• Nenhum resultado encontrado

2 – O Barlavento Algarvio

3.9. Implantação e povoamento

Das vinte e duas aldeias do Barlavento incluídas neste trabalho, S. Marcos da Serra, a uma cota acima dos cem metros, Alferce, Casais e Marmelete, entre os trezentos e os quatrocentos metros, situam-se em zona de Serra. No Litoral, ficam Burgau, Montes de Alvor e, embora a uma cota superior e mais distante da costa,

60

também Guia (QUADRO 012). Barão de S. Miguel, Barão de S. João e Paderne são aldeias do Barrocal e as restantes ocupam posições intermédias. Bordeira e Carrapateira, principalmente esta, são aldeias de gente do campo e do mar e ocupam uma zona hoje designada por Costa Vicentina que, naquele recanto, se caracteriza por ser um areal que termina no sopé dos montes mais ocidentais da serra do Espinhaço de Cão, aos quais as duas aldeias se encostam, entre cotas de 15m-28m e 26m-57m, respectivamente. Espiche, Almádena, Portelas e Sargaçal, todas do concelho de Lagos, e Figueira, do de Portimão, embora estejam na zona litoral e tenham as cotas mais baixas em terrenos que mantêm as características que lhe são próprias; no lado de cota mais alta já esses campos apresentam sinais idênticos aos da paisagem que circunda Raposeira, Hortas do Tabual e Budens, aldeias de barrocal. Por fim, Figueira (do Cabo) e Vale de Boi, embora com elas alinhadas e a pouca distância, inserem-se em terrenos mais próprios do litoral.

A maioria das aldeias do Barlavento apresenta uma diferença de cotas entre os 20m e os 40m, o que não tem em todas o mesmo significado, pois depende do comprimento e largura do tecido urbano a sensação de planura ou de inclinação do terreno e a facilidade ou dificuldade para quem o percorre. De um modo geral, a sua implantação é em encostas voltadas para Sul – Raposeira, as duas Figueiras, Budens, Almádena, Espiche, Sargaçal, Marmelete e S. Marcos da Serra. Mesmo as que se apresentam mais planas, como Vale de Boi, Casais e Alferce, ainda é para sul que viram a maior parte do casario. São excepções Montes de Alvor, mais voltada para nordeste, Portelas, quase toda a poente da estrada, Guia e Paderne, que cresceram de ambos os lados de estradas, que as atravessam em longitude.

No extremo oeste da EN 125, no troço que une Lagos a Vila do Bispo e lhes passa a sul, são aldeias todas as povoações, que se vão apresentando menos povoadas à medida que caminhamos para poente: Espiche (com 468 edifícios destinados a habitação e 881 habitantes), Almádena (331-573), Budens (378-371) e Raposeira (254- 311) (QUADRO 004). Nas duas primeiras, onde parte da sua população trabalha na cidade, em Lagos, a média de habitantes é mais elevada; nas mais próximas da Vila do Bispo, essa média é mais baixa (QUADRO 005). De qualquer forma, o número de

61

habitantes por edifício não chega a dois e, em Budens, tal como nas vizinhas Figueira, Vale de Boi e Hortas do Tabual, essa média é inferior a um, o mesmo acontecendo nas duas aldeias da Costa Vicentina (QUADRO 006). De acordo com os dados recolhidos nos Censos 2011, estas aldeias dos concelhos de Vila do Bispo e de Aljezur registaram as médias mais baixas de habitantes por moradia. Depois, com valores entre 1,28 e 1,56, temos Barão de S. João, Casais, S. Marcos da Serra, Alferce e Paderne – duas do Barrocal e três serranas. As médias mais altas, entre 1,82 e 2,21, foram obtidas em Montes de Alvor, Espiche, Figueira (de Portimão), Guia, Portelas e Sargaçal, precisamente as aldeias que ficam mais próximas das cidades de Lagos, Portimão e Albufeira.

Na primeira década do século XXI, Guia foi a localidade deste estudo que mais cresceu (edifícios: 298%, residentes: 239%) – logo seguida da cidade sede de concelho, Albufeira (edifícios: 247%, residentes: 236%) – (QUADRO 005) e é também a aldeia com maior número de habitantes (1075 residentes distribuídos por 433 famílias). Todas as outras têm muito menos moradores. Mesmo assim, mais cinco aldeias apresentam mais população do que as duas menores vilas sedes de concelho: Espiche (881 moradores) e Figueira, de Portimão (870) superam Vila do Bispo (797); Montes de Alvor (717), Almádena (573) e S. Marcos da Serra (436) ultrapassam Aljezur (372).

No extremo oposto em número de residentes e apesar de ser sede de freguesia e ter resistido à reorganização administrativa de 2013, Bordeira tem apenas 44 moradores, menos ainda que os 56 registados nos Censos de 2001. Nesta aldeia não residem crianças nem jovens, 19 moradores têm entre 24 e 64 anos e 23 têm mais de 65 anos. Ninguém está empregado no sector primário, apenas 1 no secundário e 6 no terciário. Há 26 reformados e três moradores têm curso superior (QUADRO 008). A maioria dos seus 88 edifícios de habitação destina-se a residência de férias e encontra- se fechada durante quase todo o ano.

Também Carrapateira (com 209 moradores em 2001 e 173 em 2011), Barão de S. Miguel (363-285), Paderne (484-341) e mais doze aldeias do Barlavento registaram decréscimo na população; por outro lado, além da Guia, apenas Sargaçal, Portelas,

62

Espiche, Montes de Alvor e Almádena, tiveram aumento, mas com menor crescimento entre 140% e 107% (QUADROS 004 e 005).

A dimensão das aldeias – a soma da área dos seus quarteirões e do espaço público envolvente e envolvido – está igualmente relacionada com a sua aproximação aos centros urbanos (QUADRO 013). Espiche (107086m2), Guia (101460m2) e Figueira (88658m2), aldeias próximas das cidades de Lagos, Albufeira e Portimão, são as mais extensas. Só contraria esta regra S. Marcos da Serra (84289m2), a mais afastada para o interior mas logo a seguir em dimensão, povoação que, no entanto, beneficia do facto de por ela passar a linha de caminho-de-ferro que desce até Tunes e, concluído nos anos setenta, o actual IC1, a estrada nacional que, desvio da ocidental EN125, passou a unir Grândola ao centro do Algarve. Também Paderne (67656m2) é das maiores aldeias, para o que muito contribuiu todo o equipamento desportivo e escolar de que foi dotada e que a estendeu para poente. Marmelete (63410m2), hoje ligada a um novo bairro de construção tradicional, mais a sul, tem também uma dimensão média no cômputo das aldeias do Barlavento. Já as outras duas localidades serranas do concelho de Monchique – Casais (36509m2) e Alferce (16534m2) – pertencem ao grupo das menores, como acontece também com Bordeira (23781m2), Vale de Boi (7921m2) e Hortas do Tabual (6823m2), dos concelhos de Aljezur e de Vila do Bispo.

Apesar de imaginado como região rica, para o que contribui o frenesim do turismo estival junto às praias, o Algarve e o seu Barlavento é maioritariamente constituído por zonas desfavorecidas, necessitadas por isso de apoio ao desenvolvimento rural, no âmbito do FEADER (Port. 22/2015). São consideradas nessa situação as zonas de montanha e as que, não o sendo, estão no entanto “sujeitas a condicionantes naturais significativas”, prevendo a legislação comunitária a atribuição de apoios aos agricultores que exerçam a sua actividade nessas zonas. Estão englobados na lista anexa ao diploma os terrenos envolventes às seguintes aldeias aí consideradas de montanha: Bordeira, Carrapateira, Barão de S. João, Alferce, Marmelete, Casais, Figueira (de Portimão), S. Marcos da Serra e Barão de S. Miguel. Em zonas, não de montanha, mas sujeitas a condicionantes naturais significativos: Budens, Burgau, Figueira e Vale de Boi, todas do concelho de Vila do Bispo.

63

Outro indicador que poderemos tomar em consideração é o do valor patrimonial tributário dos prédios urbanos para habitação, comércio, indústria, em cuja determinação entra um coeficiente de localização, que “varia entre 0,4 e 3,5, podendo, em situações de habitação dispersa em meio rural, ser reduzido para 0,35” (CIMI art. 38 e 42). Na fixação deste coeficiente, são consideradas as acessibilidades, sua qualidade e variedade, a proximidade de equipamentos sociais, designadamente escolas, serviços públicos e comércio, serviços de transportes públicos de que dispõe e, ainda, o valor de mercado imobiliário dessa zona homogénea do município.

Para as aldeias do Barlavento, foram fixados os seguintes coeficientes: Guia – 1,5; Montes de Alvor – 1,45; Burgau – 1,35; Espiche e Almádena – 1,3; Budens, Barão de S. João, Portelas, Sargaçal e Figueira (Portimão) – 1,2; Paderne – 1,1; Barão de S. Miguel e S. Marcos da Serra – 1; Bordeira, Carrapateira, Alferce e Marmelete – 0,95; Raposeira e Vale de Boi – 0,9; Casais – 0,85 e Hortas do Tabual – 0,7 (SIGIMI). Todos estes valores estão acima do mínimo, mas, mesmo o mais alto, está muito longe do valor máximo. Nas cidades, é Albufeira que tem o coeficiente mais alto (1,9, chegando a 2,92 junto à Marina), mas onde mais se aproxima do topo é no Vale do Lobo e Quinta do Lago (3), zonas de moradias de luxo, sem qualquer comparação com as aldeias do Barlavento algarvio.

65