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Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

4. A Eleição do Presidente da República

O PRN desde muito cedo tentou lançar na imprensa candidatos do conservadorismo republicano que pudessem dar continuidade à magistratura de José António de Almeida na Presidência da República. Júlio Dantas foi um dos primeiros nomes lançados pelo jornal República513. Outros republicanos também indicaram os seus candidatos preferidos. Teófilo Braga lançou a candidatura de Magalhães Lima à Presidência da República tendo, enquanto presidente de uma comissão, lançado um manifesto que foi reproduzido pela imprensa nos primeiros dias de Junho de 1923514.

Porém, o PRN acabaria por entrar em negociações com o PRP para apresentarem um candidato «único» à presidência da República. Pretendia-se que o novo Presidente tivesse uma magistratura prestigiada, independente e moderada, embora na prática todos os partidos pretendessem ter o Presidente amarrado a acordos pré-eleitorais a quem podiam exigir o apoio a um determinado bloco partidário. O primeiro passo nas negociações ocorreu em Paris, na segunda quinzena de Junho de 1923, entre Cunha Leal e Afonso Costa. Os dois rivais políticos acordaram que o PRP e o PRN deveriam empenhar-se numa candidatura única, ou na pior das hipóteses, num candidato que tivesse um apoio amplo que lhe permitisse ter uma acção eficaz na condução da política nacional. A estratégia passava por o PRP apresentar ao PRN “uma lista de possíveis candidatos, que ficariam sujeitos à sua opção”515

. Em Portugal as negociações prosseguiram pela mão dos líderes partidários. António Ginestal Machado conferenciou com o chefe do governo, António Maria Silva no dia 25 de Julho de 1923, tendo sido abordado o tema da eleição do Chefe de Estado. Os democráticos apresentaram quatro possibilidades aos nacionalistas: Bernardino Machado, Teixeira Gomes, Duarte Leite e Magalhães Lima. Neste encontro não foi possível chegar a um entendimento sobre um nome consensual aos dois partidos para ocupar a mais alta magistratura do país516. Nessa data, os democráticos ainda não tinham decidido qual o candidato que apoiariam e os nacionalistas tentavam persuadi-los para aceitarem o nome de Duarte Leite, que para António Ginestal Machado era “o candidato da República”, dado que era “um homem de culto, com uma personalidade vincada... seco, mas correcto. Admirável na

511

António Maria da Silva, Diário da Câmara dos Deputados, 5-8-1923, p. 11.

512 Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 270-273. 513 República, 22-3-1923, p. 1.

514

Cf., Diário de Lisboa, 7-6-1923, p. 9; 8-6-1923, p. 5; O Rebate, 9-6-1923, p. 1.

515 Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, p. 358. Cf., Luís Farinha, Francisco

Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 271-272.

516 No final de Julho ainda não estava claro qual o candidato que os democráticos iam apoiar. Veja-se a

seguinte conversa de alguns deputados democráticos no bufete do Congresso: “O Sr. Sá Pereira é dos que declara, com aquela sinceridade que Deus lhe deu, que não concorda com a eleição de Duarte Leite. Não pode ser e não pode ser! Com o Sr. Sá Pereira estão de acordo muitos correligionários.

É pena o José Domingues dos Santos continuar doente! – lamenta no «bufete», um deputado. Se ele cá estivesse – acrescenta outro – já estávamos orientados sobre o que convém fazer?

Um outro parlamentar do PRP muito jovem ainda, fumaças de orador, pessoa que deseja ir longe, aprecia a eleição presidencial com este singular desprendimento que denota um exagerado respeito pela hierarquia partidária:

- Deixem-se de coisas! O António Maria é que há-de dizer em quem devemos votar. Ele e o Ginestal Machado é que sabem...”, Diário de Lisboa, 27-7-1923, p. 8.

administração pública como o demonstrou quando foi presidente do governo”517 . As conversas continuaram entre os dois directórios tendo-se chegado a um certo consenso em torno do nome de Duarte Leite, ministro de Portugal no Rio de Janeiro518, que se tornou a aposta dos nacionalistas. O Directório do PRP decidiu apresentar este nome à sanção do grupo parlamentar, sabendo antecipadamente que Duarte Leite já tinha enviado um telegrama indicando a sua indisponibilidade para o cargo. No entanto, os nacionalistas por intermédio de Augusto de Vasconcelos, apresaram-se a contactá-lo no sentido de o convencerem a aceitar a candidatura à presidência da República. Duarte Leite aceitou o convite desde que fosse votado pelos dois maiores partidos da República519, facto que deixou surpreendidos os democráticos520.

No dia 1 de Agosto reuniram o directório e o grupo parlamentar do partido democrático para escolher o seu candidato oficial à Presidência da República. O grupo parlamentar chegou a encarar a hipótese de não escolher candidato, dando liberdade de voto aos deputados no dia 6 de Agosto. No entanto, em vez de sancionarem o nome de Duarte Leite decidiram votar os quatro nomes inicialmente apresentados, tendo Teixeira Gomes obtido 51 votos e Bernardino Machado 9 votos521. O nome de Duarte Leite foi rejeitado, tendo o PRP decidido apresentar como seu candidato o ministro de Portugal em Londres522, nome imposto pela facção próxima de Afonso Costa523.

517 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 26-7-1923, p. 5. 518

Luiz da Costa Santos, “Acção parlamentar nacionalista”, República, 11-8-1923, p. 1.

519 Cf., República, 14-8-1923, p. 2.

520 Veja-se a seguinte entrevista a Cunha Leal:

- “Foi o directório do partido democrático que propôs ao directório nacionalista quatro nomes... - E eram eles...

- Bernardino Machado, Teixeira Gomes, Duarte Leite e Magalhães Lima... - A lista dos presidenciáveis foi, pois, organizada pelos democráticos... Logo Cunha Leal:

- Foi. O nome que fosse acordado entre os dois directórios seria levado à sanção do grupo parlamentar democrático. [...]

- Caímos como moscas em prato de mel no nome do sr. Duarte Leite. Entusiasmado, António Maria da Silva, aceitou...

- Aceitou!

- Não admira! Como Duarte Leite enviara um telegrama do Rio de Janeiro, dizendo que não aceitava a candidatura grande foi o seu espanto quando o diplomata chegado a Lisboa declarou que a aceitava, porque o facto da sua candidatura ser proposta por dois partidos causaria, no estrangeiro, uma agradável impressão que colocaria o nosso país num admirável plano internacional!... [...]

- Com essa declaração do Sr. Duarte Leite não contava o Sr. António Maria da Silva. Fiado no telegrama enviado do Rio, e, como nós, nacionalistas, já tínhamos uma vez escolhido o candidato à presidência da República cabia agora a vez ao partido democrático...

- Tal não se deu em virtude da atitude Duarte Leite...

- E o directório do P.R.P. leva para a reunião parlamentar, não o nome escolhido e aceite por esse organismo, mas sim a lista dos quatro nomes... (...)

- Sabe o que fez o grupo parlamentar democrático? Sabe?... Tomou uma resolução fechada... Escolheu o nome do Sr. Teixeira Gomes...

- E os nacionalistas Sr. Cunha Leal?

- Declararam! Estão fechadas as negociações. E Num crescendo, repetiu a frase tremenda:

- Para eles tudo são resoluções consumadas. Nada de transigências. Nós obedecemos. E por isso clamam: vocês, se não são bons republicanos têm que abdicar.

- A um candidato partidário quisemos opor um candidato nosso... Seria Duarte Leite. - Mas não foi...

- Não... Nunca fechamos a questão...”, entrevista a Cunha Leal, Diário de Lisboa, 8-8-1923, pp. 5 e 8.

521 Diário de Lisboa, 1-8-1923, p. 8.

522 O PRP tentou convencer Teixeira Gomes a aceitar o cargo através de Afonso Costa. Para isso, segundo

um político anónimo entrevistado pelo Diário de Lisboa, o “ Sr. Jaime de Sousa foi a Paris conferenciar com o Sr. Dr. Afonso Costa...”. Este político anónimo pensava que:

Ficava desta forma inviabilizada a tentativa dos directórios do PRP e do PRN de apresentarem Duarte Leite, como candidato dos dois partidos. Em última instância, Afonso Costa ainda terá proposto a Cunha Leal o nome de Augusto Soares524. Mas já era tarde. Os democráticos não deram qualquer satisfação aos nacionalistas da sua decisão, pelo que estes se sentiram desconsiderados e maltratados525. António Ginestal Machado, lamentou “que não se tivesse chegado a um acordo, pois haveria decerto vantagens na apresentação dum único candidato...”. Segundo o presidente do Directório do PRN o grupo parlamentar do PRN reuniria no dia 5 de Agosto e iria possivelmente apresentar como candidato Duarte Leite, dado que “se ele era o suposto candidato dos dois partidos, não há razão para que o não seja de cem”526. O PRN encontrava-se numa posição de fragilidade e só iria decidir a sua opção no dia anterior ao da eleição, uma vez que alguns nacionalistas continuavam com dúvidas sobre o apoio a Duarte Leite527. Verificando que o candidato Duarte Leite não reunia as condições necessárias para ser eleito, os nacionalistas contactaram os independentes528 e alguns democráticos descontentes, tendo chegado à conclusão que Bernardino Machado reunia algumas hipóteses de ser eleito, uma vez que reunia apoios diversificados mesmo dentro de

- Oitenta por cento dos parlamentares do PRP votam em Teixeira Gomes. - E os independentes?

- Votam alguns. - E os nacionalistas?

- Os jornais disseram que o seu candidato é Duarte Leite, mas a verdade é que muitos deles não se pronunciarão a seu favor. Tanto assim é que o directório do partido não pode fazer dessa votação questão fechada.

- Qual é então o nome preferido pela maior parte dos nacionalistas?

- Bernardino Machado. Mas ao segundo escrutínio, dada a apreciável votação que alcançará Teixeira Gomes todos esses votos reverterão em seu favor.” Diário de Lisboa, 30-7-1923, p. 8.

523

Afonso Costa escreveu a Teixeira Gomes para este aceitar o convite de se candidatar a Presidente da República. Cf. Carta de Afonso Costa para Maria Emília, datada em Paris em 28-07-1923, Fundação Mário Soares – Arquivo, Fundo Afonso Costa; Carta de Germano Martins, amigo de Afonso Costa, O

Rebate, 11-8-1923, p. 1; Cartas de Teixeira Gomes para Afonso Costa datadas em Londres em 12-6-1923

e em 31-8-1923, Manuel Teixeira Gomes, Correspondência. Cartas para Políticos e Diplomatas, colectânea, introdução e notas de Castelo Branco, I Volume, Lisboa, Portugália Editora, 1960, pp. 195- 199; Norberto Lopes, O exilado do Bougie. Perfil de Teixeira Gomes, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1942, pp. 131-134.

524 Cf., Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 360-361. 525

Luiz da Costa Santos, “Acção parlamentar nacionalista”, República, 11-8-1923, p. 1.

526 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 2-8-1923, p. 5. 527 Entrevista ao deputado democrático Paiva Gomes:

“ - Duarte Leite!

- É calculo, o candidato dos ex-unionistas... - Quer dizer dos nacionalistas...

- Não... Não... Prevejo (....) que nem todos os nacionalistas votarão nele. - O Sr. Dr. Álvaro de Castro tem um candidato...

- Por quem se tem batido... - É?

- Bernardino Machado. - Uma velha amizade...

- É um pouco de golpe político. Compreende que o parlamentar que consiga, pela sua influência pessoal eleger um presidente fica pesando um enorme prestígio.

- O Partido Nacionalista tem então dois candidatos.

- Suponho. Os partidos não fazem da eleição uma questão fechada. Pelo contrário, aberta e bem aberta”,

Diário de Lisboa, 30-7-1923, p. 8.

528 Para Leote do Rego (independente) Teixeira Gomes era um nome contra indicado para a Presidência

da República porque “está muito fora da política. É um descrente, um literato (...). A presidência tem de ser ocupada por um homem que não esteja dentro dos partidos, mas não seja alheio à política”, Leote do Rego, Diário de Lisboa, 12-6-1923, p. 4.

alguns sectores do PRP, que não se reviam em Teixeira Gomes, o requintado Ministro de Portugal em Londres529. Assim sendo, Cunha Leal e alguns democráticos e independentes endereçaram um convite a Bernardino Machado530 para ser o candidato das oposições, tendo o velho republicano aceite a proposta531.

No dia 6 de Agosto de 1923 reuniu-se o Congresso para eleger o futuro Presidente da República. Os nacionalistas esperavam que Bernardino Machado atraísse o voto dos independentes e de alguns democráticos, para assim ter alguma possibilidade de ser eleito. Nos últimos momentos antes da votação ainda ocorreram algumas negociações. Os democráticos fizeram uma breve reunião antes da votação, no sentido de demoverem alguns dos seus membros de votarem em Bernardino Machado. João Estêvão Águas, deputado algarvio do PRP, ainda tentou convencer os deputados nacionalistas naturais do Algarve a votarem em Teixeira Gomes. Os parlamentares monárquicos não compareceram à eleição, ao contrário dos católicos que compareceram todos. No total compareceram 197 congressistas, tendo votado 112 democráticos, 60 nacionalistas, 21 independentes, 3 católicos e um radical532. No primeiro escrutínio, verificou-se logo que poucos democráticos tinham votado no antigo presidente da República. Teixeira Gomes obteve 108 votos e Bernardino Machado 73 votos. No intervalo do 1.º para o 2.º escrutínio Moura Pinto ainda procurou António Maria da Silva procurando uma solução negociada, mas o líder democrático recusou533, pelo que no segundo escrutínio os nacionalistas persistiram na candidatura de Bernardino Machado, que obteve 71 votos contra 114 de Teixeira Gomes. Nesta votação houve uma primeira transferência de votos de Bernardino Machado para Teixeira Gomes, protagonizada previsivelmente por deputados independentes534. No 3.º e último

529 Veja-se a seguinte entrevista a Cunha Leal:

- “Bernardino Machado, surgiu. Porquê?

Sem uma hesitação e sem um nervosismo respondeu, nesta frase clara:

- Porque palpitamos os independentes a maioria deles respondeu: - Bernardino Machado! Porque palpitados alguns democráticos estes disseram: - Bernardino Machado!

- Quantos...

- Contava com 20 votos...

- Sendo, pois, Bernardino Machado o candidato da minoria democrática, da maioria dos independentes, e já nessa altura o nosso, a sua eleição apresentava-se sem tara partidária. Compreendeu?”, entrevista a Cunha Leal, Diário de Lisboa, 8-8-1923, pp. 5 e 8. Cf., entrevista a Abílio Marçal, A Tarde, 9-8-1923, p. 3.

530 A reunião preparatória da candidatura foi estabelecida num almoço em casa de Ricardo Covões (Rua

das Janelas Verdes, n.º 43). Para além do proprietário e do candidato, estiveram presentes João Pires Correia, António Fonseca e Cunha Leal (cf. Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, pp. 359-361; Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 272-273).

531 Entrevista a Bernardino Machado:

“Era minha intenção não tornar a ser candidato à presidência da República. Mas, tendo-me algumas personalidades do partido nacionalista e do grupo dos independentes significado [sic] que o meu nome deveria reunir a maioria dos votos do Congresso, pois vários deputados e senadores democráticos, de acordo, parece, com os sentimentos da massa geral dos correligionários se pronunciavam vivamente pela minha eleição – anui ao seu convite. E estimo deveras que nacionalistas e independentes vendo malogradas nos dois primeiros escrutínios as suas esperanças de conciliação salientassem bem pela sua votação final em listas brancas, que não era partidariamente que tinham apresentado a minha candidatura”, Diário de Lisboa, 7-8-1923, p. 4.

532 Cf., Diário do Congresso, 06-08-1923, pp. 4-5; Diário de Lisboa, 6-8-1923, p. 8.

533 “No intervalo do 1.º para o 2.º escrutínio, o sr. Moura Pinto procurou o chefe do governo e perguntou-

lhe:

- As conversas estão interrompidas, ou podemos conversar? - A resposta do Sr. António Maria da Silva foi assim;

- Todas as conversas estão concluídas; nada temos a dizer”, Diário de Lisboa, 7-8-1923, p. 1

escrutínio os nacionalistas sentindo-se desconsiderados pelos democráticos decidiram votar em branco como forma de protesto535. Teixeira Gomes obteve 121 votos, Bernardino Machado obteve 5 votos e foram colocados 68 votos brancos na urna536. Esta atitude era um reflexo da hostilidade que grassava entre os democráticos e os nacionalistas537 e demonstrava claramente que o PRN se demarcava face ao novo Presidente da República538, considerando-o apenas Presidente de uma facção da República539. No entanto, esta estratégia radical do PRN não era acompanhada por Álvaro de Castro540 e levou a um certo afastamento de alguns deputados, como Alberto Xavier541.

535 “Foram, pois, os nacionalistas desconsiderados, e ante tal situação tinham dois caminhos a seguir: -

Submeter-se, votando em Teixeira Gomes, ou protestar contra a atitude dos democráticos, votando no candidato que mais probabilidade tivesse de bater o candidato a maioria. Logicamente optaram pelo último e, quando no final do segundo escrutínio verificando a impossibilidade de baterem o candidato do partido democrático e porque o Sr. Bernardino Machado não era o candidato do seu partido, os parlamentares nacionalistas preferiram votar em listas brancas, como forma de fazerem sentir o seu justificado protesto”, Luiz da Costa Santos, “Acção parlamentar nacionalista”, República, 11-8-1923, p. 1.

536 Cf., Diário do Congresso, 06-08-1923, pp. 4-5. 537 Entrevista a Cunha Leal:

- “Mas no primeiro escrutínio os votos a favor de Bernadino Machado. Não o foram... De lá vieram apenas 4 ou 5 [democráticos].

- E no segundo... - Dois!

- No terceiro...

- Já não tinha viabilidade a candidatura de Bernardino Machado. Já tínhamos demonstrado a nossa consideração pelo antigo presidente da República... Se persistíssemos no seu nome seria um presidente partidário... Isso não! Nunca!

- As listas brancas...

- Se o Partido Nacionalista em «branco» suicidar-se-ia politicamente... Afirmamos, por consequência que não estávamos dispostos a receber as ordens do partido democrático votando, como votamos.

- ...

- Não... Não. Quem lhe diz isso, mente! Não o fizemos por hostilidade pessoal a Teixeira Gomes. Se o candidato do partido democrático fosse outro, teríamos votado da mesma forma. De resto, quando o Sr. Moura Pinto procurou o Sr. Presidente do Ministério num intuito conciliatório, este respondeu que as conversas tinham terminado”, entrevista a Cunha Leal, Diário de Lisboa, 8-8-1923, pp. 5 e 8.

538 Os nacionalistas não tinham receio de hostilizar Teixeira Gomes. Álvaro de Castro disse que o PRN

“não precisa de cumprimentar a presidência para subir ao governo”, República, 14-8-1923, p. 2. Constâncio de Oliveira mais moderado disse que “os parlamentares nacionalistas quiseram tão-somente com esse acto, que não tinham candidato à presidência da República. Assim o haviam resolvido previamente e assim o pretenderam provar votando em lista branca, no terceiro escrutínio”, Constâncio de Oliveira, República, 12-8-1923, p. 1.

539 Os democráticos analisaram a altitude dos democráticos no Rebate:

“Também o procedimento nacionalista, não foi correcto no acto de eleição presidencial. Se a sua primeira votação, e segunda, se justificavam, a terceira, em listas brancas manifestada, revelava uma hostilidade contra o novo presidente eleito, como que desejando fazer acreditar não ser ele o chefe do Estado da República, mas simplesmente o chefe de um partido, eleito pelo anti-democrático direito da força. Se as intenções não eram precisamente essas, as consequências eram-no prestando-se imediatamente às críticas e comentários da imprensa monárquica, que logo procurou tirar vantagens de tal atitude estapafúrdia”, O

Rebate, 11-8-1923, p. 1.

540 Cf., entrevista de Álvaro de Castro, A Tarde, 7-8-1923, p. 1. 541 Entrevista a Alberto Xavier, Diário de Lisboa, 17-8-1923, p. 8:

“- Porque não foi ao Parlamento assistir à eleição do presidente da República? - Não estava em Lisboa.

- E porque não estava em Lisboa... - Porque não queria votar!

- E porque não queria votar? (...) - Desde que o partido nacionalista...

Bernardino Machado ficou muito desiludido com a facção dos democráticos próxima de Afonso Costa542, aquela que segundo ele inviabilizou a ressarcimento pela sua deposição em Dezembro de 1917 pela revolução sidonista543 e que colocou na Presidência da República um mero «funcionário», quando o cargo exigia um político experiente e prestigiado544.

5. Oposição dos nacionalistas ao Ministério António Maria da

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