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4.1 Em quais condições contextuais atuam os praticantes da estratégia na gestão do

4.1.5 Oportunidades de Interação

Outra condição contextual vivenciada pelos atores no PPE está relacionada a existência de oportunidades de interações. Configuram-se como encontros realizados entre atores e/ ou artefatos em que a ação de um envolve de algum modo o outro, visando ao compartilhamento de ideias e experiências. É comum que nos encontros promovidos no PPE a ocorrência de discussões sobre problemas e a busca por soluções para estes problemas.

A construção desta condição contextual foi iniciada pela leitura das entrevistas realizadas com os praticantes da estratégia. A partir daí foi possível a elaboração de códigos iniciais relacionados ao processo de interação entre os atores, tais como: “levando gestores a refletir em reuniões”, “destacando reuniões como espaço de interação”, “comparando formas de trabalho” e “criando espaços para troca de experiências”. A emergência destes códigos iniciais serviu como base para a realização de observações do pesquisador nestas reuniões, de modo a se verificar como se davam estas interações.

Com isso, foi possível observar que antes do PPE as práticas gerenciais eram oriundas da atuação individual dos gerentes. Não havia uma orientação específica para que fossem realizadas interações entre os gestores para troca de experiências. A gerente regional Vera confirma este pensamento ao afirmar que “antes nós tínhamos uma visão mais tradicional da nossa prática como gestor, a gente trabalhava isolado”.

Com a introdução do PPE, cujo foco está direcionado para a GpR, foi possível identificar sentimentos de apreensão, angústia e desconfiança por parte dos gestores. Para

Virginia “o Pacto foi mexer com a estrutura das pessoas, deixou a gente sem chão. No início fiquei apavorada e angustiada. Achava que não ia dar certo”. Apesar do desconforto inicial, com o passar do tempo os gestores incorporaram fundamentos da GpR em suas atividades. Uma das formas identificadas para a mudança de conduta foi a participação dos gestores em reuniões presenciais, realizadas em diferentes níveis de discussão e de complexidade. É possível estabelecer uma hierarquia de reuniões, conforme o nível de decisão envolvido. O quadro 2 apresenta os tipos de reunião ocorridos no PPE:

Quadro 2 – Tipos de reuniões do PPE

Fonte: elaborado pelo autor, com base em dados fornecidos pela SEPLAG (2017).

O primeiro tipo de reunião é a de monitoramento, na qual se reúne o CGPPE. A participação do pesquisador nas reuniões de monitoramento ocorridas no ano de 2016, atrelada à leitura e interpretação de suas atas, permitiu identificar que estas reuniões possuem o mais amplo alcance no PPE. Segundo o Decreto nº 39.336/ 2013, que estabelece os critérios para execução dos pactos de resultados, este Comitê é presidido pelo governador do Estado, e tem como participantes o secretário de Planejamento e Gestão e os secretários de Estado de pastas vinculadas ao tema específico (PERNAMBUCO, 2013). Além destes membros, participam destas reuniões no âmbito do PPE a equipe executiva da SEE e os gerentes regionais.

Normalmente as reuniões do CGPPE são realizadas na SEPLAG, em um ambiente considerado como confortável e adequado. O levantamento realizado nas atas de reunião do CGPPE desde 2011 permitiu concluir que a duração destas reuniões é de aproximadamente quatro horas e conta com a participação média de 48 servidores públicos, entre representantes

Reunião Frequência Participantes Ações Realizadas

Monitoramento

(Estratégico) Semestral

Comitê Gestor Executivo (governador, secretários de Estado) e gerentes regionais.

Apresentação e discussão dos resultados das GREs, buscando traçar estratégias e destravar processos visando à melhoria de

resultados.

Pactuação Anual

Secretário de Educação, gerentes regionais, diretores

de escola.

Exposição dos resultados obtidos no ano anterior e apresentação das metas anuais

estabelecidas para o ano vigente.

Tática Bimestral

Gerentes regionais, equipe de apoio da GRE e da SEPLAG, diretores de escolas prioritárias.

Apresentação e discussão dos resultados das escolas prioritárias, buscando traçar

estratégias para os problemas identificados, através do compartilhamento

de ideias e experiências.

Operacional Mensal

Equipe de apoio da GRE e da SEPLAG, diretores de

escolas prioritárias operacionais e equipe,

estudantes.

Apresentação e discussão dos resultados obtidos pelas escolas, bem como acompanhamento dos encaminhamentos

do núcleo central do Governo, da SEPLAG e da SEE. A reunião do CGPPE só se inicia com a presença do governador e é conduzida pelo secretário de Educação, que eventualmente recebe o apoio de assessores e/ ou gestores durante este processo. Em algumas situações específicas, especialmente quando envolvem barreiras à execução de atividades, outros secretários de Estado presentes são chamados a se pronunciar.

As discussões estabelecidas na seara desta reunião envolvem o nível estratégico de decisão, englobando os processos de monitoramento de metas prioritárias e de resultados, podendo ocorrer em conjunto, com maior duração, ou separadas. Neste último caso, a participação nas reuniões de metas prioritárias é restrita aos membros do Comitê Gestor e equipe executiva da SEE, sendo facultada a participação de gerentes regionais. As metas prioritárias são aquelas escolhidas dentre as que foram sugeridas pela população nos Seminários regionais para receber um olhar mais atencioso por parte do Governo do Estado, caracterizando-se principalmente como execução de obras e funcionamento de programas que podem gerar maior impacto nos resultados da educação.

O acesso às atas de reuniões do CGPPE destinadas à discussão de metas prioritárias permitiu a interpretação de que estas reuniões assumem um caráter mais voltado para o destravamento de barreiras. Uma evidência disso reside no significativo número de encaminhamentos, que representam as decisões tomadas no âmbito da reunião, direcionados à liberação de recursos para as metas. Outra interpretação realizada é a de que este tipo de reunião alimenta o sistema político, tendo em vista contribuir para a definição da agenda do governador, com a definição de datas para inaugurações de obras e para realização de atividades importantes nos processos, como o embarque de estudantes para intercâmbio no exterior mediante o Programa Ganhe o Mundo.

Por outro lado, as reuniões destinadas exclusivamente à discussão de resultados têm sua ênfase direcionada para a identificação dos motivos que levaram ao alcance de determinado desempenho por parte da rede estadual de Educação, da GRE ou de uma escola. A leitura das atas dessas reuniões possibilitou a verificação da predominância de encaminhamentos destinados à realização e apresentação de estudos, diagnósticos e/ ou notas técnicas. Configuram-se como ações que demandam reflexão dos gestores responsabilizados diretamente por estas atividades, mas que passam a envolver outros níveis de gestão, tendo em vista que normalmente demandam posições sobre resultados específicos. As apresentações desses estudos contribuem para o questionamento dos gestores acerca do desempenho alcançado e alimentam o debate sobre os propósitos estabelecidos no âmbito de sua atuação.

A participação do pesquisador como observador nas reuniões do CGPPE possibilitou a verificação de que os resultados são representados por indicadores estabelecidos para o acompanhamento do desempenho escolar ao longo do ano. O indicador no PPE é uma medida quantitativa que fornece informações sobre um aspecto, possibilitando a realização de análises em função do tempo, do espaço ou de segmento de interesse definido, e a realização de comparações com as metas estabelecidas no PPE, com padrões de desempenho desejados ou com alguma entidade referencial (benchmark). No PPE são classificados como indicadores de processo, que permitem avaliar as atividades desempenhadas, indicadores de resultado, relacionados aos fins específicos estabelecidos, e indicadores finalísticos, que representam o impacto das ações governamentais na sociedade.

O segundo tipo de reunião é a de pactuação de metas anuais. A elaboração dessas metas é realizada pela equipe da SEPLAG e leva em consideração a necessidade de alcance de resultados no IDEPE. É um processo realizado de modo centralizado (de cima para baixo), sem a participação direta de gerentes regionais ou diretores de escolas. Após a definição das metas, o secretário de Educação as apresenta em reuniões realizadas em cada gerência regional, com a participação de diretores de escolas, que assinam um termo de pactuação, responsabilizando-se pelo alcance das metas. O depoimento da gerente regional Nelci evidencia que “todos os anos os diretores das escolas estaduais assinam um termo de pactuação, que descreve a meta a ser alcançada na avaliação”.

Foi realizada a coleta de dados mediante observação na reunião de pactuação da GRE Metropolitana Norte. O evento aconteceu na cidade de Araçoiaba, localizada na região Metropolitana de Recife. Nesta ocasião, a reunião de pactuação ocorreu em uma escola e contou com a participação de aproximadamente 100 pessoas. Diferentemente do ambiente vivenciado na reunião do CGPPE, o ambiente não foi considerado confortável e adequado.

Apesar de receberem as metas anuais, cabe aos gerentes regionais e diretores de escola a formulação dos propósitos para desdobrar estas em atividades que possam conduzir as entidades a alcançar os resultados desejados. Como a necessidade de melhoria nos resultados é apropriada pelos praticantes da estratégia como um problema a ser resolvido, inicia-se um processo de construção de alternativas de solução. Nas palavras do gerente regional Otto:

A cada ano a escola pactua com o secretário de Educação metas a alcançar. Então os gestores [gerentes regionais e diretores de escola] saem daqui e levam para suas equipes, levam para seus professores, aquele desafio. A cada ano, a gente está assim [apontando para baixo], a gente precisa chegar aqui [apontando para cima], a gente não conseguiu e a gente precisa chegar aqui [repetindo o gesto]; Então isso é muito desafiador.

Pode-se perceber que as metas do PPE são encaradas pelos gestores como desafios a serem alcançados anualmente. Existe uma atitude favorável ao desafio proposto no termo de pactuação, de modo que os esforços de toda a equipe são intensificados para o alcance dos propósitos estabelecidos para cada indicador. Para a gerente regional Nelci, “todo mundo quer atingir a meta para melhorar a qualidade, para investir no aluno. [...] O objetivo maior é que a escola cumpra o que foi pactuado durante o ano. Então, esse é o desafio: conseguir que essas escolas melhorem seus indicadores”.

O terceiro tipo de reunião é a tática, que envolve os gerentes regionais, as equipes das GREs e os diretores de escolas. As reuniões táticas são realizadas nas escolas que tenham reduzido o resultado do IDEPE nas últimas avaliações. Nestes encontros são realizados os desdobramentos das metas, que representam o detalhamento de cada atividade vinculada às metas até o nível operacional, bem como a identificação e discussão de problemas relativos à gestão. É apresentada ainda a relação das escolas que mais evoluíram e as que involuíram em relação ao IDEPE no período anterior. Na oportunidade, são convidados representantes de escolas que vivenciaram experiências problemáticas em contextos semelhantes e que obtiveram êxito nas ações promovidas visando ao enfrentamento dos problemas, para que possam compartilhar com os participantes o caminho percorrido e as soluções encontradas para o caso específico. Após esta explanação, os diretores presentes são convidados a debater casos reais, como o que segue representado pela figura 6 abaixo:

Figura 6 – Exemplo de caso trabalhado por diretores de escolas prioritárias em reunião tática

Fonte: elaborada pelo autor (2017) a partir de registro fotográfico em reunião tática do PPE.

Os casos que servem de referência foram escritos a partir da análise realizada pelo GGPOG que acompanha a regional, sendo coincidentes com a realidade vivenciada por alguns diretores de escola. Então existe o confronto com situações reais, experimentadas por

outros diretores, sendo estabelecida como tarefa apresentar soluções para os problemas identificados. Após algum tempo, os envolvidos apresentam as respostas que se configuram como ações simples de serem realizadas e que demandam poucos recursos, mas esforço por parte da equipe que atua na escola. Ao final, um diretor de escola que vivenciou semelhante situação no passado e superou os problemas é convidado para apresentar a sua experiência para os demais. Na oportunidade em que houve a observação do pesquisador, em uma reunião tática ocorrida na GRE Metro Norte, a escola convidada havia sido classificada como prioritária no passado e destacada como uma das que mais evoluíra no ano anterior.

A partir disso, são propostas alternativas para solucionar os problemas e são elaborados planos de ação para o detalhamento das atividades que precisam ser realizadas para que se consiga alcançar o resultado esperado. Ao longo do ano são realizadas quatro reuniões táticas bimestrais nas quais o intuito é debater o andamento das ações propostas e os resultados intermediários obtidos com relação aos indicadores de processo pactuados. Nestes encontros são apresentados encaminhamentos de ações corretivas estabelecidas para a resolução de eventuais entraves que tenham surgido durante a execução das atividades, visando ao destravamento do processo.

O último tipo de reunião é denominado operacional. As reuniões operacionais ocorrem no nível das escolas que tiveram redução no IDEPE do período imediatamente anterior, que passam a ser denominadas como escolas prioritárias operacionais. As reuniões neste nível são conduzidas pelo gestor local e por sua equipe, com o apoio de GGPOGs e podem envolver toda a comunidade acadêmica, como professores, representantes estudantis, pais e responsáveis e até membros da sociedade civil para debater os resultados da escola e de seus estudantes.

Nas reuniões operacionais são discutidas as ações específicas realizadas na escola, visando à melhoria nos indicadores de processo, bem como são estabelecidos prazos e responsabilidades para a concretização das atividades. A gerente Geni diz que nestas oportunidades: “identifica diversos problemas e chega a algumas soluções, tentando dizer pra escolas que não é simplesmente apresentar e medir resultados. O mais importante é o que você vai fazer depois, é o que você vai elaborar com sua equipe”.

A maior parte dos praticantes da estratégia entrevistados destacou o monitoramento dos resultados como instrumento de integração entre os diversos tipos de reunião. O monitoramento é realizado a partir da análise dos indicadores de processo e de resultados. O debate é desenvolvido para validar as ações em andamento ou propor ações corretivas em

relação ao propósito estabelecido. Uma ilustração sobre a importância da análise dos indicadores é fornecida por Nelci:

Depois fazemos a leitura dos resultados da escola, analisando todos os indicadores e chamando a atenção do gerente para o fato de que a escola tem [por exemplo] muitos alunos abaixo da média em Português e Matemática, porque a escola não cumpriu com a porcentagem de alunos que levou a avaliação interna, porque os alunos não terminaram o conteúdo por causa da falta de professores, porque os alunos perderam tanto. [...] Então cada indicador é questionado.

Este debate proporciona oportunidades para corrigir o curso ao longo do ano, de modo a que haja tempo de possibilitar a recuperação de eventuais desvios vivenciados no percurso e se alcance ao final do período o resultado desejado. O gestor no PPE “vê esse resultado, mas não se parece com um número, mas como um meio para refletir sobre a prática, para que as ações possam ser replanejadas e uma melhor intervenção feita”, afirma a gerente regional Nelci.

Ao longo da presente seção foi possível identificar as condições contextuais presentes na atuação dos praticantes da estratégia na gestão do PPE. Percebeu-se também que o monitoramento de resultados proporciona a integração entre dos diferentes tipos de reunião. Observou-se ainda que os encontros contribuem para a reflexão dos atores sobre os propósitos e sobre os resultados intermediários e finalísticos alcançados em cada esfera decisória. Na próxima seção serão apresentados os principais eventos de aprendizagem vivenciados pelos gestores desde a implantação do PPE.

4.2 Quais foram os principais eventos de aprendizagem