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O Golpe Militar de 10 de Dezembro de 1923 e a demissão do governo nacionalista

Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

8. O Golpe Militar de 10 de Dezembro de 1923 e a demissão do governo nacionalista

O anúncio de que um movimento revolucionário estava em formação já andava no ar há alguns dias. O chefe de governo, António Ginestal Machado, ministro da guerra, general Óscar Carmona e o coronel Raul Esteves conferenciaram durante quatro horas no dia 29 de Novembro, tendo saído a público vários boatos da preparação de uma revolução, de uma contra-revolução e da possibilidade de demissão de Óscar Carmona698. Uma das conjuras decidiu avançar no dia 10 de Dezembro. Os militares revoltosos reuniram-se às 6 da tarde numa casa da rua Gomes Freire. Depois de alguma excitação e incerteza quanto à saída do movimento revolucionário, decidiu-se avançar tendo sido dado o sinal às 8 horas e cinco minutos com o lançamento de três foguetões de terra secundados por duas granadas lançadas do Tejo pelo «destroyer» Douro. Os revolucionários, liderados pelo antigo ministro da Marinha, capitão-de-fragata, João Manuel de Carvalho, contavam com algumas companhias da GNR, alguns homens do Arsenal da Marinha e grupos de civis. O governo refugiou-se no quartel das metralhadoras de Campolide, onde contava com a fidelidade da Artilharia 1, Caçadores 5, Sapadores Mineiros, Telegrafistas de Praça, Lanceiros 2 e do Batalhão de Sapadores de Caminho-de-ferro, comandado por Raul Esteves. Nesse quartel reuniu com os generais comandantes da 1.ª Divisão e da GNR, com o comandante da PSE, com Raul Esteves e com o Governador Civil. O general Sá Cardoso que residia no Dafundo dirigiu-se para o forte de Caxias. Um grupo de civis armados dirigiu-se para as instalações do jornal República, para defender o baluarte dos nacionalistas na capital de um eventual ataque. O assalto não ocorreu, mas não foi possível impedir que os tipógrafos fugissem, o que inviabilizou a publicação deste diário699.

O governo estava informado da preparação do movimento revolucionário liderado pelos radicais700, sabia mesmo que um dos sinais da deflagração eminente da revolta seria a afixação pelas ruas da capital de um suplemento do jornal a Laterna,

696 Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 7-12-1923, p. 7. Cf., Diário de Lisboa, 7-12-1923, p.

1.

697 Diário de Lisboa, 29-11-1923, p. 1.

698 Diário de Lisboa, 30-11-1923, p. 8; Aniceto Afonso, História de uma conspiração. Sinel de Cordes e

o 28 de Maio, Lisboa, Editorial Notícias, 2000, pp. 62-64.

699 Cf., República, 12-12-1923, pp. 1-2; A Tarde, 11-12-1923, pp. 1-2.

700 Cf., entrevista ao Presidente do Conselho de Ministros, António Ginestal Machado (Diário de Lisboa,

11-12-1923, p. 4) e declarações do Ministro da Guerra, Óscar Carmona, na Câmara dos Deputados, (Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 12).

órgão dos radicais, como de resto acabou por suceder no dia 9. No entanto, paradoxalmente, não tomou nenhuma iniciativa relevante para o sufocar. O ministro da Guerra, general Óscar Carmona e o comandante da 1.ª divisão, general Roberto Batista, limitaram-se a visitar os principais quartéis de Lisboa e recolheram a casa, após verificarem que não havia indícios da deflagração de um movimento revolucionário. Será que o Governo desejava que rebentasse um movimento revolucionário? Houve mesmo alguns boatos, que deram conta da participação de alguns nacionalistas na conspiração, como o próprio governador civil de Lisboa, António Videira, cunhado de Cunha Leal701. Podemos descortinar alguma lógica nesta atitude acompanhando a reunião do governo com o Presidente da República.

O chefe do executivo, António Ginestal Machado, informou por telefone o Presidente da República, Teixeira Gomes, de uma eventual marcha de 800 marinheiros sobre o palácio presidencial e solicitou que o mesmo se dirigisse ao quartel de Campolide, onde se encontrava reunido o Governo. Perante a gravidade da situação, Teixeira Gomes decidiu dirigir-se às 23h 30m de automóvel com o seu secretário ao Quartel da Marinha, sem informar o Governo e correndo alguns riscos. No Arsenal da Marinha pretendeu embarcar para bordo do Douro, que chefiava a revolta, mas não conseguiu702. Como tudo parecia calmo, tanto no quartel, como nas ruas, o Presidente contactou o Chefe de Governo para o tranquilizar. No entanto, como o governo estava ansioso por se avistar com o Chefe de Estado, foram enviados os ministros, Júdice Bicker e Júlio Dantas na sua direcção, com o objectivo de o acompanharem o mais rapidamente possível ao Quartel de Metralhadoras703. O Presidente da República decidiu ainda dar uma volta pelos quartéis de Lisboa e depois de ter constatado a relativa acalmia regressou à sua residência. Só após nova insistência do António Ginestal Machado é que decidiu dirigiu-se às cinco horas e meia da madrugada do dia 11 ao quartel de Campolide onde conferenciou com o governo. O ambiente estava tenso e segundo Raul Esteves, “o presidente que estava em manifesta hostilidade com o governo”, não cumprimentou “dois ministros”704

. Segundo Cunha Leal, apenas se esqueceu de cumprimentar Vicente Ferreira705. Já outros relatos dizem que Teixeira Gomes apresentou-se com o seu melhor sorriso e dirigindo-se a Cunha Leal terá dito: “Venho sossegá-lo, Sr. Ministro das Finanças, não há revolução nenhuma, está tudo tranquilo”706

. Teixeira Gomes informou o governo que não se confirmavam as informações que lhe tinham dado de se encontrarem “duzentos e tantos homens no

Quartel dos Marinheiros, quando afinal de contas, só lá” tinha encontrado “uns

oitenta”. Iniciou-se, então, um conselho de Ministros presidido pelo Chefe de Estado. Os nacionalistas dramatizaram a situação e solicitaram, por intermédio de Cunha Leal, o

701 César Procópio de Freitas, líder dos radicais no Senado, afirmou que o movimento revolucionário

tinha sido planeado pelo governo para atingir objectivos políticos e que o Governador Civil de Lisboa tinha assistido às reuniões do comité revolucionário (cf., Diário de Lisboa, 12-12-1923, p. 8). O capitão- de-mar-e-guerra, Pereira Leite, encarregue das investigações sobre esta revolução, concluiu que o Dr. António Videira tinha conhecimento da mesma e que embora o Partido Republicano Radical não estivesse envolvido directamente, esta tinha um carácter radical (cf., Diário de Lisboa, 13-2-1924, p. 5; Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 280-283).

702 Cf., Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 8-1-1924, pp. 10-16; Norberto Lopes, O exilado

do Bougie. Perfil de Teixeira Gomes, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1942, pp. 148-151; Urbano

Rodrigues, A Vida Romanesca de Teixeira Gomes. Notas para o estudo da sua personalidade e da sua

obra, Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1946, pp. 260-264.

703

Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, p. 378.

704 Raul Esteves, Diário de Lisboa, 2-9-1925, p. 8.

705 Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, p. 379. 706

Teixeira Gomes citado por Vitorino Magalhães Godinho, Vitorino Henriques Godinho (1878-1962), Lisboa, Dom Quixote, 2005, p. 421.

levantamento imediato das garantias constitucionais e a consequente declaração do estado de sítio, bem como a atribuição dos meios constitucionais necessários para resolver o problema da governabilidade do país. O PRN estava disposto a jogar todas as suas cartas, no sentido de convencer o Presidente a dissolver o Congresso e a marcar novas eleições que permitissem ao PRN conseguir uma maioria confortável para sustentar as suas políticas no Governo707. Para isso, pressionou o Presidente dizendo-lhe que verificando a inutilidade de colaborar com o Parlamento, que apenas tem para o governo uma atitude de permanente hostilidade, em particular por parte da maioria democrática, a partir desse dia não compareceriam mais no Congresso, considerando-se incompatibilizado com ele. O Presidente manifestou a sua discordância quanto à declaração do estado de sítio, uma vez que a revolta estava controlada, e quanto à dissolução parlamentar declarou ter de consultar os diversos partidos antes de tomar uma decisão708. A estratégia dos nacionalistas parecia fracassar, pelo que o coronel Raul Esteves ainda propôs que se destituísse o general Óscar Carmona, que se mostrava um intransigente defensor da legalidade constitucional709, nomeando Cunha Leal para a chefia do ministério da Guerra, onde podia liderar um golpe para finalmente atingir os objectivos das forças conservadoras. Porém, Cunha Leal considerou que tendo sido o exército a indicar o nome de Óscar Carmona teria de ser este a destituí-lo710.

Da consulta efectuada pelo Presidente da República aos diversos partidos resultou a oposição maioritária à dissolução do Parlamento. Ouvido pelo Diário de

Lisboa o senador do PRP, Catanho de Meneses, afirmou que não estavam reunidas as

“circunstâncias que exigem semelhante previdência, que só em casos excepcionais pode ser aconselhada num regime democrático”. Por outro lado, constatou que o Parlamento e o próprio PRP têm apoiado o governo nas questões financeiras e de ordem pública. Por isso, “a revolução abortada não pode servir de pretexto à dissolução”711

. No Parlamento o governo foi duramente interpelado. Vasco Borges questionou o Presidente do Ministério, António Ginestal Machado, pelo facto dos jornais relatarem que os nacionalistas queriam “suspender as garantias e dissolver o Parlamento, e dissolvê-lo

707

As declarações de Cunha Leal ao Diário de Lisboa (11-12-1923, pp. 4-5) são bem elucidativas para compreendermos a estratégia do PRN: “Nós não podemos continuar a viver comprimidos entre uma conspiração parlamentar e uma conspiração de ruas. É evidente o propósito do Parlamento em moer e diluir a nossa acção. Prepara, assim o momento em que desacreditado o governo por uma inacção que não provem de si próprio, mas da situação que outros lhe estabelecem, possa ser votada a moção de desconfiança, com que o pretenderá derrubar. [...] Assim, o problema da dissolução põe-se neste momento com evidente clareza, como condição essencial para que a ordem se possa manter, não só momentaneamente, mas por um larguíssimo período. Exige-o o país, exigem-no todas as classes sociais – porque a nenhuma delas convém a prolongação indefinida deste regime de convulsões revolucionárias periódicas”. Cf., Entrevista de Cunha Leal ao vespertino A Tarde, 11-12-1923, p. 3; Cunha Leal, As

minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 380-381.

708 Diário de Lisboa, 11-12-1923, p. 4. Segundo Norberto Lopes António Ginestal Machado expôs a

situação política, considerando que era péssima, pelo que era de todo conveniente que o Presidente da República decretasse a dissolução do Parlamento. Teixeira Gomes depois de ouvir com atenção terá respondido: “Quanto à dissolução, é de facto das atribuições do Presidente da República concedê-la, mas quando houver razão para isso e eu não a vejo neste momento”, Norberto Lopes, O Exilado de Bougie, Lisboa, Ed. Parceria António Maria Pereira, 1942, p. 153.

709 O Ministro da Guerra, Óscar Carmona, terá defendido uma posição, que era contrária à apresentada

pelo PRN e pelo chefe de Governo: “O Exército, pelo que em minha mão está poder afirmá-lo, não pensa em imiscuir-se, nem defende qualquer ideia de dissolução”, S.A., “A Situação Política”, Diário de

Notícias, 14-12-1923. Cf., Entrevista a Óscar Carmona, A Tarde, 3-12-1923, p. 2; António José Telo, Decadência e Queda da I República Portuguesa, 1.º Volume, Lisboa, A Regra do Jogo, 1980, p. 264.

710 Cf., Cunha Leal, As minhas memórias, volume II, Lisboa, edição do autor, 1967, pp. 378-381; António

José Telo, Decadência e Queda da I República Portuguesa, 1.º Volume, Lisboa, A Regra do Jogo, 1980, p. 264; Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 280-283.

até saltando por cima dos trâmites constitucionais”. O chefe do executivo apenas deu pormenores gerais sobre a contenção da revolução e recusou esclarecer essa pergunta dizendo: “O Sr. Vasco Borges, quer que eu venha à Câmara desmentir jornais, quando eu, por não ter tempo, até não os leio”712

. No entanto, os deputados queriam explorar melhor esta questão, pelo que o deputado Torres Garcia propôs a generalização do debate, contra o desejo do Governo e dos nacionalistas. Esta proposta foi aprovada, pelo que os deputados voltaram à carga tentando levar o governo para “as cordas”. Voltou-se a questionar a legitimidade do governo pedir a dissolução do Parlamento e João Camoesas (PRP) trouxe a questão já levantada por César Procópio de Freitas (PRR) no Senado. Tinham surgido boatos que ligavam os revolucionários ao governador civil de Lisboa, António Videira, o que a ser verdade, demonstravam que o governo estava implicado no «Golpe de Estado»713. O deputado independente, Carlos Olavo, foi mais longe na análise dos acontecimentos, dizendo que aquilo que o governo queria era o mesmo que os revolucionários queriam: “fazer governo livremente, dissolvendo o Parlamento”714

.

Dentro do PRN começou, porém, a acentuar-se as divergências entre o grupo maioritário presente no governo e o grupo minoritário próximo de Álvaro de Castro. Desde a tentativa de formação do governo de Afonso Costa que as discordâncias eram evidentes715. Após o golpe de 10 de Dezembro, Álvaro de Castro colocou-se contra a posição oficial do partido defendendo que o pedido de dissolução parlamentar ao Presidente da República era inconveniente e inoportuno, levando um seu correligionário categorizado a defini-lo como sendo nesse momento “o líder... da oposição partidária!”716

.

A estratégia do PRN poderia ter passado por sufocar primeiramente o golpe de estado, dando garantias de controlar a ordem pública para poder iniciar a discussão e aprovação no Parlamento das medidas para controlar deficit público. Se houvesse, de facto, obstrucionismo da oposição colocar-se-ia nas mãos do Presidente, para este dissolver o Congresso. Caso o Presidente indeferisse a sua pretensão teria uma justificação forte para pedir a demissão e para esperar calmamente uma nova oportunidade. Não foi essa a estratégia seguida pela elite maioritária dos nacionalistas, jogando tudo durante o golpe de 10 de Dezembro717. A partir desse momento as relações entre o PRN com o Presidente da República, já de si bastante tensas, tornaram- se incompatíveis718.

712 António Ginestal Machado, Diário da Câmara dos Deputados, 12-12-1923, p. 13. 713

Cf., João Camoesas, Diário da Câmara dos Deputados, 12-12-1923, pp. 19-23. António Videira rejeitou o envolvimento na tentativa revolucionária, embora tivesse confessado ter tido contacto com alguns radicais. Porém estes contactos visavam unicamente conseguir que eles não se unissem aos democráticos numa possível revolução (cf., Diário de Lisboa, 26-12-1923, pp. 5 e 8; Diário de Lisboa, 4- 1-1924, pp. 5 e 8).

714 Carlos Olavo, Diário de Lisboa, 12-12-1923, p. 5.

715 Álvaro de Castro defendia a formação de um Ministério Nacional, com o concurso de personalidades

de vários partidos, opinião que manifestou publicamente durante a apresentação do governo de António Ginestal Machado no Parlamento e que o levou a não participar no governo nacionalista. Álvaro de Castro achava que “era mais útil à República, dadas as desinteligências levantadas entre os republicanos, a constituição de um governo que, em vez de se confinar dentro dos quadros partidários, pudesse contar com a acção no Poder Executivo de homens de vários partidos”, Álvaro de Castro, Diário da Câmara dos

Deputados, 19-11-1923, p. 14.

716

Diário de Lisboa, 12-12-1923, p. 4.

717 Cf., Diário de Lisboa, 14-10-1923, p. 1.

718 Durante o julgamento dos implicados no movimento de 18 de Abril, António Ginestal Machado fez as

seguintes afirmações sobre o Presidente da República: “em 10 de Dezembro, espontaneamente sem lhe ter sido solicitado pelos revoltosos, o chefe de Estado, procurou ir ao contacto com eles. Com certeza, pois,

No parlamento a oposição ao PRN começou a questionar a atitude do governo perante o Golpe de Estado e principalmente perante o Presidente da República. Agatão Lança dirigiu-se ao governo neste termos: “Pediu ou não, o Sr. Presidente do Ministério a dissolução do Parlamento ao Chefe de Estado? Pediu, ou não, conjuntamente a suspensão das garantias? Pensou, ou não, em dissolver a marinha de Guerra?”719

. António Maria da Silva também foi bastante incisivo. Perguntou se era ou não verdade que o governo tinha pedido no quartel de metralhadoras “a dissolução do Parlamento e a suspensão de garantias”. Considerava que embora o pedido de dissolução fosse legítimo e estivesse “inscrito no estatuto basilar do nosso País, [...] só seria legítimo perante um conflito entre os Poderes Executivo e Legislativo, o que se não dá, e então aquele pedido, após um movimento sedioso e com as razões que se dizem ter sido apresentadas, era ilegítimo e até criminoso”. O presidente do executivo, António Ginestal Machado, respondeu dizendo que considerava “inoportuno entrar em minúcias sobre o movimento revolucionário que acaba de dar-se e que foi dominado, felizmente no seu início, estando-se ainda nos trabalhos que classifiquei de rescaldo”. Quanto às perguntas sobre o pedido de dissolução do Congresso limitou-se a dizer “que o Governo a que presido nunca saiu da constituição”720

. António Maria da Silva insatisfeito com as respostas reafirmou que o presidente do governo não tinha respondido às suas questões e que sabia perfeitamente que não violava a constituição solicitar aquelas medidas ao Presidente, “porém, isto é diferente de as ter pedido logo após o movimento e no local onde foi feito”721

. O líder parlamentar do PRN, Álvaro de Castro, sentindo que o governo estava a ficar encurralado, embora não tivesse praticado “nenhum acto atentatório da constituição”, apresentou uma moção de confiança ao governo722

, caindo assim na armadilha lançada pelo PRP, uma vez que este ainda não tinha tido a coragem de apresentar uma moção de desconfiança ao governo que tinha acabado de dominar um golpe de Estado. A moção compreendia duas partes. Na primeira a Câmara reafirmava a confiança no governo723 e na segunda saudava as forças armadas que tinham sufocado o golpe de estado. O PRP, por intermédio de Vasco Borges, solicitou que a moção fosse dividida em duas partes, sendo a primeira parte votada nominalmente em último lugar. António Maria da Silva explicou a posição do PRP: o “parlamento não pode dar um voto de confiança a um Governo que quis sacudir os parlamentares, querendo colocá-los na situação, que não temos de criminosos responsáveis do movimento sedicioso”724

. Assim, a moção de confiança ao governo foi rejeitada por 53 votos contra e 42 a favor. O PRP, em bloco votou contra, tendo tido o contributo de alguns independentes725 e do

Sua Ex.ª não deve concordar que seja, castigado o Sr. General Sinel de Cordes, que apenas procurou estabelecer esse contacto. E pergunta:

- O que aconteceu ao governo que dominou essa revolta?

- Fomos corridos. Por onde se vê que há revoltas simpáticas aos altos poderes do Estado, e outras que lhe são antipáticas...”, António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 22-9-1925, p. 8.

719 Agatão Lança, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 17.

720 António Ginestal Machado, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 20. 721 António Maria da Silva, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 21. 722

Alguns nacionalistas questionaram posteriormente se Álvaro de Castro não queria mesmo derrubar o Governo ao apresentar esta moção de confiança, cf., O Jornal, 14-1-1924, p. 2

723 Moção - “A Câmara, ouvidas as explicações do Governo, reconhece que ele tem precedido dentro da

constituição, de molde a prestigiar as instituições e dando-lhe o seu inteiro aplauso pela sua acção perante o movimento revolucionário que prontamente sufocou,...”, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12- 1923, p. 27.

724 António Maria da Silva, Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, p. 24.

725 António Abranches Ferrão; António Pinto de Meireles Barriga; António de Sousa Maia; Armando

Agatão Lança; Henrique Pires Monteiro; José Prazeres da Costa (cf., Diário da Câmara dos Deputados, 13-12-1923, pp. 27-29).

deputado Joaquim Ribeiro de Carvalho, director do República que entrou em rota de colisão com o seu partido e com a estratégia de apresentar uma moção de confiança726. Votaram favoravelmente os deputados nacionalistas, os católicos, alguns independentes727 e o deputado do PRP, Joaquim Serafim de Barros. Saíram da sala alguns deputados para não participarem na votação, nomeadamente todo o grupo parlamentar monárquico e alguns democráticos e independentes728. Ainda no dia 13 de Dezembro, António Ginestal Machado dirigiu-se ao Presidente da República para apresentar a demissão do Governo. O breve governo do PRN chegava ao fim e alguma imprensa passou a ridicularizá-lo, chamando-lhe “os vinte e oito dias da Clarinha”, nome de uma famosa opereta da época729.

António Ginestal Machado, na sua última entrevista enquanto presidente do ministério, fez a avaliação sobre a acção do seu governo, tendo assumido como grande sucesso do mesmo, ter vencido “uma revolução. Uma revolução que pelo seu carácter, se anunciava sangrenta”. O governo conseguiu ter ao seu lado as forças armadas e graças à sua acção e à do seu Governo, “o movimento não se alastrou”. Porém, continuava a não compreender porque motivo o governo foi derrubado. É a primeira vez que me lembre, que um governo cai, quando acaba de vencer rapidamente uma revolução...”. Mesmo assim o governo nacionalista ainda conseguiu, no pouco tempo que esteve em funções, “simplificar os serviços públicos, tornando-os mais eficientes. Reduzir as despesas a apresentar ao Pais - um orçamento decente, que era certamente o

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