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LENDA DA FUNDAÇÃO DE ROMA

No documento Hist 7º ano (páginas 157-165)

* O MUNDO ROMANO NO APOGEU DO IMPÉRIO *

ROMA: DA FUNDAÇÃO À REPÚBLICA

LENDA DA FUNDAÇÃO DE ROMA

Roma situa-se no Lácio - Península Itálica, nas margens do rio Tibre e muito próximo do mar Tirreno (a parte do Mediterrâneo que banha a Itália).

Mapa de Itália (actual)

No início era uma aldeia pobre sobre terrenos pantanosos onde vivia uma fusão de dois povos com origens e línguas de raiz comum: os Latinos e os Sabinos.

Os Romanos acreditavam ser descendentes de Vénus (nome dado pelos Romanos a Afrodite) e do deus Marte (nome romano de Ares). Vejamos o que nos diz a lenda:

(Nota: A epopeia que nos conta esta viagem foi escrita por Virgílio (sec. Ia.C.) e chama-se Eneida.

As Vestais, sacerdotisas da deusa Vesta, tinham a obrigação de se manter virgens.)

Após a destruição de Tróia, um dos seus nobres, Eneias, filho de Cambises e de Vénus, conseguiu salvar-se levando consigo as imagens dos deuses sagrados da cidade e, acompanhado de seu pai e de um filho (Ascânio ou Iulius) errou durante anos pelos mares. Depois de várias aventuras, Eneias chegou às margens do Lácio e, após lutar por ela, casou com uma princesa latina chamada Lavínia. O filho Iulius funda a cidade de Alba Longa.

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Eneias, saindo de Tróia com seus Pai e Filho

Séculos mais tarde, reinava na cidade o rei Númitor mas o seu irmão Amúlio, que desejava o trono, encarcerou-o e, para evitar que tivesse descendência, obrigou a sobrinha, Rea Sílvia a tornar-se Vestal. Um dia, quando a jovem foi buscar água para um sacrifício, o deus Marte enamorou-se dela. Tiveram dois gémeos, Rómulo e Remo, que o tio, furioso, mandou atirar ao rio Tibre dentro de uma cesta.

A cesta encalhou perto de uma gruta chamada Lupercal onde uma loba amamentava as suas crias. Marte fê-la sentir compaixão pelos bebés e a loba amamentou-os como se fossem seus filhos.

Loba amamentando Rómulo e Remo

Quando já não precisavam de ser amamentados, foram recolhidos por um casal de pastores, Fáustulo e Arca Larência que os criaram até à idade adulta. A dada altura, Remo brigou com uns pastores vizinhos que, por vingança, o levaram até Amúlio e o acusaram de ladrão. O rei prendeu-o. Então Fáustulo conta a Rómulo quem realmente eram ele e o irmão e Rómulo dirigiu-se a Alba Longa, matou Amúlio e libertou o irmão e o avô, Númitor. Este, reposto no trono, recompensou os netos com o direito de poderem fundar uma nova cidade.

Os gémeos consultaram os deuses e, seguindo as suas instruções, partiram em duas direcções diferentes. Remo dirigiu-se ao monte Aventino e aí avistou seis aves a sobrevoar a colina. Rómulo, que se tinha dirigido ao Palatino, viu doze aves no cimo do monte. Compreendeu que era ali o local escolhido pelos deuses e, com um arado, traçou um sulco circular que delimitou o recinto sagrado da futura cidade.

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Esse círculo chamou-se Pomerium e, para o atravessar, eram necessários alguns rituais. Ciumento por ter sido Rómulo o protegido dos deuses, Remo atravessou de um salto o pomerium sagrado e, num ataque de cólera (de que mais tarde se arrependerá), Rómulo matou-o e enterrou-o no Aventino. Os Romanos chamavam Urbs a Roma. O nome vem de uruus, sulco feito a enxada, referindo-se ao pomerium traçado por Rómulo. Mais tarde, a palavra veio a aplicar-se a qualquer cidade (e está na origem de palavras como urbano, urbanístico, urbanização, etc...).

Rómulo traçando o Pomerium

Muitas datas foram sugeridas para a fundação da cidade pelos historiadores romanos até que Marco Terêncio Varrão (116 a.C. /-27 a.C.) a estabeleceu no dia que, no nosso sistema moderno de datação, corresponde a 21 de Abril de 753 a.C. Os Romanos, tal como nós usamos o nascimento de Cristo como referência para as nossas datas (a.C. e d.C.). Usavam a fundação de Roma como ponto de referência e datavam a sua História ab urbe condita (significa: a partir do ano em que a Cidade foi fundada).

Rómulo precisava de povoar a nova cidade e, assim, nos primeiros anos, acolheu bandidos, desterrados, renegados, que aí encontraram refúgio. Pouco a pouco outros se foram juntando como os Sabinos com quem os Romanos lutaram durante muito tempo. Mediante acordo entre Rómulo e Tito Lácio, rei dos Sabinos, acabaram por fundir-se, formando uma única nação.

Este relato é lendário, como já dissemos. Contudo, algumas das suas afirmações podem ser comprovadas historicamente:

 Os vestígios arqueológicos mostram que a cidade deve realmente ter sido fundada no sec.VIII a. C;

 A forma de governo nos primeiros tempos foi a Monarquia.

 O fundo étnico da sua população tem como base uma fusão entre tribos latinas com populações sabinas que habitavam as colinas em volta e formavam a Liga dos Sete Montes (as colinas romanas são sete).

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MONARQUIA ETRUSCA

(640 a.C. a 509 a.C.)

Embora os terrenos sobre os quais a cidade estava construída fossem pobres e pantanosos, as colinas em volta ofereciam terrenos cultiváveis e, sobretudo, boas pastagens para o gado. Contudo, o que tornava a cidade apetitosa a outros povos, era a sua localização, nas margens do rio Tibre e muito perto do mar. Isso tornava- a um ponto de interesse para dela fazer um centro comercial de primeira ordem.

Assim, em 640 a.C., os Etruscos conquistaram a cidade e nela se estabeleceram como reis. Foram eles quem verdadeiramente transformaram uma povoação pouco mais do que uma aldeia numa verdadeira cidade. Secaram os pântanos, criaram os primeiros sistemas de esgotos, erigiram templos e outros edifícios públicos, lançaram as bases do sistema de leis, influenciaram profundamente os costumes religiosos. Séculos depois de terem partido, ainda a maioria dos rituais religiosos dos Romanos eram essencialmente etruscos.

Arúspice: Sacerdote etrusco que revelava a vontade dos deuses interpretando as entranhas de animais sacrificados. Usava um chapéu alto e pontiagudo atado

debaixo do queixo para que não caísse durante as cerimónias, o que seria considerado um mau presságio

Organização da Sociedade:

Os Romanos estavam divididos entre Patrícios e Plebeus.( Patrícios vem da palavra patres, plural de pater, pai. Eram, pois, os descendentes dos «pais» de Roma, ou seja, das famílias fundadoras anteriores ao próprio domínio dos Etruscos. Os plebeus eram os descendentes de estrangeiros italianos que se tinham juntado a Roma nos seus inícios.)

Os Patrícios compunham a camada superior da sociedade, os nobres, e os Plebeus eram a camada inferior. O que fazia de um cidadão um Patrício era o facto de pertencer a uma gens. Esta instituição era semelhante ao genos grego e só os Patrícios pertenciam às diversas gentes (plural de gens). Todos os patrícios pertencentes a uma determinada gens descendiam em linha directa do mesmo antepassado masculino. Cada gens tinha um nome e agrupava várias famílias.

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Os Plebeus eram os descendentes dos Povos Italianos que se juntaram aos Romanos no início da cidade. Os Plebeus não ascendiam à condição de Patrícios. A única excepção conhecida é a dos Cláudios, aristocratas sabinos que se tornaram patrícios (gens Claudia) já no início da República (sec. V a.C.).

Etruscos cultivando

Cada gens tinha os seus próprios deuses e era chefiada por um pater que também tinha funções sacerdotais. Com o correr dos tempos, algumas gentes, por razões de vizinhança, de interesses comuns ou de união por casamentos, agruparam-se em cúrias também com chefes próprios. As cúrias reuniam-se em assembleias chamadas comícios curiatos e aí elaboravam as leis. Várias gentes formavam uma Tribo.

Se recordares a organização social nas cidades-estado gregas, verás que há uma certa afinidade:

O chefe das gentes, pratres, formavam um Conselho de Anciãos chamado Senado (palavra que vem de Senex que significa Velho) - O Senado foi, durante a Monarquia, um órgão que auxiliava o rei mas mais tarde, durante a República, virá a transformar-se no órgão supremo do Poder.

Nesta altura, a divisão não era feita com base na riqueza. Havia Patrícios muito ricos e outros menos ricos, alguns viviam mesmo com alguma dificuldade. Do mesmo modo, existiam Plebeus ricos. Os cidadãos menos abastados, patrícios ou plebeus eram, frequentemente, «clientes» de famílias patrícias mais ricas.

Não devemos confundir o significado desta palavra, cliente, com aquele que lhe damos hoje, de «freguês». Em Roma, significava ir cumprimentar e prestar homenagem à casa do patrício de quem se era cliente, acompanhá-lo pelas ruas da cidade, estar sempre disposto a falar bem dele e a prestar-lhe pequenos serviços. Em troca, o patrício-protector deveria defendê-lo em tribunal, protegê-lo contra os

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seus inimigos, oferecer-lhe presentes, geralmente em forma de alimentos - sportula

O Imperador Trajano com os seus clientes

No patamar mais baixo da sociedade, encontravam-se os Escravos. Não possuíam direitos alguns e eram considerados propriedade dos seus senhores, ao mesmo nível de gado. A escravatura foi uma instituição considerada normal nas civilizações antigas. Existiu na Suméria, na Fenícia, entre os Hebreus, existiu no próprio Egipto embora aí tenha sido relativamente pequeno o número de escravos. Existiu também nas Cidades-Estado gregas onde, tanto na agricultura como no artesanato, os escravos se tornaram a mão-de-obra mais importante. O que torna a escravatura diferente e tão notória em Roma foi o grau em que foi praticada. O número de escravos foi crescendo e crescendo cada vez mais e a economia foi ficando cada vez mais baseada no seu trabalho, ao ponto de se poder falar em verdadeiro Esclavagismo: Escravatura é a condição de ser escravo. Esclavagismo é um sistema que depende economicamente da escravatura.

Isto é, de um sistema económico/social inteiramente baseado no trabalho de escravos. Basta ver a proporção entre homens livres e escravos: nos primeiros anos do século III a.C., para cada 73 homens livres havia um escravo; dois séculos depois, a proporção era já de dois homens livres para um escravo.

O número podia crescer de diversas maneiras:

 Podia nascer-se escravo (herdava-se a condição);

 Um homem livre podia ser reduzido à escravidão (ou vender-se a ele mesmo ou a um filho) por dívidas;

 Uma criança exposta (abandonada), se fosse recolhida, poderia ser feita escrava por quem a criasse;

 Alguns condenados recebiam penas que os obrigavam a ser remadores em navios de guerra ou de transporte ou a trabalhar nas minas;

 Muitos prisioneiros de guerra eram feitos escravos.

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Escravo trabalhando no campo

A forma como os escravos eram tratados em Roma divergia muito de senhor para senhor. Havia os escravos públicos, pertencentes ao Estado, explorados até à morte e cuja alimentação e saúde eram frequentemente negligenciadas. Os remadores e trabalhadores das minas encontravam-se neste caso e raros eram os que sobreviviam mais do que 4 ou 5 anos. Entre os escravos particulares, havia os que trabalhavam no campo e os domésticos. Os que trabalhavam no campo, normalmente às ordens de um escravo mais qualificado, o feitor, recebiam, geralmente, um tratamento pior do que os domésticos. Quanto a estes, tudo dependia da família que servissem. A maioria não era nem bem nem mal tratada. Cumpriam as suas tarefas e, desde que as fizessem bem, não eram muito incomodados. A sua existência passava quase despercebida como se fossem mais um objecto da mobília. Outros eram amados e acarinhados porque, muitas vezes, os tinham visto nascer e crescer e os afectos tinham surgido. Alguns tornavam-se mesmo muito influentes, geralmente as escravas que tinham sido amas-de-leite ou os preceptores dos anos de meninice. Outro escravo influente era o chefe cozinheiro que, quando era bom, era considerado uma preciosidade. Havia ainda o caso do servo-médico, geralmente de origem grega ou egípcia, que também recebia um tratamento particular.

A forma como os senhores tratavam os seus escravos foi evoluindo ao longo da História de Roma. Nos últimos tempos da República uma demasiada severidade já não era bem vista. Ao longo do Império, várias foram as vozes de cidadãos famosos e respeitados que se levantaram a favor deles. No século I d.C., já era condenado pela sociedade quem maltratasse os seus escravos. Mas a condição daqueles que trabalhavam nas minas ou nas galés (remadores de navios) nunca mudou.

Podes fazer uma ideia de como era a vida de um escravo nas galés, através deste excerto do filme Ben-Hur, onde o comandante do barco testa as forças da sua equipa de remadores, ordenando que remassem em várias velocidades - de batalha, de ataque e de abalroamento:aqui.

Os reis em Roma foram sete, sendo etruscos os últimos três:

Tarquinus Priscus: patrocinou novas técnicas de arquitectura, fez construir o Fórum Romano. Fórum era o lugar da cidade onde se encontravam os principais edifícios públicos e onde os cidadãos se reuniam.

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Servius Tullius: filho de Tarquinus Priscus. Fez erguer as primeiras

muralhas de pedra para proteger Roma. Reorganizou o exército e foi o autor de diversas leis que acabaram por abrir caminho à República. O poder dos Patrícios tinha-se tornado demasiado grande e, com o sistema de clientes de que falámos mais acima, algumas famílias tinham-se tornado arrogantes ao ponto de desafiarem o poder do rei. Então, Servius Tullius resolveu fortalecer os Plebeus: protegeu o artesanato e o comércio, normalmente exercidos por plebeus, reorganizou o exército e criou os comícios centuriatos de que falaremos um pouco mais adiante.

Exemplo de artesanato etrusco - joalharia

Tarquinius Superbus: Chamou a Roma artistas e arquitectos etruscos e fez construir o Templo de Júpiter.

Comícios Centuriatos

Os soldados romanos estavam agrupados em grupos de oito. Cada um destes grupos chamava-se contubernium e dormia numa tenda espaçosa. Era-lhe atribuída uma mula que carregava a tenda e outros objectos de necessidade quando o exército se deslocava. Dez grupos destes formavam uma centúria que, portanto, era constituída por oitenta militares e não por cem como muitas vezes se pensa. O chefe da centúria era o centurião. O rei Servius criou assembleias de centúrias, chamados comícios centuriatos, onde podiam participar todos os cidadãos com meios suficientes para pagar impostos e para poder cumprir o serviço militar, incluindo Plebeus dando assim a estes, pela primeira vez, um meio de expressão política.

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A estrutura político-social de Roma no tempo da monarquia pode, pois resumir-se da seguinte forma:

A QUEDA DA MONARQUIA

Os Patrícios, obviamente, não gostaram das restrições ao seu poder e influência de que os últimos dois reis foram responsáveis. Assim, esperavam apenas um pretexto para derrubar a Monarquia. Esse pretexto foi-lhes dado em 509 a.C., quando um filho do rei se introduziu em casa de uma romana respeitadíssima, esposa e mãe de reputação impecável, e a violentou. A monarquia foi derrubada, o rei teve de fugir e os Romanos juraram solenemente nunca mais consentir um rei em Roma.

Nota:A violação de Lucrécia era considerada histórica pelos Romanos. Porém, não está absolutamente comprovado que tenha realmente acontecido.

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