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4.1 Em quais condições contextuais atuam os praticantes da estratégia na gestão do

4.1.2 Estímulo ao Diálogo

O estímulo ao diálogo se caracteriza como uma predisposição dos praticantes da estratégia a se comunicar com outros, ouvindo seus pontos de vista e expressando suas posições, visando ao estabelecimento de transações e ao alcance de soluções para problemas. Como tal, o diálogo possibilita reflexão aos praticantes da estratégia à medida que gera contribuições (controversas ou concordantes) para a geração de alternativas que conduzam a resolução de um problema.

Durante a realização da pesquisa, foi identificado que o diálogo, evidenciado pelo incentivo para a realização de encontros públicos entre os gestores, contribui para o fluxo de comunicações, possibilitando a integração entre os diferentes níveis de decisão e as distintas entidades envolvidas no PPE. Neste sentido, emergiram códigos iniciais como “destacando reuniões como espaço de diálogo” e “destacando a importância do diálogo na construção do Pacto”, como exemplo. A comparação entre os códigos identificados e reportados pela maioria dos praticantes da estratégia, possibilitou a maturação do termo diálogo enquanto condição contextual.

Optou-se por realizar um levantamento em documentos oficiais, tendo sido identificada sua presença como premissa no mapa da estratégia do Governo do Estado (SEPLAG, 2015) desde o ano de 2011, bem como no Plano Estadual de Educação de Pernambuco 2015-2025, disposto na Lei nº 15.533/ 2015 (PERNAMBUCO, 2015). Também foi possível identificar a presença do termo diálogo na leitura dos relatórios de gestão da SEE relativo ao ano de 2012, em que ocorre um especial destaque para a relação com o sindicato da categoria de professores em Pernambuco (SEE, 2012). O processo de análise envolveu a busca pelo entendimento do que representava o diálogo para os praticantes da estratégia e de que forma este diálogo poderia ser observado no âmbito da gestão do PPE.

Neste sentido, o diálogo com a sociedade passou a ser adotado com mais ênfase desde a formulação das políticas públicas, por meio dos seminários regionais “Todos por Pernambuco”, realizados desde 2007 a cada quadriênio. Nestas ocasiões, a população teve a oportunidade de participar e contribuir com sugestões para a formulação de propostas em diferentes setores de atuação governamental, destacando-se a área educacional (SEPLAG, 2017). Além destes seminários, foi identificado que o diálogo ocorre também no âmbito da

própria SEE, mediante a realização de encontros colegiados constituídos em distintos níveis de decisão e envolvendo desde o governador e seu secretariado até docentes, servidores, estudantes e seus representantes, conforme demonstrado na relação de atas de reuniões apresentada no apêndice P. A leitura de atas de reuniões ocorridas desde a constituição do PPE ratifica a concepção dialógica vivenciada nesses espaços, evidenciada pelas inserções de encaminhamentos de reunião oriundos de colocações formuladas pelos participantes.

Como informado anteriormente, a importância desta condição contextual para a concretização do PPE foi ressaltada pela maioria dos entrevistados. Vânia destaca que desde a implantação do PPE esta condição foi importante, especialmente por envolver relações de atores pertencentes a duas secretarias com realidade e atuação bastante distintas como eram a SEPLAG e a SEE. Conforme o depoimento desta Executiva “se a gente não tivesse um diálogo muito forte e um gestor [GGPOG] pronto para escutar a especificidade daqui [Educação] a partir dos princípios que ele trazia, a gente teria muito mais dificuldade do que teve [para implantar o PPE]”. É perceptível a existência de uma situação de conflito evidenciada pela conexão entre dois mundos sociais distintos, constituídos pela equipe de GGPOGs da SEPLAG e pela equipe de técnicos, professores e gestores da SEE. No entanto, nota-se que houve uma preocupação de ambas as partes em dialogar para construir os fundamentos do PPE.

Uma evidência de que isto permeou o processo foi o ajuste contínuo nos instrumentos adotados para acompanhar os resultados. Ivan relembra deste momento, ressaltando a importância do diálogo na construção do PPE, como na reformulação de um indicador originalmente adotado: “foi desenvolvido um indicador específico que não existia, não era tradicional na Educação que se chamava Índice Pacto Pela Educação. Como as escolas não reagiram muito [bem], foi realizada a mudança pedida pela rede”.

A adoção do diálogo como condição contextual desde o início da implantação do PPE possibilitou aos praticantes da estratégia que percebessem a abertura necessária para a construção do diálogo em diferentes instâncias. A percepção deste significado como uma condição inerente ao PPE contribui para o compartilhamento de problemas e a formulação de ideias na rede estadual de Educação, transitando em distintos níveis de decisão. Para o gerente regional Otto:

[O pacto] é um momento de diálogo sempre [contínuo]: a gente tem um diálogo local quando a gente faz as reuniões nas escolas, consegue ouvir os professores das escolas, consegue ouvir a gestão; […] aqui na GRE a gente consegue ouvir os gestores; a gente consegue ouvir a própria Secretaria de Planejamento, escuta o

gestor da regional; e quando está com o governador, você tem ali todos os gestores regionais, o secretário de Educação, você tem os secretários executivos, outras secretarias de governo, e algumas decisões podem surgir desses eventos e foram fruto do diálogo, foram fruto de algum momento as pessoas pararam para lhe ouvir. Muitas coisas surgiram de benefício para a educação graças a esse modelo. As pessoas ficam cientes de quais são os problemas e os remédios que são indicados.

É possível verificar a partir do depoimento do entrevistado, que o diálogo permeia diferentes níveis de decisão, envolvendo atores que transitam em distintos níveis hierárquicos. Com isto, ocorre a facilitação para que haja o entendimento entre os praticantes da estratégia, haja vista a possibilidade de ouvir e ser ouvido nos espaços estabelecidos para compartilhamento de informações. Como contrapartida, demanda maior empenho dos praticantes da estratégia, para que as decisões ocorram visando à resolução dos problemas identificados. Corroborando com este pensamento, Otto afirma que:

[O pacto] É um modelo em que todo mundo precisa se empenhar. Em um determinado momento o governador precisa sentar e enxergar o que está acontecendo, fazer questionamentos aos secretários, sugerir como pode melhorar as coisas, ouvir. O que acho o mais importante, a gente dá o direito de um governador de Estado ouvir um professor, que está gerente de regional, mas que é professor, e como é que um professor pode ajudar na relação.

Apesar de ser indicado pela maioria dos entrevistados como condição contextual presente no PPE, não é possível afirmar que o diálogo se configura como algo onipresente na gestão do PPE. Em algumas situações as decisões foram tomadas de modo autocrático, sem que fosse possível verificar o contraditório. Uma evidência de que isto ocorreu se dá mediante a leitura da ata da primeira reunião do CGPPE (SEPLAG, 2011), realizada em 28/09/2011, na qual foi determinada a exoneração monocrática e peremptória de alguns diretores de escola, sem que lhes fosse dada a oportunidade de questionar os motivos para tanto. No entanto, entende-se que a maioria dos praticantes da estratégia no PPE compreende o diálogo como uma premissa e, como tal, passível de falhas em sua aplicação.