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4.1 Em quais condições contextuais atuam os praticantes da estratégia na gestão do

4.1.1 Controle Social da Ação de Governo

O controle social da ação de governo é uma condição contextual relacionada à capacidade da sociedade atuar sobre a formulação, implantação e acompanhamento da execução de políticas públicas. Cabe destacar que esta condição está associada às mudanças na perspectiva de atuação estatal, com a introdução de mecanismos de gestão e do direcionamento para a construção de uma sociedade mais democrática.

O controle social da ação de governo foi indicado pela maioria dos praticantes da estratégia atuantes na gestão do PPE entrevistados como uma condição contextual significativa. Inicialmente emergiram códigos iniciais como “ampliando a participação e credibilidade da sociedade”, dentre outros. No entanto, para que fosse possível tal entendimento foi realizado um levantamento documental em bases legais. De igual modo, realizou-se a leitura dos relatórios de gestão da SEE, objetivando a sua evidenciação no discurso oficial.

Através do uso de constantes comparações o termo “controle social” foi sendo consolidado. Também foram realizadas observações por parte do pesquisador ao longo do processo de coleta de dados visando à verificação de evidências que ratificassem os achados. No processo de análise couberam ainda questionamentos sobre a forma com que o controle social era exercido, bem como sobre a identificação de seus limites e características, emoldurados mediante processo de amostragem teórica.

Cabe destacar inicialmente que, em Pernambuco, a Lei Complementar nº 141/ 2009 estabeleceu, em seu Art. 1º, os quatro pilares para o modelo integrado de gestão, sendo eles: o sistema de controle social, o sistema de planejamento e gestão, o sistema de gestão administrativa e o sistema de controle interno (PERNAMBUCO, 2009). Em consonância com o que dispõe o Art. 6º desta mesma Lei Complementar, o sistema de controle social é o responsável por:

a) coordenar, articular e mediar as relações do Governo na implementação de suas políticas públicas com os diferentes setores da sociedade civil organizada; b) propor a criação, promover e acompanhar a implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Governo do Estado; c) atuar no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil; d) promover a descentralização e desconcentração das ações de governo; e) subsidiar o Governo do Estado com informações obtidas junto à população e a entidades representativas sobre a execução das políticas públicas e o funcionamento dos serviços públicos.

Percebe-se, a partir da leitura das responsabilidades atribuídas ao sistema de controle social, que existe um conjunto de diretrizes propostas para a consolidação deste sistema. O controle social, no âmbito da legislação supracitada, foi concebido mediante a geração de espaços de interlocução do poder público com a sociedade, de modo a possibilitar a disseminação e transparência das ações realizadas pelo Governo (PERNAMBUCO, 2009).

A contrapartida assumida pelo gestor público é o processo de responsabilização sobre as ações realizadas a partir da concordância em alcançar as metas que lhe são imputadas, especialmente a partir da publicação da Lei Complementar nº 101/2000 (BRASIL, 2000). Para grande parte dos praticantes da estratégia que foram entrevistados, ficou evidente o entendimento de que recai sobre eles a responsabilidade sobre o cumprimento das metas pactuadas e sobre a divulgação dos resultados para que seja possível o exercício do controle social. Uma passagem específica da fala do executivo Abel reforça este pensamento, ressaltando a ampliação da responsabilidade do gestor público em função do necessário e irreversível controle social:

A administração pública é baseada no controle, numa legislação muito amarrada, muito dura, um movimento de legalidade para atender a transparência, ao controle social, para garantir que o dinheiro [público] seja bem aplicado. [...] Ele [gestor público] é responsabilizado, e o controle social, a sociedade, está cada vez mais observando e acompanhando a execução do gasto público. O controle social vem num movimento crescente, cada vez mais forte. Então é um caminho sem volta.

Nota-se que este gestor, assim como muitos de seus pares, reconhece a existência do controle social como uma condição inerente ao contexto de atuação na gestão pública

hodierna. Ele ressalta a exigência, cada vez mais presente em razão da legislação vigente e da cobrança da sociedade, de que os gestores proporcionem publicidade aos seus atos, possibilitando que haja maior controle sobre a execução do gasto público. Ademais, constitui- se em um requisito legal dos pactos de resultados em Pernambuco (Art. 9º, inciso II e parágrafos seguintes do Decreto nº 39.336/2013), que exige do gestor a disseminação dos resultados obtidos e a participação da sociedade nas ações governamentais (PERNAMBUCO, 2013).

Tal condição contextual pode proporcionar implicações para a atuação dos gestores públicos na área educacional. Estes passaram a ter maior preocupação com a representação social nas decisões realizadas desde o âmbito da escola até decisões que abarcam toda a rede estadual de Educação, utilizando diferentes instrumentos para conseguir o exercício do controle social. A gerente regional Virna explicita esta inquietação ao identificar a necessidade de “envolver a comunidade na questão do controle social, porque a gente tem o conselho escolar, o conselho de pais, o projeto político pedagógico; são ferramentas da escola com as quais a gente consegue fazer esse trabalho [de controle social]”.

Apesar da conotação de responsabilização dada pela adoção de mecanismos de controle social, percebe-se que esta condição contextual foi significada por parte dos entrevistados como uma possibilidade de refletir sobre sua atuação. Para a gerente regional Nelci, “[O controle social envolve] a transparência, publicizar o resultado, todos tem acesso. [...] É bom porque conseguimos fazer reflexão o tempo todo e quando a gente não acompanha muitas vezes ficamos acomodados”. Esta fala reitera a importância do controle social como instrumento para romper com hábitos existentes, configurando-se assim como uma condição contextual vivenciada pelos praticantes da estratégia atuantes no PPE.

Não obstante o reconhecimento do controle social enquanto condição contextual de atuação dos praticantes da estratégia na gestão do PPE, é necessário ressaltar que a participação da sociedade pode existir, mas não ser relevante e efetiva. O limitado nível educacional da população no Estado, aliado ao reduzido conhecimento sobre gestão pública, pode prejudicar o nível das contribuições, o que pode conduzir a uma “sensação” de controle social em virtude da participação, sem que este seja necessariamente exercido. No entanto, em virtude de não se configurar como objetivo do estudo, não foi possível observar se existe compreensão efetiva por parte da população acerca do controle social no âmbito da gestão do PPE. Por outro lado, restou evidenciado pelos meios anteriormente apresentados que a

preocupação com o controle social está presente na atuação dos praticantes da estratégia do PPE, constituindo-se assim como uma condição contextual.