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Quadro VI Comissão Administrativa do PRN após o II Congresso

15. O Ministério José Domingos dos Santos

A formação do governo de José Domingues dos Santos afigurou-se bastante difícil devido à influência negativa dos membros da facção conservadora do PRP e à necessidade de conciliar a entrada de dois ministros accionistas, um seareiro e dois independentes956. O governo ficou constituído no dia 22 de Novembro, embora só tenha ficado completo no dia 25, com a tomada de posse de Ezequiel de Campos na pasta da Agricultura.

A apresentação do ministério no Parlamento foi no dia 27 de Novembro. A declaração ministerial lida por José Domingues dos Santos pretendeu acalmar o ambiente, centrando o seu discurso na necessidade da República “estabelecer o equilíbrio” na sociedade portuguesa, tendo como divisa “pão, liberdade e educação”957

. No entanto, os ânimos ainda estavam muito tensos e Vasco Borges, da linha conservadora do PRP, embora considerasse tratar-se de um governo republicano, não era “o governo de que a Nação e a República precisavam neste momento”, uma vez que tinha sido formado “apenas pela vulgar satisfação de ambições pessoais”. Quanto a ser o governo do bloco, questionava: “qual bloco?” Este governo saiu do “bloco que desapareceu na noite em que se derrubou o governo do Sr. Rodrigues Gaspar ou antes saiu” de “outro bloco que se formou nessa noite, constituído por aqueles que derrubaram o governo transacto”958

? Pelo que Cunha Leal começou a sua intervenção dizendo que tinha julgado que o Sr. Vasco Borges “era o líder do Partido Nacionalista”, pela forma eloquente e sincera como falou. Assim sendo, perguntou se Vasco Borges desejava que lhe fosse atribuído “pelo meu partido, o título de nacionalista honorário de primeiro plano”. Cunha Leal voltou a atribuir a culpa do que se estava a passar ao Presidente da República, por ignorar “sistematicamente a existência de um dos partidos políticos do regime e que fantasia governos que não correspondem a uma necessidade colectiva”, isto porque o Presidente da República era, “de facto, o presidente do Partido Democrático”. Este novo governo, mais não era do que “a terceira encarnação do Sr. Álvaro de Castro”. Cunha Leal achava que tendo o Parlamento, por duas vezes, retirado a confiança a estes governos e estando o bloco desfeito, o Presidente da República deveria ter entregue o poder ao Partido Republicano Nacionalista959. Terminou o seu discurso apresentando uma moção de desconfiança ao governo, por este não corresponder “aos interesses do país e às indicações constitucionais”960

. A defesa mais sensata do ministério, partiu de Álvaro de Castro, que depois de apresentar uma moção de confiança ao governo, respondeu a Cunha Leal dizendo que o Presidente da República cumpriu todas as praxes constitucionais, pois “seria inconstitucional; além de ser absurdo, que havendo no Parlamento uma maioria que se dispunha a governar, o Sr. Presidente da República chamasse ao Poder uma minoria”961

. O PRN, por intermédio de António Ginestal Machado, Pedro Pita e Cunha Leal continuaram a ampliar as

956 Sobre a formação do governo de José Domingues dos Santos veja-se: António José Sousa Monteiro de

Queirós, A Esquerda Democrática e o final da Primeira República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2006, pp. 96-102.

957 José Domingues dos Santos, Diário da Câmara dos Deputados, 27-11-1924, pp. 12-16. 958 Vasco Borges, Diário da Câmara dos Deputados, 27-11-1924, p. 21.

959 Cunha Leal criticou a decisão do Presidente da República, tendo afirmado que “desfeito o bloco, que

todos os dias, por actos, prova a sua inexistência, o Partido Nacionalista era naturalmente indicado para governar”. Por isso considerava que “este governo é um erro constitucional”, Cunha Leal, Diário de

Lisboa, 4-12-1924, p. 5.

960

Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 27-11-1924, pp. 24-28.

dissensões dentro do bloco e principalmente dentro do PRP, chegando Pedro Pita a afirmar que não era “preciso uma grande habilidade de observação para ver que o Sr. António Maria da Silva odeia o Sr. José Domingues dos Santos”962. Antes da votação das moções e devido a um problema sobre o modo de votar, Pedro Pita (PRN) e Mariano Martins (PRP) desentenderam-se, tendo o primeiro abandonado a sua carteira e agarrado o segundo. Os outros deputados tiveram de separar os contendores, enquanto os espectadores das galerias se manifestavam ruidosamente963. O Presidente da Câmara dos Deputados viu-se obrigado a suspender a sessão por uma hora e meia e evacuar as galerias. Retomados os trabalhos às 2 horas e vinte minutos da madrugada e resolvido o incidente foram colocadas as moções à votação. A moção de confiança ao governo apresentada por Álvaro de Castro foi aprovada por sessenta e três votos a favor e vinte e sete contra. Já a moção de desconfiança de Cunha Leal foi rejeitada com vinte sete votos a favor e sessenta contra964. Apenas votaram contra o governo os deputados nacionalistas e os monárquicos. Este aparente apoio ao governo, escondia o facto de vinte e sete deputados (bonzos e católicos) terem abandonado a sala no momento das votações, encontrando-se entre eles os antigos chefes de governo do PRP, António Maria da Silva e Rodrigues Gaspar965.

A oposição ao ministério de José Domingues dos Santos foi subindo de tom à medida que se foi conhecendo a verdadeira dimensão do seu programa político. O controlo mais apertado da actividade bancária (portaria n.º 4298, de 9 de Dezembro de 1925), a proposta de lei que punha termo aos monopólios do tabaco e dos fósforos, a acção enérgica contra os açambarcadores, as limitações à propriedade privada, o reconhecimento do regime soviético e a proposta de lei de utilização dos terrenos incultos foram algumas das propostas que mereceram um ataque cerrado da oposição, e algumas mesmo de deputados do seu grupo parlamentar966. Contudo, foi o decreto-lei n.º 10474 de 17 de Janeiro de 1925 que levantou o maior coro de protestos. O governo pretendia fazer uma reorganização da actividade bancária e escorou-se numa autorização parlamentar dada ao governo de Álvaro de Castro (artigo 1.º do decreto n.º 1545 de 7 de Fevereiro de 1924). No entendimento de Cunha Leal, o decreto-lei em questão era “inconstitucional e [...] prejudicial aos interesses do País”967

, uma vez que a autorização parlamentar aprovada não permitia alterar a legislação bancária, aumentar os impostos ou alterar o Código Comercial. Assim sendo, apresentou uma moção onde exigia que o governo submetesse “o seu plano, em proposta de lei à aprovação do Congresso da República”968

. Tendo em conta que o decreto-lei era ilegal e inconstitucional, Cunha Leal foi categórico: “o Partido Nacionalista usará de todas as armas. Faz disto uma questão de honra para a República. A uma brutalidade responde- se com outra brutalidade”. Se o decreto-lei não fosse revogado ameaçava com a dissolução parlamentar “ou não se discute coisa alguma nesta Câmara...”969

. António Ginestal Machado era da mesma opinião. O decreto era “inadmissível” e voltava a

962 Pedro Pita, Diário da Câmara dos Deputados, 05-12-1924, p. 35. 963 Diário da Câmara dos Deputados, 05-12-1924, p. 44.

964

Diário da Câmara dos Deputados, 05-12-1924, pp. 46-48.

965 Cf., António José Sousa Monteiro de Queirós, A Esquerda Democrática e o final da Primeira

República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2006, pp.

100-110.

966 Cf., António José Sousa Monteiro de Queirós, A Esquerda Democrática e o final da Primeira

República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2006, pp.

110-116.

967 Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 19-01-1925, p. 5. 968

Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 19-01-1925, pp. 11-12.

referir que “o PRN estava preparado para assumir o Poder, mas apenas quando a opinião pública o indicar, duma maneira categórica e clara”970. Pedro Pita amparou-se noutra linha de argumentação, defendendo que ao abrigo do artigo 27.º da Constituição a autorização concedida pelo Poder Legislativo ao Poder Executivo apenas podia ser usada uma vez971. Estas críticas da bancada nacionalista tiveram eco nas bancadas monárquico972, democrático-conservadora (bonzos)973 e católica974, que também apresentaram moções contra o decreto-lei governamental. Pelo contrário, as bancadas

democrático-esquerdista975 e accionistas976 apoiaram a política governamental para o sector bancário. António Maria da Silva, líder da facção democrático-conservadora apresentou uma moção que poderia conciliar as partes e adiar a aplicação do decreto. Defendia a necessidade da modificação da legislação bancária, mas também a necessidade de alterar algumas das disposições do decreto n.º 10474, pelo que este deveria ser sujeito ao estudo das respectivas comissões do Parlamento977. José Domingues dos Santos defendeu o seu ministro das Finanças (Pestana Júnior) dizendo que a responsabilidade do decreto da reorganização bancárias “era de todo o governo” e “se o Parlamento negar, a sua aprovação a esse diploma legal não cairá o Sr. Ministro das Finanças, cairá todo o Governo”978

. Depois de uma longa discussão apenas seriam votadas as moções de António Maria da Silva e de Amadeu de Vasconcelos. A primeira seria rejeitada por 56 votos contra 51 e a segunda foi aprovada por 57 votos a favor e 8 contra. Na primeira votação houve uma conjugação de nacionalistas, monárquicos e de alguns bonzos e independentes contra o governo. Na segunda votação verificando a inutilidade de persistir no combate a maioria dos deputados oposicionistas optou por sair da sala979. O governo conseguiu uma importante vitória, mas ficou claro que os deputados democrático-conservadores estavam à espreita da primeira oportunidade para se vingarem do governo esquerdista980.

Nos dias seguintes o Partido Republicano Nacionalista insatisfeito com a “subserviência [da Câmara dos Deputados] perante o governo, declarando constitucional aquilo que é absolutamente inconstitucional”981 usou todos os meios ao seu alcance para dificultar a acção do governo e para impedir a aplicação daquela lei, com destaque para o obstrucionismo982. Os deputados nacionalistas fizeram imensos

970 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 15-1-1925, p. 8.

971 Moção de Pedro Pita, Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 20. 972

Moção de Artur Carvalho da Silva (Diário da Câmara dos Deputados, 19-01-1925, p. 12) e moção de Morais Carvalho (Diário da Câmara dos Deputados, 21-01-1925, p. 8).

973 Moção de Vasco Borges, Diário da Câmara dos Deputados, 20-01-1925, p. 22. 974

Moção de Lino Neto, Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 29.

975

Moção de Amadeu de Vasconcelos Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 35.

976 Moção de Álvaro de Castro, Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 20. 977 Moção de Álvaro de Castro, Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 27. 978

José Domingues dos Santos, Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, p. 45.

979 Diário da Câmara dos Deputados, 22-01-1925, pp. 47-51; Diário de Lisboa, 23-1-1925, p. 8.

980 Cf., António José Sousa Monteiro de Queirós, A Esquerda Democrática e o final da Primeira

República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2006, pp.

110-126.

981 Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 23-01-1925, p. 7.

982 Cunha Leal referiu-se ao obstrucionismo nestes termos: “Não se trata de uma atitude individual. Eu

procedi com esta violência de obstrucionismo para obedecer ao voto do grupo do meu partido. [...] É, pois um gesto colectivo dos deputados nacionalistas para responder à violência do governo”. Cunha Leal reafirmou que o grupo estava disposto a fazer oposição serena às propostas do governo mas a maioria respondeu à nossa atitude republicana, aos nossos propósitos leais com a violência do número, sempre odioso, tornando a questão fechada, e não deixando o meu partido, que representa o interesse da Nação neste caso, expor, ainda que dura e desassombradamente os seus pontos de vista. E a esta atitude do partido nacionalista responde com o seu obstrucionismo violento, último recurso, mas recurso legítimo a

requerimentos à mesa da Câmara, considerados nalguns casos improcedentes e fora de tempo, dando origem a longas discussões sobre a aplicação do regimento da Câmara dos Deputados. Era a chamada “guerra dos negócios urgentes [...] e das interpelações”983, “procurando assim esmagar o Poder Executivo”984

. Nalguns casos estas discussões desembocaram em berraria e em fortes batidas nas carteiras, tendo o Presidente da Câmara dos Deputados, Domingos Pereira, de colocar o chapéu e dar por encerrada a sessão no meio de um tumulto que se disseminava às galerias985. Neste período os ânimos estavam muito exaltados, havendo relatos que indicam que alguns deputados, entre os quais Cunha Leal, levavam a pistola para as sessões do parlamento com receio de serem atacados das galerias por sindicalistas revolucionários, amigos do governo986. No início de Fevereiro circulavam por Lisboa manifestos insultuosos contra monárquicos e nacionalistas, apelando ao operariado a unir-se pela defesa do governo e contra as “forças vivas”.

O Partido Republicano Nacionalista estava disposto a esticar a corda ao máximo para deixar cair um governo que contava com apoios limitados987. A oportunidade surgiu na sequência do encerramento, por ordem governamental, da Associação Comercial de Lisboa no dia 6 de Fevereiro. Os ânimos das forças vivas contra o governo ficaram ainda mais incendiados, pelo que diversas organizações esquerdistas decidiram organizar uma manifestação de apoio ao governo nesse mesmo dia. Durante o cortejo dos manifestantes houve alguns incidentes junto ao Banco de Portugal. Ao rebentar um morteiro a GNR teve de disparar alguns tiros. Os manifestantes dirigiram- se, então, para o Terreiro do Paço, onde da varanda do Ministério do Interior, José Domingues dos Santos fez um discurso que teria grande repercussão no futuro. Começou por dizer que “o povo tem sido explorado pelo alto comércio e pela alta finança” e por isso o governo da República estava “ao lado dos explorados contra os exploradores”. Sobre o incidente que acabara de ocorrer, disse que iria ordenar um rigoroso inquérito, pois “não consinto que a força pública sirva para fuzilar o povo”988

. Na primeira sessão da Câmara dos Deputados após estas declarações, o deputado nacionalista David Rodrigues requereu um negócio urgente para analisar este incidente. David Rodrigues lamentou o episódio enquanto cidadão português e enquanto militar, uma vez que “das próprias janelas do Ministério do Interior” se deram “«vivas» a várias corporações, fizeram-se referências a várias classes, umas agradáveis para certas classes, outras desagradáveis para outras classes”. Concluía, pois, que “do próprio

que as oposições têm de recorrer quando se sentem afrontadas” (Cunha Leal, Diário de Lisboa, 24-1- 1925, p. 5). Esta estratégia era apoiada por outros líderes nacionalistas. Raul Lelo Portela concordava com o obstrucionismo, pois a aprovação do decreto da reforma bancária “representa um atentado à constituição, visto que a matéria nele consignada só podia ser de origem do Poder Legislativo” (Raul Lelo Portela, Diário de Lisboa, 28-2-1923, p. 5). Luís Costa Santos, director d’Acção Nacionalista, enalteceu a acção de Cunha Leal, que na última secção da Câmara dos Deputados iniciou “uma oposição violenta que impediu a continuação dos trabalhos” (25-1-1925, p. 1).

983 Júlio Gonçalves, Diário da Câmara dos Deputados, 10-2-1925, p. 35.

984 José Domingues dos Santos, Diário da Câmara dos Deputados, 19-2-1925, p. 20. 985

Veja-se, por exemplo, a sessão da Câmara dos Deputados de 23 de Janeiro: Diário da Câmara dos

Deputados, 23-01-1925.

986 Cf., Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político: um estudo biográfico (1888-

1970), tese de doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa,

2003, pp. 324-326. 987

Cunha Leal clamava na Câmara dos Deputados: “o governo, com a maioria de 5 votos, julga-se forte e abusa”, Diário da Câmara dos Deputados, 23-1-1925, p. 10.

988 José Domingues dos Santos citado por António José Sousa Monteiro de Queirós, A Esquerda

Democrática e o final da Primeira República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da

Ministério do Interior se” fomentava “a luta de classes” e se defendia o comunismo que “é um regime que destrói o Estado e que destrói o regime democrático e parlamentar”, pelo que não podia “deixar de considerar essas palavras como absolutamente subversivas”. Estranhava também que por a GNR “disparar as suas armas para o ar”, após ter sido “atacada à bomba”, se tivesse nomeado “um militar de patente inferior à daquele comandante, para proceder a um inquérito àqueles actos”. Assim sendo, achava que o incidente justificava a seguinte moção: “A Câmara, reconhecendo que a política do Ministério conduz ao desprestígio da força pública, e consequentemente do regime”989

. Cunha Leal reforçou as críticas à actuação do presidente do ministério990, tendo apresentado outra moção de conteúdo semelhante991. Por parte do bloco, há um silêncio comprometedor da maioria das suas figuras centrais. Para defender o governo praticamente apenas se ouviu a voz de Sá Pereira992 e de Júlio Gonçalves. Este deputado criticou Agatão Lança por recentemente ter chegado ao PRP e já estar a censurar um governo deste partido993. Durante a intervenção de Júlio Gonçalves, houve uma troca de palavras rudes com Moura Pinto. Entretanto, Júlio Gonçalves lançou um copo e um livro contra Moura Pinto, mas acabou ser o nacionalista Afonso de Melo, vice- presidente da Câmara dos Deputados, a ser involuntariamente atingido. Para serenar os ânimos o presidente da mesa teve de encerrar a sessão por três quartos de hora994. No recomeço dos trabalhos o deputado democrático Agatão Lança apresentou uma moção de desconfiança ao governo995, que acabou por ter prioridade na votação, face às restantes moções apresentadas. A moção acabaria por ser aprovada por 65 contra 45 votos996, tendo o apoio total dos nacionalistas, dos monárquicos, dos católicos e dos independentes997 e um apoio parcial dos accionistas998 e dos democráticos999, as chamadas «pedras soltas do bloco», com predomínio para os militares. Estiveram ao lado do governo a maioria dos deputados accionistas, liderados por Álvaro de Castro, os esquerdistas do PRP e alguns moderados deste partido, que não alinharam com os «bonzos», casos de Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães e Vitorino Henriques Godinho, que viriam a ter um papel importante no governo seguinte. José Domingues dos Santos despediu-se dos deputados com as seguintes palavras: “Ficamos entendidos: a Câmara quer um governo que esteja ao lado dos exploradores contra os explorados, a Câmara quer um governo que espingardeie o povo”1000.

No dia 13 de Fevereiro os apoiantes do governo ainda lançaram mão de uma última cartada. Entre 40 a 80 mil manifestantes desfilaram do Terreiro do Paço até ao

989 David Rodrigues, Diário da Câmara dos Deputados, 9-2-1925, pp. 14-17.

990 “O Dr. José Domingues dos Santos esta a provocar novos morticínios, sendo possível que venha a

afogar-se no sangue que correr”, Cunha Leal, Diário de Lisboa, 9-2-1925, p. 8.

991

Diário da Câmara dos Deputados, 10-2-1925, pp. 12-13.

992 Diário da Câmara dos Deputados, 10-2-1925, pp. 9-12. 993 Diário da Câmara dos Deputados, 10-2-1925, pp. 28-34. 994

António José Sousa Monteiro de Queirós, A Esquerda Democrática e o final da Primeira República, volume I, Tese de Doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2006, pp. 123-127.

995 Moção de Agatão Lança, Diário da Câmara dos Deputados, 10-02-1925, p. 35.

996 A moção de desconfiança de Armando Agatão Lança teve 65 votos favoráveis (26 nacionalistas, 23

democráticos, 6 independentes, 4 monárquicos, 3 accionistas e 3 católicos) e 45 votos desfavoráveis (37 democráticos e 8 accionistas), cf., Diário da Câmara dos Deputados, 10-2-1925, pp. 43-45; Notícias de

Viseu, 15-2-1925, p. 2.

997 Casos de António Abranches Ferrão e José Miguel Lamartine Prazeres da Costa.

998 Casos de Américo Olavo Correia de Azevedo, Henrique Sátiro Lopes Pires Monteiro e Carlos Olavo

Correia de Azevedo.

999 Casos de Albano Augusto de Portugal Durão, Alberto Ferreira Vidal, Alfredo Rodrigues Gaspar,

António Albino Marques de Azevedo, António Maria da Silva, Armando Pereira de Castro Agatão Lança, Francisco da Cunha Rego Chaves, Mariano Martins e Vasco Borges.

Palácio de Belém para entregarem uma mensagem ao Presidente da República. Estes manifestantes representavam as agremiações republicanas, o Partido Socialista, o Partido Comunista e as organizações operárias (USO e JSV) e pretendiam representar o «Povo de Lisboa». A mensagem entregue protestava contra a queda do governo de José Domingues dos Santos e acalentava a esperança de o governo se manter em funções até às eleições, pressupondo que haveria a dissolução das Câmaras. Uma comissão foi recebida pelo Chefe de Estado que saiu à varanda e lançou uma mensagem à multidão reafirmando o seu respeito pelo Parlamento: “Como Chefe de Estado, fiz juramentos que cumprirei até ao fim. Não há nenhum poder no mundo que me obrigue a faltar a eles. Pela letra da Constituição, sigo as indicações que me dá o Parlamento”1001

.

16. O Ministério Vitorino Guimarães e o abandono do

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