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A teoria do fato jurídico: plano da eficácia

No documento Convenções processuais e poder público (páginas 163-165)

1 A CONSENSUALIDADE ADMINISTRATIVA NO DIREITO BRASILEIRO

2 PREMISSAS PARA A COMPREENSÃO DA CLÁUSULA GERAL DE NEGOCIAÇÃO PROCESSUAL NO CPC BRASILEIRO

2.2 PREMISSAS LÓGICO-CONCEITUAIS

2.2.6 A teoria do fato jurídico: plano da eficácia

O fato jurídico, em qualquer de suas espécies, é sempre resultado da incidência de uma norma jurídica a um fato ocorrido no mundo da vida. Em outras palavras: prevista a hipótese fática abstratamente no suporte fático da norma (antecedente normativo) e ocorrido o fato no plano da realidade, opera-se a eficácia normativa, com a incidência da norma ao fato e sua juridicização: nasce, assim, o fato jurídico.

O fato jurídico é vocacionado a produzir efeitos jurídicos. A eficácia jurídica é expressão designativa dos efeitos que a norma jurídica imputa aos fatos jurídicos (consequente normativo). O tipo normativo pode prever expressamente tais efeitos ou legar ao aplicador da norma a sua especificação; no segundo caso, estar-se-á diante de um tipo aberto; no primeiro, o tipo será fechado, se o antecedente normativo não contiver conceitos jurídicos indeterminados, ou aberto, se os contiver.

Há de se diferenciar, ainda, a eficácia jurídica da eficácia do Direito, esta igualmente intitulada de efetividade social da norma jurídica, correspondente à real produção, no plano social, das consequências abstratamente imputadas pela norma ao fato jurídico294.

Conclui-se que a eficácia jurídica é decorrência lógica do fato jurídico, do mesmo modo

regulamentação aplicável ao direito de um modo geral. O ponto específico atinente às invalidades processuais residiria na natureza da norma violada, no escopo que esta resguardaria. Assim, violada uma norma que tutela interesse público, ter-se-ia a nulidade absoluta, insanável; malferida uma norma que tutela preferencialmente interesse particular, o vício seria sanável. Nesta quadra, estar-se-ia diante de nulidade relativa, se a norma violada fosse cogente e de uma anulabilidade se a norma afrontada fosse dispositiva (LACERDA, Galeno. Despacho saneador. 2. ed. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1985, p. 70-73). Já Pontes de Miranda prefere adotar critério classificatório tomando por base a circunstância de estar ou não a invalidade expressamente prevista no texto normativo. No primeiro caso, ter-se-ia nulidade cominada, resultante de violação a regra dotada de integridade, sendo o ato defeituoso impassível de sanação; no segundo, a nulidade dir-se-ia não cominada, decorrendo de afronta a regra jurídica vulnerável, sendo possível, neste caso, o suprimento da falta (MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, t. 3, p. 355-356).

293 Nesse sentido: DIDIER JUNIOR, Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Teoria dos fatos jurídicos

processuais. Salvador: Juspodivm, 2011, p. 77.

294 Sobre os conceitos de eficácia normativa, eficácia jurídica e eficácia do direito, ver: MELLO, Marcos

que este é decorrência lógica da norma jurídica. Há, em ambas as situações, uma causalidade relacional entre esses elementos295. O plano da eficácia jurídica pode ser esquematizado segundo suas categorias eficaciais296, quais sejam, as situações jurídicas lato sensu, as sanções civis e penais, as premiações e os ônus, na apresentação feita por Marcos Bernardes de Mello297.

A expressão situação jurídica, tomada em seu sentido amplo, representa qualquer consequência advinda no mundo jurídico em decorrência de um fato jurídico. Trata-se de gênero que abarca as situações jurídicas stricto sensu e as relações jurídicas. Em seu sentido estrito, a denominação situação jurídica designa uma categoria eficacial não relacional, ou seja, não correspondente a uma relação jurídica298.

Nesse contexto, tendo em vista que de todo fato jurídico (mesmo os atos jurídicos eivados de vício capaz de lhes retirar a validade) advém alguma eficácia jurídica, intitula-se de situação jurídica básica a eficácia mínima decorrente do fato jurídico, podendo ela ser única (eficácia esgota-se nesse mínimo, a exemplo da vinculabilidade do testador ao testamento, enquanto vivo estiver) ou constituir-se na base eficacial sobre a qual concretizar- se-á a eficácia plena do fato jurídico. Na segunda situação, a eficácia mínima acaba, via de regra, ficando acobertada pela eficácia plena, sem deixar, no entanto, de existir299.

Tomando-se por base a eficácia plena dos fatos jurídicos, denomina-se situação jurídica simples ou unissubjetiva aquela que diz respeito a uma única esfera jurídica, atribuindo ao seu titular uma qualidade (posição no mundo jurídico tutelada por um direito subjetivo) ou uma qualificação (estado relativo à pessoa tomado como suporte fático de normas jurídicas) oponível erga omnes e passível de imposição pela via judicial. A personalidade e a capacidade jurídicas são exemplos de qualidades; a menoridade e o estado civil (casado, solteiro, viúvo) são exemplos de qualificações300.

As situações jurídicas complexas ou intersubjetivas podem ser unilaterais ou

295 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva,

2013, p. 31.

296 Entendida a expressão tal como a utiliza Marcos Bernardes de Mello, ou seja, como espécies de eficácia

(MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 43).

297 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva,

2013, p.43-44.

298

MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 95-96.

299 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva,

2013, p. 102-103.

300 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia, 1ª parte. 8. ed. São Paulo: Saraiva,

multilaterais. No primeiro caso, muito embora a situação jurídica pressuponha a intersubjetividade para existir, não chega a constituir uma relação jurídica, uma vez que a eficácia reside limitada a uma única esfera jurídica. O exemplo classicamente apresentado em doutrina é o da oferta ainda pendente de aceitação (que gera, para o ofertante, vinculabilidade, se revogável a oferta, ou vinculação, se irrevogável)301.

No segundo caso (situações jurídicas complexas multilaterais), estar-se-á diante de relações jurídicas (relação intersubjetiva juridicizada pela incidência de uma norma jurídica). Tais relações são regidas por três princípios essenciais: a intersubjetividade (necessidade, para existir a relação, de que ela se estabeleça pelo menos entre duas pessoas), a essencialidade do objeto (a relação jurídica pressupõe um objeto, quer se trate de bens materiais, imateriais ou promessa de prestação) e a correspectividade de direitos e deveres (o conteúdo eficacial da relação jurídica pressupõe, no mínimo, a existência de direitos e deveres recíprocos)302.

No documento Convenções processuais e poder público (páginas 163-165)

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