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3 DIREITO À MORADIA COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA

3.3 Direitos Sociais

Os direitos sociais estão previstos no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 (capítulo II do título II), como direitos fundamentais para o homem e se caracterizam como liberdades positivas, os quais devem, obrigatoriamente, ser observados em um Estado Democrático de Direito, com a finalidade de realizar a igualdade social, promovendo melhores condições ao povo. É essa a observação feita por Carvalho (2004) “os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva.” (CARVALHO, 2004, p. 10).

A idéia central desses direitos é a justiça social. Observa Carvalho (2004) que “os direitos sociais permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar para todos.”

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(CARVALHO, 2004, p. 10). A norma está posta. O grande problema é dar-lhe efetividade. Essa tarefa tem como participante direto o Poder público, que deverá compartilhá-la com uma sociedade organizada de forma autônoma, sem quaisquer vínculos com entidades, que queiram fazer prevalecer seus interesses corporativos.

A CF/1988 traz, além do capítulo dos direitos sociais, os artigos 193 a 232, encimados pelo título VIII – Da ordem social. Os direitos sociais estão inseridos na ordem social e o conteúdo do artigo 6º - direitos à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados – são assegurados na forma dos artigos 193 a 232. A cisão dos títulos não apresenta o melhor da técnica legislativa, mas também não impede que se reconheçam o conteúdo de cada um dos direitos sociais e a sua forma organizacional, que os assegura na ordem social prevista constitucionalmente.

A importância dos direitos sociais está delineada já no preâmbulo da CF/1988, que institui um Estado democrático “destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais [...]” (Preâmbulo da CF/1988). A demonstração de que o Estado social integra o modelo constitucional brasileiro – para não afirmar ser a sua gênese – é muito clara.

No preâmbulo da CF/1988 está o fundamento, nos artigos 6º a 11, Dos direitos sociais, que, como se observa, textualmente antecedem os direitos individuais, o que não significa, porém, ascendência sobre estes. Com singular precisão, Borges (2003) anota que “o razoável é supor que a preocupação do Constituinte com o Estado Social visa justamente ao estabelecimento de uma sociedade com melhores condições de desenvolvimento humano (compatível com a riqueza nacional).” (BORGES, 2003, p. 241)

Sem a efetivação dos direitos sociais, é impossível a garantia de uma existência digna. Os direitos sociais são direitos humanos e, por significarem um conjunto mínimo de direitos que asseguram ao ser humano uma vida digna, uma pilastra do Estado Democrático de Direito.

3.3.1 Ordem social e direitos sociais

A ordem social passou a ter importância jurídica depois que foi disciplinada sistematicamente, o que se deu, primeiramente, com a Constituição mexicana de 1917, que traçou as linhas mestras do Estado da democracia social. No Brasil, sob a influência da Constituição alemã de Weimar, que deu uma estrutura mais elaborada ao Estado social, já

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delineado pela Constituição mexicana de 1917, a Constituição de 1934 inscreveu um título sobre a ordem econômica e social.

As constituições brasileiras posteriores continuaram a enfatizar e defender o Estado social. A Constituição brasileira de 1988, que ampliou, “mais do que qualquer de suas antecedentes, os direitos sociais” (CARVALHO, 2004, p. 206), tem capítulo próprio da ordem social (Título VIII) e a previsão dos direitos sociais, no artigo 6º, inclusive o direito à moradia que lhe foi acrescido pela Emenda Constitucional n° 26, de 14 de fevereiro de 2000.

O artigo 6º da CF/1988 informa que são direitos sociais, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. A forma de realizar esses direitos está delineada no título dos

direitos sociais (artigos 193 a 232 da CF/1988).

Os direitos sociais são fundamentais para o homem e são de observância obrigatória em um Estado de Direito que prime por melhorar as condições de vida dos seus cidadãos, em especial dos hipossuficientes, a fim de os igualizar socialmente. A igualdade, segundo Canotilho (2000), “conexiona-se, por um lado, com uma política de ‘justiça social’ e com a concretização das imposições constitucionais tendentes à efectivação dos direitos econômicos, sociais e culturais. Por outro, ela é inerente à própria idéia de igual dignidade social” (CANOTILHO, 2000, p. 430) e de igual dignidade humana, não se admitindo discriminações de qualquer natureza.

Os direitos sociais são pressupostos para se alcançar a dignidade humana. Igual dignidade social leva à igualdade formal e material, porque a tarefa do direito social é assegurar o atendimento às necessidades básicas de vida do homem. Para uma imensa parcela da população, não há relevância em conhecer o regime político brasileiro, se houve, ou há, contratações inúteis de valores abusivos e fraudados, pois o importante é a realidade diária de suas vidas: um teto para morar, escola, alimentação, emprego, remédios, etc.

O alheamento dessa parcela da população não justifica desprezar os princípios da liberdade e igualdade e a tutela dos direitos fundamentais. Não há, diz Slaibi Filho (2006), “democracia sem maior igualdade política, econômica, social e cultural.” (SLAIBI FILHO, 2006, p. 316). O cerne do princípio da igualdade está no pleno atendimento aos direitos sociais.

Para atendimento aos direitos sociais no Brasil, são imprescindíveis mudanças, pois o país apresenta elevados índices de miséria e pobreza e tem uma das mais altas taxas de concentração de renda do mundo. A atuação do Estado é necessária, preferencialmente,

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ofertando, para todos, oportunidades de emprego e acesso aos bens sociais, sem, entretanto, avocar para o Poder público a realização de todos os direitos, haja vista que, nem todos os direitos sociais são justiciáveis, embora se tenha o direito de exigir que o Estado proporcione as condições necessárias para alcançá-los.

3.3.2 Classificação dos direitos sociais

A Constituição em vigor procurou tratar do direito ideal sintetizando todos os valores fundamentais. O teor constitucional dos artigos buscou plasmar-se em um ordenamento jurídico real ou que se o possa validar na sociedade. Nesse propósito, pois “um ordenamento não nasce num deserto” (BOBBIO 1997, p. 41), a Constituição zelou pela sistematização de normas de alcance a toda a sociedade.

A Constituição, como lei fundamental de um país, traz seus elementos essenciais e, além disso, a par das diversas correntes doutrinárias, deve ser compreendida em um sentido que demonstre conexão de suas normas com a vida coletiva. A concepção estrutural de constituição, como “norma em sua conexão com a realidade social” (SILVA, 2001, p. 39), justifica a existência dos direitos e garantias fundamentais.

Os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição Federal vigente são prestações positivas proporcionadas, direta ou indiretamente pelo Estado, para dar melhores condições de vida aos necessitados com o propósito de promover a igualdade em situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao princípio da igualdade, buscando, por meio deles, alcançar a igualdade real. O artigo 6º diz que: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados [...]”

O direito à moradia, cuja discussão será aprofundada, foi incluído, com especificidade, no artigo 6º, pela Emenda Constitucional nº 26 de 14 de fevereiro de 2000. Até então, o direito à moradia era entendido como implícito no artigo 6º, que cuida dos direitos sociais.

A EC 26/2000 elevou a moradia ao status de direito constitucional, mas, pelo princípio de lei maior, não efetivou esse direito a todos. Os direitos sociais não são de realização imediata, embora sejam prestações positivas, que estão dentro dos deveres do Estado.

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3.4 Direito à moradia como fundamento da Constituição brasileira