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5 – O Espaço Público 5.1 Dimensão morfológica

5.20. Malha, quarteirões e espaço público

dos candeeiros assenta no solo (2021) e apenas 479 estão colocados na parede de prédios; nos centros históricos, a preferência vai para a colocação na parede (2295), mais do que no chão (1399) (QUADRO 130). No entanto, em Aljezur (117-104) e Vila do Bispo (105-27) são mais os candeeiros no solo, característica dos meios rurais, onde o transporte de electricidade é feito por via aérea e os próprios postes são aproveitados para colocação dos candeeiros. Além dos que têm candeeiros, há mais 174 postes em centros históricos – a maioria em Monchique, Aljezur e Vila do Bispo (QUADRO 131) – e 708 nas aldeias (QUADRO 131). Contrariamente, há mais caixas técnicas espalhadas pelo espaço público das vilas e cidades (1400) e somente 383 nas aldeias.

5.20. Malha, quarteirões e espaço público

Ao contrário dos centros históricos, onde os terrenos foram há vários séculos urbanizados e passaram a ter uma utilidade e um valor muito diferentes dos iniciais, nas aldeias, a influência da estrutura fundiária permanece muito visível e continua a condicionar a malha urbana. Nos aglomerados rurais, são ainda muitas as casas com amplos logradouros que não estão vedados e que, com os quintais entre as casas vizinhas, tornam frequentes as zonas em que o urbano e o rústico permanecem lado a lado. Nesses quintais, foram construídas instalações de apoio que, por sua vez, deram lugar a novas habitações, muitas delas hoje abandonadas e em ruína. De qualquer forma e em regra, é nítida a separação entre a zona correspondente ao núcleo primitivo e a de expansão, a primeira de malha mais apertada e a segunda ainda de malha bem larga.

Em grande parte das aldeias do Barlavento algarvio, o seu núcleo primitivo, quando visto em planta, ressalta como uma aplicação de desenho minucioso, num tecido de malha relativamente ampla. Assim acontece na Guia, em Paderne, Barão de S. João, Almádena, Espiche, Marmelete, Casais, nas duas Figueiras, S. Marcos da Serra, Budens, Burgau e Vale de Boi. A proporção entre as áreas dos quarteirões das zonas antigas destas aldeias e as do total do aglomerado varia de 7%, em Marmelete, a 20%,

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em Barão de S. João. Nos centros históricos das sedes de concelho, as proporções são idênticas e variam entre 9%, em Portimão, e 20%, em Vila do Bispo (QUADRO 017).

Se considerarmos também a média das áreas dos quarteirões, os das zonas antigas são bem menores, com 420m2 em Marmelete, 463m2 em Burgau, 476m2 em Vale de Boi, 641m2 em Casais e 642m2 em Espiche (QUADRO 023), enquanto, no total dessas aldeias, a média das áreas dos quarteirões é, respectivamente, de 2951m2, 1006m2, 2008m2, 1268m2 e 1331m2 (QUADRO 022). Nestas cinco aldeias, em média, as áreas dos quarteirões, dentro da zona antiga, são significativamente menores do que nos quarteirões fora dela: 12,2 vezes em Marmelete, 2,5 em Burgau, 5,8 em Vale de Boi, 2,5 em Casais, e 2,8 em Espiche. Outras duas aldeias onde a diferença é igualmente grande são a Guia (5,8) e Paderne (2,9). Nos centros históricos, onde todo o território estudado está há muito consolidado, a proporção entre as áreas dos quarteirões é bem menor: os que se situam dentro da zona primitiva são cerca de 1,4 vezes menores do que os restantes quarteirões analisados (QUADRO 023).

Se o número de quarteirões quase não deixa margem para uma segunda leitura, já quanto ao espaço público, na falta de classificação oficial e incontestável, a sua individualização obedeceu a critério pessoal e porventura demasiado exigente, razão pela qual 979 dos espaços estudados – principalmente becos, travessas, recantos, pátios, jardins e até algumas ruas (46%) – não têm denominação toponímica. Para caracterização do tecido urbano, não será tanto a relação entre o número de parcelas e espaços públicos e privados que nos interessa para encontrar a sua densidade, mas sim a proporção entre as áreas de abertos e de fechados. São abertos os espaços integrados no domínio público e livremente acessíveis a qualquer um; designamos por fechados todos aqueles que não podem ser fruídos indiscriminadamente, por estarem ocupados por construções ou se acharem devidamente delimitados, deixando pouca dúvida sobre a sua propriedade privada.

Também aqui, na busca da proporção entre o público e o privado, foi adoptado um critério próprio, primeiro mais alargado, depois mais restrito, susceptível de nos fornecer diferentes valores, conforme a porção de território estudado. À partida, por ser a aldeia um todo ainda em formação e o centro histórico uma zona já consolidada

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da localidade, não surpreende que as respectivas bordaduras sejam necessariamente diferentes. Nas aldeias, os quarteirões mais periféricos são, muitos deles, maiores e ainda expectantes, mantêm por vezes várias parcelas agrícolas e, junto ao perímetro urbano, são frequentes os terreiros e outros espaços livres. Nos centros históricos, os quarteirões estão totalmente construídos e só as vias que os delimitam foram incluídas no seu espaço público exterior.

Em ambos os casos – nas aldeias e nos centros históricos – foi considerada uma primeira e maior área, que abrange quarteirões e espaço público, com acessos até onde as construções mantêm unidade. Nas aldeias, na sua actual dimensão, as maiores são Espiche (12,0113ha), Guia (11,0452ha) e Figueira, de Portimão (10,5803ha); as menores são Hortas do Tabual (0,9114ha) e Vale de Boi (1,3111ha) (QUADRO 013). Nas sedes de concelho, fomos apenas até onde, na primeira metade do século passado, esse casario chegava. As três cidades de então tinham as maiores áreas: Portimão (47,0005ha), Silves (35,4911ha) e Lagos (35,3328ha). Das vilas, Lagoa era a maior (19,4594ha) e, na altura, Albufeira (17,8533ha) e Monchique (17,6000ha) ocupavam áreas idênticas.

A área construída e a que é ocupada por quarteirões poderão ser muito diversas. Como qualidade de habitação, o tamanho da parcela conta muito, pois quintais, jardins e outras áreas descobertas garantem desafogo aos moradores. Sejam exteriores ou interiores aos prédios, todos os espaços verdes ajudam a manter uma atmosfera mais pura e, com isso, ganha toda a povoação. Mas, para quem percorre o espaço público, todo o quarteirão não lhe está acessível e pode representar um obstáculo, ao ter de ser contornado, sem permitir que se caminhe sempre a direito. No entanto, serve igualmente para amenizar o trajecto, pela diversidade de elementos que contém: desde logo as diferentes fachadas, as praças e outros espaços intercalares, que os quarteirões criam e mantêm. Espiche é também a aldeia em que os quarteirões ocupam maior área (6,7893ha), enquanto que, entre os centros históricos, a primazia vai para Portimão (27,9772ha) (QUADRO 014). O mesmo se passa com a área total de espaço público: 5,2220ha em Espiche e 19,0233ha em Portimão.

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A proporção entre espaço público e quarteirões não é constante e difere muito das aldeias para os centros históricos (QUADRO 015). A principal razão está no facto destes estarem consolidados há muito tempo e as aldeias incluírem também a própria periferia, com largos e terreiros expectantes. Na média das vinte e duas aldeias estudadas, o espaço público representa 49% da área total, enquanto, nos centros históricos se fica pelos 40%. Mesmo depois de alguns arranjos, que incluíram eliminação de quarteirões, a maior percentagem de espaço público, num centro histórico, verifica-se em Albufeira (45,15%) e a menor em Silves (36,42%). Nas aldeias, só Sargaçal tem uma percentagem de espaço público ainda mais baixa (35,83%) e apenas mais sete ficam aquém da percentagem de Espiche (45,11%), embora também só em sete seja superior a 50%, com as mais elevadas nas Portelas (71,74%) e em Alferce (68,20%). O espaço público considerado é não apenas o que fica entre os quarteirões, mas também o que os envolve e corresponde ao anel exterior de todo o núcleo.

Num último exercício para avaliar o peso do espaço público, antes e agora, podemos relacionar o todo estudado com um conjunto menor, correspondente aos quarteirões cujas construções parecem ser mais antigas. Esta designada “zona antiga” não corresponderá certamente ao núcleo primitivo da povoação, mas permitirá a comparação com os números obtidos quando incluímos zonas que são de certeza mais novas. As áreas referem-se ao perímetro interior (pela periferia dos quarteirões) e ao perímetro exterior (incluindo também o espaço exterior envolvente) (QUADROS 017 e 021). Consideradas apenas essas zonas antigas, com envolvente (exterior) o espaço público corresponde a 42%, nas aldeias, e 36% nos centros históricos; sem envolvente (interior), baixa para 19%, quer nas aldeias, quer nos centros históricos. Tomada a área total dos núcleos estudados, as percentagens médias de espaço público, no interior, são de 18% nas aldeias e de 23% nos centros históricos e, no exterior, é de 38% em ambos (QUADRO 015).

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