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O conceito jurídico de meio ambiente

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 49-53)

2. NORMAS JURÍDICAS, MEIO AMBIENTE E LEIS AMBIENTAIS

2.3. O conceito jurídico de meio ambiente

2.3.1. Noção geral

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O dicionário Houaiss conceitua a palavra ambiente como o “que rodeia ou envolve por todos os lados e constitui o meio em que se vive”. Esse conceito, adverte José Afonso da Silva94, “contém o sentido da palavra meio”, razão pela qual expressão meio ambiente denotaria redundância, usando-se dois termos sinônimos em conjunto para se referir a uma mesma realidade. Apesar disso, reconhece o mesmo autor que a redundância nesse contexto acaba servindo para reforçar o significado do termo. Seja como for, a expressão consagrou-se na legislação brasileira e até mesmo no texto constitucional (art. 225), não havendo razão para abandoná-la.

E o que seria meio ambiente? José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala95 ponderam que essa noção “pode ser construída de diversas perspectivas teóricas e de escala”, dependendo da ciência que estuda tal objeto. Isso se dá em razão do seu caráter interdisciplinar e de constante mutação. Tendo em vista o objeto do presente trabalho, consideraremos o tema em sua perspectiva jurídica, mas sem nos descurar do fato de que a disciplina jurídica das condutas humanas relacionadas ao meio ambiente é profundamente influenciada por outras ciências que se dedicam a esse objeto.

Sobre essa perspectiva, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981) expressamente definiu meio ambiente em seu art. 3o, I, como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Vê- se aí uma clara opção do legislador que realça, no conceito, a interdependência de todas as formas de vida e sua interação.

Ainda no âmbito das definições legais, a Resolução nº. 306, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), define meio ambiente como “conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as

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SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 1.

95 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patrick de Araújo. Dano ambiental: do ambiental ao coletivo

suas formas”. Essa definição tem o mérito de agregar expressamente ao conceito legal anteriormente exposto os elementos social, cultural e urbanístico.

Na doutrina, José Afonso da Silva96 conceitua o meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.

Paulo Affonso Leme Machado97 não apresenta conceito próprio, cingindo-se a apresentar o conceito legal previsto na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente. A partir da análise desse conceito, conclui que “a definição federal é ampla, pois vai atingir tudo aquilo que permite a vida, que a abriga e rege”.

Toshio Mukai98 registra que “a expressão ‘meio ambiente’ tem sido entendida com a interação de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida do homem”.

Édis Milaré99 indica duas concepções distintas de meio ambiente, sendo uma denominada de visão estrita e a outra de concepção ampla. Na primeira concepção estariam abrangidos apenas o patrimônio natural e as relações com e entre os seres vivos, ao passo que a segunda abrangeria além do patrimônio natural também o artificial e os bens culturais correlatos.

José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala100 entendem que “a lei brasileira adotou um conceito amplo de meio ambiente, que envolve a vida em todas as suas formas”. Ainda segundo eles, “o meio ambiente envolve os elementos naturais, artificiais e culturais”.

96 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 2. 97 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros,

2014. p. 59.

98 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 3.

99

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 113.

100 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patrick de Araújo. Dano ambiental: do ambiental ao

A partir da leitura desses autores, que apresentam conceitos muito próximos, entenderemos por meio ambiente, para os fins desse trabalho, o conjunto de elementos naturais, artificiais ou culturais e de suas interações, que propiciam a existência da vida em todas as suas formas.

2.3.2. Aspectos do meio ambiente

A amplitude do conceito de meio ambiente levou a doutrina101 a identificar quatro aspectos distintos em sua composição: o artificial, o cultural, o natural e o do trabalho.

O meio ambiente natural é constituído pelo solo, o subsolo, as águas, o ar atmosférico, a flora, a fauna e pela interação das espécies e dos meios que ocupam. O meio ambiente artificial é composto pelo espaço urbano, subdividindo-se em espaço urbano fechado (edificações) e espaço urbano aberto (equipamentos urbanos como parques, ruas, praças, etc.). O cultural é integrado pelo patrimônio artístico, histórico, paisagístico, arqueológico e turístico. Sua diferença para o meio ambiente artificial está no especial valor que adquiriu, não obstante também seja obra humana102. O meio ambiente do trabalho, por sua vez, é o local onde o trabalhador desenvolve suas atividades laborativas.

O Supremo Tribunal Federal também já reconheceu esses quatros aspectos no conceito de meio ambiente adotado pela Constituição Federal, tendo registrado em julgamento de medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 3.540 que:

(...) a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (...)103.

101 Cf. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.

3; FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 70-74.

102

SILVA, José Afonso da. Op. cit., p. 3.

103ADI 3540 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 01/09/2005, DJ

2.3.3. O meio ambiente como um macrobem e seus elementos como microbens

Discute-se na doutrina se o meio ambiente foi considerado pelo legislador brasileiro como um macrobem ou um microbem. A distinção é feita por José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala104, que identificam como microbem todos os elementos que compõe o meio ambiente, ao passo que o macrobem seria todos esses elementos tomados de forma integrada, ou seja, como interação.

Segundo esses autores, o legislador brasileiro teria considerado o meio ambiente como um macrobem, uma vez que, ao conceituá-lo no art. 3o, I, da Lei 6.938/1981, identificou-o como o conjunto de relações e interações que condicionam a vida em todas as suas formas. Na condição de relações e interações, o meio ambiente seria um bem imaterial e incorpóreo. Os microbens, por sua vez, seriam materiais e corpóreos. Nesse sentido:

(...)

a) a lei brasileira adotou um conceito de meio ambiente, que envolve a vida em todas as suas formas. O meio ambiente envolve os elementos naturais, artificiais e culturais;

b) o meio ambiente, ecologicamente equilibrado, é um macrobem unitário e integrado. Considerando-o macrobem, tem-se que é um bem incorpóreo e imaterial, com configuração também de microbem;

(...)105

No documento João Emmanuel Cordeiro Lima (páginas 49-53)