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4.2 Quais foram os principais eventos de aprendizagem vivenciados por praticantes da

4.2.2 Envolvendo Familiares em Reuniões Escolares

Como afirmado anteriormente, os eventos se entrelaçam e, como tal, passam a exercer influência uns sobre os outros. Com a consolidação e o uso sistemático do SIEPE e a maior consistência nos dados nele contidos, os praticantes da estratégia passaram a receber informações mais confiáveis sobre os indicadores adotados. Com isso, passaram também a

indagar sobre necessidades de inserção de outros indicadores, a partir das contribuições oriundas de suas bases.

Um indicador proposto e que foi implantado se refere ao envolvimento de familiares em reuniões escolares. A sua inserção no rol dos indicadores avaliados no PPE ocorreu em reunião do CGPPE realizada em 01/08/2012, conforme reportado no encaminhamento da ata: “Avaliar a adoção da meta do indicador de participação de familiares em reunião” (SEPLAG, 2012b).

O problema que originou a caracterização do evento de aprendizagem relativo à participação de familiares nas reuniões escolares está relacionado à identificação de meios para atração de pais e responsáveis para tais atividades. A constituição desta questão como problema foi percebida pelos praticantes da estratégia atuantes na gestão do PPE em função do pouco interesse inicial dos familiares em participar deste processo, especialmente mediante a existência de conflito com outros interesses. Apesar dos investimentos realizados na última década na educação em Pernambuco, com a realização de ações como o Programa Ganhe o Mundo (de intercâmbio internacional), a oferta de equipamentos de informática (tablets e computadores portáteis) e a própria melhoria na infraestrutura de salas de aula e de escolas (SEE, 2015), ainda havia reduzida participação dos pais e responsáveis nas reuniões escolares.

O problema identificado pela maioria dos praticantes da estratégia entrevistados era como atrair a participação de responsáveis para as reuniões escolares. Para a gerente regional Alda, o problema passa pela formação dos familiares e por questões socioeconômicas, conforme relata: “A questão é trazer a família para escola. O pai diz que não tem tempo, que não tem interesse. Nós lidamos com um tipo de pai que tem baixa formação. Não é só a questão econômica, mas [também] social”. O depoimento de uma mãe de estudante, reportado pela gerente regional Virna confirma a existência de conflitos de interesse na relação com os familiares:

Uma mãe disse a mim: ‘Eu não vou. Se a senhora quiser deixar aí, deixa. Se não quiser... estudar pra que? eu só botei na escola por causa do Bolsa Família’. Qual é o referencial que um menino desse vai ter, se a própria mãe está dizendo isso? Aí eu vou deixar de atender o menino por causa dessa mãe? Não. [...] Eu tenho que acolher o menino para mostrar para ele que a posição da mãe é diferente, que existe outro mundo diferente da mãe dele. Para ele é uma questão de conflito. Mas depois ele vai ver que o que a escola está ensinando para ele é melhor do que o que a mãe está querendo.

Sua implantação se constituiu em um evento de aprendizagem, conforme extraído das entrevistas realizadas com os praticantes da estratégia atuantes no PPE. Importante se faz

destacar que este indicador ultrapassa o sentido da presença física de pais e/ ou responsáveis na escola para receber os resultados dos estudantes. Significa ofertar oportunidades para os familiares participarem ativamente da escola, externando problemas e contribuindo para a proposição de soluções. O depoimento da gerente regional Vera ressalta a importância da implantação deste indicador, que foi amplamente destacada pelos praticantes da estratégia entrevistados:

A escola já tinha essa preocupação de ter um momento para entrega de notas, que era a reuniões de pais e mestres, em momentos pontuais [ao término das avaliações bimestrais]. Com a vinda do Pacto pela Educação [em Pernambuco] foi feito um acompanhamento de indicadores de processo e, [dentre eles], participação da família na escola. Quando chegou aquele indicador pra nossa realidade a escola começou a trabalhar não só para entregar as notas, mas essencialmente para deixar o pai dentro da escola compreendendo os processos que aconteciam na escola.

Apesar de ser um tema considerado por educadores como importante para o desenvolvimento de estudantes, a participação de familiares na escola não tem sido enfatizada nas atividades gerenciais de escolas públicas brasileiras. Isto é verdadeiro também para a época da implantação do PPE, visto que não havia indicador que estivesse relacionado ao tema. Para a gerente regional Diva:

O pacto vem sinalizar, que esse [participação de familiares nas reuniões da escola] era um indicador que precisava se acompanhar. […] A gente tem que melhorar cada vez mais essa escola, atrair esses pais de uma forma interessante para eles se sentirem estimulados, para estarem na escola participando.

A solução identificada pelos praticantes da estratégia no PPE passou pela reformulação das antigas reuniões de pais e mestres, passando a incorporar na reunião escolar não apenas a discussão sobre os resultados de cada aluno, mas também os resultados de cada turma, ano e da própria escola, buscando identificar os problemas locais e também recebendo contribuições para suas soluções. Diferentemente das antigas reuniões de pais e mestres, em que apenas eram entregues os boletins escolares divulgando os resultados obtidos por estudantes no bimestre, o encontro precisaria considerar a gestação de resultados explicitados pelos indicadores monitorados no PPE.

Também passou a haver incentivos diversos, que contemplavam desde o fornecimento de lanches até a realização de atividades culturais desenvolvidas pelos próprios estudantes. Para Vânia, “uma das estratégias que a gente [gerentes regionais, diretores de escola] teve

para mostrar à família a importância dela na escola foi de tornar a escola transparente nos seus resultados para a família”.

Novas formas de reunião foram desenvolvidas pela equipe de gestão das escolas, visando à atração de pais e responsáveis. O relato da maioria dos praticantes da estratégia entrevistados indica que houve liberdade para que o formato das reuniões fosse concebido conforme as especificidades de cada unidade escolar, sendo considerada apenas a obrigatoriedade de que fossem apresentados e discutidos os resultados de cada estudante, como também os indicadores de resultados alcançados pela escola. Para a gerente regional Vera:

Esses encontros passaram a ser diferenciados e com mais frequência, onde cada escola tem a criatividade de buscar alternativas para alcançar presença significativa de pais na escola. Então fazem palestras, apresentações com os alunos, que atrai muito a participação dos pais: ‘Ah, eu vou vir porque meu filho vai se apresentar’.

Segundo o depoimento da maioria dos praticantes da estratégia, com a realização destas reuniões começou a ocorrer uma mudança de perspectiva dos familiares em relação à escola. As ações propostas pelos diretores de escola, antes limitadas ao âmbito escolar, passaram a transpor a escola e a envolver as comunidades locais. Uma evidência dessa afirmação está presente no excerto extraído da fala da gerente regional Carol, que diz que “começou a fazer um trabalho mostrando o resultado da escola à sociedade, levando o aluno para apresentar [seus trabalhos], fazendo ações de cidadania junto aos órgãos da cidade”.

A presença dos pais nestas reuniões passou a ser objeto de análise de um indicador específico. Nestes encontros, ocorre a participação das equipes de apoio das gerências regionais, bem como de GGPOG responsável pelo acompanhamento na regional. Atualmente ocorrem pelo menos quatro reuniões com este formato ao longo do ano nas escolas, passando a compor o calendário anual de atividades escolares apresentado pela SEE, conforme afirma a gerente regional Salete:

Hoje em dia já tem um calendário, [com] os dias da reunião com os pais, a família na escola. [...] Agora não [é para] fazer aquela reunião que ele vai lá e fala do filho, olhando o resultado. É aquela reunião prazerosa para família, [para] a família querer ir para a escola. [...] Então a gente fez como a escola particular: o pai está lá todos os dias e a gente precisa ter o pai do lado, [para] o pai ser parceiro da escola, para que possa cuidar do filho também.

O relato da maior parcela dos praticantes da estratégia indica que houve uma melhoria no desempenho dos estudantes mediante o crescimento na participação de pais e responsáveis

nas reuniões escolares. Para os praticantes da estratégia, a consequência desta participação tem proporcionado um novo significado da escola para familiares e estudantes. O depoimento de Edu confirma este posicionamento ao expor que: “os pais percebem o maior envolvimento dos jovens com a escola. Eles [pais] estão percebendo: ‘Está acontecendo alguma coisa muito legal; o meu filho está mais envolvido com a escola; está melhorando seu desempenho”. Esta posição é ratificada também na fala da gerente regional Alda, que afirma:

A família é um elemento essencial, um elemento chave na educação, seja no processo educativo na escola e fora da escola. Quando a família acompanha, participa da vida desse estudante monitorando a sua frequência, o seu resultado, a sua participação na escola, ele tem um desempenho diferente. Para que a escola possa ter melhor desempenho também é preciso maior participação da família [nas reuniões da escola].

Os praticantes da estratégia aprenderam com a inserção do indicador relacionado à participação de familiares nas reuniões da escola no âmbito do PPE que sua atuação é fruto de um esforço coletivo que transcende os limites da escola. A importância da participação da família na escola para a formação dos estudantes foi confirmada a partir da relação entre o nível de envolvimento de pais e responsáveis com a escola e o desempenho dos discentes nas avaliações externas. Isto se verificou não apenas pelo conhecimento desenvolvido pelo estudante, mas pela maior presença e interação no âmbito escolar, contribuindo para a redução das taxas de abandono observadas na rede estadual de Educação em Pernambuco.

A próxima subseção aborda o direcionamento da atuação dos atores para o conjunto de escolas prioritárias. Trata-se de outro evento que tem proporcionado aprendizagem aos praticantes da estratégia no PPE, motivando o interesse do pesquisador em aprofundar seu entendimento.