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5 – O Espaço Público 5.1 Dimensão morfológica

5.7. Espaços lineares e não lineares

Neste âmbito, trabalham-se sobretudo espaços, que designamos de lineares e não lineares, conforme a sua apetência seja mais para a circulação ou para a estada (AAVV, Ternos Passeios, 1997:55). Os primeiros compreendem ruas, travessas, alamedas e avenidas, mas também outros espaços, pequenos ou grandes que, não obstante a escala, apresentam uma configuração alongada, com o comprimento geralmente superior ao dobro da largura, enquanto os segundos, de permanência, terão dimensões mais aproximadas. Podemos ainda associar aos espaços lineares os de passagem e até de permanência, como becos e pátios, desde que, em planta e na realidade, cumpram aquela “regra”. Como espaços não lineares, temos os largos e as praças. Outros há, geralmente sem denominação expressa no local e que, à semelhança daqueles, apresentam como função privilegiada a permanência e contêm, por isso e com maior incidência, diverso mobiliário urbano. Ressalvadas as proporções,

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há um certo paralelismo entre estes espaços de estar públicos e os compartimentos nos fogos, onde, “quando a respectiva área for maior ou igual a 15m2, o comprimento não poderá exceder o dobro da largura, ressalvando-se as situações em que nas duas paredes opostas mais afastadas se pratiquem vãos, sem prejuízo de que possa inscrever-se nessa área um círculo de diâmetro não inferior a 2,70m” (RGEU, art. 69 d). Especificando, uma rua é um espaço alongado de passagem, geralmente com edifícios de ambos os lados. Os seus comprimentos e larguras podem variar, bem como os seus limites laterais, em princípio as fachadas dos prédios. Existem, entre as ruas, hierarquias e diferenciações: ruas direitas – que vêm do passado e que continuam lá, muitas vezes mantendo essa designação –, ruas de frente e as de traseiras. Podemos depois perceber vocações e usos: umas são principais, quase sempre associadas a comércio, e outras são secundárias, com menos pessoas a andar nelas e, daí, serem por vezes evitadas. Uma diferenciação importante é ainda entre as que mantêm trânsito automóvel e as pedonais.

Na prática, ruas, passagens, entradas de edifícios e até cafés, recintos desportivos e outros, de livre acesso para todos, são ou acabam por comportar-se como espaço público. Em contrapartida, há muitos espaços do domínio público não acessíveis a todos, ou que estão apropriados de forma privada, como é o caso de passeios ocupados pelas esplanadas dos restaurantes ou por expositores vários, e os recintos concessionados para desfiles, feiras, festivais e espectáculos com entrada paga. Por altura de cimeiras, visitas oficiais, filmagens ou por outras razões de segurança, a circulação pode ser vedada à generalidade da população, sem que, por isso e durante essa limitação, o espaço deixe de ser público.

As ruas, na sua generalidade, são acessíveis a todos e permanecem abertas. Não obstante, podem conter espaços – quase sempre sem barreiras e por vezes apenas com indicação de “privado” – que, pela sua função e natureza, podem deixar a dúvida se são públicos ou privados. Servem quase exclusivamente de acesso a edifícios e a outros espaços particulares, não são de passagem para nenhum outro lugar e muito menos de permanência de quem ali não resida. Situação quase idêntica se passa com os becos, que são espaços urbanos também de acesso a edifícios e sem outra saída.

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Podem terminar num plano de frente, a fachada de edifício ou em campo aberto. Ou seja, o espaço pavimentado pode findar num terreno rústico ou num acesso interior dessa propriedade. Se esse campo aberto se destinar, a curto ou médio prazo, a receber novas construções e perspectivar uma nova via, é designado por impasse.

Por permanecerem fora da rota de outras pessoas, os becos são utilizados, por seus moradores ou vizinhos, um pouco também como extensão de suas casas. Por essa razão, porque só dão passagem para as casas do próprio beco, não interferem com mais nada e não se mostram tão públicos como os restantes espaços, podem ser discretamente apropriados por particulares. Casos há em que acabam mesmo por ser encerrados. Nos aglomerados estudados, há pelo menos duas destas situações – em Barão de S. Miguel e no Sargaçal – hoje com portão a separá-los da rua e placa toponímica mantida no seu interior. Pode, no entanto, o espaço sempre ter sido privado e só a placa estar a mais. Ou poderá ter sido desafectado do domínio público, após autorização da respectiva assembleia municipal (Lei 75/2013: 25º.1 q). Mais resguardada ainda é a situação do pátio, pouco frequente no Barlavento algarvio: 48 no total das aldeias e 21 nos centros históricos (QUADROS 046 e 047), mas apenas um com denominação toponímica: Pátio de Sant’Ana, em Albufeira.

Entre ruas e a ligá-las, existem travessas. Algumas, principalmente em aldeias, são estreitas, de pequena extensão e apenas com alçados laterais e quintais. Os arruamentos mais largos e geralmente extensos, com faixas de rodagem, passeios, placas ajardinadas, árvores e equipamento diverso são designados por avenidas e por alamedas. Quando a localidade cresce ao longo de uma estrada, ou é atravessada por ela – e muitas vezes a tem por sua artéria principal –, nesse troço quase sempre toma a designação de Rua e até mesmo de Avenida e recebe topónimo próprio. Estão neste caso a Rua Coronel Águas, em Albufeira; as Ruas 25 de Abril, em Aljezur e em Barão de São João; as Ruas General Humberto Delgado e Joaquim Martins Rodrigues, na Guia; e as Ruas 5 de Outubro e da Bela Vista, em Paderne.

O largo é um espaço relativamente amplo, numa ou mais ruas. Pode ter nome e placa toponímica ou simplesmente aspecto e finalidade diferentes da artéria que o ladeia ou das que para ele convergem. Aparece mais vezes em núcleos de menor

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dimensão e de natureza mais irregular ou sem planeamento. Os largos tendem, por isso, a desaparecer como tal e a darem lugar a praças ou a outros espaços devidamente planeados.

Por fim e geralmente numa cidade, a praça é um espaço destacado, donde saem outras artérias. Enquanto vazio, envolvido por edifícios públicos principais ou de comércio e serviços, por habitações de maior porte, podem existir várias no mesmo aglomerado. Muitas são pólos de referência da zona em que se inserem. As praças podem ter funções e vocações distintas e apresentam mobiliário urbano, para permitir uma permanência, curta ou mais demorada, dos passantes e da vizinhança.

Com excepção de Albufeira, todos os outros sete municípios classificam, nos seus regulamentos de toponímia, as vias e demais lugares públicos, mas nem sempre definem cada conceito. Ao todo, indicam: alameda, avenida, azinhaga, bairro, beco, calçada, caminho, cantinho, carreira ou carreirinha, casal, cerro, escadas, escadarias, escadinhas, estrada, impasse, jardim, ladeira, largo, lugar, miradouro ou mirante, parque, praça, praceta, rampa, rotunda, rua, terreiro, travessa e viela. Fora destas designações, estão devidamente assinalados, com placa toponímica: Adro da Igreja, em Alferce; Esplanada Dr Frutuoso da Silva e Pátio de Sant’Ana, em Albufeira; O Altinho, Recanto do Pescador e Sítio do Pombal, na Carrapateira.