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Quadro VI Comissão Administrativa do PRN após o II Congresso

13. A Revolta da Aviação e a queda do Ministério Álvaro de Castro

A estratégia do PRN passava por ir minando a acção do governo, no sentido de o derrubar a todo o custo, uma vez que os ressentimentos contra Álvaro de Castro e os seus seguidores continuavam bem acesos.

Um dos assuntos usados para descredibilizar o governo foi o convite para Cunha Leal substituir Norton de Matos no cargo de Alto Comissário de Angola. Começaram a surgir boatos na imprensa indicando que o ministro das colónias, Mariano Martins, tinha convidado Cunha Leal para ocupar esse cargo875. O tema saltou das páginas dos jornais para o Parlamento. Os esclarecimentos do ministro das colónias não foram conclusivos, mas Cunha Leal acabaria por revelar toda a história. O ministro Mariano Martins tinha feito um convite condicional ao líder nacionalista para ocupar o cargo de Alto Comissário de Angola, uma vez que tinha de consultar primeiro o seu partido. Cunha Leal respondeu que não aceitava convites condicionais, pelo que o convite ficou sem efeito. O ministro acabou por ter de corroborar as afirmações de Cunha Leal876.

Outro tema explorado para contestar o governo foi o decreto governamental de redução dos juros do empréstimo interno do Estado. Na opinião dos deputados nacionalistas o Estado ao não honrar os seus compromissos estava a agravar a confiança da dívida portuguesa, a provocar a fuga dos capitais portugueses para o estrangeiro e a dificultar futuras operações de crédito877. O governo argumentava que a economia e o mercado tinham-se alterado, pelo que era necessário reduzir os juros. Na sequência deste decreto o PRN apresentou várias moções de desconfiança ao governo que não passaram. Por fim, Barros Queiroz colocou à votação um projecto de lei que anulava o decreto sobre a redução dos juros sobre a dívida. Este projecto de lei não foi aprovado, uma vez que teve 28 votos favoráveis e 40 desfavoráveis. “Em seguida à votação, o Sr. Barros Queiroz despediu-se da presidência e abandonou a Câmara, não contando regressar aos trabalhos parlamentares”. Nos “passos perdidos” vários parlamentares pediram-lhe que desistisse da sua resolução, mas Barros Queiroz disse que “não podia continuar cúmplice de uma obra perniciosa”. Alguns deputados estavam dispostos a segui-lo abandonando o Parlamento. Contudo, Barros Queiroz disse que não “renunciou ao lugar de deputado, abandonei unicamente os trabalhos parlamentares”878

. A mesa da Câmara dos Deputados e depois, um grupo de deputados, tentaram demover o parlamentar da sua atitude, mas não obtiveram êxito879.

A intolerância do governo em matéria religiosa foi outro dos assuntos explorados pelos nacionalistas para atacar o executivo de Álvaro de Castro. Na sequência de o ministro da Instrução Pública, Hélder Ribeiro, ter anulado por portaria, uma tese de doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,

875 Diário de Lisboa, 3-6-1924, p. 5. 876

Diário da Câmara dos Deputados, 17-6-1924, p. 24.

877 Vejam-se as declarações dos deputados nacionalistas Manuel Ferreira da Rocha (Diário de Lisboa, 11-

6-1924, p. 8) e Barros Queiroz (Diário de Lisboa, 12-6-1924, p. 8).

878

Diário de Lisboa, 14-6-1924, p. 8.

intitulada “Lurdes e a Medicina”, uma vez que a tese versava assuntos de carácter confessional e não matéria médica. O PRN embora levantando algumas dúvidas sobre o conteúdo da tese, mostrou-se um acérrimo defensor da tolerância religiosa e da autonomia universitária, que o governo parecia não respeitar publicando uma portaria arbitrária880. Os nacionalistas mostraram ainda sérias dúvidas sobre a revisão da Lei da Separação que o ministro da Justiça e dos Cultos, José Domingues dos Santos, queria iniciar, pelo que enviaram uma nota oficiosa para a imprensa esclarecendo a sua posição881.

Embora estes temas tenham tido alguma importância na descredibilização do governo, o conflito latente entre a Aeronáutica Militar e o executivo de Álvaro de Castro revelou-se o decisivo. Os oficiais afectos à aviação militar vinham desde há alguns anos defendendo a necessidade de um maior investimento e de uma reorganização no sentido de tornar esta Arma autónoma. Pretendia-se, assim, diminuir os numerosos acidentes e melhorar a sua eficácia. No entanto, pressões corporativas e restrições orçamentais tinham atrasado a reorganização da Aeronáutica Militar que tinha ganho, entretanto, um grande prestígio na opinião pública pelas travessias transatlânticas que se assemelhavam à gesta dos nossos navegadores quinhentistas. A polémica rebentou no meio da viagem de Portugal a Macau, empreendida por Sarmento Beires e Brito Pais. O governo foi acusado no Parlamento pela oposição de não apoiar, nem prestar a devida atenção a este empreendimento882. Os ataques mais impetuosos vieram de parte dos deputados António Maia (independente) e de Lelo Portela (PRN). António Maia acusou o governo de desinteressar-se do raid Lisboa-Macau, dado

880

Vejam-se as declarações do secretário do Directório do PRN, Pedro Pita:

“A portaria do Sr. Ministro da Instrução anulando um Doutoramento e a proposta de lei do Sr. Ministro da Justiça, fazendo regressar à sua intangibilidade e pureza a lei da separação, obrigavam a uma clara definição de atitude por parte do corpo dirigente do meu Partido.

A portaria do Sr. Ministro da Instrução é na verdade simplesmente inconcebível; e eu não estranharei se amanhã – pelo mesmo critério – o Sr. Ministro da Justiça, por uma simples portaria também anular um acórdão do Supremo Tribunal.

Que a tese é uma coisa sem vislumbres de ciência amontoado de afirmações sem base e sem interesse, chocha, oca, feita talvez com o fim único de ostentar religiosidade e provocar reclamo – creio que sim ao menos pelo que tenho lido nos jornais, porque a tese nunca a li; e que aos mestres que a receberam e aprovaram deveriam ser-lhes pedida responsabilidade – também concebo. Mas que se proceda por simples portaria ao desdoutoramento de alguém, quando a mais a mais gozam de autonomia universitária, é que não pode passar sem receio e sem protesto”. [...]

No último Congresso realizado nos princípios deste ano o PRN definiu bem claramente, na verdade, a sua situação perante o problema religioso: - com o reconhecimento da supremacia do Poder Civil, a maior neutralidade e o maior respeito pela crença de cada um”. [...]

“Cabem, na verdade dentro das fileiras do PRN os católicos e os não católicos. Eu pertenço a um partido político, e não tenho nenhuma crença religiosa; mas tenho por correligionários e até por colegas no Directório pessoas que muito preso e que são religiosas.

Todos cabemos dentro deste Partido que nada tem que ver – repito – com as confissões religiosas de qualquer dos seus membros que para todas as religiões mantêm uma posição de neutralidade, dando a cada um o direito de pensar e de crer com entender que é melhor”, Pedro Pitta, O Jornal, 23-6-1924, p. 4.

881 Nota Oficiosa do PRN:

“1.º - Definir a sua atitude de intransigente oposição à proposta do Sr. Ministro da Justiça sobre as relações do Estado com as Igrejas, atentatória da liberdade de consciência, afirmando mais uma vez a posição do Partido em matéria religiosa, que é e absoluta neutralidade com respeito a todas as crenças, embora reconhecendo sempre a supremacia do poder civil;

2.º - Afirmar publicamente a sua discordância com o procedimento do sr. Ministro da Instrução; anulando por simples portaria uma tese de doutoramento aprovada por uma das Faculdades do país, precedente que põe em grave risco direitos legalmente adquiridos e que é um formidável atentado à autonomia universitária;”, O Jornal, 24-6-1924, p. 1.

882

Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 29-4-1924, pp. 6-10; idem, 30-4-1924, pp. 4-9; idem, 16-5- 1924, pp. 4-10; Diário de Lisboa, 16-5-1924, p. 8.

nenhum ministro ter assistido à sua partida e se recusar a pagar o subsídio de 25 escudos dia aos aviadores Sarmente Beires e Brito Pais, concedido a qualquer oficial em serviço fora da sua unidade883. O deputado nacionalista, por sua vez, fez uma crítica cerrada à acção do Ministro da Guerra, Américo Olavo, principalmente na sua relação com a aeronáutica militar. Para Lelo Portela esta Arma “não tem podido desempenhar cabalmente a sua missão, pois a verdade é que os aviadores do nosso exército estão impossibilitados de voar”, sendo-lhe “recusados os meios indispensáveis para poderem comprar gasolina e os óleos necessários”. E terminou o seu discurso dizendo que “para a disciplina do exército é inconveniente a permanência do Sr. Ministro da Guerra nessa pasta”884

.

O conflito intensificou-se no dia 2 de Junho, quando se soube que o Ministro da Guerra, Américo Olavo, tinha nomeado um coronel da infantaria, Morais Sarmento, sem qualquer experiência na aviação, para dirigir os serviços da aeronáutica, tendo demitido o anterior comandante, major Cifka Duarte. António Maia criticou de forma impetuosa o Ministro da Guerra, tendo declarado que essa nomeação era “absolutamente anticonstitucional” e “representava uma provocação à 5.ª arma”. E por fim para grande escândalo dos presentes rematou: “Esse decreto atira à 5.º arma com um punhado de... [merda]”. Mais tarde, por insistência do Presidente da Câmara dos Deputados, substituiu a última palavra por “lama”885

. Os nacionalistas pela voz de Lopes Cardoso questionaram a posição do Ministro da Guerra, que quando o país demonstrava um verdadeiro culto pelos aviadores nacionais, iniciou uma guerra contra estes. Lamentou ainda o facto de o decreto de nomeação do Coronel Morais Sarmento, não tivesse sido analisado no Parlamento, para que fosse apreciada a sua constitucionalidade886. O deputado nacionalista, Lelo Portela, que também pertencia à aeronáutica, considerou que a atitude do Ministro representava “uma provocação e uma ofensa a uma corporação inteira”887

. O ambiente escaldante do Parlamento contagiou os grupos da aeronáutica militar sedeados na Amadora e na Quinta da Granja e mobilizou- os para a amotinação e para o aliciamento de outras unidades militares de Lisboa para a revolta. No dia 3 de Junho o presidente do ministério, Álvaro de Castro, informou a Câmara dos Deputados de que os aviadores se recusaram a obedecer ao coronel Morais Sarmento, obedecendo às ordens de major Cifka Duarte888, pelo que o governo tinha mandado o comandante da 1.ª divisão, general Roberto Batista, a reduzir “à obediência aquelas duas unidades”, pelo que vários contingentes da guarnição de Lisboa estavam já a cercar os revoltosos. O governo não podia admitir que “oficiais que devem ser disciplinados discutam e considerem inconstitucionais quaisquer diplomas emanados do Poder Executivo”889

. O PRN encontrava-se numa situação difícil. Por um lado, queria continuar a ser conotado como o partido da ordem e da disciplina, mas por outro lado, queria desgastar o governo, sublinhando os seus erros e fragilidades no conflito com os aviadores. Cunha Leal entrou na discussão na Câmara dos Deputados no dia 4 de Junho quando os revoltosos estavam cercados pelas tropas governamentais, dirigiu-se ao Presidente do Ministério nestes termos: “V. Ex.ª não tem em nome da humanidade, o direito de atirar 3000 homens armados contra 17 oficiais que são, nesta época de desmoronamento moral, dos poucos que ainda simbolizam com galhardia as qualidades

883 Diário da Câmara dos Deputados, 16-5-1924, pp. 4-10; Diário de Lisboa, 16-5-1924, p. 8. 884 Lelo Portela, Diário da Câmara dos Deputados, 26-5-1924, p. 9.

885

António Maia, Diário da Câmara dos Deputados, 2-6-1924, p. 7; cf., Diário de Lisboa, 2-6-1924, p. 8.

886 Diário da Câmara dos Deputados, 2-6-1924, pp. 8-11; Diário de Lisboa, 2-6-1924, p. 8. 887 Lelo Portela, Diário da Câmara dos Deputados, 2-6-1924, p. 11.

888

Diário de Lisboa, 2-6-1924, p. 8.

heróicas da Raça! Sarmento Beires e Brito Pais, quando souberem do que a esta hora se passa em Portugal hão de ter pena enorme de se verem longe da Pátria”, impedidos de se juntarem “aos seus camaradas, para morrer com eles se preciso fosse. Nem eu nem o Partido Nacionalista queremos ser réus do crime de haver deixado fuzilar 17 bons portugueses, em nome da inabilidade do Sr. Ministro da Guerra”890. Propunha, por isso, que o governo com o auxílio, se necessário do PRN, encontrasse “uma solução honrosa”891

para as partes em conflito. No entanto, o governo queria impor a legalidade e a disciplina o mais rapidamente possível, tendo instigado o Parlamento a pronunciar- se sobre se a acção do governo era a correcta. O Parlamento apoiou a posição do governo em duas moções apresentadas por António Maia e Paiva Gomes. Nesta última moção os deputados do PRN já se posicionaram contra o governo, apostando claramente na queda deste892.

Na Amadora, o conflito permaneceu num impasse, uma vez que os aviadores não se rendiam, nem as tropas da 1.ª divisão se decidiam a atacar. Durante estes dias vários intermediários tentaram estabelecer negociações com os 17 aviadores que continuavam amotinados. O deputado nacionalista Alberto Lelo Portela, foi um dos mediadores que entrou no quartel para participar nas conversações, mas acabou por ai permanecer, colocando-se ao lado dos seus camaradas893. A dificuldade para encontrar uma rápida solução para o conflito, por parte do comandante da 1.ª divisão, general Roberto Batista, levou o governo a substituí-lo pelo general Bernardo de Faria. No auge do conflito, o chefe do ministério fez algumas afirmações que humilharam os militares e cavaram mais fundo a separação entre o governo e as forças armadas894, em particular quando Álvaro de Castro se dirigiu ao general sitiante através do Diário de Lisboa: “Se eu fosse o general Bernardo de Faria ia prender os aviadores com vinte alunos do Colégio Militar, e dos mais pequeninos”895

. Os oficiais aviadores acabaram por render- se na manhã do dia 7 de Junho de 1924 ao general Bernardo de Faria, que entrou no campo da Amadora com 45 oficiais desarmados896. Os oficiais revoltosos, entre os quais se encontrava o deputado nacionalista Alberto Lelo Portela, foram presos em S. Julião da Barra, mas lançaram apelos pelos jornais para os seus apoiantes afrontarem o governo, auxiliando uma subscrição para ajuda dos seus colegas em viagem para Macau. Alberto Lelo Portela manteve-se detido com os seus camaradas, mas o Ministério da Guerra teve de formular um pedido à Câmara dos Deputados cumprindo o preceito consignado no artigo 17.º da Constituição da República Portuguesa. Os nacionalistas criticaram duramente o facto de o pedido só ter dado entrada uma semana depois da detenção do referido deputado e questionou-se a legalidade da manutenção da mesma897. A questão da aeronáutica feriu de morte o ministro da guerra, Américo Olavo, e o governo perdeu o apoio de vastos sectores do PRP, pelo que foi com naturalidade que o deputado democrático, Vasco Borges, apresentou uma moção não autorizando a manutenção da prisão do deputado Lelo Portela. Esta moção teve um

890 Cunha Leal, Diário de Lisboa, 4-6-1924, p. 8.

891 Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 4-6-1924, p. 9. 892

A moção de Paiva Gomes foi aprovada por 51 deputados e reprovada por 24 deputados, cf., Diário da

Câmara dos Deputados, 4-6-1924, pp. 21-31.

893 Diário de Lisboa, 3-6-1924, p. 8; idem, 4-6-1924, p. 5.

894 A raiva dos aviadores para o chefe do governo chegou ao ponto de Ribeiro da Fonseca ter solicitado

um duelo a Álvaro de Castro quando este se encontrava com a sua esposa no S. Carlos. O combate de sabre do presidente do governo demissionário e do oficial aviador foi no dia 2 de Julho de 1924, com direito a foto de primeira página, cf., Diário de Lisboa, 30-6-1924, p. 5; idem; 2-7-1924, p. 1 e 5.

895 Álvaro de Castro, Diário de Lisboa, 7-6-1924, p. 5. 896

Diário de Lisboa, 7-6-1924, p. 8; idem, 9-6-1924, p. 3.

apoio generalizado na Câmara dos Deputados, tendo sido aprovada por cinquenta e sete votos favoráveis contra sete desfavoráveis898. Ficava ainda por resolver a situação dos outros aviadores presos em S. Julião da Barra. O deputado Jaime de Sousa apresentou um Projecto de Lei que defendia a amnistia para oficiais implicados na insurreição, sendo secundado por António Maria da Silva do PRP899. Cunha Leal e os nacionalistas contrapuseram à amnistia, a liberdade condicional e uma homenagem pública aos aviadores, uma vez que os mesmos queriam ir a julgamento900, o que continuaria a desgastar o governo e o PRP. A proposta de Cunha Leal ficou prejudicada, indo a votos a proposta de amnistia de Jaime de Sousa, que saiu vencedora por trinta e um votos favoráveis contra trinta desfavoráveis901. Era evidente que o governo já não tinha a confiança de uma parte significativa dos democráticos, que votaram ao lado dos nacionalistas, pelo que Cunha Leal avançou com uma moção de desconfiança ao governo902. Entretanto, a substituição do ministro do comércio, Nuno Simões, por razões políticas, foi a escusa que o PRP encontrou para deixar de apoiar o executivo de Álvaro de Castro, tendo Vitorino Guimarães apresentado outra moção de desconfiança ao governo sobre a composição do governo. Os membros do grupo parlamentar de Acção Republicana, apoiantes do governo, apresentaram uma moção de confiança à política do governo por intermédio de Carlos Olavo, sendo a mesma rejeitada por 33 votos contra 31. A moção de desconfiança de Vitorino Guimarães acabou por ter prioridade sobre a de Cunha Leal e foi aprovada por 41 votos favoráveis contra 23 desfavoráveis903. A Câmara dos Deputados declarava claramente que perdera a confiança no Governo, pelo que Álvaro de Castro apenas lhe restava a tarefa de “comunicar ao Sr. Presidente da República o que se passou na sessão [...], bem como os resultados das votações”904

. Monárquicos, nacionalistas e alguns independentes e democráticos em coligação, deitaram por terra o governo de Álvaro de Castro, mas não apresentavam uma solução estável e clara de governo.

Álvaro de Castro dirigiu-se de imediato por carta ao Presidente da República, tendo declarado que durante “o debate político que teve lugar hoje na Câmara e do qual resultou a rejeição da moção de confiança à obra financeira e económica do governo, apresentada e defendida pelo líder do grupo de Acção Republicana”, pelo que apresentava a demissão do executivo. Não se coibiu ainda de apresentar uma solução para a crise política. Uma vez que a Câmara tinha rejeitado a sua política económica, mas tinha aprovado a moção de Vitorino Guimarães, havia uma “larga maioria parlamentar apta a governar. A esta maioria, pois, parece caber a obrigação de constituir ministério. [...] Julgo unicamente viável um governo cuja presidência seja atribuída a uma personalidade do Partido Democrático”. E na sua opinião apenas Afonso Costa estava à altura de liderar esse executivo, uma vez que só ele podia reunir a família democrática, que tinha revelado durante o debate uma grande “dispersão de ideias” 905

.

898 Diário da Câmara dos Deputados, 17-6-1924, pp. 20-23. 899 Diário da Câmara dos Deputados, 23-6-1924, p. 20-31

900 Diário da Câmara dos Deputados, 23-6-1924, p. 5. Depois da aprovação da lei da amnistia na Câmara

dos Deputados, os aviadores presos em S. Julião da Barra solicitaram ao Senado para não aprovar a mesma, cf., Diário de Lisboa, 26-6-1924, p. 5.

901 Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 24-6-1924, pp. 17-19; O Jornal, 25-6-1924, p. 4. O Chefe de

Estado assinou um diploma ordenando a libertação dos aviadores presos em S. Julião da Barra no dia 28 de Junho de 1924, cf., Diário de Lisboa, 28-6-1924, p. 8; Lei n.º 1613 de 1 de Julho de 1924.

902

Diário da Câmara dos Deputados, 26-6-1924, p. 18.

903 Diário da Câmara dos Deputados, 26-6-1924, pp. 30-34.

904 Álvaro de Castro, Diário da Câmara dos Deputados, 26-6-1924, p. 34. 905

Carta de Álvaro de Castro entregue ao Chefe de Estado no dia 26 de Junho de 1924 e publicada no

O Presidente da República, seguindo a sugestão de Álvaro de Castro, contactou Afonso Costa para o convidar a formar governo e ouviu os líderes partidários com assento no Parlamento. O PRN continuava a recusar participar em governos nacionais de concentração, pelo que o presidente do Directório do PRN, António Ginestal Machado, considerava que “competia à maioria constituir governo” era ela quem devia “assumir todas as responsabilidades”906

. Afonso Costa declinou o convite para organizar governo, pelo que o Presidente da República convidou novamente Álvaro de Castro para constituir um executivo, desde que tivesse o apoio do Bloco. Porém, as exigências que Álvaro de Castro fez ao PRP não foram totalmente satisfeitas, pelo que a chefia do governo teve de ser entregue a um democrático907. O directório, a junta consultiva e o grupo parlamentar do PRP votaram em Rodrigues Gaspar, em detrimento de José Domingos dos Santos, para chefiar o executivo, sendo de imediato o Chefe de Estado informado desta decisão. Álvaro de Castro e o Grupo Parlamentar de Acção Republicana ponderaram não apoiar esta escolha, uma vez que preferiam que a chefia do executivo fosse entregue a Afonso Costa ou que fosse novamente indigitado Álvaro de Castro. No entanto, depois de longas reuniões no Congresso acabaram por apoiar o governo, embora alguns deputados da Acção Republicana tivessem saído da sala da

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