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6 – Valorização do património

6.1. Recomendações e legislação

Todos os anos, “cerca de um milhão de visitantes (metade dos quais com visitas pagas à Fortaleza)” desloca-se a Sagres, por “acreditar que aquele foi o local eleito pelo Infante para levar a cabo a epopeia dos Descobrimentos, lançando assim o caminho para a mundialização da economia” (SIMÕES, 2011:126). Para chegar a esse ponto mais sudoeste do Algarve e da Europa, o turista que tenha entrado pelo aeroporto de Faro atravessa seis municípios do Barlavento. Ainda que o principal motivo de escolha do Algarve como destino de férias tenha sido o sol e as praias, é quase irresistível a sensação de ir presenciar aquele abraço – umas vezes quase dócil, outras mais enérgico – entre o Atlântico e as águas mais quentes que se escaparam do Mediterrâneo e, pela costa fora, vieram ao seu encontro.

No ano 2000, foi criada a “Terras do Infante”, associação dos municípios de Lagos, Aljezur e Vila do Bispo, “tendo em vista a promoção e defesa da sub-região, a sua afirmação no contexto regional, nacional e internacional, valorizando as suas características próprias e únicas, conferindo maior escala aos direitos, projectos e iniciativas locais de interesse comum, ou complementar, para melhoria permanente do bem-estar e qualidade de vida dos seus habitantes e visitantes, constituindo factor de desenvolvimento económico, cultural e social para as famílias e empresas dos três municípios”. Entre outros fins específicos – saúde, educação, ambiente, conservação da natureza, segurança e acessibilidades – a associação propôs-se “criar e defender a marca do Algarve Sudoeste” (TIAM, Estatutos,5.1,6.1.f). A competição com outros municípios, todos mais centrais, joga com o crescente interesse pelo turismo cultural. Tem, como trunfo, o facto histórico de ter o Infante vivido e falecido em Lagos, cidade

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de onde partiram as primeiras caravelas e a onde voltaram com as especiarias e outras mercadorias trazidas de além-mar. As estátuas do Infante D. Henrique e de Gil Eanes – o primeiro a “passar além do Bojador” (PESSOA, 1934:64) –, o núcleo museológico “Mercado dos Escravos” e a Caravela fundeada à entrada do porto de Lagos, adquirem maior significado após uma ida a Sagres, para aí sentir a mesma aragem forte e inspiradora do século XV, quando o Infante lá ia observar o mar imenso e tentar adivinhar-lhe os seus segredos.

Assim como, em Lagos, é a memória do tempo dos Descobrimentos que inspira o seu centro histórico, em Silves, é o que ficou da presença dos povos árabes, que a tornaram capital do al-Gharb e importante pólo cultural. Em Albufeira e Portimão, não será difícil imaginar os ataques dos piratas e corsários, no século XVI, mas podemos não sair do presente e ver apenas como se adaptaram para receber o crescente número de visitantes. Lagoa, com exposições e outras iniciativas culturais no Convento de S. José, conta aí a sua história. Aljezur convida a uma ida ao Castelo, lá no alto, com vários apontamentos históricos pelo caminho. Monchique impõe-se por si própria, no topo do Algarve. Vila do Bispo, com sua gastronomia de peixe e marisco, é o primeiro ponto de paragem, no regresso de Sagres. Esta diversidade permite uma salutar “competição entre territórios, o que leva os agentes dos centros históricos a utilizarem o marketing urbano, em parte através de iniciativas ligadas ao lazer e ao turismo” (FERREIRA, 2000:119). A Feira Medieval (Silves), o Festival dos Descobrimentos (Lagos) e as feiras temáticas, mais ligadas à produção local, que ocorrem em Aljezur, Monchique e também em Alferce e Marmelete, são importantes para a permanente revitalização de cada uma destas localidades e como cartaz turístico.

Desde o promontório que é ponto de atracção para a maioria dos turistas de visita ao Algarve, até ao pormenor material ou imaterial que se manteve discreto durante muito tempo e a máquina fotográfica do turista ou o gravador do repórter conseguem captar, tudo isto passou a preencher o conceito de património. Além dos monumentos – a que de há muito era reconhecido valor histórico –, também paisagens naturais e urbanas, festividades e tradições, até o saber-fazer, todos contribuem para definir a história, a memória e a identidade de uma sociedade e de

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um território (REALINHO, 2010:61). O II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos, reunido em Veneza, em 1964, sentiu ser altura de actualizar a “Carta de Atenas”, de 1931 – sobre o restauro de monumentos – e aprovou que “a noção de monumento histórico engloba a criação arquitectónica isolada bem como o sítio urbano ou rural que são o testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Esta noção estende-se não somente às grandes criações mas também às obras modestas que adquiriram com o tempo um significado cultural” (Carta, 1964:1).

Com o evoluir desta noção alargada de monumento, não tardou a se reconhecer que património – “(do Lat.patrimonium) Bens dados, ou herdados de pae, mãe, avós, e não de corôa” (SILVA, Antonio, 1891:496) – é tudo o que se recebe e nos cabe preservar para voltar a transmitir à geração seguinte. No mesmo sentido, depois de ter proclamado 1975 como o Ano Europeu do Património Arquitectónico, o Conselho da Europa estabeleceu o texto da chamada “Carta de Amesterdão”, na qual reconhece “que o património arquitectónico, expressão insubstituível da riqueza e da diversidade de cultura europeia, é herança comum de todos os povos” e, como tal, “a conservação do património arquitectónico depende largamente da sua integração no quadro de vida dos cidadãos e da sua consideração nos planos de ordenamento do território e de urbanismo” (Carta, 1975:preâmbulo).

Como recomendações iniciais, os autores do documento chamaram a atenção para os seguintes factos: “Os conjuntos, mesmo na ausência de edifícios excepcionais, podem oferecer uma qualidade de atmosferas que faz deles obras de arte diversificadas e articuladas”. “Trata-se de uma parte essencial a memória dos homens de hoje, e na falta da sua transmissão às gerações futuras, na sua autêntica riqueza e na sua diversidade, a humanidade seria amputada duma parte da consciência da sua própria duração”. “Cada geração interpreta o passado de uma maneira diferente e dele retira ideias novas”. “Longe de ser um luxo para a comunidade, a utilização desse património é uma fonte de economias”, pois “estes conjuntos constituem, com efeito, meios adequados ao desenvolvimento de um largo leque de actividades”. “Ele oferece um manancial privilegiado de explicações e de comparações do sentido das formas e

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uma fonte de exemplos das suas utilizações. Ora, a imagem e o contacto directo adquirem de novo uma importância decisiva na formação dos homens. Importa por isso conservar vivos os testemunhos de todas as épocas e de todas as experiências” (Carta,1975:1º-5ª). Ao declarar, como primeiro princípio, que “o património arquitectónico europeu é formado não apenas pelos nossos monumentos mais importantes mas também pelos conjuntos que constituem as nossas cidades antigas e as nossas aldeias com tradições no seu ambiente natural ou construído”, a “Carta de Amesterdão” deu o mote para irmos mais além no respeito por todo o legado das gerações que nos precederam. Para ter tradições – “(do Lat.traditio, onis) Notícia que passa sucessivamente de uns a outros, conservada em memória, ou por escripto” (SILVA, Antonio, 1891:918) –, tem de vir de gerações atrás e chegar até nós. Tudo é património e, para ser arquitectónico, nem precisa de ser construído pelo homem, basta ser natural.

O seu valor é sempre relativo, muda em cada época, depende do interesse que cada um tenha em conservar esse bem. Entre nós, “a salvaguarda e preservação dos valores históricos é uma preocupação que data do século XIII, ou seja, da 1ª Dinastia”, mas a protecção de edifícios, sobretudo militares, provinha da “necessidade de defesa territorial” (Soromenho e Silva, cit. VIEIRA, Alexandra, 2007:463) e mantinha-se enquanto se justificasse. Fora isso, era e continuou a ser frequente a reciclagem das edificações, com os materiais das que iam ficando em ruína aproveitados na construção de outras. Deste modo, “os paços, os castellos, as pontes, os cruzeiros, as galilés das praças, as portas, as torres, os pelourinhos das cidades e villas, construidos desde o XI até o XV seculo quasi que desappareceram. Conservaram-se alguns mosteiros e sanctuarios, algumas cathedraes e parochias, não por serem obras da arte, mas por serem logares consagrados a instituições religiosas, e talvez por terem faltado os recursos para os substituir por novas edificações” (HERCULANO, 1873:13). É certo que, com o Renascimento, se passou a “valorizar os aspectos arqueológicos e arquitectónicos da cultura clássica” e a “proceder à preservação de tais elementos, designados então por antiqualhas”; e, logo no início do século XVIII “a ideia de

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preservação dos bens culturais foi enfatizada, sobretudo pelo Iluminismo“ (VIEIRA, Alexandra, 2007:464).

Assim, em 1721, quatro anos após a fundação da Academia de História Portuguesa, a que D. João V entretanto havia concedido alvará régio, D. Rodrigo de Meneses, marquês de Abrantes, empreendeu umas jornadas pelo Alentejo – “que são, sem dúvida um dos episódios mais curiosos da pré-história do nosso património” (RAMOS, 2005:91). Nelas, constatou a “barbara voracidade dos circunvisinhos, que mais activa, que a do tempo, desfez aquillo mesmo, a que elle em tantos seculos havia perdoado”, conforme relatou em conferência na Academia. Logo a seguir, foi publicado o Alvará de 20 de Agosto de 1721, que impunha o inventário e a conservação dos “monumentos antigos”, tais como “Edificios, Estatuas, Marmores, Cippos, Laminas, Chapas, Medalhas, Moedas, e outros artefactos” e determinava que as “Camaras das Cidades, e Villas deste Reyno, tenhaõ muito particular cuidado em conservar, e guardar todas as antiguidades sobreditas, e de semelhante qualidade, que houver ao presente, ou ao diante se descobrirem nos limites do seu destricto”, com a obrigação de “comprallas e pagallas promptamente pelo seu justo valor”. Apresentava já uma noção alargada de património e, de certo modo, criava “uma rede de salvaguarda patrimonial como só surgiria muito mais tarde, entre nós e lá fora também” (RAMOS, 2005:93).

A Academia entrou em decadência em 1736, o monarca faleceu em 1750 e, com o terramoto de 1755, todas estas preocupações com o património se apagaram de novo. Passado um século sobre aquele alvará joanino, “de todos os angulos do reino se alevantam brados de homens generosos, que lamentam a ruina dos velhos edificios, a profanação das sepulturas, a destruição de todas as memorias da arte e da historia”, muitas das quais voltaram a servir de “fundamentos de algum edificio, cujo rendimento, abatidos decima e concertos, o vandalismo e o dono acharão de certo preferível” (HERCULANO, 1873:22-23). Nessa altura, várias associações tiveram papel interventivo na “inventariação, recolha e estudo das ‘antiguidades nacionais’, levando, por vezes, os órgãos do poder a intervir”; entre elas, a Associação dos Architectos Civis Portugueses, criada em 1863, “muito contribuiu para o estudo e salvaguarda dos

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monumentos nacionais” (NABAIS, 1990:85). Já no final da monarquia, o decreto de 16 de Junho de 1910 determinou “que sejam considerados monumentos nacionaes os que constam da nova classificação feita pelo respectivo conselho (na qual se incluem os já anteriormente classificados)”, que fazem parte integrante deste decreto. Do Barlavento algarvio indicava: Portimão: monumentos de Alcalar (pré-históricos); Silves: Cruz de Portugal (cruzeiros) e Castelo de Silves (monumentos militares – castelos); Vila do Bispo: Torre e muralhas de Sagres (monumentos militares - torres).

Em 1911, o decreto de 26 de Maio dividiu o país em três circunscrições territoriais artísticas e “a legislação republicana abriu perspectivas de descentralização cultural e criou condições de participação às pessoas colectivas ou individuais interessadas na salvaguarda dos bens históricos, artísticos e arqueológicos” (NABAIS, 1990:86). Mas só em 1949, a Lei 2032 veio promulgar “disposições sobre protecção e conservação de todos os elementos ou conjuntos de valor arqueológico, histórico, artístico ou paisagísticos concelhios” e determinar que “as câmaras municipais devem promover a classificação, como monumentos nacionais ou como imóveis ou móveis de interesse público”, de todos os “existentes nos seus concelhos”. No entanto, “se as entidades competentes os não classificarem como tais, poderão as câmaras promover, junto das mesmas entidades, a sua classificação como valores concelhios” (Base I). Incumbia também “às câmaras municipais, ainda que não tenham tomado a iniciativa de classificação, auxiliar o Estado na protecção e vigilância dos elementos ou conjuntos referidos” (Base II). Mais de um século depois da publicação, em 1838, de Monumentos Pátrios, entendia-se, “emfim, que nenhum monumento historico pertence propriamente ao municipio em cujo âmbito jaz, mas sim á nação toda. Por via de regra, nem a mão poderosa que o ergueu regía só esse municipio, nem as sommas que ahi se despenderam sairam delle só, nem a historia que transforma o monumento em documento é a historia de uma villa ou cidade, mas sim a de um povo inteiro” (HERCULANO, 1873:51).

Finalmente, a lei fundamental aprovada em 1976, incumbia ao “Estado a obrigação de preservar, defender e valorizar o património cultural do povo português” (CRP, art. 78). Seis anos depois, na primeira revisão constitucional, esta obrigação foi

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ampliada, e passou a competir “ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais”, “promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum”. Por isso, fora “conferido a todos o direito de promover, nos termos da lei, a prevenção ou a cessação dos factores de degradação do património cultural” (CRP 1982:78.2,c.3). A partir da terceira revisão, tudo se manteve, mas este último direito/obrigação foi retirado do texto constitucional (LC 1/89:46). Com idêntico alcance, mas menos força, passou a constar apenas na Lei do Património Cultural Português, que “qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis, bem como qualquer ADP legalmente constituída, tem, nos casos e nos termos definidos na lei, o direito de acção popular de defesa do património cultural” (Lei 13/85:59).

Naquele mesmo ano de 1976, reunida em Nairobi, a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que já antes havia adoptado instrumentos internacionais para a protecção do património cultural e natural – tais como a Recomendação que Define os Princípios Internacionais a serem Aplicados em Relação às Escavações Arqueológicas (1956), a Recomendação Relativa à Salvaguarda da Beleza e do Carácter dos Sítios e Paisagens (1962), a Recomendação sobre a Preservação dos Bens Culturais Ameaçados pela Realização de Obras Públicas ou Privadas (1968) e a Recomendação sobre a Protecção, no Plano Nacional, do Património Cultural e Natural (1972) – adoptou nova recomendação, desta vez sobre os “conjuntos históricos ou tradicionais” (Recomendação: preâmbulo).

Na de 1972, em Paris, a UNESCO havia constatado que “o património cultural e o património natural estão cada vez mais ameaçados de destruição, não apenas pelas causas tradicionais de degradação, mas também pela evolução da vida social e económica” e que “a degradação ou o desaparecimento de um bem do património cultural e natural constitui um empobrecimento efectivo do património de todos os povos do mundo”. Foram, na altura, considerados como património cultural: “os monumentos (obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da

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ciência; os conjuntos (grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência); e os locais de interesse (obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico)”. Nessa conferência adoptara, como objectivo, a “criação de um sistema de cooperação e de assistência internacionais” destinado a “auxiliar os Estados parte na Convenção nos esforços que dispendem para preservar e identificar o referido património” (Convenção:1,7).

Em 1976, sob pretexto de expansão ou de modernização, no mundo inteiro ainda eram constantes as destruições do património histórico e as reconstruções irracionais e inadequadas, que traziam consigo o perigo de uniformização e despersonalização. Ora, nessa altura, estava já reconhecido que “os conjuntos históricos ou tradicionais fazem parte do ambiente quotidiano dos seres humanos em todos os países, constituem a presença viva do passado que lhes deu forma, asseguram ao quadro da vida a variedade necessária para responder à diversidade da sociedade e, por isso, adquirem um valor e uma dimensão humana suplementares” (Recomendação: preâmbulo).

A "salvaguarda" das cidades históricas, bairros urbanos antigos, aldeias, lugarejos “e de seu entorno” implica a sua identificação, protecção, conservação, restauro, reabilitação, manutenção e revitalização. Estes “conjuntos históricos ou tradicionais e sua ambiência constituem um património universal insubstituível”, razão pela qual se considerou dever ser obrigação dos governos – e dos cidadãos desse território – a sua “integração na vida colectiva de nossa época“ (Recomendação:1,2). A ambiência de cada conjunto deveria ser considerada em sua globalidade: construções, estrutura espacial, zonas circundantes e actividades humanas, desde as mais modestas, cujo significado haveria que respeitar. Os conjuntos deveriam também “ser protegidos activamente contra quaisquer deteriorações, particularmente as que resultam de uma utilização imprópria, de acréscimos supérfluos e de transformações abusivas” (Recomendação:3,4). Era reconhecido que “o respeito às medidas de

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salvaguarda deveria ser imposto tanto às colectividades públicas quanto às particulares. Dever-se-ia estabelecer, todavia, um mecanismo de recurso contra as decisões ilegais, arbitrárias ou injustas”. Pelo menos o espírito terá sido acolhido, pois é hoje frequente a “regulamentação da salvaguarda dos conjuntos históricos e de sua ambiência”, com “disposições referentes à construção de edifícios para órgãos públicos e privados e a obras públicas e privadas” (Recomendação: 13,14).

Na prática, seria “necessária uma vigilância permanente para evitar que essas operações beneficiem apenas a especulação ou sejam utilizadas com finalidades contrárias aos objectivos do plano” (Recomendação: 26). Também “não se deveria autorizar o isolamento de um monumento através da supressão de seu entorno; do mesmo modo, seu deslocamento só deveria ser decidido excepcionalmente e por razões de força maior” (Recomendação: 29). Estarão neste caso as chaminés de antigas unidades fabris, principalmente da indústria conserveira – que em Lagos e em ambos os lados da foz do rio Arade, havia prosperado e decaído durante sete décadas do século XX – e são as memórias do passado industrial do Barlavento. Muitas se perderam, outras foram preservadas, embora todo o resto tivesse sido derrubado, para, no terreno, nascerem condomínios habitacionais. Imediatamente ao lado de espaços aqui estudados, ficaram: uma chaminé a nordeste do Largo de S. José, em Portimão; e outra junto ao edifício dos novos Paços do Concelho, no extremo norte da Rua D. Vasco da Gama, em Lagos.

A protecção e o restauro deverão ser acompanhados de actividades de revitalização, para manter as funções apropriadas existentes – o comércio e o artesanato – e criar outras novas, que pareçam viáveis a longo prazo e “compatíveis com o contexto económico e social, urbano, regional ou nacional em que se inserem” (Recomendação: 33). Nas zonas rurais, o cuidado deverá ser ainda maior, para evitar degradação da paisagem e “preservar a integridade das comunidades rurais históricas em seu ambiente natural” (Recomendação: 34). Nesse sentido, era recomendada “a fundação de grupos voluntários de salvaguarda e de associações de carácter não lucrativo”, como veio a acontecer com a criação de associações de moradores e de associações de desenvolvimento local e regional, a par de colectividades e grupos de