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Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

6. Afonso Costa e a formação de um «Governo Nacional»

O grupo parlamentar do partido democrático reuniu-se a partir das 14 horas do dia 31 de Outubro de 1923 para apreciarem a crise governativa. Depois de longa discussão decidiu-se indicar o nome de Afonso Costa para formar um governo de salvação nacional. Os deputados Vitorino Guimarães, Catanho de Menezes e Alberto Vidal saíram da reunião para dar conta da posição do PRP ao Presidente da República578. Teixeira Gomes terá manifestado desejo que primeiramente o Partido Democrático perscrutasse da disponibilidade de Afonso Costa para regressar a Portugal para assumir a chefia do Governo, dado que uma recusa deste seria um desaire para o Chefe de Estado. De regresso ao palácio do Congresso os parlamentares deram conta aos seus colegas da posição do Presidente da República. Depois de longa discussão, decidiram seguir as indicações do Chefe de Estado, para não agravar mais a crise, tendo sido enviado um telegrama a Afonso Costa pedindo-lhe que regressasse imediatamente a Lisboa. Germano Martins, amigo e colaborador pessoal de Afonso Costa, foi encarregue de enviar a missiva para Paris579.

No dia seguinte a maioria parlamentar do PRP reuniu-se novamente para analisar a situação política. Nesse dia surgiram boatos dando conta que o convite a Afonso Costa tinha sido precipitado e não tinha sido oficial, Pelo que abriram novas possibilidades para formar governo, desde a presidência ser entregue a Domingos Pereira, num governo do PRP ou a António José de Almeida, num governo de união dos dois maiores partidos na República. Os nacionalistas apresentaram a seu ponto de vista ao Presidente da República, mostrando-se prontos para governar sozinhos580, mas na eventualidade de Teixeira Gomes chamar um executivo democrático disseram que “teriam para com esse governo, a mesma «expectativa benévola»” que tiveram “para com o do Sr. António Maria da Silva”. Uma vez que o PRN “não combate sistematicamente nenhum governo...”581

. As conversações entre o PRP e o Presidente da República prosseguiram e “só pelos jornais o Partido Nacionalista teve conhecimento de que o Partido Republicano Português indicara ao Chefe de Estado o nome do Sr. Dr. Afonso Costa; de que este eminente republicano fora encarregado de organizar gabinete, e de que para esse gabinete, com as características de «governo nacional ou de união sagrada», contava com a colaboração dos Nacionalistas, que sobre as possibilidades de semelhante hipótese não tinham sido ouvidos”582

.

Na madrugada de 1 para 2 de Novembro o destino do PRP e do país parecia que estava dependente da chegada de um telegrama. Germano Martins refugiou-se em casa na esperança que o telegrama chegasse nessa madrugada. O telefone não parava de tocar! Já chegou o telegrama? Perguntava Vasco Borges do Grémio Literário. Já temos resposta? Indagava Urbano Rodrigues do Mundo. Depois de uma longa noite o carteiro

578 Diário de Lisboa, 31-10-1923, p. 5.

579 Diário de Lisboa, 1-11-1923, p. 8; Urbano Rodrigues, A Vida Romanesca de Teixeira Gomes. Notas

para o estudo da sua personalidade e da sua obra, Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1946, p. 234.

580 Diário de Lisboa, 1-11-1923, p. 1;

581 Carlos Vasconcelos, Diário de Lisboa, 5-11-1923, p. 5. Cf., “O Partido Nacionalista explica ao país a

sua atitude”, [Manifesto a explicar a atitude perante o Governo Nacional de Afonso Costa], República, 14-11-1923, p. 2. Pedro Tavares de Almeida, Espólio de António Ginestal Machado, 1874-1940.

Inventário, Biblioteca Nacional de Portugal/Assembleia da República, pp. 219-224.

582 “O Partido Nacionalista explica ao país a sua atitude”, [Manifesto a explicar a atitude perante o

Governo Nacional de Afonso Costa], República, 14-11-1923, p. 2. Pedro Tavares de Almeida, Espólio de

António Ginestal Machado, 1874-1940. Inventário, Biblioteca Nacional de Portugal/Assembleia da

trouxe às cinco e meia a tão desejada mensagem. Até o próprio carteiro ficou em suspenso em frente de Germano Martins:

“- Então, ele vem...

- Parece que sim, homem”583.

Na manhã do dia 2 de Novembro, Germano Martins deu a conhecer ao Directório do PRP o conteúdo do telegrama, tendo sido decidido enviar uma representação ao Presidente da República, informando-o das novidades e da posição do PRP. Teixeira Gomes recebeu Vitorino Guimarães e Catanho de Menezes e depois de ouvir a orientação do partido democrático decidiu enviar um telegrama a Afonso Costa comunicando-lhe a sua resolução de convidá-lo a formar governo. Neste telegrama o Chefe de Estado apelou aos sentimentos patrióticos de Afonso Costa, “lembrando-lhe a hora delicada que o país” atravessava nesse momento, o que “tornava indispensável a sua cooperação”584

. No dia seguinte, Afonso Costa respondeu ao Chefe de Estado, informando-o que chegaria a Lisboa no dia 6 de Novembro e que iria de imediato conferenciar com ele. No entanto, preveniu-o desde logo sobre as condições que achava necessárias para a formação do governo: “Conservando-me fora das lutas partidárias faço votos como português e republicano pela organização dum governo nacional ou de união sagrada que dentro da Constituição e das leis e firmemente apoiado no actual Parlamento preste ao país os excepcionais serviços que se impõem e a cuja obra de administração eu possa dar o meu modesto concurso”585

.

No dia 3 de Novembro começaram os boatos na imprensa sobre a constituição do Governo. Seria um governo partidário do PRP ou um “governo de competências” com a representação de outras forças, nomeadamente dos nacionalistas? Afonso Costa iria rodear-se de velhos republicanos ou dos neo-democráticos? A única certeza que a imprensa veiculava era que Afonso Costa tinha respondido ao Presidente da República aceitando o convite para formar Governo586.

Os nacionalistas rapidamente deram a conhecer a sua posição. Estavam prontos para governar sozinhos e indisponíveis para fornecer ministros ao governo de Afonso Costa, que consideravam puramente democrático, uma vez que o Presidente da República não perguntou ao PRN sobre a sua disponibilidade de participar no Governo. Segundo António Ginestal Machado o Presidente da República teria perguntado ao Directório do PRN sobre a “atitude que tomaria perante um ministério constituído pelas mais altas individualidades democráticas”587

. Por outro lado, a táctica do PRN passava por não se deixar «queimar» junto aos democráticos, uma vez que achavam que estes estavam a “empregar o seu último cartuxo”588

, ficando os nacionalistas prontos para assumir o Poder, logo que o governo de Afonso Costa caísse em desgraça. Por outro lado, consideravam que “a união dos dois grandes partidos, constituiria” nesse “momento, um grave perigo para a República”, uma vez que a grande massa de descontentes que este governo criaria, “se não tivesse um partido republicano para ingressar, fugiria toda para o partido monárquico”589

. Se um governo deste tipo fracassasse, “fracassava a República. Esgotavam-se e quebravam-se os dois partidos,

583 Diário de Lisboa, 2-11-1923, p. 5.

584 Diário de Lisboa, 2-11-1923, p. 5. Cf., A. H. de Oliveira Marques, Afonso Costa, 2.ª edição, Lisboa,

Arcádia, 1975, p. 222.

585 Telegrama enviado por Afonso Costa para o Presidente da República, Teixeira Gomes, datado em

Paris a 3 de Novembro de 1923 [A Tarde, 9-11-1923, p. 1].

586 Diário de Lisboa, 3-11-1923, p. 8; A Tarde, 7-11-1923, pp. 1 e 3. 587 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 8. 588

Carlos Vasconcelos, Diário de Lisboa, 5-11-1923, p. 5.

não havendo outro para os substituir no poder”590

. Os nacionalistas estavam também conscientes que esta estratégia tinha os seus perigos, pois a recusa em colaborar com os democráticos provocaria uma tempestade contra os nacionalistas, permitindo que Afonso Costa regressasse “a Paris, atirando para cima do Partido Nacionalista a responsabilidade de não ter formado um governo nacional”591

.

Afonso Costa queria contar com elementos do PRN no seu executivo, pelo que estabeleceu contactos com os nacionalistas através de um velho republicano independente592 e reuniu-se com Álvaro de Castro, em casa deste593. No entanto, os nacionalistas continuaram irredutíveis, apoiam um governo de Afonso Costa, mas não indicam nenhum ministro para um governo de concentração. Os nacionalistas afiançaram por escrito ao Presidente da República que garantiam ao novo “governo o seu apoio parlamentar, sincero e antipolítico”594

. Ao mesmo tempo, questionaram o facto de o executivo desenhado por Afonso Costa ser considerado um governo nacional, dando mostras daquilo que os separava em termos ideológicos dos outros republicanos. Lelo Portela foi muito claro quanto a este aspecto: “O que o sr. Afonso Costa quis formar foi um governo de concentração republicana, ainda que fora dos partidos, pois não contou com elementos católicos ou supostamente não republicanos”595

. Para António Ginestal Machado um ministério nacional só se justificava “num estado de guerra, ou num grave trânsito do país”596

. O PRN tinha a sua individualidade e queria mantê-la597.

No dia 7 de Novembro Afonso Costa desdobrou-se em contactos políticos, tendo conferenciado com o Presidente da República, em Belém, com António Maria da Silva no Ministério do Interior, com o Ministro das Colónias no Ministério598 e com Álvaro de Castro na casa deste. Afonso Costa não queria fazer um “ministério de concentração, mas sim um governo extra-partidário” em que entrariam “oficiosamente e não oficialmente representantes de todos os partidos”599

. Por isso, a estratégia foi começar por não se encontrar com os directórios dos partidos políticos, nem sequer do seu. Mas teve de inverter rapidamente a estratégia. Acabou por reunir-se com o Directório do PRN, dada a sua intransigência em mudar de posição. Seguindo o relato do Diário de

Lisboa, Afonso Costa teria alegado que queria formar um governo nacional e que não

representava o partido democrático no Governo. Por fim “afirmou peremptoriamente que, desde que o PRN não compartilhasse oficialmente do poder, desistiria da união de que o incumbira o Sr. Presidente da República”. Os membros do Directório do PRN retorquiram, fazendo notar que se aceitassem o critério de Afonso Costa seria um suicídio político. Sugeriram como plataforma de entendimento “a formação de um governo francamente extra-partidário, que poderia contar com um largo período de expectativa parlamentar benévola”600

. Afonso Costa insistiu que queria seguir uma política francamente nacional contando, para isso, com o concurso do PRN601. Não

590

António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 8.

591 Ribeiro de Carvalho, República, 3-11-1923, p. 1.

592 Diário de Lisboa, 7-11-1923, p. 5; A Tarde, 7-11-1923, pp. 1 e 3.

593 Segundo Cunha Leal foi desde a chegada de Afonso Costa a Lisboa que as divergências políticas com

Álvaro de Castro se acentuaram. Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 8-1-1924, p. 11.

594 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 8. 595 Lelo Portela, Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 5.

596 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 8.

597 “O Partido Nacionalista explica ao país a sua atitude”, República, 14-11-1923, p. 2. 598

Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 1.

599 Diário de Lisboa, 7-11-1923, p. 8; A Tarde, 7-11-1923, pp. 1 e 3; idem, 8-11-1923, p. 1. 600 Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 8. Cf., A Tarde, 8-11-1923, pp. 1 e 3.

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Alguns dias depois quando os nacionalistas pretenderam justificar-se perante o país pelo fracasso da formação do governo de Afonso Costa, alegaram que este político teria afirmado na reunião com o

querendo nenhuma das partes tomar uma decisão definitiva nessa reunião, os nacionalistas pediram mais um dia para poderem reunir com todos os membros categorizados do partido, para assim tomarem uma decisão final. Nesta reunião notou-se que Álvaro de Castro tinha uma posição diferente dos restantes membros do PRN, não tendo tomado parte activamente na discussão, embora se inclinasse para a participação do PRN no governo liderado por Afonso Costa. Por outro lado, os jornais começaram a especular sobre a sua eventual saída do PRN, conjuntamente com Sá Cardoso, velhos amigos e aliados de Afonso Costa602.

A estratégia usada por Afonso Costa começou a ser questionada também do lado dos republicanos históricos, sendo Bernardino Machado o seu porta-voz inicial: Criticou em primeiro lugar o facto de Afonso Costa não ter um plano: “Anunciar o propósito da constituição de um ministério nacional não basta. Não basta, apenas, pretender unir os republicanos de dentro e fora dos partidos da sua constituição. E nem parece que o caminho melhor para isso fosse começar por pôr de parte o directório do próprio partido que indicou o seu nome para chefe do governo consultando primeiro o directório de um dos partidos adversos”. Por outro lado, afirmou que é necessário apresentar um “programa em volta do qual, então, forme conscientemente essa união nacional [...]. E de programa governativo só sabemos até agora este absurdo: - O Dr. Afonso Costa quer governar sem política”603

. Do lado dos socialistas, Amâncio de Alpoim também enviou algumas farpas: “Afonso Costa não representa um programa ou qualquer ponto de vista. Limitou-se a dizer: vou governar. Os políticos compreenderam que ele quer governar sem as oposições do parlamento, ou seja em ditadura constitucional, e mais nada...”604

. O Directório do PRN não querendo tomar sobre si próprio toda a responsabilidade de uma resolução definitiva, reuniu com o grupo parlamentar, onde o assunto foi discutido e convocou o órgão consultivo do PRN605. No dia 8 de Novembro pelas 16 horas reuniu-se no Palácio do Calhariz a Junta Consultiva do PRN, que reunia todos os membros relevantes do partido, com destaque para os actuais deputados e senadores e para os antigos parlamentares e ministros dos partidos que deram origem ao PRN606. Afonso Costa sabendo da primordial importância desta reunião reuniu-se em casa de António José de Almeida, patriarca do republicanismo conservador, no sentido dele poder influenciar alguns dos seus amigos e enviou dois emissários ao Palácio do Calhariz, para tentarem convencer alguns nacionalistas a adoptarem o seu ponto de vista. Álvaro Poppe (antigo reconstituinte) e Hélder Ribeiro (membro substituto do Directório do PRN) desdobraram-se em contactos antes da reunião dar início, tentando convencer os seus camaradas da bondade da proposta de Afonso Costa. Germano Martins também efectuou alguns contactos antes do início da Junta Consultiva. Deslocou-se a casa de Caetano Gonçalves para o influenciar a defender a constituição

directório do PRN o seguinte: “ou o Partido Nacionalista me dá os ministros que eu quiser, para as pastas que eu quiser, para executar o programa de que não lhes dou conhecimento, ou declino o encargo de formar governo”. “Ao País. O Partido Republicano Nacionalista explica porque não quis participar do governo Afonso Costa”, O Torreense, 18-11-1923, p. 2.

602 Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 8; A Tarde, 8-11-1923, pp. 1 e 3. 603 Bernardino Machado, Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 5.

604 Amâncio de Alpoim, Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 4. 605 República, 8-11-1923, p. 1.

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Antes da reunião podia ler-se num placard do Palácio do Calhariz a seguinte mensagem, que depois foi retirada: “Se ele [Afonso Costa] for feliz, que colha sozinho os louros do seu trabalho. Basta de confusões! Basta! Basta!”. Outra mensagem convidava “todos os parlamentares a assistirem à reunião da Junta Consultiva, para não se permitir que Afonso Costa organizasse governo” [A Tarde, 8-11-1923, p. 8].

do Governo Nacional607. A reunião da Junta Consultiva foi presidida por Augusto de Vasconcelos, tendo o debate prolongando-se por várias horas. A maioria dos membros da Junta Consultiva adoptou a proposta do Directório, liderado pela eloquência de Cunha Leal608, tendo decidido dar apenas o apoio parlamentar ao governo de Afonso Costa609. Foi votada a moção de Carvalho dos Santos610, que obteve 50 votos a favor e apenas dois votos contra, tendo Álvaro de Castro votado favoravelmente e Sá Cardoso e Hélder Ribeiro contra611. Na sequência desta decisão algumas importantes figuras decidiram abandonar o Partido Republicano Nacionalista, como Artur Cohen, coronel Miguel Garcia612 e o major Hélder Ribeiro613, tendo enviado cartas ao Directório, que posteriormente foram divulgadas na imprensa. O tenente-coronel Henrique Sátiro Lopes Pires Monteiro, que não tinha ingressado no PRN, mas tinha-se mantido sócio de um antigo centro político reconstituinte transformado em nacionalista, também o abandonou, alegando que “o Partido Nacionalista não permitindo a constituição de um governo nacional sob a presidência da grande figura da República, cujo passado era a mais segura garantia de êxito para vencer as dificuldades da hora presente, pouco consentâneas com as flutuações políticas, que um partido sem maioria parlamentar necessariamente produziria para se manter no âmbito constitucional, demonstra que se colocaram os interesses partidários acima da República”614

.

Depois de conhecida a decisão da Junta Consultiva do PRN, Afonso Costa decidiu prescindir de formar governo615 e tencionava regressar à sua casa na Serra da

607 Caetano Gonçalves, Coroa de Saudades (sobre a campa de minha mulher). Efemérides e notas auto-

biográficas, Vila Nova de Famalicão, Grandes Oficinas Gráficas “Minerva”, 1945, p. 79.

608 Cf., Diário de Lisboa, 12-11-1923, p. 8. 609 Diário de Lisboa, 8-11-1923, p. 8. 610

“A Junta Consultiva e o Grupo Parlamentar do Partido Republicano Nacionalista, reconhecendo as altas qualidades de estadista do Sr. Dr. Afonso Costa, que é incontestavelmente a figura de maior destaque do Partido Democrático; mas considerando o Partido Republicano Nacionalista inibido por afirmações anteriores e pelo reconhecimento da sua capacidade governativa ainda não experimentada, de colaborar na organização de um governo cujo programa de acção nem sequer lhe foi exposto e cujo fracasso, a dar-se deixaria a República privada da assistência dum Partido sem responsabilidades nos erros do passado; e considerando ainda que o Sr. Presidente da República não pensa ser necessário a constituição de um governo nacional na hora presente, pois aos próprios líderes do partido apenas foi apresentado como solução um novo governo do Partido Democrático; resolve, apesar de tudo, dar ao Parlamento o mais firme, leal e patriótico apoio a qualquer governo da presidência do Sr. Dr. Afonso Costa e afirma a fé do Partido Republicano Nacionalista nos destinos do país e no seu destino considerando-o apto a governar por si só, conforme foi expresso ao Sr. Presidente da República”,

República, 9-11-1923, p. 1.

611

Diário de Lisboa, 9-11-1923, p. 8; O Debate, 23-12-1923, p. 1; Correio da Manhã, 9-11-1923, p. 1.

612 Cf., O Combate, 25-11-1923, p. 2.

613 “Exmo. Sr. Presidente do Directório do Partido Republicano Nacionalista – A convite do ilustre

Directório pronunciou-se ontem a Junta Consultiva sobre a atitude a tomar pelo partido perante as solicitações feitas pelo Exmo. Sr. Dr. Afonso Costa para o Partido Republicano Nacionalista comparticipar no governo que o mesmo senhor estava procurando organizar. Como vossa Ex.ª sabe, a minha opinião foi em absoluto discordante da quase unanimidade da assembleia e dos discursos pronunciados ressaltou para mim a absoluta convicção de a divergência de critérios – o do partido e o meu – era tão funda que impossível me era adaptar o meu ao da assembleia. Nesta situação só um caminho tenho a seguir, o que me traça o respeito que devo a v. Ex.ª e a mim próprio – o de me afastar do partido, com o qual me encontro em tão estrutural divergência sobre uma questão que por todas foi julgada como a mais grave sobre que o partido tem sido chamado a pronunciar-se”, O Combate, 25-11- 1923, p. 2.

614 O Combate, 25-11-1923, p. 2. 615 “Exmo. Snr. Presidente da República

Tendo-me Vossa Excelência encarregado de constituir Ministério, e julgando eu que só o devia formar se me fosse permitido escolher dentro dos partidos republicanos alguns dos meus colaboradores, sucedeu

Estrela no dia 9 de Novembro. No entanto, o Presidente da Republica solicitou-lhe uma nova conferência, pelo que Afonso Costa adiou a sua partida. Durante esse encontro Teixeira Gomes tentou convencê-lo a formar governo, dada a atitude dos nacionalistas em proporcionar-lhe um “largo período de benévola expectativa parlamentar”616. No entanto, nada demoveu Afonso Costa da sua posição617. O Presidente da República perante a negativa de Afonso Costa reuniu-se com o Directório do PRP. Teixeira Gomes seguiu o conselho dos dirigentes do PRP e encarregou Catanho de Meneses para iniciar diligências para formar Governo618. Os democráticos decidiram continuar com a mesma estratégia no executivo que vinham tendo até esse momento, formando um governo democrático-independente, tendo Catanho de Meneses reunido com os parlamentares independentes no dia 10 de Novembro. No entanto, começaram a circular vários boatos dando conta da dificuldade de Catanho de Meneses em formar governo e da possibilidade de ser chamado José Relvas, Magalhães Lima, António José de Almeida, ou mesmo João Chagas para a chefia do executivo, contando aí, os quatro, com Afonso Costa para a pasta das finanças619.

Entre 9 e 13 de Novembro Catanho de Meneses procurou formar um governo com elementos do PRP, com o apoio dos independentes, e se possível, com Afonso

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