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AS LETRAS E SABER GREGOS PARTE A

No documento Hist 7º ano (páginas 129-134)

Ao longo de toda esta unidade aprendeste bastante sobre os Gregos: foram os descobridores da «Divina Proporção»; revolucionaram a Arquitectura; inventaram a Democracia e a Filosofia... mas a sua criatividade não se fica por aqui: eles também inventaram o Teatro.

Máscaras de Teatro - Mosaico Romano.

TEATRO

Todos nós estamos familiarizados com a profissão de Actor: ele simula as emoções das personagens que representa; encarna essas mesmas personagens (a ponto de os espectadores se convencerem de que estas existem mesmo!). E todos estamos habituados a vê-los num palco ou num ecrã de Cinema - com uma certa distância entre eles e nós. Também sabemos que existe um lugar onde eles actuam - um teatro (os Americanos chamam às suas salas de cinema Theater). E conhecemos os seus nomes e as obras que representam. Pois bem, é isso o Teatro - algo que foi inventado na Grécia e que ganhou raízes em todas as Civilizações posteriores.

Teatro deriva da palavra grega Théatron, que significa «Lugar onde se vê». É, portanto, uma recriação da própria Realidade. Tal como toda a matéria representada na Arte recria o «Número phi», o Teatro recria as emoções e as relações entre os Homens e os Deuses.

Os textos mais antigos sobre uma arte semelhante ao teatro grego encontram-se (mais uma vez)...no Egipto. Datam de cerca de 4.000 a.C. e foram encontrados nas Pirâmides. Neles estão escritas instruções de como um actor deveria representar o seu papel no espectáculo (baseado em ritos sagrados) e que máscara de animal deveria usar (sim, eles também já usavam máscaras). Qual é a diferença entre estas antigas representações e o teatro grego, como o conhecemos? Ambos têm actores que representam alguém, esses actores, tanto egípcios como gregos usam máscaras e adereços e ambos recriam algum acontecimento mitológico, relativo à sua Religião. Então onde está a diferença? Pensa-se que os dramas egípcios fossem apenas representados nos templos e estavam ligados a cultos sagrados. Também se crê que acreditavam que estes textos, representados pelas almas dos mortos, pudessem apaziguar os deuses. O Teatro grego tinha um público e, embora, baseado em temas mitológicos, o tema central era o Homem.

O Teatro Grego (como forma de Arte propriamente dita) teve as suas origens no século VII a.C. nas festas sagradas, ligadas ao Culto do Deus Dioniso, deus da alegria e do vinho.

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Festas Dionisíacas (já ritualizadas) - É a partir delas que vem o Teatro Grego

Eram celebradas na Primavera, com cânticos e danças e, nesses dias (que eram 6), erguia-se um palco onde se declamavam poemas em homenagem ao deus. Também se escreviam obras que narravam as histórias dos deuses, que depois eram representadas no sopé da Acrópole por actores. Foi neste contexto sagrado que o Teatro, como nós o conhecemos, teve o seu começo. Têm aqui um pequeno excerto de uma recriação dos ritos dionisíacos. É pena serem apenas uns míseros 30 segundos: aqui.

Nesses dias era realizado um concurso de novos talentos na arte de escrever e declamar. Com o tempo, esse concurso tornou-se mais complexo, até adquirir a dimensão de uma verdadeira competição internacional, de onde saíram grandes mestres.

No início existia apenas um Coro (conjunto de indivíduos que cantavam e declamavam os poemas), que era conduzido por um solista, o Corifeu. Mais tarde, um poeta de nome Téspis (do qual nada chegou até hoje), fez algo de verdadeiramente inovador: quando estava no palco, pronto para a sua declamação, desceu dele, e exclamou para o público: «eu sou Dioniso!» e lidou com o Coro e o Público como se a declamação fizesse parte da realidade. Isso levou a que todos entrassem em diálogo com ele. Modificou as máscaras, colocando-lhes emoções, para que aqueles que estivessem ao longe, pudessem compreender o que o Coro estava a sentir.

Máscaras Gregas - representações de várias emoções

O sucesso foi estrondoso. Téspis foi o primeiro actor da História e inventou o palco onde entrava em contacto com os espectadores (Thymele). A partir daí os poetas (os textos eram todos escritos de forma poética) começaram a aumentar o número

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de figuras no palco que interagiam com o coro e o público. Através dessa interacção criou-se aquilo que viria a ser, mais tarde, a Tragédia.

Todos os anos eram seleccionados, numa pré-eliminatória, três candidatos (dos muitos que concorriam). Estes tinham que apresentar três Tragédias e uma Comédia. O vencedor era coroado com uma Coroa de Hera e tinha o seu nome inscrito nos registos de honra da cidade.

A TRAGÉDIA

O que é uma Tragédia? Para já vamos dissecar o nome: vem de duas palavras (tragos = Bode e oidé = Canto). As festas dionisíacas tinham cantos que honravam Dioniso e costumava-se sacrificar um bode em sua honra porque este deus se transformava em bode para fugir da deusa Hera, que o odiava e lhe queria mal.

A Tragédia punha em cena as emoções humanas: o medo, o ódio, a tristeza. Com base nelas, construíam-se as histórias que eram consideradas importantes para os Gregos: a revolta do ser humano, que se recusava a aceitar um destino que lhe tinha sido imposto; o desespero de uma personagem que tentava fugir de um castigo ou maldição que tinha caído sobre si por causa de um pecado que os seus pais tivessem cometido no Passado; o engano; a traição, etc...

Eis os componentes indispensáveis de uma Tragédia:

CORO: o seu papel inicial era narrar o drama, cantando e declamando. Depois, com a introdução dos actores, passou a funcionar como espectador, como se fosse um segundo público em cima do palco. O Coro representa a serenidade e a harmonia. Os seus elementos comentam as cenas à medida que a peça se vai desenrolando e, por vezes, interagem com os actores. Eis um exemplo, retirado da Tragédia Prometeu Acorrentado (lembras-te da história de Prometeu, já mencionada antes?), de Ésquilo:

(...)Prometeu - Sim: libertei os Homens da obsessão da Morte. Coro - Que remédio encontraste, pois, para esse mal?

Prometeu - Fiz nascer, entre eles, a cega esperança. Coro - Poderoso consolo deste, nesse dia, aos mortais!

Prometeu - Dei-lhes um dom ainda maior: ofereci-lhes o fogo. Coro - E o brilhante fogo está agora nas mãos dos efémeros? Prometeu - Que por ele aprenderão um grande número de artes. Coro - E por essas culpas te inflinge Zeus...(...)

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CORIFEU: era o «chefe» do Coro, a personagem principal deste «2º

público». Muitas vezes fazia as ligações entre o Coro e os actores. Eis uma sequência, retirada da peça Antígona, de Sófocles:

Corifeu (após um diálogo com o Coro) - Mas eis que chega Creonte, filho de Meneceu, novo rei do país (...). Que projecto se agitará no seu espírito, para que tenha convocado, por arauto público, esta assembleia de anciãos (...)?

Assim que o Corifeu diz estas palavras, entra em cena o rei Creonte, com um numeroso séquito. E a partir daí o próprio Corifeu faz de Personagem e interage com o rei:

Contexto: Antígona, sobrinha de Creonte, deseja enterrar segundo os ritos sagrados o seu irmão Polinice, que morreu lutando com outro irmão. Creonte, contudo, proibe o funeral poque Polínice lutou contra ele. Antígona desobedece e é isso que vai desencadear a Tragédia.

(...)Creonte - Velai, pois, para que as minhas ordens se cumpram. Corifeu - Encarrega dessa missão outros mais jovens do que nós. Creonte - Já mandei colocar guardas junto do cadáver.

Corifeu - Que outra coisa tens a recomendar-nos?

Creonte - Que sejais inflexíveis para com os que infligirem as minhas ordens.(...)

Corifeu

ACTORES: Obviamente, estes eram os que representavam as personagens da peça. Alguns deles eram especializados em Tragédia e outros em Comédia mas, a maioria deles, representava os dois géneros, usando para isso máscaras e trajos diversos. Por exemplo, se um actor entrasse em cena, calçado com uns sapatos de sola altíssima, os coturnos, era certo que iria representar uma Tragédia.

Foram inúmeros os que escreveram peças de Tragédia mas, infelizmente, poucos chegaram até nós. Conhecem-se, pelo menos, três nomes importantes:

Ésquilo (cerca de 525 a 456 a.C) - Foi considerado o fundador da Tragédia. Tivemos a sorte de ter sete peças sobreviventes. As mais conhecidas são Prometeu Acorrentado (da qual retirámos o pequeno excerto acima), Agamemnon e Os Sete Contra Tebas.

Sófocles (cerca de 496 a 406 a.C.) - Foi um tragediógrafo muito importante. Só chegaram até nós três peças. As mais representadas são Antígona (da qual também retirámos um excerto, exibido acima) e Édipo Rei.

Eurípedes (cerca de 485 a 406 a.C.) - De todos estes autores é aquele que teve o maior número de peças sobreviventes (18). As mais conhecidas são Medeia, Elektra e Orestes.

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Outra máscara: este actor está a representar o deus Apolo

A COMÉDIA

A Comédia tem a mesma origem que a Tragédia: nos ritos dionisíacos. A palavra vem do grego Komoidía. Esta mesma palavra descende de outra, Komos (em plural, Komoi), que significa «Procissão». Havia duas Komoi:

-uma celebrava a Natureza.

-outra era feita por jovens que corriam pela cidade mascarados de animais e batendo às portas pedindo doces e fazendo partidas.

Era considerada um género menor (daí só haver uma Comédia pedida a cada candidato). Quem assistia essencialmente às comédias eram os homens comuns, de baixa condição, enquanto as tragédias eram vistas principalmente pelas pessoas nobres, que tinham cultura, filosofavam e sabiam todas as histórias relacionadas com a Mitologia Grega.

Os temas não eram grandiosos: não abordavam os grandes heróis e as lutas entre os deuses, eram pessoas comuns que entravam nelas. Havia uma vertente política nessas obras: criticavam-se os homens de poder e as figuras influentes da Polis. A Humanidade e os próprios deuses são ridicularizados através do riso.

Uma das mais famosas comédias, As Vespas, foi escrita por um grande comediógrafo, Aristófanes (cerca de 452 a 380 a.C.). Logo no início vemos dois escravos que guardam a casa de Filocleon e que contam um ao outro sonhos que tiveram na noite anterior:

(...)Sosias - Julguei ver, no meu primeiro sonho, sentados no Pnyx e reunidos em assembleia, uma multidão de carneiros, com báculos e mantos; depois pareceu-me que entre eles falava uma omnívara baleia, cuja voz parecia a de um porco que estivesse a ser chamuscado.

Jantias - Puf!

Sosias - Que se passa?

Jantias - Basta, basta, não contes mais: esse sonho fede a couro apodrecido. Sosias - Aquela maldita baleia tinha uma balança na qual pesava gordura de boi. Jantias - Ó desgraça! Quer dividir o nosso povo.

Sosias - A seu lado julguei distinguir Teoro, sentado no chão e com cabeça de corvo, e Alcibíades disse-me, tartamudeando: «Olha, Teolo tem cabeça de corvo.» Jantias - E nunca Alcibíades tartamudeou mais oportunamente.

Sosias - E não será mau agouro o facto de Teoro ter-se convertido em corvo? Jantias - Nada disso; é excelente.

Sosias - Como?

Jantias - Como? Era homem e de súbito transformou-se em corvo. Não pode conjecturar-se sem dificuldade que nos deixará para ir juntar-se aos corvos? (...)

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A Comédia era representada em duas partes (com um intervalo entre elas) e estava profundamente ligada à Democracia. Quando esta acabava, o coro tirava as máscaras e dialogava com o público.

Estatueta do sec. IV a.C., representando um actor de Comédia

PALCO DO TEATRO

Teatro Grego Epidauro

O local onde se realizavam as peças era concebido pelos Gregos de forma a que o som se propagasse de forma eficaz. Eles eram verdadeiros peritos em Acústica. Os teatros tinham um som excelente. Olha só este vídeo espectacular. Ele passa-se no teatro que vemos acima, na fotografia. O som é focado no centro. Quanto mais os actores se afastavam dele mais o som se desvanecia. Contudo, desde que a representação se fizesse no local certo, todos os espectadores, longe ou perto, ouviriam da mesma forma. Vêaqui.

Este teatro foi construído em 400 a.C. por Policleto, o Jovem, de Argos. Já

mencionámos Ictino, o principal arquitecto do Pártenon, em Atenas. Agora já sabes o nome de outro grande Arquitecto.

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