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5 – O Espaço Público 5.1 Dimensão morfológica

5.22. Legislação e regulamentação

O espaço público, como matéria de estudo e como objecto de regras sobre a sua concepção, utilização e apropriação, é visto sob perspectivas diversas; por outro lado, os elementos que o constituem surgem classificados e agrupados diferentemente, quer pelos vários autores, quer na regulamentação. Na medida em que pode ser palco de quase tudo, é extensa a lista de normas que incidem sobre o espaço público, seus elementos, objectos nele instalados ou em circulação, comportamentos, direitos e deveres de quem o usa. Conforme o interesse que o próprio espaço suscita ou o que ele permite, assim o observam as entidades competentes. À partida, o “ordenamento do território e o urbanismo”, bem como o “equipamento rural e urbano”, são atribuições do município (RJALEIAA,23.2.a,n) em toda a sua área geográfica.

Nesta matéria, compete à assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal: aprovar as “normas, delimitações, medidas e outros atos previstos nos regimes do ordenamento do território e do urbanismo”; e deliberar sobre a “afetação ou desafetação de bens do domínio público municipal” (25.1.q,r). À câmara municipal compete ainda: “administrar o domínio público municipal”; estabelecer “a denominação das ruas e praças das localidades e das povoações, após parecer da correspondente junta de freguesia” e “as regras de numeração dos edifícios” (33.1.ss,tt). Por sua vez, as freguesias dispõem de atribuições no domínio do ordenamento e do equipamento rural e urbano (7.2.a,j). Compete à junta de freguesia: pronunciar-se sobre “projetos de construção e de ocupação da via pública, sempre que tal lhe for requerido pela câmara municipal”; “proceder à manutenção e conservação de caminhos, arruamentos e pavimentos pedonais” e o licenciamento de “atividades ruidosas de caráter temporário que respeitem a festas populares, romarias, feiras, arraiais e bailes “ (16.1.p,ff, 3.c).

O ordenamento jurídico dedica natural atenção ao espaço público e ao que nele ocorre. As autarquias locais – pessoas colectivas territoriais, “que visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas” (CRP.235,2) – e particularmente os municípios, aprovam e mantêm em vigor diversos instrumentos destinados a

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complementar, para o seu território, regras essenciais ao equilíbrio ambiental e à harmonização da vida comunitária. Estão neste caso, os regulamentos municipais sobre: ocupação do espaço público; urbanização e edificação; intervenção na via pública; propaganda e publicidade; venda ambulante; actividade nos mercados e feiras; trânsito; actividade táxi; utilização e funcionamento dos parques de estacionamento; toponímia e numeração de polícia; gestão de resíduos urbanos; além de outros assuntos, e de grande parte das rubricas no que respeita a taxas e licenças.

As leis e os regulamentos, de acordo com a matéria que estejam a tratar, encarregam-se de organizar o espaço público e os seus elementos segundo tipos diferentes, tal como geralmente acontece nos estudos destinados à sua melhor compreensão. Uma rua é vista como exemplo de um espaço linear e de circulação, porventura o mais paradigmático: “entendemos a rua como um elemento morfológico linear e contínuo do espaço público da cidade, ao mesmo tempo percurso e morada, itinerário e lugar” (PROENÇA, 2013:101). Uma praça é indicada como espaço destacado e de permanência, “o mais importante elemento morfológico do espaço público” (SILVA, José,2013:94). No traçado urbano – como num jogo de tabuleiro – as ruas são apresentadas como linhas e representam as casas em que avançamos; as praças são indicadas como polígonos e correspondem às casas em que é obrigatória uma paragem. À medida que a malha se entrelaça – e no jogo sobe o nível de dificuldade – passa a haver linhas mais largas, onde o avanço pode ser mais rápido e outras mais estreitas, em que o jogador tem de dar prioridade ao adversário; e polígonos de vários tamanhos e significados, que convidam à paragem de uma ou mais jogadas.

Os espaços mais frequentes, segundo a toponímia (QUADROS 048 e 049), são as ruas (61,00%), as travessas (16,55%), os largos (9,04%), os becos (4,86%), as estradas (2,90%) e as praças (1,88%). Os de circulação são em maior número e assim se compreende, porque são necessários para ligar as casas entre si e a outros lugares, enquanto as praças e largos se destinam mais a ampliar o convívio que já é possível em nossas próprias casas. Casais não tem qualquer espaço com topónimo de praça ou de largo e Portelas, Sargaçal, Alferce e Barão de São Miguel têm um só largo na sua

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toponímia, em contraste com um total de 33 ruas e 16 travessas. No presente estudo, em que houve a opção de tipificar também os espaços que, embora sem indicação toponímica, são susceptíveis de utilização própria, quase sempre diversa do espaço ou espaços contíguos, foram encontrados 1170 com topónimo e 979 sem qualquer identificação. Os espaços com topónimo são um pouco menos nas aldeias (575-606) e muitos mais nos centros históricos (595-373); aqui, a diferença não é maior por, neste trabalho, terem sido individualizados túneis (8), adros (15), escadinhas (15), pátios (21), recantos (39), pequenas travessas (81), outros becos (98) e mais alguns espaços a que localmente é dado menor significado (QUADRO 051).

A rua mais extensa é a Infante D. Henrique, em Portimão, com 735m de comprimento e 11m de largura (QUADRO 077). A menor é a Arrochela, em Silves, com 11m de comprimento e 3 de largura (QUADRO 078). A rua mais larga é a Capitão Carvalho Araújo, também em Portimão, com 19m. As ruas mais estreitas são a João Delgado, em Albufeira, por sinal um beco (1,89m), a das Flores, em Aljezur (2,15m), a Estreitinha em Vale de Boi (2,45m) e a do Correio Velho, em Albufeira (2,46m). Entre os espaços de ligação, a travessa com maior comprimento é a de São Sebastião, em Monchique, com 179m e 5m de largura (QUADRO 082); a menos extensa é a de Trás (Sul), em Alferce, com 5 metros de comprimento e 2,4m de largura (QUADRO 083). As travessas mais estreitas são a de Santo António (Sul), em Aljezur (1,79m), a do Revez Quente, em Monchique (1,9m) e a Estreita, em Barão de S. Miguel (2,08m).

O espaço de permanência com maiores dimensões é o Largo Gil Eanes, em Portimão, com 236m de comprimento e 81m de largura (QUADRO 101). Os dois seguintes, em largura, são Largo do Dique (66m) e a Praça 1º de Maio (62m). Em comprimento, seguem-se o Largo da Lota (210m), em Portimão, o Largo da República, em Silves (207m) e a Praça Al Muthamid, em Silves (194m) (QUADRO 100). Os menores largos são o do Poço, em Vale de Boi (10mx9m); D. Maria Guilhermina, em Marmelete (16mx7m); do Poço, em Burgau (14mx8m); da Bica, na Figueira (do Cabo: 21mx6m), da Adega, em Espiche (17mx9m); e do Pelourinho, em Aljezur (25mx6m) (QUADRO 102).

São 14 os largos e praças com menos de 10 metros de largura e 15 com menos de 20 metros de comprimento. Com menor comprimento do que os 20m por que

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rondam estes seis largos, são 3 ruas e 25 travessas. Com largura superior, entre 6 e 8 metros, são 277 ruas e 27 travessas e, com 9 ou mais metros, são 128 ruas e 8 travessas. Quanto a extensão, comparadas com os comprimentos do primeiro e do terceiro maiores largos, com 236m ou mais, são 81 as ruas; com menos de 207m, são 596. Desta feita, há muitas ruas e até travessas com mais largura que alguns largos e praças; destes, alguns têm mais comprimento do que a maioria das ruas. As maiores áreas de espaço público correspondem a largos – o Gil Eanes, em Portimão, tem 19139m2 –, mas os troços considerados da Avenida dos Descobrimentos, em Lagos (13952m2) e da EN267, em Marmelete (11803m2) e a Rua Cândido dos Reis, com os seus 730m, em Silves (10965m2) têm mais área que o Largo da República, em Silves (10238m2) e o do Dique, em Portimão (8777m2). As praças têm menor dimensão: a mais ampla é a de Al Muthamid, em Silves (8642m2) e as mais pequenas são a Marquês de Pombal, em Lagos (214m2) e a Alexandre Herculano, em Monchique (233m2) (QUADROS 100 e 103).

Feita a proporção entre a área de todo o espaço público de cada núcleo estudado e a soma dos comprimentos de todos os espaços que o constituem, temos uma largura média de 6,95m, pouco menos nas aldeias (6,65m) e pouco mais nos centros históricos (7,31m) (QUADRO 120). Devido aos muitos e grandes largos que possui, Portimão apresenta a largura média mais elevada (11,80m); segue-se a Guia (11,08m), também devido à amplitude dos novos arruamentos, aos largos e parques de estacionamento. A largura média é menor em Aljezur (2,90m), onde a maioria das vias resultou de estreitas veredas torneando o monte. Por idêntica razão mas em encostas menos íngremes, também as Hortas do Tabual (4,83m) e a Bordeira (4,94m) apresentam a largura média do espaço público bastante baixa. É nas travessas (QUADROS 080 e 081), nos becos e nos impasses (QUADROS 110 e 111) que encontramos os espaços com menores dimensões, alguns com características muito próprias, capazes de constituir grande variedade de subtipos. São espaços sem topónimo e, porque não estarão devidamente cadastrados como parte do domínio público municipal, são aos poucos integrados no prédio que habitualmente servem. Ou

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serão já logradouro dessas casas e apenas se mantêm de acesso livre a qualquer vizinho.

Numa visão de conjunto, as ruas com mais de 6m de largura são em maior número (418), somam o maior comprimento (63,424km) e a maior área (54,5713ha) (QUADROS 074-076). Os restantes espaços de circulação – em número de 604, incluindo alamedas, avenidas, azinhagas, caminhos, carreiros, calçadas, elevadores, escadas, escadinhas, estradas, ladeiras, rotundas, travessas, túneis, veredas e viadutos – somam 27,2454ha e 35,694km (QUADROS 088-090). No total, temos 1337 espaços de circulação, com a área de 96,1451ha e 131,705km de comprimento (QUADROS 091- 093). Por seu lado, as praças, pracetas e largos contam-se em 158 que somam 24,2431ha e representam mais 8,525km de percurso (QUADROS 097-099). Somados aos jardins (58) e a outros espaços de permanência (596) – adros, becos, cais, campos de jogos, esplanadas, impasses, lavadouros, miradouros, parques, parques de estacionamento e infantis, pátios, recantos e terreiros –, representam um total de 812, com a área de 40,4185ha e 24,834km de percurso (QUADROS 115-117). Ao todo e de acordo com a tipificação adoptada neste estudo, são 2149 espaços, com a área de 136,5636ha e 156,539km de comprimento (QUADRO 118). No espaço público, os de circulação têm maior peso, em número (62,21%), em área (70,40%) e em extensão (84,14%) (QUADRO 119). No entanto, a área ocupada pelos quarteirões (190,3448ha) é superior, pelo que, no conjunto, o espaço público representa apenas 41,77% da área total dos trinta núcleos: 44,71% nas aldeias e 39,66% nos centros históricos (QUADRO 018).

Se considerarmos o miolo de cada núcleo, isto é, todo o espaço ocupado pelos quarteirões e apenas o espaço público entre eles – a que, neste trabalho, é dado o nome de núcleo interior (240,2822ha) –, então a proporção que a área de quarteirões representa eleva-se para 78% (QUADRO 026). No entanto, nem sempre uma grande área de espaço privado – os quarteirões – representa grande densidade de construção. Vale de Boi, onde a percentagem de espaço ocupado por quarteirões é a maior (96%), o maior quarteirão é quase todo terreno agrícola e os arruamentos são, em grande parte, ladeados por várias parcelas rústicas; e, assim, a aldeia consegue ter um aspecto

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relativamente desafogado. Situação idêntica se passa em Marmelete (87% de área de quarteirões), Hortas de Tabual (86%) e Barão de S. Miguel (85%). Portimão, em que a área de quarteirões representa 59,5% no total do seu centro histórico, quando considerado apenas o seu interior, essa percentagem sobe para 80%. Albufeira tem o centro com os valores mais baixos, em ambas as situações: 55,3% e 70%.