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Quadro II Comissão Administrativa do PRN após o I Congresso

3. A oposição dos nacionalistas no Parlamento

Nos primeiros meses de vida, os nacionalistas não se achavam ainda preparados para ser governo, mas achavam que o PRP deveria substituir o executivo dirigido por António Maria da Silva416. Por isso, o grupo parlamentar do PRN que passou a contar com cerca de 65 membros, após a fusão do PRL e do PRRN417, concentrou-se na oposição ao PRP e ao governo, no Congresso e na imprensa.

O primeiro embate centrou-se em torno da proposta orçamental para o ano económico de 1923-1924 e em torno da autorização para contrair um empréstimo interno no valor de 4 milhões de libras para equilibrar o deficit público, diminuir a circulação fiduciária e normalizar os câmbios. Cunha Leal criticou as opções tomadas através de vários artigos publicados no Século ao longo dos meses de Janeiro e

412 República, 5-5-1923, p. 1. Cf., Ernesto Castro Leal, “Partidos e grupos políticos na I República”, in A

República, «História de Portugal» dirigida por João Medina, Vol X, Amadora, Ediclube, 1993, pp. 287-

318; idem, “O campo político dos partidos republicanos (1910-1915) ” in AA.VV., O Tempo de Manuel

de Arriaga, Centro de História da Universidade de Lisboa/Associação dos Antigos Alunos do Liceu da

Horta, Colecção Coloquia, Lisboa, 2004, pp. 107-125.

413 João Tamagnini de Sousa Barbosa, Diário de Lisboa, 29-3-1922, p. 8. 414 Cf., República, 3-5-1923, p. 1.

415

Cf., República, 5-6-1923, p. 2.

416 João Bacelar, por exemplo, era da opinião que o governo já “deu o que tinha a dar. Não tem feito nada

que se veja. O País tolera-o por apatia, por indiferença. Deve cair imediatamente. E ser substituído por outro democrático”, Diário de Lisboa, 28-2-1923, p. 5.

Fevereiro de 1923418. Segundo Cunha Leal a estratégia do governo iria aumentar a circulação fiduciária e os encargos do empréstimo eram ruinosos para o Estado419. Dentro da mesma linha o deputado Alberto Xavier criticou a operação preparada pelo governo nestes termos: “Combato-a porque a considero prejudicial aos interesses do País”420

. A estratégia dos nacionalistas passou por apresentar uma contraproposta no sentido de se realizar uma operação interna em valores-ouro e não em libras, como era proposto pelo governo421. As dúvidas levantadas pelos deputados levaram a que o governo ameaçasse deixar de pagar aos funcionários públicos se a sua proposta não fosse aprovada, o que só veio a acicatar mais a discussão que se arrastaria por mais dois meses. A proposta governamental acabaria por ser aprovada, com ténues modificações a 15 de Maio, quando o Partido Republicano Nacionalista já tinha abandonado o Congresso422.

Ao mesmo tempo que era debatido o empréstimo, avançou-se com a discussão dos Orçamentos. O Governo pretendia ser mais célere nesta discussão e para isso apresentou na Câmara dos Deputados uma proposta de Reforma do Regimento da

Câmara, com a finalidade de introduzir maior eficiência no desenvolvimento dos

trabalhos423. O novo regimento proposto pela maioria democrática iria impor algumas restrições à discussão do Orçamento Geral do Estado. Os nacionalistas opuseram-se a esta reforma do regimento e estavam especialmente contra a restrição de apenas poderem usar da palavra durante 30 minutos na discussão da Lei de receita e despesa. Para tentar resolver esta contenda reuniu-se o grupo parlamentar do PRN na tarde do dia 22 de Fevereiro de 1923. Terminada a reunião António Ginestal Machado avistou-se com os líderes do PRP, Almeida Ribeiro e José Domingues dos Santos. A contraproposta que os nacionalistas apresentaram para resolver o conflito assentava na restrição da intervenção a três ou quatro dos seus membros na discussão da generalidade do Orçamento. Estes especialistas na matéria, nomeadamente, Barros Queiroz, Vicente Ferreira e Alberto Xavier, não se sujeitariam à inexplicável restrição de apenas poderem “usar da palavra durante 30 minutos, o que dividido por 11 orçamentos daria pouco mais de dois minutos para a análise de cada um deles”. Os líderes democráticos reuniram posteriormente com o seu grupo parlamentar tendo após larga discussão

418 O director d’O Século começou a ter divergências com o conselho de administração da Sociedade

Nacional de Tipografia nos primeiros meses de 1923 devido a ter autorizado a publicação de diversos artigos e entrevistas sobre o complexo funcionamento da Moagem e da Panificação. Por isso, o conselho de administração afastou-o da direcção do jornal. Em nota datada às 8 horas da noite de 16 de Março de 1923 explicaram a decisão, tendo o pessoal da redacção sido impedido de entrar no edifício (Diário de

Lisboa, 17-3-1923, p. 8). Cunha Leal em entrevista ao Diário de Lisboa afirmou que o rastilho da

explosão não foram tanto os seus artigos contra a moagem “mas as entrevistas com Lima Alves e Joaquim Ribeiro a que eu dei guarida no Jornal”. A situação no jornal tornou-se insustentável levando Cunha Leal a confessar: “Eu não podia de forma nenhuma, abdicar da minha independência. Não podia, além disso comprometer a República”. Diário de Lisboa, 19-3-1923, p. 5. Sobre este tema veja-se: Luís Farinha,

Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit.,pp. 260-263.

419 Ver análise dos artigos publicados por Cunha Leal em: Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal,

intelectual e político... op. cit., pp. 260-264.

420

Alberto Xavier, Diário de Lisboa, 27-2-1923, p. 5.

421 António Ginestal Machado ao analisar o empréstimo preparado pelo Governo disse o seguinte: “os

financeiros do meu partido, reputam-no mau... [...] somos partidários duma operação interna em ouro”. [...] Barros Queiroz vai apresentar algumas emendas... se elas forem aceites...” Diário de Lisboa, 24-3- 1923, p. 5.

422

Cf., Luís Farinha, Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 266- 268; Diário da Câmara dos Deputados, 15-05-1923.

423 Projecto de Lei nº 377, de 8 de Janeiro de 1923 – este Projecto de Lei pretendia fazer uma Reforma no

Regimento da Câmara dos Deputados, cf., Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e

chegado a uma plataforma intermédia entre aqueles que defendiam a manutenção das resoluções anteriormente tomadas e os que defendiam a transigência face às oposições. Assim, optou-se por manter as resoluções tomadas anteriormente, “mas, de facto, a maioria daria tolerância aos oradores que não pudessem concluir os seus discursos no prazo marcado de meia hora para continuarem no uso da palavra pelo tempo preciso para os concluírem”424

.

A discussão do novo regimento acabou por ser adiada, concentrando-se a atenção dos parlamentares no Orçamento. No entanto, como já tinha sido norma em anos anteriores a discussão dos Orçamentos arrastou-se durante alguns meses. A situação agravava-se por causa da falta de comparência de muitos deputados às sessões, que obrigava ao adiamento dos trabalhos parlamentares. Outro problema que atrasava a aprovação dos orçamentos era as perdas de tempo em torno de discussões sobre questões secundárias ou meramente políticas. Para resolver este problema a maioria democrática optou por convocar sessões nocturnas para a discussão dos orçamentos. No entanto, segundo os nacionalistas a situação não melhorou, visto que os democráticos continuaram a faltar constantemente às sessões parlamentares uma vez que lhe faltava o “espírito de sacrifício que de facto é preciso ter para suportar sessões diurnas e nocturnas”425

. Para não se cair no regime dos duodécimos era necessário que o orçamento fosse discutido e votado até ao dia 30 de Junho426.

Os trabalhos de discussão dos orçamentos encontravam-se muito atrasados quando o deputado independente, mas apoiante do governo, António Joaquim Ferreira da Fonseca, apresentou duas propostas urgentes para resolver este problema. A primeira era no sentido da “discussão do Orçamento Geral do Estado se inicie desde que esteja presente o número de Deputados preciso para abrir a sessão, reservando-se todas as votações para quando a Mesa verifique que há número legal para elas”427. Se esta proposta fosse aprovada as discussões sobre os orçamentos podiam iniciar-se desde que estivessem presentes 41 deputados (a quarta parte dos deputados), ao contrário da norma vigente que exigia 55 deputados (a terça parte dos deputados). Para as votações esperar-se-ia o momento em que estivessem presentes os 55 deputados obrigatórios para deliberar428. A segunda proposta consistia na votação nominal quando não houvesse número suficiente para deliberar (55 deputados), registando-se o nome dos deputados presentes e identificando assim os ausentes. Muitos deputados retiravam-se da sala para entravarem algumas votações, retornando ao seu lugar, de seguida, para lhe ser considerada a sua presença em termos remuneratórios e administrativos. O deputado independente António Joaquim Ferreira da Fonseca chamou a este expediente o «Jogo

424

O Século, 22-2-1923, p. 2.

425 Constâncio de Oliveira, República, 5-5-1923, p. 1.

426 Cf., Ana Bela Nunes, “Os Debates Orçamentais durante a Primeira República” in Nuno Valério

(Coord.), Os Orçamentos no Parlamento Português, Lisboa, Dom Quixote /Assembleia da República, 2006, pp. 121-159.

427 António Fonseca, Diário da Câmara dos Deputados, 24 de Abril de 1923, pp.13-14.

428 Com a aprovação desta proposta a Câmara dos Deputados, que tinha um total de 163 deputados, podia

começar a discutir os orçamentos com a presença de apenas 41 deputados (o regimento em vigor previa que “esta quarta parte só possa resolver acerca da aprovação da acta e admissão à discussão de qualquer projecto ou proposta”) em vez dos 55 contemplados no regimento (“presente a terça parte do número total de deputados marcados na lei eleitoral” - Artigo 19.º do Regimento da Assembleia Nacional Constituinte

de 1911, Lisboa, Imprensa Nacional, 1926). Embora a terça parte dos 163 deputados, desse 54,3, a prática

que a Câmara seguiu tornou necessária a presença de 55 deputados (cf., Diário da Câmara dos

Deputados, 1-5-1923, p. 33; idem, 2 e 7-5-1923, p. 12). O deputado Dinis da Fonseca avançou com outros

números. Segundo ele eram necessários 55 deputados nas sessões ordinárias e nas «sessões livres» era exigida apenas a presença de “37 deputados de entrada, podendo continuar com qualquer número” (cf., Dinis da Fonseca, Diário da Câmara dos Deputados, 1-5-1923, p. 24).

da Porta». Os deputados quando tinham interesse em encerrar uma sessão da Câmara dos Deputados usavam a estratégia de pedir a contagem dos deputados, colocando-se alguns deputados fora da sala, “mas depois quando se faz a chamada que há-de produzir os seus efeitos para o desconto devido aos que faltam aparecem logo deputados bastantes e resulta haver número”. Por isso, propôs uma alteração ao regimento no artigo 120.º: “as palavras «o Presidente levantará a sessão, etc.» se substituam por “proceder-se-á à votação nominal, continuando a sessão, se houver número legal, ou encerrando-se no caso contrário e publicando-se no Diário das Sessões os nomes dos deputados que por esta chamada se verificar estarem presentes”429

. Muitos parlamentares argumentaram contra a proposta dizendo que o importante é que os deputados viessem às sessões. António Joaquim Ferreira da Fonseca retorquiu: “Os deputados que não vêm é porque não podem; e são precisamente os que censuram estes deputados de falta, os mesmos que estão nos Passos Perdidos para não fazerem número”430

.

Os deputados do PRN colocaram-se prontamente contra a moção apresentada por António Joaquim Ferreira da Fonseca que permitia discutir os orçamentos com a presença de uma quarta parte dos deputados em vez da terça parte que o regimento contemplava e permitia que deputados aprovassem o orçamento sem terem assistido à sua discussão431. Os nacionalistas perante a perspectiva de derrota da sua posição optaram por sair da sala na hora da votação, tendo sido a proposta aprovada por 49 deputados e rejeitada por 11 deputados no dia 30 de Abril432. No dia 2 de Maio de 1923, Cunha Leal, de regresso à Câmara dos Deputados, colocou-se juntamente com os deputados nacionalistas contra a proposta de António da Fonseca que alterava o regimento no sentido de permitir a discussão dos orçamentos sem quórum absoluto. O deputado Afonso de Lemos disse que o seu partido não tinha nem jamais teve desejo de fazer obstrucionismo à discussão dos orçamentos e classificou de ilegal a votação das propostas do Sr. António da Fonseca433. Na secção nocturna da Câmara dos Deputados do dia 2 de Maio, Cunha Leal lamentou o facto de a República tivesse enveredado por esse caminho, declarou que ia renunciar ao mandato e abandonou a Câmara dos Deputados434, logo seguido por todos os deputados nacionalistas, à excepção de dois que naquele momento “julgaram que naquela altura, não deviam sair, mas ficar e evitar que a referida proposta fosse aprovada ou executada”435

. A sessão foi interrompida, os trabalhos parlamentares foram suspensos por alguns dias, tendo sido solicitado ao presidente da Câmara, Sá Cardoso, destacado membro do PRN que tomasse algumas diligências no sentido de resolver este incidente436. Para o deputado António da Fonseca a proposta foi “apresentada pela necessidade de simplificar os trabalhos parlamentares, fazendo-se a discussão dos orçamentos com o número indispensável de deputados para abrir a sessão (...). As votações seriam feitas com o número que a constituição estabelece, nessa sessão, na seguinte, ou logo que houvesse número”. Considerava o incidente parlamentar “deplorável. Mas não posso deixar de reconhecer que os deputados nacionalistas não só não têm razão do seu procedimento, como não têm o

429

António Fonseca, Diário da Câmara dos Deputados, 24-4-1923, pp. 13-14.

430 António Fonseca, Diário da Câmara dos Deputados, 26-4-1923, p. 15.

431 Cf., Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 266-268. 432 Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 30 de Abril de 1923, p. 20 e 21.

433 República, 3-5-1923, p. 2. 434

Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 2-5-1923; idem, 7-5-1923, pp. 14-15.

435 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 10-5-1923, p. 1. Este dirigente nacionalista reafirmou a

unidade do PRN nesta entrevista indicando que os dois referidos deputados já tinham “escrito ao directório prestando-lhe a sua solidariedade”.

direito de proceder como anunciam. As democracias governam-se pelas maiorias. E as deliberações que elas tomam não podem deixar de ser acatadas qualquer que seja a opinião de cada um, acerca delas”437.

A imprensa foi o lugar para onde se deslocou a discussão política. Para os nacionalistas “não votando os orçamentos em devido tempo, o parlamento comete um acto extremamente lesivo para o país; fazendo sobre eles apenas um simulacro de discussão, o mal que disso resulta para o país, não é inferior”. Por isso, o maior partido da oposição embora nunca tenha feito “o mais leve obstrucionismo à votação dos orçamentos” não “colaborará numa discussão fictícia, simulada, para inglês ver”438

. Ribeiro de Carvalho no República afirmou que esta situação vinha acentuar “o descrédito da República” e representava mais um “golpe formidável no prestígio já abalado da instituição Parlamentar”. Defendeu as teses do PRN e prognosticou que o PRP iria recuar para evitar que as aposições abandonassem o Parlamento439. Alguma imprensa lisboeta censurou fortemente a atitude de Cunha Leal e dos nacionalistas: “No Parlamento, nota-se uma iniludível tendência para converter, em questões pessoais, discussões que deviam ser afastadas de terreno tão espinhoso como escorregadio. Quando uma opinião não consegue impor-se, ninguém deve estranhar que o seu defensor continue a bater-se por ela, até que chegue a hora de conquistar o assentimento duma maioria, se for caso disso. Mas também não é justo que o seu insucesso sirva de pretexto a qualquer parlamentar explosivo ou violento para se julgar vítima de alguma conjura sinistra pelo exercício da sua liberdade”440

.

O directório nacionalista decidiu convocar a Junta Consultiva para o dia 7 de Maio para analisar este conflito. Nessa reunião, que contou com a presença de 29 dos cerca de 65 parlamentares do partido441, também estava previsto ser tratado outro assunto delicado. O deputado Álvaro de Castro tinha intenção de levar à Câmara dos Deputados a Questão de Moçambique que iria ferir a gestão de Brito Camacho como alto-comissário daquela colónia. Esta iniciativa estava a provocar uma séria de embaraços a muitos dirigentes nacionalistas, uma vez que eram amigos pessoais deste político que tinha sido o seu líder partidário na União Republicana entre 1912 e 1919442. Outros nacionalistas, que nunca tinham pertencido ao Partido de Brito Camacho, argumentavam que este político não estava filiado no PRN e o que importava era a realidade de Moçambique e os argumentos que o deputado Álvaro de Castro iria usar443. Aparentemente esta questão acabou por não ser tratada na reunião da Junta Consultiva,

437 António da Fonseca, Diário de Lisboa, 3-5-1923, p. 8. 438 Constâncio de Oliveira, República, 5-5-1923, p. 1. 439

Ribeiro de Carvalho, República, 4-5-1923, p. 1.

440

«Os irritáveis», Diário de Lisboa, 5-5-1923, p. 1.

441 Cf., António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 10-5-1923, p. 1.

442 A Questão de Moçambique já tinha sido debatida na reunião do Directório do PRN de 13 de Abril de

1923, tendo as teses de Álvaro de Castro levantado acesa discussão entre os seus apoiantes e os amigos de Brito Camacho (cf., Diário de Lisboa, 12-3-1923, p. 8; idem, 14-3-1923, p. 8). Álvaro de Castro escreveu a António Ginestal Machado para relembrar-lhe que o Directório tinha tomado para si o encargo de estudar a questão de Moçambique, com o intuito de apreciar se o partido devia ou não acompanhá-lo, o que o mesmo era dizer, se ele tinha ou não fundadas razões para discutir no Parlamento aquela magna questão. Como entretanto tinha solicitado ao Presidente da Câmara dos Deputados para que o Ministro das Colónias estivesse presente no Parlamento no dia 14 de Maio, para analisar aquela questão, tinha decidido o seguinte: “O Directório tem de emitir o seu parecer, assim como a Junta consultiva […]. Sobre se concorda ou não com a interpelação […]. Por melindre resolvi não mais assistir às reuniões do Directório enquanto este assunto não estiver resolvido […], assim como não assistir às reuniões do G. P. e Junta Consultiva. Pelo que comunique esta carta a estes três organismos do partido”. Carta enviada Álvaro Xavier de Castro, datada em Lisboa, em 9-5-1923, Espólio António Ginestal Machado, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/741.

concentrando-se os seus membros no problema que tinha motivado o abandono da Câmara dos Deputados por parte de Cunha Leal e dos deputados nacionalistas. Os membros deste órgão depois de analisarem um ofício do Directório do Partido Republicano Português, que acusava os nacionalistas de terem tomado uma decisão intransigente, optaram por solidarizar-se com o seu Directório e com os seus parlamentares444, decidindo que “os parlamentares nacionalistas não irão às Câmaras. A não ser os deputados Álvaro de Castro e Carlos de Vasconcelos que estão autorizados pela Junta. Qualquer parlamentar que assista às sessões sem pedir autorização ao Directório, deixará de fazer parte do partido”445

.

Os democráticos, por intermédio de José Domingues dos Santos, tentaram fomentar a discórdia dentro das hostes nacionalistas afirmando que os deputados receberam uma ordem para abandonarem o Parlamento, mas alguns tinham recusado. O

República corrigiu José Domingues dos Santos e disse que foi apenas uma indicação446. Contudo é certo que o presidente do directório do PRN, António Ginestal Machado, chegou a ameaçar expulsar do partido os parlamentares que assistissem às sessões parlamentares sem autorização447.

O abandono da Câmara dos deputados pelos parlamentares nacionalistas levou os mesmos a equacionarem a possibilidade de renunciarem aos seus mandatos, embora isso trouxesse outra série de problemas. A ausência de parlamentares nacionalistas na Câmara dos Deputados podia levar à dissolução do partido ou mesmo à revolução. A primeira hipótese levava os políticos a renunciarem à luta política dentro da legalidade, podendo atirá-los para golpes anti-constitucionais. Mas alguns nacionalistas concluíam que “um partido de homens de ordem, sensatos e respeitáveis, moderados e pacíficos, não resolve evidentemente, ir para a revolução”448

. Os nacionalistas encontravam-se pois numa encruzilhada devido à atitude radical que tinham tomado, tendo alguma imprensa alvitrado que a atitude dos nacionalistas tinha por objectivo “encobrir a grande catrapata de Moçambique”, ou “evitar a aprovação do empréstimo”, ou ainda “provocar a dissolução do Parlamento”449

. Ribeiro de Carvalho, director do República e destacado membro do PRN recusava a renuncia dos deputados nacionalistas, dado que esta atitude só em ilusão iria forçar o Presidente da República à dissolução parlamentar, reforçando por isso os poderes dos democráticos, que continuariam a dominar o Parlamento que contava ainda com a presença de outros grupos partidários (católicos, monárquicos e independentes) e de alguns nacionalistas “autorizados (?) a ir ali tratar determinado assunto”450

, e do próprio presidente da Câmara, Sá Cardoso, que se manteve no seu cargo até ao dia 10 de Maio, data em que finalmente renunciou depois de ter fracassado

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