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4.3 Quais resultados de aprendizagem foram significados por praticantes da estratégia

4.3.5 Realizando o Alinhamento de Propósitos

O debate sobre a importância dos propósitos para a aprendizagem transcende a questão do estabelecimento de metas. A aprendizagem dos praticantes da estratégia é observada também quando os propósitos organizacionais são desmembrados e alcançam patamares mais próximos às atividades desenvolvidas por estes. Neste sentido, cabe a consideração sobre o alinhamento de propósitos como resultado de aprendizagem.

O alinhamento de propósitos representa o entendimento comum dos praticantes da estratégia acerca dos fins estabelecidos pela organização. Nesta perspectiva, sua construção é coletiva e direciona a reflexão dos praticantes da estratégia e as ações a serem realizadas por eles no âmbito organizacional. O alinhamento sinaliza que os propósitos adotados pelos gestores se tornam comuns àqueles adotados pelos seus pares. Cabe destacar que ao assumir a existência de um alinhamento de propósitos em uma coletividade não há exclusão dos propósitos individualmente perseguidos pelos atores, mas a coexistência de ambos.

A realização do alinhamento de propósitos no PPE é decorrente de um processo que se inicia com a contratualização no serviço público, caracterizado pela assinatura de um termo de pactuação entre o secretário de Educação, os gerentes regionais e diretores de escolas. As reuniões de pactuação se configuram como oportunidades para que sejam apresentadas as metas a serem perseguidas pelos gestores, bem como a tipificação de escolas como prioritárias. O depoimento de Edu clarifica a importância desse alinhamento para as pretensões de realizações no longo prazo:

A gente já trabalha isso [alinhamento de propósitos] com eles [praticantes da estratégia], de que não é apenas a meta, que ela está inserida dentro de um resultado

maior. [...] A gente começou a mostrar que isto [propósito] não está descontextualizado na melhoria do geral de outros indicadores e do objetivo do que o Estado quer daqui a 30 anos.

O processo de alinhamento de propósitos tem sido incorporado pelos praticantes da estratégia no PPE ao longo do tempo, funcionando como um resultado de aprendizagem, a partir do entendimento de suas contribuições para o alcance de uma visão de futuro. Para a gerente regional Vera, “quando a gente foi se familiarizando e entendendo o processo foi clareando e dando certa visão de futuro, de que aquilo vem com um propósito”.

Além da pactuação, o alinhamento é decorrente de seus desdobramentos, realizados através das reuniões de monitoramento do CGPPE. Nestas reuniões há participação de GGPOGs, que contribuem para a construção de planos de ação visando ao alcance dos resultados propostos. O senso de propósito supera a perspectiva da GpR à medida que busca extrapolar o patamar de comparação com outras referências, como a comparação de escolas públicas em relação as escolas privadas, por exemplo. Alcançar o alinhamento dos propósitos tem se configurado como desafio para a SEE, conforme explicitado por Edu:

Do mesmo jeito que a gente foi descendo [desdobrando] para chegar até o estudante, até o professor, até o estudante, até a família, eles [praticantes da estratégia] precisam perceber a importância do indicador, do acompanhamento desses indicadores, da gestão por resultados, dos propósitos. Eu acho que nessa coisa dos propósitos e das grandes estratégias a gente também está avançando.

Alguns informantes relataram a importância que existe em ter os propósitos alinhados para que haja sentido nas análises realizadas sobre indicadores. Para que o gestor possa estar realmente inserido neste processo é preciso que ele compreenda o sentido daquilo que está realizando. Um excerto extraído da fala da secretária executiva Vânia ressalta este posicionamento, conforme se observa abaixo:

Na hora que você insere o gestor [praticante da estratégia] no processo, você está formando ele. Ele está fazendo parte dessa discussão: ‘qual é a visão?’; ‘qual é a missão que a gente tem?’; como é que a gente vai atingir esses objetivos?’; ‘que caminhos a gente quer trilhar?’. Eu acho isso fundamental para poder estar inserido no processo. Aí ele [praticante da estratégia] vai saber porque está tendo aqueles indicadores. Ele vai passar a entender as ferramentas que estão sendo trazidas.

É possível perceber que o processo de alinhamento de propósitos se configura como resultado de aprendizagem para os praticantes da estratégia no PPE. É nítida sua relação com o processo de estabelecimento de metas, mas observa-se que a conotação adotada neste caso se refere ao entendimento comum sobre os propósitos apresentados e a internalização destes

pelos gestores. Neste sentido, pode conduzi-los inclusive a se questionarem acerca do sentido daquilo que realizam. A secretária executiva Vânia reforça este posicionamento, ao apresentar uma série de questionamentos que os gestores se fazem quando estão querendo compreender o que foi estabelecido: “[Os gestores se questionam:] ‘Por que esses indicadores estão sendo trazidos para cá?’; ‘por que é importante?’; ‘por que eu estou fazendo isso?’; ‘será que isso vai me ajudar?”. Tais questionamentos demonstram o curso de um processo de reflexão, tendo em vista que mudanças promovidas mediante o alinhamento de propósitos podem alterar seu cotidiano laboral.

Encerrada a exposição sobre os principais resultados de aprendizagem de praticantes da estratégia na gestão do PPE, percebeu-se a necessidade de integrar as categorias construídas. Para uma melhor compreensão da integração entre as categorias, foi elaborado o capítulo seguinte, que versa sobre a discussão dos resultados, confrontando-os com o arcabouço teórico existente. Com isso, tornou-se possível a identificação de como a realização desta pesquisa contribuiu para reforçar, ampliar ou divergir do conhecimento científico disponível.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O intuito de se elaborar um capítulo especificamente voltado para a discussão dos resultados reside no esforço de conectá-los ao cabedal de conhecimentos exposto na revisão da literatura, que proporciona sustentação para a realização da obra. Pretende-se ainda demonstrar as contribuições originadas a partir da interpretação acerca dos resultados empíricos relacionados à aprendizagem dos praticantes da estratégia na gestão do PPE. Estas contribuições são evidenciadas em função da constatação de que os aspectos capturados mediante relatos dos participantes, informações extraídas de documentos acessados e observações realizadas mediante a participação do pesquisador, serviram para reforçar, ampliar ou divergir estudos científicos anteriormente realizados.

A perspectiva adotada para a realização desta discussão está embasada no pragmatismo, especialmente em função da complexidade envolvida no entendimento do fenômeno estudado. Farjoun, Ansell e Boin (2015, p. 1787) concebem o pragmatismo como “uma filosofia de resolução de problemas que se baseia em um modelo rico e comportamentalmente plausível da natureza humana, que observa a realidade em termos de processos e relações e destaca a interação entre significado e ação”. Outras características marcantes do pragmatismo são resgatadas na obra de Elkjaer e Simpson (2011), que destacam como foco de desenvolvimento teórico da lente pragmática a dimensão temporal, as transações e a reflexão. Ressaltam ainda a natureza recursiva das relações e a visão antidualista como características que lhe são inerentes. Estes aspectos foram considerados no processo de interpretação das realidades observadas e direcionaram o olhar do pesquisador sobre a aprendizagem de praticantes da estratégia no PPE.

As perguntas de pesquisa formuladas no capítulo de procedimentos metodológicos serviram como eixo sobre os quais circundam as categorias elaboradas na construção do capítulo de resultados. Com base nos dados que foram coletados ao longo da pesquisa, tornou-se possível identificar o caráter multidimensional da aprendizagem de praticantes da estratégia na gestão do PPE.

Deste modo, o capítulo de discussão de resultados foi subdividido em quatro seções, que expõem como as respostas construídas para cada pergunta de pesquisa contribuíram para que os objetivos específicos fossem alcançados e quais categorias estão associadas a cada um deles. Para que fosse possível visualizar a perspectiva de interpretação do pesquisador sobre o fenômeno foi elaborado um framework que é apresentado na primeira seção deste capítulo,

em que cada uma das dimensões identificadas é esmiuçada. A segunda seção aborda a dimensão condicional, que se refere às condições contextuais vivenciadas pelos atores no PPE. A terceira seção envolve a discussão sobre os eventos de aprendizagem e as dimensões teleológica, reflexiva e temporal que lhes são inerentes. A explicitação dos resultados de aprendizagem compõe a quarta e derradeira seção.

5.1 Aprendizagem de Praticantes da Estratégia na gestão do Pacto