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4.3 Quais resultados de aprendizagem foram significados por praticantes da estratégia

4.3.3 Intensificando o Ritmo Organizacional

O ritmo organizacional se refere à intensidade de ocorrências de ações e eventos na organização. Foi identificado que a intensificação das reuniões ocorridas entre os praticantes da estratégia no PPE, associada à sincronização entre a identificação de problemas e aplicação

de soluções, motivada pelo uso de indicadores, emergiu como um resultado de aprendizagem relacionada à dimensão temporal.

Ao propiciar a utilização de indicadores e estabelecer regularidade para sua análise mediante a participação em reuniões, ocorreu uma ampliação da frequência da identificação de problemas e da construção de soluções oriundas de processos reflexivos, contribuindo para a aprendizagem de praticantes da estratégia. Atrelado a isto, o estabelecimento de metas possibilitou a interação entre os atores de diferentes níveis na estrutura da rede. Para a executiva Vânia:

As reuniões [do PPE] ajudam a compreensão da escola, para a escola se sentir compreendida também e para aproximar a gestão do Governo, do entendimento das necessidades que aquela escola traz. Ao mesmo tempo, [faz com que] a própria escola também possa refletir junto com pessoas [GGPOGs] que estão trazendo novas ferramentas que ajudam ela nessa reflexão.

As discussões ocorridas nas reuniões do PPE conduziram ao surgimento de melhorias na sistemática de atuação dos gestores, especialmente em função da necessidade de acompanharem indicadores cotidianamente, e, por conseguinte, melhorou o próprio funcionamento do PPE. Além disso, ocorreu um processo de ampliação da frequência com que as reuniões do PPE ocorrem, de modo que foram expandidas as oportunidades de interação ao propiciar maior volume de discussões sobre indicadores, especialmente aqueles que se configuram como problemáticos, conforme a realidade vivenciada em cada unidade escolar.

O uso de indicadores anuais distanciava a perspectiva dos reais problemas existentes ao longo do ciclo educacional. Os problemas ocorrem na atividade cotidiana do gestor, mas só eram debatidos quando os dados anuais eram extemporaneamente fornecidos, quando as soluções aplicáveis já não surtiriam os efeitos esperados para a realidade outrora identificada. Vislumbra-se então que a intensificação ou o aumento da frequência dessas oportunidades se configura como uma possibilidade de encontrar alternativas compartilhadas de solução para os problemas e, por conseguinte, ampliando as possibilidades de aprendizagem. O depoimento do gerente regional Otto, abaixo transcrito, ratifica este pensamento.

Na hora que você tem as reuniões você coloca a escola [o diretor da escola e sua equipe] para pensar sobre os seus problemas, coloca a escola [idem] para pensar soluções para as coisas que tão sendo trazidas, coloca a gestão da GRE para olhar o todo das escolas, coloca a Secretaria da Educação para estar junto também dessas escolas, coloca o governador para poder estar olhando para cada gestor e estar ali também monitorando as escolas.

A intensificação do ritmo organizacional foi um tema pautado no período de formulação do PPE. Havia discussões sobre qual deveria ser a frequência das informações sobre o desempenho da proficiência dos estudantes e dos demais indicadores utilizados no PPE. A referência que se tinha à época da implantação do PPE era o Pacto pela Vida (PPV), política pública do Governo do Estado voltada para a questão da segurança e que vinha proporcionando resultados considerados adequados até aquela data. Ocorre que os indicadores adotados pelo PPV eram computados diariamente, em face de reportarem situações relacionadas aos principais tipos de crimes contra a vida e contra o patrimônio. O debate seria de como intensificar o ritmo de fornecimento de dados educacionais para possibilitar um acompanhamento dos resultados mais próximo da realidade vivenciada nas escolas.

Este debate gerou um conflito inicial entre as equipes da SEPLAG, interessadas em replicar o modelo do PPV de modo integral, e as equipes da SEE, que apesar de reconhecerem as limitações na geração de dados em função do IDEB, discordavam da adoção de indicadores diários. Então foi necessário discutir o assunto, de modo que se verificou que não poderia haver a intensificação do fornecimento de dados ao ponto de romper com padrões educacionais estabelecidos e considerados necessários, como o tempo necessário entre as avaliações a serem realizadas pelos estudantes. A executiva Vânia recorda este período, destacando a importância de ser considerada a cultura existente na área educacional para o alcance de êxito na implantação do PPE:

Lembro muito de uma reunião que tive de discussão do Pacto e se queria [indicadores de] resultados mensais. Eu era contra completamente essa ideia de ser uma avaliação mensal, avaliação quinzenal, era uma coisa assim. O processo educacional é diferente. Não dá para eu ficar rodando essas avaliações [externas] mensais com os estudantes, porque o processo de ensino e aprendizagem tem um tempo para acontecer. A avaliação tem que fazer parte da rotina escolar. Ela não pode ser alguma coisa esdrúxula.

Extrai-se do relato acima apresentado que a intensificação do ritmo a partir da geração de dados possui limites estabelecidos em função das características observadas no PPE. Apesar de ser possível o levantamento de alguns dados até diariamente, o custo para sua realização atrelado à incapacidade da comunidade escolar de acompanhar e compreender a finalidade de tais iniciativas implicaria na sua caracterização como contraproducente. A definição da frequência para o trabalho com os indicadores demandou desta maneira o ajuste entre os interesses dos praticantes da estratégia, proporcionando com isto um entendimento mútuo e a definição mais coerente do calendário de reuniões relativas à gestão do PPE. A

adoção de ciclos trimestrais de monitoramento foi sinalizada como adequada e possibilitou condição de realizar avaliações sobre os resultados e a percepção de que ocorre aprendizagem entre os praticantes da estratégia atuantes no PPE. Esta posição é confirmada no depoimento da gerente regional Joana, abaixo transcrito.

A gente continua aprendendo muito porque cada momento [no PPE] vem com algo diferente. Não adianta a gente estar fazendo a mesma coisa do mesmo jeito. A gente avalia o que fez, o que deu resultado. Avalia para fazer o diferente. Então é isso que a gente percebe no Pacto: é diferente a cada ciclo, a cada etapa.

Pelo que foi possível verificar acima, a ocorrência de uma maior intensidade do ritmo adotado pelos praticantes da estratégia atuantes na gestão do PPE se configurou como um resultado de aprendizagem. Na sequência, a próxima subseção contempla o direcionamento de ações dos praticantes da estratégia em função dos resultados obtidos enquanto resultado de aprendizagem no PPE.