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A RELIGIÃO CRISTÃ PRIMITIVA

No documento Hist 7º ano (páginas 195-200)

Como já foi dito anteriormente, as primeiras comunidades de convertidos eram constituídas por Judeus e a própria Religião era olhada como uma seita dentro do Judaísmo: a diferença que existia entre estes e os restantes Judeus era a de que os Cistãos acreditavam que o Messias tinha chegado.

Gruta a norte do Jordão - pensa-se que tenha sido o primeiro lugar de reunião de cristãos (uma igreja) entre 33 e 70 d.c

Ao Povo hebraico juntaram-se Romanos, na sua maioria militares (soldados, centuriões). Por isso não é de estranhar que muitos rituais, datas e práticas sagradas tenham sido herdadas directamente dos Judeus. Eis alguns exemplos:

A Páscoa - Começou por ser uma festividade hebraica, que recordava a matança dos Primogénitos no Egipto (10ª Praga) e a saída deste povo da terra dos Faraós, em direcção à Terra Prometida. Segundo reza o livro do Êxodo na Bíblia, o Faraó mantinha o Povo hebreu como escravo e não autorizava a sua saída do reino. Deus enviou 9 pragas terríveis como sinal de aviso, mas o faraó não se demoveu. Por fim Moisés (o líder do povo Judaico) foi avisado por Deus de que uma 10ª praga atacaria o Egipto: um Anjo Exterminador iria matar todos os primeiros filhos do sexo masculino em cada família. Para que os judeus não fossem afectados, teriam que sacrificar um cordeiro e, com o seu sangue, molhar a porta da sua casa. O Anjo, seguindo as ordens de Deus veria o sangue e passaria adiante. É daí que vem o nome «Páscoa», que significa «Passagem do Senhor». Durante essa noite, comeram pão ázimo (sem fermento), para se manterem puros e vestiram roupas de viagem porque estavam convencidos de que, desta vez, iriam mesmo sair do Egipto. Esta festividade manteve-se até hoje entre o povo judaico e manteve-se como uma data sagrada no Cristianismo, dado que Jesus ressuscitou nesse dia. Para os Cristãos, a Páscoa celebra o dia da Ressurreição de Cristo.

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Enterro dos corpos - Os Cristãos não cremavam os cadáveres como faziam, por exemplo, os Romanos. Esta prática vem da crença judaica no Dia do Juízo Final: um dia em que Deus descerá à Terra e abrirá todas as sepulturas para que todos os seres humanos sejam ressuscitados e sujeitos a um julgamento. Daí a necessidade por parte dos Judeus (e mais tarde Cristãos) de manter o corpo intacto. Foi por causa desta crença que as catacumbas se transformaram em cemitérios cristãos.

Túmulo de Santa Tecla, na Síria - uma das primeiras santas cristãs. Na

localidade onde se encontra este túmulo, ainda se fala o Aramaico (a

língua falada por Jesus).

Circuncisão - As Primitivas comunidades cristãs mantiveram, no início, esta prática, dado que a esmagadora maioria dos convertidos eram Judeus (e os Romanos adoptavam-na para se sentirem integrados entre eles). Contudo, à medida que o número de crentes começou a ultrapassar as fronteiras da Palestina e a pertencer a outras Civilizações, esta prática começou a tornar-se controversa. Com efeito, os apóstolos de Jesus tiveram que discutir a circuncisão em inúmeros debates com as comunidades cristãs não-judaicas. Por fim foi tomada a decisão de aboli-la. A partir de então, a circuncisão deixaria de ser obrigatória.

Muitos cristãos primitivos mantiveram hábitos alimentares idênticos aos dos Hebreus: evitar o sangue; não comer carne de porco, etc... e até as mesmas tradições no vestuário: não usar vestes com riscas, ou enfaixar os mortos, por exemplo. Todas estas tradições viriam, com o tempo, a ser abandonadas. E é preciso salientar que a Torah não foi esquecida. Ela simplesmente mudou de nome. Passou a ser, mais tarde, conhecida como «Velho Testamento», a História dos Judeus antes da chegada de Cristo.

Jesus ressuscitando Lázaro (Igreja de s.Jorge, Inglaterra) - a forma como Lázaro estava enfaixado vai ser, nos primeiros tempos, seguida pelos 1ºs cristãos.

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Apesar das semelhanças que existiam entre o Judaísmo e esta nova Fé havia, no entanto, pontos muito diferentes entre uma e outra:

Universalidade - Estava nova Fé funcionava como uma forma de Judaísmo Universal, aberto a todos os povos, sexos, idades e condições sociais. Não existia a ideia de um Povo Escolhido. Se alguém se convertesse a esta seita, poderia considerar-se cristão.

Separação entre o Poder Terreno (Temporal) e Espiritual - Jesus afirmou «o meu Reino não é deste Mundo» e «dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Os Cristãos no início não se importavam com posições de poder e consideravam esta vida, a terrena, como algo que não durava para sempre. Não lhes interessava se era Roma ou a Palestina quem os governava. Eles preocupavam-se principalmente em viver de acordo com os seus preceitos porque seriam estes que dariam acesso à Vida Eterna.

Estatuto da Mulher - Quase todas as grandes etapas da vida de Jesus estão relacionadas com uma figura feminina: o primeiro milagre (transformar água em vinho) foi feito diante da sua mãe, Maria.

Túmulo de Santa Tecla, na Síria - uma das primeiras santas cristãs. Na

localidade onde se encontra este túmulo, ainda se fala o Aramaico (a

língua falada por Jesus).

As Bodas de Canaã - Nesta festa de casamento, Jesus transformou a água em vinho, para que os parentes de Maria (que já não tinham vinho) não ficassem mal diante dos seus convidados.

A primeira pessoa que ressuscitou (segundo três Evangelhos bíblicos) foi uma menina, a filha de Jairo; e a primeira pessoa a ver e falar com Jesus após a sua ressurreição foi uma mulher. Jesus compadecia-se das pecadoras. Quando lhe foi apresentada uma adúltera para ele a julgar segundo as leis tradicionais (apedrejamento), enfrentou a multidão e disse: «quem não tiver pecados, que atire a primeira pedra». Encorajava a Monogamia nas famílias e condenava o abandono da esposa por parte do marido. A atitude de Jesus para com as mulheres deixava muita gente perplexa. Não era normal os homens dirigirem-se às mulheres como se estas fossem iguais a eles. Esta é uma das razões da rápida difusão do Cristianismo: todos os pobres, oprimidos e gente pertencente a um estatuto inferior

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na sociedade sentiam-se atraídos por este Mestre que aceitava todos e não colocava ninguém em 2º plano.

Com efeito, o Cristianismo Primitivo deu às mulheres uma liberdade que nunca tinham conhecido: podiam pregar e espalhar a «boa nova», tal como os homens; frequentavam o mesmo tecto onde as congregações se reuniam, sem estarem separadas dos homens em salas diferentes.

Esta Religião «recém-nascida» ainda não estava completamente organizada. As comunidades reuniam-se numa casa cedida por um crente e sentavam-se muitas vezes no chão, a ouvir e a discutir os ensinamentos de Cristo. Os rituais limitavam- se ao Baptismo e à Partilha do Pão (que era feito na época da Páscoa, em memória de Cristo na Última Ceia). Nestes tempos as mulheres conversavam com toda a congregação e tinham autoridade para dar bençãos e baptizar convertidos. Tinham funções que nós hoje atribuímos aos sacerdotes. Isto só demonstra a enorme rapidez com que o Cristianismo se alastrou. A explosão de conversões que se sucederam após a morte de Cristo não deu tempo a esta nova fé para se consolidar e se estruturar em hierarquias.

Estatuto da Criança - Outra grande inovação do Cristianismo foi a forma de como os crentes olhavam a Criança: esta não era um mero prolongamento da Linhagem. Era um indivíduo com um estatuto privilegiado diante de Deus: «(...)Aquele que se fizer humilde como esta criança será o maior no Reino dos Céus.(...)»

Jesus abençoando as crianças

Segundo os Evangelhos, Jesus encorajava aqueles que o ouviam a dirigir-se a Deus com a simplicidade de uma criança. Não deveriam fazer orações elaboradas mas sim, orações simples, puras e sinceras. Em relação àqueles que tivessem intenções de lhes fazer mal, disse as seguintes palavras: « (...) M... lhes fazer mal:ivessem intençera dirigir-se a Deus com a simplicidade de uma criança. tal como os homens; frequentavam a as se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem ao fundo do mar. (...)»

A Família de Jesus - As primeiras comunidades não praticavam o Celibato e aceitavam perfeitamente a ideia de que Jesus tinha tido irmãos. Segundo as suas crenças, Cristo era filho de Deus, mas os seus meio-irmãos tinham Maria e José como pais. Esta é uma das principais diferenças entre os primitivos cristãos e aqueles que viriam, um século mais tarde, a espalhar-se pelo Império.

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Existência de vários Evangelhos - Dado que a Religião Cristã ainda estava nos seus primórdios, houve uma produção extraordinária de Literatura Cristã. A comunidade não parava de crescer e todos queriam interpretar e divulgar as suas crenças. Destas «Epístolas» e «Evangelhos» são muito poucos os que ficaram no Cânone da nossa Bíblia. Iremos mencionar adiante quais foram as razões que levaram a que determinados Evangelhos fossem aceites e outros não.

Códice de Nag Hammadi - apesar de datar do sec. IV d.C., muitos textos já são cópias de outros ainda mais antigos. Foi descoberto recentemente, num túmulo de

um cristão primitivo.

Alguns dos mais conhecidos são: Evangelho de Maria Madalena, o Evangelho de São Tomé e um dedicado a Judas. Neste último, Judas é descrito não como um traidor mas como o melhor amigo de Cristo. A sua traição mais não foi do que uma decisão combinada entre ambos. Segundo o que vem escrito neste Evangelho, estava determinado que o filho de Deus tinha que ser preso e executado para carregar os pecados do Mundo. Alguém tinha que suportar o fardo e a tarefa ingrata de o denunciar, para que todas estas coisas acontecessem. Judas ofereceu- se de livre vontade para o fazer, por amor ao seu Mestre.

Muitos outros documentos foram encontrados. Uns relatam a infância de Jesus, outros narram o lamento do Mestre após a morte do seu pai adoptivo, S.José. Toda esta documentação é chamada Apócrifa, ou seja, não faz parte do conjunto de livros que constituem a nossa Bíblia.

S.PAULO DE TARSO

O momento que marca a transição de um Cristianismo primitivo à Fé que conhecemos hoje começa com S. Paulo.

S.Paulo, segundo uma representação medieval

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O seu nome original era Saulo. Nascido por volta de 5 d.C foi um judeu que vinha de uma família muito rica e poderosa. Recebeu uma Educação primorosa, baseada numa Cultura Greco-Romana e tinha estatuto de «cidadão romano». Inicialmente começou por perseguir os cristãos e assistiu ao apedrejamento do primeiro mártir, Sto Estevão. Pouco tempo depois converteu-se a Cristo, quando atravessava uma estrada em direcção a Damasco. Segundo o relato contido no livro Actos dos Apóstolos, tencionava entregar cartas importantes à Sinagoga ali existente e atacar a comunidade cristã que ali vivia, mas foi detido por Jesus em pessoa que apareceu à sua frente. Saulo entrou em Damasco temporariamente cego por causa da Luz que rodeava a figura de Cristo. Ali ficou durante três dias, sem comer nem beber. Nessa cidade vivia Ananias, um convertido à nova Religião e Deus contactou-o para que este se dirigisse à casa onde Saulo se encontrava, para o curar e baptizar. Saulo curou-se milagrosamente e fez-se baptizar com o nome de Paulo.

Começa então, uma vida de peregrinação e pregação que só viria a terminar em 64 d.C. quando é executado em Roma.

S.Paulo viveu numa era em que o Cristianismo já começava a sair das fronteiras da Palestina. Converteu muitos indivíduos, fundando congregações novas.

As Viagens de S.Paulo

No entanto percebeu que estas ainda estavam muito frágeis e vulneráveis e não eram suficientemente fortes para se apoiarem mutuamente e se unirem entre si.

A literatura cristã que circulava era variada: umas vezes era facilmente compreendida, outras vezes era escrita de uma forma tão simbólica que os convertidos não conseguiam compreender o seu significado. As comunidades estavam confusas com tantas ideologias diferentes e muitas vezes desentendiam- se por causa da interpretação que cada um fazia das Escrituras. Umas continuavam a querer seguir os hábitos alimentares judaicos, outras queriam perdê- -los e não desejavam ter contactos com as congregações de origem diferente. A circuncisão era outro motivo de querelas.

No documento Hist 7º ano (páginas 195-200)