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Características das normas ambientais

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 53-57)

2. NORMAS JURÍDICAS, MEIO AMBIENTE E LEIS AMBIENTAIS

2.4. As leis e as normas ambientais

2.4.1. Características das normas ambientais

Como já visto, ao nos referirmos a leis, estaremos tratando do produto da atividade do Poder Legislativo que contém enunciados normativos dos quais é possível extrair normas. Essas normas – e as leis que trazem seu enunciado-base -, também como visto, podem ser classificadas com base em inúmeros critérios. Um desses critérios

104LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patrick de Araújo. Dano ambiental: do ambiental ao coletivo

extrapatrimonial: teoria e prática. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 88.

permite a divisão das normas jurídicas de acordo com os fatos da vida por ela regulados.

Com base nesse parâmetro, as normas podem ser classificadas, por exemplo, como tributárias, caso objetivem a regulação da conduta humana no que concerne à arrecadação de tributos, ou trabalhistas, se essas trouxessem como hipóteses de incidência aspectos variadas da relação de trabalho. A questão que se coloca nesse ponto é quais seriam as características dos fatos da vida regulados por uma norma para que ela possa ser classificada como ambiental.

A discussão sobre a delimitação do objeto das normas ambientais se confunde, em alguma medida, com o debate sobre o objeto do direito ambiental. Isso porque, ao tratar deste tema, os autores buscam exatamente identificar e descrever quais são as normas existentes no ordenamento jurídico que serão estudadas por esse ramo da ciência jurídica e com isso acabam por identificar as normas que passam a chamar de ambientais.

Em trabalho pioneiro sobre o tema, escrito no início da década de 70, Sérgio Ferraz106 definiu Direito Ecológico como “conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um comportamento que não atente contra a sanidade mínima do meio-ambiente”.

Pouco tempo depois, em obra também precursora sobre a matéria, Diogo de Figueiredo Moreira Neto107 definiu o que chamou na época de Direito Ecológico da seguinte forma “é o conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos sistematizados e informados por princípios apropriados, que tenham por fim a disciplina do comportamento relacionado ao meio-ambiente”.

Interessante notar que tanto Diogo de Figueiredo Moreira Neto como Sérgio Ferraz faziam uso da expressão Direito Ecológico para designar esse ramo do direito, dando

106 FERRAZ, Sérgio. Direito Ecológico: perspectivas e sugestões. Revista da Consultoria-Geral do

Estado do Rio Grande do Sul, 2/44, , n.4, 1972.

107 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Introdução ao Direito Ecológico e ao Direito

ênfase apenas ao meio ambiente natural. Essa nomenclatura seria progressivamente substituída por Direito Ambiental, Direito do Meio Ambiente ou Direito do Ambiente, que espelham a ampliação do objeto do estudo desse ramo do direito. Sobre a insuficiência da expressão Direito Ecológico, registra Paulo de Bessa Antunes:

O termo ambiente é, por essência, extremamente amplo e pode abrigar as inúmeras realidades que se encontram no interior da legislação protetora do meio ambiente. Basta que se observe a inserção dos chamados bens culturais no interior do amplíssimo conceito de meio ambiente para que se compreenda as limitações causadas pela designação de nossa disciplina como Direito Ecológico. A insuficiência da denominação demonstra-se evidente.108

José Afonso da Silva109 entende que o Direito Ambiental deve ser considerado sobre dois aspectos, como objeto e como ciência. No primeiro sentido, que interessa ao presente capítulo, esclarece consistir no “conjunto de normas jurídicas disciplinadoras da proteção da qualidade do meio ambiente”.

Toshio Mukai110 trata o Direito Ambiental como “um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito, reunidos por função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao meio ambiente”.

Édis Milaré111 define o Direito do Ambiente como “o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para presentes e futuras gerações”.

Frederico Amado112 define Direito Ambiental como “o ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, cultural ou artificial”.

108ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 6.

109 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.21 110 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 9-10. 111 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: gestão ambiental em foco. Doutrina. Jurisprudência.

Glossário. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 815.

Dos conceitos acima apresentados, podemos ressaltar dois elementos em comum. O primeiro - e mais óbvio deles - é que as normas ambientais regulam condutas ou comportamentos humanos, como de resto faz qualquer norma jurídica. O segundo é que esse comportamento é regulado em relação ao meio ambiente, ou seja, tendo em conta seu impacto, real ou potencial, ao meio ambiente.

Há ainda um terceiro elemento que aparece em algumas definições, mas não em outras. Trata-se da associação de uma finalidade específica às normas estudadas pelo Direito Ambiental. Fala-se, assim, em normas que objetivem a proteção da qualidade do meio ambiente (José Afonso da Silva), a sustentabilidade (Édis Milaré) ou a garantia da sanidade mínima do meio ambiente (Sérgio Ferraz). Outros preferem conceitos mais neutros, cingindo-se a falar em regulação de comportamentos em relação ao meio ambiente.

Nesse contexto, é de se indagar se uma norma que resulte em um prejuízo real ou potencial ao meio ambiente pode ser considerada ambiental. Imagine-se, por exemplo, se determinada norma tornasse menos rigoroso o controle de emissão de poluentes por meio da mudança de padrões. Estaríamos diante de uma norma ambiental? Entendemos que sim, pois, mesmo havendo redução de proteção, a norma teria por escopo a regulação do comportamento humano em relação ao meio ambiente e com vistas a atender algum padrão de qualidade ambiental, ainda que mais baixo.

A partir das ideias acima trazidas, podemos identificar como normas ambientais as normas que disciplinam o comportamento humano que possa afetar, direta ou indiretamente, o meio ambiente, podendo resultar em permissões, proibições ou obrigações. Essas normas têm por objetivo garantir a qualidade dos bens naturais, artificiais e culturais e suas interações, já que é isso que proporciona a existência e a qualidade de vida.

Interessante notar que diferentemente do que se dá com normas de outra natureza, como, por exemplo, as trabalhistas ou penais, a Constituição em momento algum faz referência a normas ambientais ou a normas de Direito Ambiental. O tema é tratado apenas de maneira indireta quando a Carta trata da distribuição da competência legislativa e executiva entre os entes federativos, momento que elenca um rol de matérias que se encontram no âmbito de regulação das normas ambientais que aqui

assumimos. Desse ponto voltaremos a tratar nos capítulos 3 e 8.

2.4.2. A complexidade do meio ambiente, os conceitos pré-jurídicos e as

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 53-57)