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As eleições administrativas de Novembro de 1922 e o reatamento das negociações do bloco conservador (PRRN e o PRL)

Capítulo I Partidos e Sistemas Partidários na Europa do pós guerra

1. A formação de um partido republicano conservador alternativo ao PRP Um longo caminho de dificuldades

1.3. As eleições administrativas de Novembro de 1922 e o reatamento das negociações do bloco conservador (PRRN e o PRL)

Durante o verão de 1922 as negociações entre o PRL e o PRRN pareceram algo adormecidas. As eleições administrativas de Novembro de 1922 vieram possibilitar uma

246 Pires Avellanoso, “Uma Carta”, República, 23-05-1922, p. 2. 247 República, 21-5-1922, p. 1.

248

República, 23-5-1922, p. 1; «Circular do PRRN», A Norma, 25-1-1923, p. 2. Cf., Olga Maria Vasco Ribeiro, Álvaro Xavier de Castro: esperanças e fracasso de um republicano demoliberal: 1878-1928, Tese de mestrado em História Contemporânea apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1990, pp. 95-96.

nova reflexão sobre o papel dos dois partidos e potenciar alguns exemplos de cooperação entre eles.

Em várias vilas e cidades formaram-se conjunções republicanas, tendo por base um acordo entre elementos do PRL e do PRRN, quase sempre com o objectivo de vencer a lista do PRP, que por vezes também se associava a algum partido republicano.

Formaram-se, por exemplo, listas de «conjunção republicana» em Évora, Bucelas e Caldas da Rainha. Nas duas últimas localidades não conseguiram a maioria que lhes permitisse liderar o executivo camarário. No entanto, em Évora conseguiram obter uma vitória expressiva que lhe deu o domínio da comissão executiva da Câmara Municipal250. Outra designação comum para este tipo de alianças era a de «bloco conservador», caso de Mesão Frio, onde puderam vencer as eleições camarárias251.

No entanto, noutros locais os partidos concorreram isoladamente. Em Penafiel os democráticos venceram as maiorias e as minorias para a Câmara Municipal. Os liberais que tinham alguns monárquicos na sua lista fracassaram. Em Grândola os liberais venceram e os democráticos obtiveram as minorias. Em Mondim de Basto venceram os monárquicos e as minorias foram para os liberais252. Houve ainda concelhos onde as alianças locais pareceram desafiar a tendência nacional, caso de Luz e Conceição, onde a lista democrático-liberal venceu a protagonizada pelo partido reconstituinte253.

O PRP quando não necessitava dos outros republicanos ia sozinho às eleições. Quando estava em risco de perder as eleições lançava a ideia do perigo da República e avançava com listas de concentração republicana. Em 1922 não aceitou formar listas conjuntas com o PRL à Câmara Municipal de Lisboa, tendo o PRL de concorrer apenas com a finalidade de conseguir as minorias, e mesmo este objectivo falhou, uma vez que a lista monárquica foi a segunda mais votada254.

Há semelhança do que aconteceu em quase todas as eleições republicanas, estas também foram férteis em situações de violência e fraude eleitoral que terão beneficiado os democráticos255. Todavia, a consequência mais marcante destas eleições foi estas terem acentuado a decadência do Partido Republicano Liberal e do Partido Republicano de Reconstituição Nacional, por terem sofrido mais um fracasso eleitoral256.

Após as eleições administrativas de 1922 os republicanos ordeiros estavam a chegar a uma situação limite, levando-os a pensar que não valia a pena competir dentro do quadro legal: “Decididamente, não há meio de lutar, pelos nossos direitos, dentro da legalidade. Ou nos submetemos ao partido democrático, como escravos, como servos da gleba, como carneiros de um grande rebanho inconsciente e pacífico ou adaptamos, de futuro, contra o partido democrático, outro sistema de luta: a revolução à mão armada”257

. Porém, outros adversários do PRP preconizavam uma solução mais moderada. Cunha Leal, no Século, defendeu um novo equilíbrio entre as forças político- partidárias da República através da fusão dos partidos republicanos adversários do PRP258.

250 Cf., O Rebate, 29-11-1922, p. 2; Democracia do Sul, 14-11-1922, p. 1. 251

República, 13-3-1923, p.1.

252 Cf., O Rebate, 17-11-1922, p. 2. 253 Cf., O Rebate, 6-12-1922, p. 2.

254 Cf., República, 11-11-1922, p. 1; Ribeiro de Carvalho, República, 27-11-1922, p. 1.

255 Cf., Diário do Senado, 17-11-1922; 21-11-1922; 30-11-1922; Diário da Câmara dos Deputados, 17-

11-1922.

256 República, 16-11-1922, p. 1.

257 Ribeiro de Carvalho, República, 15-11-1922, p. 1. 258

“As forças políticas constitucionais são desproporcionadas, cumpre reconhecê-lo, e só quando a indispensável proporção se obtiver, que o mesmo vale dizer o seu equilíbrio, depararemos o meio de

Em Dezembro de 1922 após mais um fracasso das forças republicanas conservadoras nas eleições administrativas, com destaque para a capital, onde perderam as minorias para a lista monárquica, parecia inevitável uma aliança dos partidos ordeiros no sentido de criarem uma verdadeira alternativa ao partido democrático, uma vez que isolados a sua acção não fazia sentido e era inconsequente259. As direitas republicanas já não se contentavam em participar em governos de concentração com o PRP. Queriam governar sozinhas. Ribeiro de Carvalho, director da República deu o mote: “Dentro em pouco, estão esgotadas todas as soluções de governo dentro do partido democrático. E depois – de duas, uma. Ou as direitas republicanas se deixam ir, uma vez mais, para um governo de concentração, resignando-se no papel, já tradicional, de simples muletas do partido democrático, exploradas e escarnecidas por ele – ou se dispõem a governar com energia, com decisão, com audácia, organizando-se de modo a poder resistir a qualquer ataque revolucionário. Porque o partido democrático cai. Cai diante das ambições que o dividem, diante das rivalidades que o perturbam, diante da profunda incompetência governativa que o caracteriza. Mas, um mês depois, todas essas rivalidades se congraçam, todas essas ambições se juntam – para a conquista do poder. Porque sem as vantagens do poder, sem todas as posições de mando, sem dispor de tudo e de todos n’este país - o partido democrático não sabe viver nem manter as vastas clientelas que o constituem”260

.

As direitas republicanas queriam ir para o governo, mas de uma forma duradoura. Para isso, era necessário criar um governo forte e decidido, diferente dos que se tinham formado até então, dado que nesses ministérios conservadores “dez minutos depois de soar o primeiro tiro, de uma revolta qualquer, já toda a gente poderia oferecer alvíssaras a quem encontrasse um ministro”. O novo executivo ordeiro devia utilizar outros processos, devia por exemplo, controlar com mão férrea “esse ministério

normalizar um complexo estado de coisas oriundo do predomínio constante de uma corrente que, por muito poderosa, não logrará corresponder sempre às aspirações do país nem satisfazer as suas necessidades, como os factos de sobejo têm demonstrado.

Urge, pois, que se proceda à arrumação das forças políticas da República, reorganizando e fortalecendo aquelas que se antepõem ao partido democrático, não para o destruírem, o que seria utópico, não para se lhe subordinarem de qualquer maneira, como sonham, segundo parece, alguns dos partidários do Governo actual, mas para lhe provarem que a administração do país não pode, sem inevitáveis riscos, constituir monopólio ou feudo de um partido, por melhores que sejam as suas intenções e por muito elevada e pura a fé patriótica e republicana de que tenha dado mostras. (...)

Não exageremos, porque exprimimos tão-somente uma verdade, afirmando que, com efeito, os republicanos se distribuem hoje por dois campos; o democrático, em plena actividade e o anti- democrático, numa estagnação quase geral. Não é menos vivo, porém, o republicanismo deste, nem menos dedicado à causa do regime, embora preconizando outros métodos governativos. Simplesmente demoraram-se talvez, os do campo anti-democrático, em compreender que precisam de se unir, não por uma aliança, mas por uma fusão total, para contraporem a sua acção política e administrativa à dos seus adversários e para obstar a que a República venha a sofrer, ainda mais do que tem sofrido, em virtude de errónea, prejudicial e ridícula ideia de que fora do democratismo não há maneira de a servir com dignidade e proveito para a nação”. Cunha Leal, O Século, 18-11-1922, p. 1.

259 Circular do Directório PRRN assinada pelo líder, Álvaro de Castro: “[...] O insucesso da última

campanha eleitoral efectuada pelo P. R. Liberal obrigou este a renovar os seus propósitos de fusão, que o Directório do P. R. R. N. novamente apreciou em reunião conjunta do Conselho e das Comissões políticas e do Grupo Parlamentar, verificando que talvez metade dos presentes, perfilhavam a ideia de não ter finalidade o P. R. R. N. – Pois que subsistiam as dúvidas a este respeito, houve necessidade de reservar para a nova reunião o exame e a discussão de tão complexo e melindroso assunto, vindo-se entretanto no conhecimento de que graduados correligionários nossos, representando as mais dedicadas agremiações partidárias locais, entendiam não poder o nosso partido, sem embargo de não ter diminuído a sua representação no parlamento ou nos corpos administrativos continuar sustentando, inglória e inutilmente, uma luta que cada vez mais o afastava do Poder! [...]”, A Norma, 25-1-1923, p. 2.

essencialmente político, que é o Ministério do Interior, para dirigir e orientar umas eleições gerais”; devia “colocar em todos os postos de direcção e de mando gente que tenha cabeça para pensar, sim, mas que possua também pulso para combater; devia procurar apoio na rua e nos quartéis e devia armar-se e apetrechara-se para o ataque e para a defesa”261

. Portanto, os republicanos conservadores estavam convencidos que não era por processos democráticos e transparentes que se chagava e se permanecia no poder em Portugal, e por isso, estavam dispostos a usar as mesmas armas do Partido Democrático.

Contudo, o PRL e o PRRN tinham primeiro de sanar as suas diferenças e avançar sem hesitações para a formação de um novo agrupamento político mais forte e consistente.

1.4. A eleição do presidente da mesa da Câmara dos Deputados e a

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