicais... Oscilando, assim a República, entre a possibilidade de um desvio para a Monarquia e a de um radicalismo inconsciente que a tudo possa lavar”. No entanto, estes republicanos moderados sentiam que representavam a maioria da sociedade portuguesa conservadora e queriam participar na vida política, com um programa alternativo ao PRP e á reacção monárquica, mas eram constantemente afastados por meios «legais» ou revolucionários.

Perante este quadro político e perante um país com uma grave situação económica e financeira era necessário iniciar uma política de austeridade e de corte nas despesas públicas, que Cunha Leal tentou iniciar enquanto Ministro da Finanças. Porém, a situação política atrás referida inviabilizava qualquer acção reformadora do executivo ou do Parlamento. Perante a inacção dos governos e a irresponsabilidade do Parlamento Cunha Leal era levado a concluir que “a ditadura impõe-se, nesta hora, como uma necessidade inadiável”. Para salvar o país só restava o apoio “da única força organizada que existe entre nós – o Exército”. Estas afirmações levaram o público a saltar com vivas ao Exército e a Cunha Leal. Para estes republicanos ordeiros, parecia claro que a Ditadura, embora transitória para grande parte deles, era uma inevitabilidade e que só esta poderia conduzir o país no caminho do progresso e da ordem. Embora, Cunha Leal e outros liberais se contentassem com uma ditadura transitória, outros, como Óscar Carmona, haveriam de ajudar a construir uma Ditadura prolongada e consolidada em Portugal.

Mas a Conferência também serviu para criticar Álvaro de Castro e os seus amigos que acabavam de sair do PRN. Cunha Leal constatava que foram os “constitucionalistas que quiseram ver um ataque à Constituição no facto de um governo ter reprimido a desordem e mantido a ordem, armaram em paladino do legalismo o Sr. Álvaro de Castro que tinha estado a conspirar contra a constituição antes da chegada do Sr. Afonso Costa”790

. Raul Esteves também publicitou uma carta onde indirectamente envolvia Álvaro de Castro em actos revolucionários: “Cumpre-me, portanto, declarar que fui efectivamente solicitado n’estes últimos tempos para apoiar certas manifestações ou movimentos contra a Constituição, mas tais solicitações não provieram de nenhum dos membros do último governo”791.

Cunha Leal ao defender uma intervenção da única força disciplinada da Nação e a necessidade de uma solução transitória de Ditadura Militar para o País provocou inúmeras reacções adversas, como a de João de Sacadura Freire Cabral, que criticou

790 Cunha Leal, Diário de Lisboa, 20-12-1923, pp. 1-3. Veja-se também O Jornal, 24-12-1923, pp. 1-4;

Francisco Cunha Leal, Eu os políticos e a Nação, Lisboa, Imprensa de Portugal e Brasil, s.d., 1926, pp. 177-218.

Cunha Leal, por defender a Ditadura assente no exército792, ou a de Amâncio de Alpoim793.

Outline

Documentos relacionados