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Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

7. O ministério do Partido Republicano Nacionalista

O Presidente da República ficou com uma difícil resolução. O primeiro partido do regime, que possuía quase a maioria absoluta no Congresso, devido aos seus particularismos, não conseguiu formar governo pela segunda vez consecutivamente. A solução da crise governativa que durava há 16 dias não podia passar pelo PRP. Teixeira Gomes, no dia 14 de Novembro, depois de ouvir novamente os representantes dos diferentes partidos com presença no Congresso, decidiu entregar a formação do governo ao segundo partido do regime – o Partido Republicano Nacionalista625. Este partido já tinha assegurado na primeira reunião com o Chefe de Estado que estava preparado para assumir o executivo sem condições e mesmo numa situação minoritária. No entanto, a sua situação não era fácil, podendo, desta vez apresentar a condição da dissolução parlamentar a curto prazo626. Não possuía uma maioria no Congresso que lhe possibilitasse obter as autorizações parlamentares e contava com a hostilidade dos democráticos depois dos nacionalistas terem inviabilizado o «governo nacional» de Afonso Costa. Por outro lado, a formação de um governo monocolor do PRN contava com a oposição de Álvaro de Castro e de alguns dos seus amigos627. No entanto, os nacionalistas esperavam ter uma acção governativa que os catapultasse na opinião pública, surgindo como um partido de governo, capaz de distribuir favores pela província e de destronar o partido do regime, numas futuras eleições. Este governo nacionalista iria por à prova não só a capacidade do partido que o sustentava, como iria por à prova a “futura viabilidade da própria República”628

na construção de soluções governativas estáveis e credíveis. A recusa em participar no governo de Afonso Costa e a aceitação de formar governo em minoria, também pode ser vista como uma estratégia de afirmação, tendo por sustentação a conspiração revolucionária conservadora que alastrava na sociedade portuguesa. É sabido que os dirigentes máximos do PRN, como Álvaro de Castro, Cunha Leal e António Ginestal Machado mantinham contactos

assinou este manifesto, pois o mesmo estava em desacordo com a opinião que tinha manifestado na reunião do grupo parlamentar e da junta consultiva [A Tarde, 14-11-1923, p. 3]. Podemos encontrar este manifesto em outros jornais e arquivos: Pedro Tavares de Almeida, Espólio de António Ginestal

Machado, 1874-1940. Inventário, Biblioteca Nacional de Portugal/Assembleia da República, pp. 219-

224; O Figueirense, 15-10-1923, p. 2; O Torreense, 18-11-1923, p. 2; Gazeta de Viana, 22-11-1923, pp. 3-4.

625 Nota Oficiosa da Presidência da República: “Tendo-se declarado o Partido Nacionalista apto a assumir

o poder, o Sr. Presidente da República pediu aos representantes do mesmo partido para indicarem o nome que deve presidir ao novo Governo. Em virtude d’este convite, o Partido Nacionalista indicou para aquele fim o nome do Sr. Dr. Ginestal Machado, que foi aceite. O Sr. Dr. Ginestal Machado deve ainda esta noite ir ao Palácio de Belém a fim de ser convidado pelo Sr. Presidente da República a presidir ao novo governo”, Correio da Manhã, 15-11-1923, p. 1. Cf., A Tarde, 14-11-1923, p. 3.

626 Embora nacionalistas tivessem começado a pressionaram o Presidente da República para lhes dar a

dissolução antecipada do Congresso e a marcação de eleições, essa não era uma resolução fácil. Esta decisão não dependia unicamente do Presidente da República, mas também da aprovação pelo conselho parlamentar, onde os democráticos tinham maioria. Cf., Diário de Lisboa, 14-11-1923, p. 8.

627 Álvaro de Castro assumiu publicamente a sua posição: “Julgo impolítico que o PRN assuma sozinho o

poder, não tendo, como creio não tem a benévola espectativa da opinião pública e não poder contar, por parte do PRP, com um apoio parlamentar equivalente àquele que o partido nacionalista deu durante mais de um ano ao governo democrático do Sr. António Maria da Silva”. Na sua opinião, o PRN poderia constituir um ministério, mas desde que este representasse “uma conjunção de esforços, resultantes da união de homens de vários partidos políticos”. Ele poderia chefiar esse executivo, embora a pessoa que reunia melhores condições para formar um “governo forte” fosse Afonso Costa [A Tarde, 14-11-1923, p. 3].

frequentes com revolucionários, como Raul Esteves. Segundo o relato de Cunha Leal, António Ginestal Machado assegurou aos restantes membros do Directório do PRN que tinha sido contactado por “altas individualidades do exército”629

que o incentivaram a formar governo, pois uma parte das forças armadas estava do lado nacionalista. O PRN tinha a segurança de que se fosse derrubado no Parlamento e o Presidente da República não dissolvesse as Câmaras e marcasse novas eleições, o exército interviria para colocar as forças conservadoras no Poder, “desde que as Pastas do Exército e da Marinha viessem a ser preenchidas por pessoas indicadas por esses conjurados”630.

António Ginestal Machado foi chamado à Presidência da República pelas 10 horas da noite e foi formalmente convidado a constituir governo. Ainda na noite de 14 de Novembro começou os contactos e ao alvorecer do dia 15 já tinha o seu governo quase constituído631. Ainda antes da formação do governo foram enviadas cartas para os líderes regionais do PRN no sentido destes indicarem o nome dos correligionários que no seu entender deveriam exercer o cargo de governador civil632. Pelas 10 horas da manhã, do dia 15 de Novembro, reuniram-se no Palácio do Calhariz o grupo parlamentar e o Directório do PRN para analisarem os nomes escolhidos por António Ginestal Machado para fazerem parte do governo. Parece não ter havido muita discussão sobre a composição do executivo, embora tenha havido algumas mudanças de última hora. Júdice Biker transitou da pasta das Colónias para a Marinha e Vicente Ferreira transitou da pasta do Comércio para as Colónias633. Lelo Portela, que estava indicado para o ministério do Trabalho, não foi secundado, por até há hora de terminar a reunião não ter sido possível contactá-lo telefonicamente, por se encontrar fora de Lisboa. Sabe-se ainda que houve algumas recusas em participar no governo, nomeadamente Afonso de Melo Pinto Veloso634 e do tenente-coronel Raul Esteves, convidado para ministro da Guerra por António Ginestal Machado. Este militar declinou o convite, mas sugeriu que se convidasse o general Óscar Carmona, que teria a confiança de uma parte das forças armadas635. Carmona mostrou-se hesitante, tendo António Ginestal Machado necessidade de lhe dizer que a sua presença no governo era

629 Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 369. 630

Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, p. 369. Cf., António José Telo,

Decadência e Queda da I República Portuguesa, 1.º Volume, Lisboa, A Regra do Jogo, 1980, p. 261.

631 A Tarde, 15-11-1923, p. 1; Diário de Lisboa, 16-11-1923, p. 8. 632

“Podendo dar-se o caso do Partido ser chamado a governar dum momento para o outro, torna-se necessário que o Governo que se constitua faça desde logo, para seu prestígio e da República, a nomeação dos governadores civis de todos os distritos. Nestas condições, o Directório roga a V. Exa. o favor de lhe indicar com a maior brevidade possível, o nome do nosso correligionário que deve ser nomeado para exercer o cargo no distrito”. Carta enviada por Pedro Pita, secretário do Directório do PRN, para Francisco Manuel Pereira Coelho, líder do PRN no distrito de Beja, datada em Lisboa a 14-11-1923. Espólio Francisco Manuel Pereira Coelho – Coimbra (em posse do seu filho Francisco Pereira Coelho).

633 Vicente Ferreira transitou da pasta do Comércio para as Colónias, uma vez que poderia haver alguma

incompatibilidade com o lugar de engenheiro que ocupava na Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, cf., A Tarde, 15-11-1923, p. 1.

634 Cf., Notícias de Viseu, 28-1-1928, p. 4.

635 “Eu mesmo, e com muita honra, convidei-o [Raul Esteves] para ministro da Guerra. Não aceitou – e

foi, então, nomeado ministro da Guerra o ilustre promotor deste tribunal, sr. general Carmona”, António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 22-9-1925, p. 8. Raul Esteves disse que foi convidado para aceitar a pasta da Guerra, por António Ginestal Machado. No entanto, não aceitou. Posteriormente, numa reunião de oficiais foi indicado o nome do general Carmona. Cf., Diário de Lisboa, 2-9-1925, p. 8; António José Telo, Decadência e Queda da I República Portuguesa, 1.º Volume, Lisboa, A Regra do Jogo, 1980, pp. 261-262.

indispensável para evitar uma revolta militar636. O general acabou por aceitar, tendo colocado como única condição, “expurgar a política do exército”637

. Às 14 horas António Ginestal Machado dirigiu-se ao Palácio de Belém para dar a conhecer ao Chefe de Estado a composição do governo nacionalista e às 17 horas o novo executivo foi empossado por Teixeira Gomes. Durante a posse voltaram-se a viver alguns momentos de tensão, que demonstravam que a animosidade entre o PRN e o PRP tinha subido de tom. António Ginestal Machado fez o elogio dos seus “colaboradores, afirmando que o seu passado republicano, era a melhor garantia para poder dar ao país uma administração zelosa e honesta”. Para terminar afiançou que o governo “manterá a ordem, custe o que custar, e sem a menor hesitação”638

. Facto que mereceu um coro de “Vivas ao Partido Republicano Nacionalista”, ao qual outros assistentes responderam com “Vivas a Afonso Costa” e “abaixo os traidores”. Restabeleceu-se a ordem na sala apenas com o discurso do chefe do governo cessante, António Maria da Silva, que saudou o novo executivo639.

A mudança de última hora, de Júdice Bicker, da pasta das colónias para a pasta da Marinha, acentuou o afastamento de Álvaro de Castro do PRN, uma vez que tinha defendido a entrega da pasta das colónias àquele militar. Álvaro de Castro já se tinha mostrado indisponível para integrar o governo do PRN e depois deste incidente abandonou a liderança da bancada nacionalista na Câmara dos Deputados, tendo informado António Ginestal Machado da sua resolução640.

O governo nacionalista liderado por António Ginestal Machado reunia a elite e as várias sensibilidades políticas do partido. A composição do governo reflectia ainda os vínculos aos antigos partidos e o seu peso político: cinco ministros tinham militado no Partido Republicano Liberal, três ministros tinham integrado o Partido Republicano de Reconstituição Nacional, um ministro provinha do Partido Reformista/Federação Nacional Republicana e um ministro, o general Óscar Carmona, era independente. Ao

636 Cf., Leopoldo Nunes, A Ditadura Militar. (Dois anos de história política contemporânea), 2.ª edição,

Lisboa, 1928; idem, Carmona (Estudo Biográfico), Lisboa, 1942, pp. 67-74; António José Telo,

Decadência e Queda... op. cit., pp. 261-262.

637 António Ginestal Machado, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 13. 638 Diário de Lisboa, 15-11-1923, p. 16.

639 República, 16-11-1923, p. 1.

640 Veja-se a seguinte carta enviada por Álvaro Xavier de Castro, datada em Coimbra, em 17-11-1923,

Espólio António Ginestal Machado, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/742:

“Na noite de 14 do corrente fui ao Directório depois de V. Ex.a me ter manifestado o desejo de eu aparecer. No decorrer dos trabalhos de organização do Ministério, na qual só intervim por solicitação de V. Ex.ª tive ocasião de manifestar a minha discordância quanto à pessoa estão indicada para a pasta das Colónias. Fundamentei essa discordância em argumentos irrespondíveis. E tão fortes eles eram que foram aceites. Ficou estabelecido que iria para a pasta das colónias o Sr. Júdice Biker, com quem mantenho unicamente cordiais relações de amizade. No dia 15 de manhã pouco depois de ter cumprimentado V. Ex.ª falei com o Sr. Júdice Biker acerca das dificuldades da sua pasta. Fui para o meu escritório e grande foi a minha surpresa quando, pouco antes do acto de posse, alguém me comunicou que o Sr. J. Biker tinha sido retirado da pasta das Colónias depois de demarches de V. Ex.ª e determinadas pessoas. Não quis V. Ex.ª comunicar-me as razões de tão estranha e súbita modificação e apesar de a V. Ex.ª ter falado várias vezes depois da posse, não se dispôs V. Ex.ª dizer-me algumas palavras sobre tal assunto.

Assisti ao acto de posse, cumprindo aquilo a que me tinha obrigado e na segunda-feira irei à Câmara fazer a declaração de apoio em meu nome pessoal.

Desde segunda-feira deixo de desempenhar na Câmara as funções de líder conservando-me dentro do partido, mas inteiramente fora do escrutínio daquela e doutra qualquer função de Direcção.

V. Ex.ª providenciará para que alguém na Câmara dos Deputados assuma as funções de líder. Esta minha resolução é tão definitiva como a substituição do Sr. Júdice Biker na pasta das Colónias.

Terminando afirmando a V. Ex.ª que tenho a maior consideração pelo Sr. Vicente Ferreira, supondo-o inteiramente estranho às razões que determinaram a substituição do Sr. Júdice Biker [...]. Álvaro de Castro”.

nível profissional era notório a presença dos militares, uma vez que dos nove ministros, seis tinham seguido a carreira das armas, conforme se pode verificar no Quadro III. Ao nível da formação, a área militar continuava a ser maioritária, uma vez que cinco ministros tinham frequentado as escolas superiores militares. A média de idade dos ministros do governo nacionalista situava-se nos 46,3 anos, pelo que se encontrava dentro da média de idades dos ministros na I República. Já em relação ao perfil ocupacional e académico salientava-se uma maior presença de militares face à média da I República, ainda que os militares fossem o grupo dominante641. Apenas Manuel Soares de Melo e Simas, Pedro Góis Pita e António Óscar Fragoso Carmona não tinham experiencia governamental até aquele momento.

Quadro III - Governo do Partido Republicano Nacionalista

(15-11-1923 a 18-12-1923)

Ministério Nome Profissão Formação Idade Partidos

Presidência e Interior António Ginestal Machado Professor do Liceu Curso Superior de Letras 49 PRP; UR; PRL; PRN

Justiça Artur Alberto Camacho Lopes Cardoso Juiz Direito - 1907 (Universidade de Coimbra) 42 Monárquico; PRP; PRRN; PRN

Finanças Francisco Pinto da Cunha Leal

Engenheiro Engenheiro militar e engenheiro civil e de minas: Escola Politécnica e Escola do Exército 35 Partido Centrista Republicano; PNR; Partido Republicano Popular; Governamental; PRL; PRN; ULR Guerra António Óscar

Fragoso Carmona Oficial do Exército - General Escola do Exército (Cavalaria) 50 Independente

Marinha Joaquim Pedro Vieira Júdice Bicker Oficial da Marinha - capitão de fragata Escola da Marinha 56 PRL; PRN Negócios Estrangeiros

Júlio Dantas Professor do Conservatório Medicina pela Escola Médico- Cirúrgica de Lisboa 47 Partido Progressista; PRRN; PRN Comércio e Comunicações e interino do Trabalho

Pedro Góis Pita Advogado Direito

(Universidade de Coimbra) 32 PRP; PRRN; PRN Colónias António Vicente Ferreira Oficial do Exército - Coronel Engenheiro Civil e Minas da Escola do Exército 49 UR; PRL; PRN; Independente Instrução Pública Manuel Soares de Melo e Simas Oficial do Exército - Coronel Escola Militar (Artilharia) e Escola Politécnica de Lisboa 53 UR; Partido Reformista; Federação Nacional Republicana; PRN Agricultura Alexandre José

Botelho de Vasconcelos e Sá Oficial da armada (capitão de mar-e- guerra) e médico Medicina -Escola Médico-Cirúrgica do Porto 50 PRE; Partido Centrista Republicano; Partido Nacional Republicano; PRL; PRN; ULR

641 Pedro Tavares de Almeida; António Costa Pinto, “Os ministros portugueses, 1891-1999. Perfil e

carreira política” in Pedro Tavares de Almeida; António Costa Pinto; Nacy Bermeo (Org.), Quem

No dia 16 de Novembro, o Presidente do Ministério e Ministro do Interior, António Ginestal Machado, exonerou os governadores civis642. A nomeação dos novos governadores civis realizou-se através de uma delicada operação para não ferir as diversas sensibilidades políticas que compunham o Partido Republicano Nacionalista.

Quadro IV - Governadores Civis nomeados durante o governo do Partido Republicano Nacionalista

Distrito Nome Antigo

Partido

Profissão Data

nomeação

Data exoneração

Aveiro Júlio Augusto da Cruz Evolucionista Dr., Capitão 20-11-1923 09-08-1924

Beja Francisco Manuel Pereira

Coelho

Unionista Dr.,

Conservador do Registo Predial

20-11-1923 17-12-1923

Braga Artur Brandão Evolucionista Dr., Editor 20-11-1923 17-12-1923

Bragança Álvaro da Cunha Ferreira Leite Reconstituinte Dr., Médico 20-11-1923 17-12-1923

Castelo Branco

António Trindade Reconstituinte Dr., Professor do

Liceu

20-11-1923 26-12-1923

Coimbra Domingos António de Lara Evolucionista Dr., Médico 20-11-1923 09-08-1923

Évora Domingos Vítor Cordeiro

Rosado

Evolucionista Dr., Advogado 20-11-1923 09-08-1924

Faro João Mendes Cabeçadas Júnior Unionista Capitão-de-

fragata

20-11-1923 17-12-1923

Guarda Avelino Henriques da Costa

Cunhal

Unionista Dr., Advogado 20-11-1923 17-12-1923

Leiria José Pereira Barata Evolucionista Dr., Inspector

escolar de Ansião

20-11-1923 14-06-1924

Portalegre Luís Alves de Sousa Lemos Evolucionista 20-11-1923 20-09-1924

Porto Belchior de Figueiredo Unionista Director de

Finanças

20-11-1923 17-12-1923

Santarém Joaquim da Silva Pereira Unionista Dr., Professor de

Liceu

20-11-1923 17-12-1923

Viana do Castelo

António Carlos Ribeiro da Silva

Evolucionista Dr.,

Conservador do Registo Civil

20-11-1923 17-12-1923

Vila Real Henrique Ferreira Botelho Centrista Dr., Médico 20-11-1923 17-12-1923

Viseu Manuel Rebelo Moniz Partido

Nacional Republicano

Dr., Proprietário 20-11-1923 17-12-1923

Angra do Heroísmo

Sebastião Ávila de Vasconcelos Liberal Funcionário das

Alfândegas

20-11-1923 26-12-1923

Funchal Daniel Telo Simões Soares Reconstituinte General

reformado

20-11-1923 05-01-1924

Horta Manuel Francisco Neves Júnior Unionista Dr., guarda-mor

de saúde

20-11-1923 17-12-1923

Ponta Delgada

Francisco Luís Tavares Unionista Dr., conservador

do registo civil

20-11-1923 05-01-1924

Lisboa António Gonçalves Videira Sem filiação

partidária anterior

Advogado 16-11-1923 17-12-1923

Fontes: Espólio de António Ginestal Machado, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/41; Diário do

Governo, II Série, 23 de Novembro de 1923; 26 de Novembro de 1923; Albino Lapa, Governadores Civis de Portugal, Lisboa, 1962.

A nomeação das autoridades administrativas era tão importante e complexa que o Presidente do Ministério e Presidente do Directório do PRN, António Ginestal Machado, preocupou-se em escrever num documento pessoal a antiga proveniência política dos novos governadores civis que ia nomear. Assim os nomes indicados

representaram um equilíbrio entre as diversas forças políticas que integraram o PRN. Foram nomeados 7 evolucionistas, 7 unionistas, 3 reconstituintes, 1 centrista, 1 liberal, 1 elemento sem filiação partidária anterior, mas que era membro do PRN e 1 elemento que tinha pertencido ao Partido Nacional Republicano643 (ver Quadro IV).Não obstante, não foi fácil chegar a este equilíbrio. Dentro dos órgãos políticos do PRN houve discussões tumultuosas para a nomeação das autoridades administrativas, como por exemplo na escolha do governador civil de Lisboa644 e do governador civil do Porto. Os antigos evolucionistas e unionistas portuenses movimentaram-se para colocarem neste apetecível cargo um homem da sua confiança. A escolha do Directório do PRN recaiu em Belchior de Figueiredo, um antigo unionista, que tinha aderido ao Sidonismo, facto que levantou celeumas entre antigos evolucionistas e reconstituintes645. Em Braga havia dez candidatos para o lugar de governador civil e, para não desgostar a nenhum, nomeou-se o deputado Artur Brandão, ainda que esta decisão custasse perder um voto ao PRN na Câmara dos Deputados646. Já em Beja a nomeação foi mais pacífica, tendo o Directório do PRN telegrafado para a Comissão Distrital do PRN, no sentido desta indicar um nome para ser nomeado o governador civil de Beja. A Comissão Distrital do PRN reuniu-se e votou no seu presidente, o Dr. Francisco Manuel Pereira Coelho, antigo unionista, tendo o governo confirmado esta escolha647. Em Portalegre o processo de nomeação do Governador Civil ocorreu de forma semelhante a Beja648. Após estas nomeações, seguir-se-ia a nomeação dos administradores do concelho e regedores, que foram sendo substituídos até à queda do governo. Também aqui houve grupos que se sentiram injustiçados, em particular os antigos reconstituintes e machadistas, que acusavam o governo de só nomear velhos unionistas649.

Os novos representantes do poder central foram indicados pelas estruturas locais do PRN650 ou por indicação de alguns notáveis, que viviam em Lisboa, mas que

643

Espólio António Ginestal Machado - Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/41.

644 Para Lisboa foi nomeado António Gonçalves Videira. Cf., República, 17-11-1923, pp. 1-2; A Tarde,

22-11-1923, p. 2.

645

República, 20-11-1923, p. 1; idem, 20-11-1923, p. 1; idem, 21-11-1923, p. 1; A Tarde, 21-11-1923, p. 3.

646 A Tarde, 21-11-1923, p. 3; idem. 3-12-1923, p. 3.

647 António Ginestal Machado escreveu a Francisco Manuel Pereira Coelho, dando-lhe conta de já ter

lavrado o “decreto nomeando-o governador civil”. Tinha, no entanto um pedido a fazer-lhe: ”Tinha empenho, podendo ser, escolhendo para administrador de Almodôvar Sr. Louro Portela […], que é o portador desta. O Sr. Portela está disposto a filiar-se no partido”. Carta enviada por António Ginestal Machado para Francisco Manuel Pereira Coelho, datada em Lisboa a 22-11-1923. Espólio Francisco Manuel Pereira Coelho – Coimbra (em posse do seu filho Francisco Pereira Coelho). Cf., O Bejense, 22- 11-1923, p. 1.

648 Espólio António Ginestal Machado, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/1709.

649 Veja-se a II série do Diário do Governo desde 27-11-1923 a 15-12-1923. Cf., Diário de Lisboa, 20-11-

1923, p. 8. República, 20-11-1923, p. 1; idem, 25-11-1923, p. 1; idem, 5-12-1923, p. 1; idem, 5-12-1923, p. 2; A Tarde, 3-12-1923, p. 1.

650 Vejam-se a carta enviada pelo funcionário do Gabinete do Governador Civil do Distrito de Castelo

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