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O II Congresso do Partido Republicano Nacionalista e o reatamento da propaganda política

Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

12. O II Congresso do Partido Republicano Nacionalista e o reatamento da propaganda política

Com a cisão protagonizada por Álvaro de Castro o PRN foi obrigado a acelerar os seus planos de propaganda para não ser ultrapassado pela nova força política. O órgão de imprensa diária há muito anunciado e sempre adiado saiu finalmente a público. No dia 24 de Dezembro de 1923 foi publicado o primeiro número d’O Jornal, o órgão do Partido Republicano Nacionalista, editado em Lisboa, mas com vocação nacional. Foi necessário apressar a sua publicação pois o jornal República passou a apoiar a facção de Álvaro de Castro e o PRN ficou sem nenhum órgão de informação em Lisboa.

Os primeiros meses de publicação deste novo título ficaram também marcados por uma intensa actividade política dos dirigentes máximos do PRN na província, com o intuito de consolidar o partido em todo o país. Para preparar a propaganda e a reestruturação do partido foi realizado o II Congresso do PRN. O Congresso voltou a realizar-se no ginásio do Liceu Camões, em Lisboa, nos dias 19 e 20 de Janeiro de 1924.

825 Diário de Lisboa, 12-2-1924, p. 8. Cf., Diário de Lisboa, 20-2-1924, p. 1.

826 Diário de Lisboa, 22-2-1924, p. 8. Veja-se entrevista a Carlos Rates sobre esta manifestação, Diário

de Lisboa, 23-2-1924, p. 8.

827 António José Telo, Decadência e Queda da I República Portuguesa, 1.º Volume, Lisboa, A Regra do

Jogo, 1980, pp. 22-263.

828 Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 25-2-1924, p. 9. 829 Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 25-2-1924, pp. 10-11. 830

Jorge Nunes, Diário de Lisboa, 25-2-1924, p. 8.

Estando já aprovada a Lei Orgânica do PRN, foi com base neste estatuto que foi convocado o Congresso. Era no Congresso que residia a “soberania partidária”, sendo constituído “pelos legítimos representantes e delegados do Partido”832

. O estatuto do PRN previa congressos ordinários anuais e extraordinários quando “as circunstâncias exigirem, bem como congressos regionais”833

. Estes dois últimos géneros de congressos nunca tiveram lugar, uma vez que apenas ocorrem 4 congressos ordinários, que eram os únicos que tinham poderes constituintes e legislativos834. O Congresso ordinário era convocado pelo Directório, tendo lugar no primeiro trimestre de cada ano835. Os quatro congressos realizados pelo PRN tiveram lugar sempre em Lisboa, o que pode demonstrar uma franca implantação do partido na província, que inviabilizava a realização dum evento deste tipo fora da capital. É claro que a organização de um congresso em Lisboa era facilitada pelos melhores meios de comunicação que lhe davam acesso836, pela facilidade de alojar algumas centenas de delegados e pela atracção que um congresso transmitia aos participantes, dado que quase todos tinham assuntos a tratar na capital ou primos e amigos que visitar.

O Congresso era constituído por: “a) pelos vogais efectivos, ou em exercício do Directório; b) Pelos vogais efectivos, ou em exercício da comissão administrativa; c) Pelos membros da Junta Consultiva; d) Por um delegado ou representante de cada comissão distrital, municipal e paroquial; Por um delegado da representação partidária em cada corpo administrativo, distrital, municipal ou paroquial; f) Por dois representantes de cada jornal diário, e por um de cada jornal não diário ou qualquer publicação regular que estejam reconhecidos pelo Directório; g) Por um representante de cada centro, escola ou associação, que estejam filiados no partido”837. Os lugares por inerência relativo a cargos desempenhados tinham um peso elevado face aos cargos electivos. Havia assim, uma maioria de congressistas não sufragados pelas estruturas partidárias de base.

O Congresso deveria ser o lugar por excelência onde os militantes deveriam exprimir a sua opinião sobre as orientações políticas. O Congresso podia “eleger, recompor e destituir o Directório e a comissão administrativa, e aceitar o pedido de demissão de qualquer dos seus vogais”. Outra atribuição importante era “interpretar, modificar ou substituir o programa do partido e o seu estatuto” e “apreciar e votar qualquer proposta”838

que dê entrada no Congresso. Durante o decurso dos congressos eram discutidos e votados “os relatórios anuais do Directório, da comissão administrativa e dos parlamentares”839. Era também atribuição do Congresso “conhecer

832 Art. 7.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e

papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 4.

833

Art. 8.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 4.

834 Art. 10.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e

papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 5.

835

Art. 9.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 4.

836 Os partidos conseguiam normalmente obter um desconto de 50% de muitas companhias de caminho de

ferro para os congressistas, Cf., República, 23-2-1923, p. 1.

837 Art.14.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e

papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 5.

838 Art. 15.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e

papelaria Pires & Ct.ª, 1923, pp. 5-6.

839

Alínea 4.ª do Art.15.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa, Tipografia e papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 6.

e julgar definitivamente os conflitos partidários e a expulsão do partido de qualquer organismo ou cidadão nele filiado”840

.

No II Congresso do PRN eram esperados cerca de 1900 congressistas. No ginásio do Liceu Camões foram colocadas 800 cadeiras, mas com os lugares de pé e as galerias, a sala devia comportar mais de 2000 pessoas. António Ginestal Machado chegou cerca das 14 horas, estando já ocupadas cerca de dois terços das cadeiras. Estão presentes os antigos ministros Pedro Pita, Judice Bicker, Lopes Cardoso, Júlio Dantas, coronel Simas Machado e Cunha Leal. Este último recebeu uma grande ovação na entrada no Congresso841.

A sala do ginásio do Liceu Camões em Lisboa foi organizada no sentido da mesa da presidência estar situada num dos lados da sala, junto à parede, em cima de um estrado, e em frente, organizadas em filas, foram colocadas algumas centenas de cadeiras. Sob a presidência do histórico republicano, Jacinto Nunes, iniciou-se a primeira sessão. O presidente deu a palavra ao secretário do directório, Pedro Pita. Cumprindo o disposto no n.º 9 do artigo 27.º da Lei orgânica do PRN o directório apresentou, por intermédio de Pedro Pita, o relatório anual da sua actividade. Pedro Pita começou por relatar os trabalhos organizativos nos primeiros meses de vida do PRN, tendo reconhecido que o PRN era mais do que a mera fusão de dois partidos, mas sim “de muitos partidos”, pelo que houve algumas dificuldades iniciais na sua constituição. Foi necessário “despender cuidadosa transigência” para “reduzir incompatibilidades ou conciliar atitudes, opostas umas, divergentes outras”. Confirmou também que “algumas vezes, houve necessidade de deslocarem-se os membros do Directório para, directamente, nesta ou naquela terra, intervir junto das facções em litígio e tentar aproximações julgadas impossíveis e que todavia, na maioria dos casos foram conseguidas. O directório admitiu que o partido podia ter feito mais acções de propaganda, sendo necessário uma maior articulação entre “as comissões políticas locais e do Directório”. Quanto à acção dos parlamentares nacionalistas, o Directório salientou a sua combatividade “tão formidável que, a oito meses” da sua constituição do PRN, “e tendo na Câmara dos Deputados menos de um terço dos membros que o compõem, conseguiu impor-se por tal modo que era encarregado de formar governo, enfraquecido os seus adversários a ponto de serem obrigados a reconhecer a sua inferioridade e a decretar a sua própria falência”. A entrada do PRN no governo, que levantou algumas dúvidas a alguns correligionários, foi sancionada pelo directório e por pareceres da junta consultiva e do grupo parlamentar. O directório entendia que tinha tomado a altitude correcta naquelas circunstâncias. No entanto, “não era lícito, na verdade, supor que um Governo partidário, constituído por correligionários dedicados, fossem encontrar a maior guerra nos próprios correligionários, que afinal, foram os principais responsáveis pela sua queda” 842

. Pedro Pita concluiu afirmando que a cisão tinha provocado o afastamento do partido de alguns elementos, mas o partido ganhou em coesão.

Um dos temas centrais do Congresso foi a questão da ditadura, levantada no mês anterior na Sociedade de Geografia por Cunha Leal. Alberto Jordão Marques da Costa, deputado do PRN por Évora, advogou que o partido não devia defender a ditadura, sendo um partido constitucional, legalista e conservador. Quanto ao voto do Congresso anterior contra os governos de concentração achava não era imperativo absoluto. Pelo que em determinadas circunstâncias o PRN poderia participar neles. Este último ponto

840 Alínea 5.ª do Art.15.º do Estatuto ou Lei Orgânica do Partido Republicano Nacionalista, Lisboa,

Tipografia e papelaria Pires & Ct.ª, 1923, p. 6.

841

A Tarde, 19-1-1924, p. 3.

levantou uma série de réplicas, tendo os congressistas defendido que o voto tinha sido inequívoco, pelo que o PRN não poderia participar em governos de concentração843. Ferreira de Mira disse que “não os quer [governos de concentração] e, não terá neles participação, a não ser em circunstâncias que o seu Directório entenda obrigantes para combater qualquer grave perigo que ameace o regímen ou a nacionalidade”844. Quanto ao primeiro ponto coube Cunha Leal responder. O líder nacionalista afirmou que não defendia a ditadura, mas que “ela há-de vir inexoravelmente, fatalmente”. E de forma peremptória afirmou: “o chefe do actual governo andou conspirando, disse-o e repito-o, tentando arrastar-me e levar-me para o seu lado”. Depois desta acusação concluía: “todos os dias a Constituição é esfrangalhada. Rasga-a o Governo do Sr. Álvaro de Castro, rasga-a o Sr. Presidente da República, rasga-a o Parlamento”845. Este tema não era consensual na família nacionalista846. No entanto, a ditadura passou a ser equacionada por muitos nacionalistas, que viam nessa via, a única forma de regeneração da Pátria e de acesso ao poder por parte do PRN.

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