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O dever de exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 107-110)

4. O DIREITO CONSTITUCIONAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE

4.2. Os contornos do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

4.2.3. As normas-instrumento

4.2.3.3 O dever de exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (art. 225, § 1º, IV);

O Estudo Prévio de Impacto Ambiental, consagrado pela sigla EIA ou EPIA, foi instituído no Brasil por meio da Resolução no. 1, de 23 de janeiro de 1986, do CONAMA, que permanece em vigor. Em seu art. 2o, essa normativa estabelece um rol exemplificativo215 de atividades cujo licenciamento deveria ser precedido de sua elaboração.

José Afonso da Silva216 aponta que o EIA tem origem no direito americano, onde é exigido desde 1969 para projetos de obras do governo federal que pudessem impactar a qualidade do meio ambiente. Sua função é a de prevenir consequências danosas ao meio ambiente, o que é feito por meio de um diagnóstico adequado da área impactada, da identificação dos impactos, da definição de medidas mitigadoras e da elaboração de um programa de acompanhamento.

Reconhecendo a importância desse estudo para a adequada gestão do meio ambiente, a Constituição Federal consagrou-o e impôs ao poder público o dever de exigi-lo, na

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SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 199.

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forma da lei, para obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. Determinou ainda que a esse estudo se deveria dar publicidade.

A Carta Magna não delimitou o conteúdo do EIA nem detalhou as hipóteses em que ele seria exigido, deixando, propositadamente, essa tarefa a cargo do legislador ordinário. Teve, porém, o cuidado de indicar o critério a ser utilizado por este na definição dessas hipóteses: a significativa degradação do meio ambiente. Atualmente, em âmbito federal, a matéria segue sendo regulada pela citada resolução do CONAMA.

A expressão significativa degradação ao meio ambiente é de conteúdo indeterminado, com zonas de certeza positiva e negativa. Parece evidente, por exemplo, que a implementação de atividade de mineração em uma vasta área na qual se encontra um ecossistema sensível estará inevitavelmente aí incluída. Do mesmo modo, a simples implementação de uma banca de jornal em uma praça certamente estará excluída. Entretanto, há situações que tanto poderiam estar incluídas como excluídas.

Veja-se, por exemplo, o caso dos empreendimentos de geração de energia eólica. Quando começaram a ganhar força no Brasil, muito se discutiu se esses deveriam ou não ser precedidos de EIA. De um lado, havia quem defendesse que a exigência teria sentido por força do que determinava o art. 2o, XI, da Resolução nº . 1/86 do CONAMA217. De outro, havia quem argumentasse que a norma em questão fora pensada para outras formas de geração de energia, sendo inaplicável a tais empreendimentos, os quais não tinham o condão de causar significativo impacto.

Nessas zonas de incerteza, parece-nos que a escolha foi outorgada pela Constituição ao legislador para estabelecer se o estudo deve ou não ser exigido. Isso não significa, porém, que esse possa atribuir ao comando constitucional o sentido que bem entender.

217Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de

impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA e1n caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: (...) Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW.;

Como dito, nos casos de certeza positiva, a lei deverá exigir o estudo; nos de certeza negativa, não deverá exigi-lo. A liberdade de conformação existirá apenas nas situações em que o texto constitucional for incapaz de fornecer solução.

No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 1086218, o Supremo Tribunal Federal enfrentou a questão relativa à liberdade do legislador ao avaliar a constitucionalidade de dispositivo da Constituição do Estado de Santa Catarina que dispensava do EIA atividades de florestamento e reflorestamento. A Corte entendeu que havia inconstitucionalidade, invocando para tanto três razões. Em primeiro lugar, sustentou que a atividade em questão poderia sim causar impacto significativo, não podendo ser isentada de apresentar EIA. Em segundo lugar, indicou que só lei federal poderia excluir hipótese de incidência do EIA, pois se trataria de matéria a ser tratada por norma geral. Em terceiro lugar, apontou que não poderia o Estado invocar competência plena para legislar sobre normas gerais, tendo em vista a falta de peculiaridade local.

Já quanto à necessidade de se dar publicidade a esse estudo, trata-se de norma que, a princípio, não pode ser afastada pelo legislador. Segundo Romeu Thomé, o objetivo dessa exigência é “possibilitar aos interessados tempo suficiente para tomar as providências administrativas e/ou judiciais cabíveis nos casos de irregularidades no licenciamento de atividades com potencial degradador”219.

Assim, em termos de atribuição de sentido ao direito ao meio ambiente equilibrado, pode-se extrair desse dispositivo uma obrigação para o Poder Público de exigir o EIA sempre que estiver diante de uma obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental. O estudo deve ser exigido na forma da lei e a ele deve ser dado publicidade, havendo margem de conformação do legislador na delimitação do que seja significativa degradação. Naturalmente, se ao poder público cabe exigir, ao responsável pela obra ou atividade cabe cumprir essa exigência, seja ele um ente público ou privado.

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ADI 1086, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2001, DJ 10-08- 2001 PP-00002 EMENT VOL-02038-01 PP-00083.

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4.2.3.4 O dever de controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 107-110)