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Classificação

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 47-49)

2. NORMAS JURÍDICAS, MEIO AMBIENTE E LEIS AMBIENTAIS

2.2. Normas jurídicas

2.2.3. Classificação

Quando o assunto é a classificação das normas jurídicas, muitos são os critérios existentes. Não só os critérios mudam, mas também a nomenclatura classificatória utilizada, razão pela qual Arnaldo Vasconcelos afirma tratar-se de “tema em que são raríssimas as unanimidades” 88. Porém, a existência dessas divergências, por mais que exijam cuidado do estudioso, não afasta a importância de seu estudo. Assim como ocorre nas ciências naturais, as classificações são indispensáveis na ciência jurídica por motivos metodológicos de organização do conhecimento e servem como ponto de referência para permitir uma visão global da matéria jurídica. Além disso, cumprem papel relevante para a decidibilidade dos conflitos.

O fato de haver inúmeras classificações retratando um mesmo fenômeno não indica que apenas uma delas está correta e as demais estão incorretas. Na verdade, como bem resumiu Genaro Carrió89 em feliz expressão que vem sendo sempre relembrada pelos doutrinadores nacionais, as classificações não são certas ou erradas, mas úteis ou inúteis. É claro que, do ponto de vista lógico, podemos ter classificações

86FERRAZ JUNIOR. Tércio Sampaio Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão dominação.

7. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 95.

87 Ibidem, p. 95.

88 VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria da Norma Jurídica. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 171. 89 SCAFF, Fernando Facuri. Contribuições de intervenção e Direitos Humanos de segunda dimensão.

contraditórias por eleger um critério e não o aplicar corretamente. Entretanto, uma vez que se respeite o critério eleito, essa não poderá tida como errada, ainda que possa ser inútil. Sobre as classificações das normas jurídicas, pondera Tércio Sampaio Ferraz Jr.:

Essas classificações não obedecem também a critérios rigorosos, não podendo encontrar-se um sistema de classificatório no sentido lógico da expressão. Na verdade, os critérios são diversos e tópicos, surgindo em face das necessidades práticas, objetivando antes resolver problemas referentes à identificação de normas como jurídicas, dada sua imprecisão conceitual.90

Vejamos algumas classificações apresentadas pela doutrina.

Em obra de introdução ao estudo do direito, Maria Helena Diniz91 classifica as normas com base nos critérios i) da imperatividade, dividindo-as entre absolutas e relativas; ii) do autorizamento, segregando-as em normas mais que perfeitas, perfeitas, menos que perfeitas e imperfeitas; iii) da hierarquia, separando-as em normas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, decretos regulamentares, normas internas e normas individuais; iv) da natureza das suas disposições, apartando-as entre substantivas e adjetivas; v) da aplicação, distinguindo-as entre as de eficácia absoluta, de eficácia plena, de eficácia relativa restringível e de eficácia relativa complementável; vi) do poder de autonomia, dividindo-as entre nacionais e locais e federais, estaduais e municipais; e vii) de sistematização, dividindo-as entre esparsas, codificadas e consolidadas.

Arnaldo Vasconcelos92 prefere destacar em obra específica sobre a teoria das normas jurídicas apenas quatro categorias que considera mais relevantes do ponto de vista prático, quais sejam: i) a que subdivide as normas quanto à sua destinação em normas de direito e de sobredireito; ii) a que as aparta a partir do modo de existência em

90 FERRAZ JUNIOR. Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão dominação.

7. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 96.

91 DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. Introdução à Teoria Geral

do Direito, à Filosofia do Direito, à Sociologia Jurídica e à Lógica Jurídica. Norma Jurídica e Aplicação do Direito. 23. ed. Saraiva: São Paulo, 2012. p. 409-417.

92 VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria da Norma Jurídica 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 170-

normas explícitas e implícitas; iii) a que separa as normas a partir de sua fonte; iv) e a que as divide quanto à matéria.

Por fim, vale lembrar uma distinção feita por Miguel Reale93 das normas quanto à sua estrutura. Para o autor, com base nesse critério, podemos encontrar duas espécies de normas: as de conduta e as de organização. A diferença está no fato de que as primeiras são apresentadas como juízos hipotéticos, ao passo que as segundas são apresentadas como um juízo categórico. Exemplo do primeiro grupo seriam as normas penais em geral; do segundo, as normas constitucionais que outorgam aos entes federativos competência para legislar sobre determinado tema.

Quando falamos em leis ambientais ou normas ambientais, também estamos levando em conta uma classificação que tem como critério a divisão das normas de acordo com os fatos da vida por elas regulados e o ramo do direito que as estuda. Por esse critério, leis trabalhistas, por exemplo, são aquelas que versam sobre a relação entre trabalhador e empregado; leis tributárias tratam dos fatos relacionados à arrecadação de tributos; e leis penais regulam aa relação entre estados e indivíduos no que concerne à aplicação de penas.

No controle de constitucionalidade das leis ambientais, estaremos diante tanto do confronto dessas com normas constitucionais de organização como de autênticas normas de conduta, para nos valermos da classificação do professor Miguel Reale. No controle formal, um dos aspectos comumente avaliados é o respeito às normas da Carta Magna que atribuem competência a diferentes entes federativos para legislar sobre o meio ambiente. Já no controle material, esse confronto normalmente ocorre com autênticas normas de conduta, como a que exige a prévia edição de lei para definição da localização de usinas que operem com reatores nucleares (art. 225, § 6º).

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 47-49)