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O CULTO DOS MORTOS

No documento Hist 7º ano (páginas 50-52)

No capítulo anterior analisámos os deuses mais importantes e mais conhecidos da mitologia egípcia. Entre eles encontrava-se a deusa Maat, que presidia a todos os julgamentos das almas. Maat, que se transformava numa pena, era colocada no prato de uma balança, lado a lado com o coração do morto. O desfecho do julgamento estava ligado ao peso do coração: se este fosse mais pesado que a pena, a alma do morto seria devorada por um monstro e deixaria de existir; se o coração tivesse um peso mais leve que a pena, a alma estaria autorizada a viver uma 2ª vida, entre os mortos.

Esta é apenas a última fase de uma grande viagem que todas as almas tinham que fazer depois da morte. E este "passeio" estava cheio de perigos e cheio de inimigos, entidades que procuravam destruir a alma do morto à primeira oportunidade. Por isso mesmo havia deuses que protegiam os espíritos dos falecidos logo desde o início. O primeiro a agir era Anúbis, que conduzia a alma até ao sub-mundo, o Reino dos Mortos.

Anúbis conduz a alma ao tribunal O coração é pesado ao lado de Maat Thot anota os

pecados Hórus conuz a alma a Osíris Osíris autoriza a alma a viver eternamente O morto era então levado a um tribunal divino, presidido por todos os deuses. No trono estava Osíris, rei do Mundo Subterrâneo, que observaria atentamente o procedimento do julgamento e daria a última palavra sobre o destino da alma.

Anúbis pesaria então o coração na balança, ao lado de Maat (à direita). Ao seu lado estaria Ammut, o deus-monstro devorador, esperando ansiosamente pela condenação da alma. Thot, com a sua cabeça de Íbis, anotaria todos os pecados numa tabuínha (até no sub-mundo há burocracia...). Depois da pesagem, o morto seria conduzido pela mão de Hórus (fundador da linhagem dos Faraós) até Osíris, seu pai. Por fim, o rei do sub-mundo decretaria o destino da alma: vida eterna ou destruição.

A viagem do Faraó era bem mais complicada. Sendo ele um deus-vivo, teria de atravessar muitos obstáculos e lutar contra entidades maléficas. A sua jornada até ao tribunal seria atribulada e cheia de Magia. Os Egípcios acreditavam que, se o faraó falhasse, seria o fim do Universo.

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Da mesma maneira que nós usamos um mapa quando passeamos nas ruas de um país estrangeiro, o morto também tinha uma lista de instruções, dicas e fórmulas mágicas para ultrapassar os obstáculos. Esse conjunto de inscrições é conhecido como O Livro dos Mortos. O seu verdadeiro nome, entre os Egípcios, era O Livro de Sair Para a Luz. Segundo a lenda, foi o deus Thot quem o escreveu. É uma colectânea de mais de 200 versos, extremamente antiga. As suas origens remontam às primeiras dinastias e teve constantes acrescentos ao longo dos séculos. No período do Novo Império, este "guia turístico" passou a estar escrito em rolos de papiro, que eram colocados nos sarcófagos. Eis um pequeno excerto desta obra magnífica. Esta citação destinava-se a ser dita aos deuses, durante o julgamento:

"Não matei homens...; "Não falei mentiras...;

"Contentei o deus com aquilo que ele ama;

"Dei pão aos famintos, água aos sedentos, vestidos aos nus e condução para os que não tinham barco...

"Salvai-me, portanto, protegei-me, portanto, e não testemunheis contra mim perante o grande deus!

Tenho a boca pura e as mãos puras; sou um ao qual dizem: "bem-vindo!", quando me vêem".

Para além de serem um povo muito espiritual, os Egípcios tiveram também excelentes poetas.

Todas as almas estavam sujeitas a um julgamento e tinham que ser responsabilizadas pelas suas acções. Esta noção era avançadíssima para a época. Os Egípcios foram os primeiros a desenvolver a ideia de que os nossos actos têm consequências. Não existe nada igual nas outras religiões desta época. Toda a nossa moral Judaico-Cristã foi influenciada por esta ideologia. Aqui vemos a base religiosa que vai aparecer na Torah judaica e depois na nossa Bíblia, milhares de anos depois.

MUMIFICAÇÃO

Segundo as crenças dos Antigos Egípcios, nenhuma alma podia viver feliz sem um corpo. Ela não é destruída com a Morte mas, sem um corpo que a sustente, fica infeliz, a vaguear pelo mundo.

O julgamento é importante para garantir que o morto não seja devorado pelo mostro Ammut, mas a felicidade da alma é conseguida por outros meios: a preservação do corpo terreno.

Os Egípcios mais modestos e sem recursos recorriam às areias do deserto. Este hábito começou muito cedo e, ao que parece, todos o faziam. A mumificação artificial virá mais tarde, no Antigo Império. A areia escaldante do deserto tem a capacidade extraordinária de desidratar todos os tecidos do corpo (há uma expressão que diz «seco como uma múmia», que é bem verdadeira). Com o passar do tempo, os Egípcios inventaram uma forma de mumificação mais sofisticada. Era muito dispendiosa e só os mais abastados podiam ter acesso a ela. Esta mumificação era feita por sacerdotes qualificados e estava carregada de rituais especiais em cada fase da sua execução.

Queres dar uma espreitadela a uma cerimónia de embalsamamento? Heródoto (um grego que viajou pelo mundo, na Antiguidade) fez isso mesmo. Ele conta-nos que se escondeu num pequeno móvel que estava numa tenda de embalsamadores. Ali, em segredo, memorizou todo o processo de mumificação (que deveria ser secreto). Pelo menos é o que ele diz: é que este processo levava dias! Heródoto não poderia

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ter ficado ali tanto tempo. De qualquer forma ele soube estes segredos. Não se sabe como os descobriu, mas tudo o que nos disse estava correcto. Podes fazer o mesmo que ele. Espreita:aqui

Convinha que a múmia tivesse uma caixa para a proteger. Esta era o sarcófago, com o nome do morto, indicação de parentesco e estatuto escritos. Também estava carregada de inscrições mágicas para proteger o corpo.

TÚMULOS E TEMPLOS

A múmia também precisava de uma casa para viver. Essa moradia era o túmulo. Este era mais do que um lugar onde era depositado um cadáver. Era a nova morada do morto. Ali, ele vivia a nova vida, rodeado dos seus bens mais preciosos como, por exemplo, mobiliário, jóias, roupas e sandálias, perucas, rolos de papiro para ler e instrumentos musicais. Havia, inclusive, estatuetas encantadas que se transformavam em verdadeiras estátuas vivas, se o morto soubesse usar as fórmulas mágicas adequadas. Estes pequenos ushabit (era este o seu nome), podiam fazer todo o tipo de tarefas, desde limpar, preparar banquetes, dançar e tocar uma harpa, ou jogar um jogo.

Uma caixinha com ushabit, encontrada num túmulo.

Os túmulos não foram sempre iguais, ao longo das eras. Começaram por ser fossos escavados, onde o morto e o seu tesouro eram ali enterrados. Por cima ficava uma grande plataforma de barro cru. Mais tarde, esta passou a ser revestida de blocos de mármore. Os túmulos tornaram-se mais grandiosos para demonstrar ao povo a importância do rei-deus. Estes monumentos chamam-se Mastabas.

Mastaba, em Saquara.

No documento Hist 7º ano (páginas 50-52)