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Os pressupostos do controle de constitucionalidade

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 130-134)

5. O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO

5.3. Os pressupostos do controle de constitucionalidade

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CAPPELLETTI, Mauro. O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito comparado. Tradução de Aroldo Plínio Gonçalves. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1992. p.23- 24. Na mesma linha: BARROSO, Luís Roberto. O Controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 25.

O Dicionário Houaiss define como pressuposto “circunstância ou fato em que se considera um antecedente necessário de outro”249. Segundo Luís Roberto Barroso250, o controle de constitucionalidade lastreia-se em dois pressupostos fundamentais: a supremacia da Constituição e a rigidez constitucional. Ausentes esses pressupostos, não teremos as condições mínimas necessárias para a existência de mecanismos de controle de constitucionalidade.

Entende-se por supremacia a superioridade hierárquica de que é dotada a Constituição em relação a todas as demais leis e atos normativos existentes no sistema. Por força dessa ideia, esses atos jamais poderão subsistir se estiverem em confronto com a Constituição, já que ela é o fundamento de validade de todo o sistema. Caso conflitem com ela, serão considerados inválidos.

Sem que o sistema admita que a Constituição seja superior às demais leis, não haveria sentido em se falar em controle de constitucionalidade. Esse só existe para verificar se uma lei superveniente é compatível com outra que a antecede, de modo a definir se aquela deve subsistir ou ser rejeitada pelo sistema no qual pretende se inserir. Se a primeira não fosse superior à segunda, não haveria que se falar na rejeição dessa, pois não haveria fundamento para tanto. A nova lei, sendo de mesma hierarquia, revogaria a primeira ou com ela conviveria lado a lado em uma situação de absoluta disfunção do sistema, já que ambas poderiam ser aplicadas a critério do intérprete.

Sobre a essencialidade da supremacia para a existência do controle de constitucionalidade, leciona Celso Ribeiro Bastos:

O que não padece de dúvida é a absoluta necessidade de coexistirem como realidades autônomas as normas controladas e o padrão em função do qual elas vão ser aferidas, isto é, as leis ordinárias e as leis constitucionais. Isso porque, se em algum momento elas deixarem de existir com características próprias que se apartem entre si, desaparecida estará a possibilidade de qualquer controle ou exame de constitucionalidade das leis. Niveladas juridicamente, não há mais que falara em verificação de adequação de

249 GRANDE DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA BETA. Disponível em:< http://houaiss.uol.com.br>. Acesso em: 9 abr. 2015.

250 BARROSO, Luís Roberto. O Controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 6. ed. São

umas às outras, processo que implica a existência de superioridade de umas em relação às outras, relação essa extinta pela ocorrida nivelação.251 O segundo pressuposto fundamental para a existência do controle de constitucionalidade é a rigidez constitucional. Em sua acepção geral, rígido é o que não maleável, que é duro. É o antônimo de flexível. No contexto da dogmática constitucional, a ideia é justamente esta. O termo rigidez constitucional é utilizado para designar o fato de que a alteração da Constituição ou não é possível, como ocorre com as cláusulas pétreas, ou está sujeita a um procedimento mais complexo, distinto daquele aplicado para a geração de normas infraconstitucionais. Isso significa que processo ordinário de criação de atos normativos jamais poderá resultar alteração do texto constitucional. Sobre a rigidez constitucional, pontua o mesmo Celso Ribeiro Bastos:

Consectário essencial da superioridade que se atribuiu às normas constitucionais sobre as demais foi a prescrição de um processo especial para sua elaboração. Essa circunstância de serem as leis constitucionais elaboradas segundo um processo mais dificultoso que aquele previsto para leis comuns constitui a denominada rigidez constitucional.252

A aceitação desse pressuposto é necessária porque se a Constituição não for rígida, podendo ser alterada pelo processo ordinário previsto para a produção das leis em geral, jamais se poderia falar em violação dessa por ato superveniente. Na verdade, esse ato não estaria violando a Carta Magna, mas reformando-a. A Constituição de 1988, por exemplo, estabeleceu requisitos específicos para sua emenda, restringindo a iniciativa para deflagração do processo, exigindo quórum específico para sua aprovação, demandando um maior número de discussões sobre a matéria e proibindo sua realização em períodos de anormalidade institucional. Além disso, há matérias sobre as quais a emenda sequer é possível253.

251

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 392-393.

252

Ibidem, p.393-394.

253

O assunto é regulado pelo art. 60 da Constituição, que tem a seguinte redação: art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas

Há doutrinadores como Dirley da Cunha Junior254 e Celso Ribeiro Bastos255 que identificam ainda um terceiro pressuposto para a efetivação do controle: a existência de um órgão competente para exercê-lo. Essa competência pode estar expressa, como no caso da Constituição Federal de 1988, ou ser implícita, como na Constituição dos Estados Unidos. Sua composição ou mesmo sua localização dentro da estrutura do Estado também podem variar. Todavia, sem a existência de um órgão competente para exercer o controle, esse não terá como se efetivar. No Brasil, essa competência é atribuída a todos os órgãos do Poder Judiciário para o exercício do controle por exceção e ao Supremo Tribunal Federal para o controle por meio de ação direta.

Vale ressaltar, por fim, que o exercício dessa função de controle da lei pressupõe a existência do que a doutrina costuma chamar de Estado Constitucional de Direito e não um Estado de Direito qualquer. No estado constitucional, exige-se do juiz não só a simples aplicação da lei, mas a efetiva realização da Constituição, ainda que para isso tenha que extirpar do ordenamento leis que com ela se mostrem incompatível. É o entendimento de André Ramos Tavares:

O exercício clássico das funções judiciais (juiz segundo a lei) pressupõe um Estado de Direito formal e uma separação (divisão funcional) de Poderes, como observou Calamandrei. Mas o exercício da função de controle da lei pressupõe algo mais, pois essa postura judicial só pode se estabelecer no marco do Estado Constitucional de Direito, e não de qualquer estado.256

Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

254CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Controle de constitucionalidade: teoria e prática. 4. ed. Salvador:

JusPodivm, 2010. p. 41.

255BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.

394.

256TAVARES, André Ramos. Paradigmas do Judicialismo Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012.

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 130-134)