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Guilherme Almeida Rosa da Silva • Thiago Pereira Guimarães

No documento SOS Plantão (OCR).pdf (páginas 198-200)

INTRODUÇÃO

A gota é uma doença caracterizada por episódios de artrite aguda ou crônica secundária ao depósito de cristais de monourato de sódio no líquido sinovial, tecido conjuntivo e rins sob a forma de nefrolitíase ou doença intersticial. Acomete, frequentemente, homens e mulheres de meia-idade e está ligada ao aumento da concentração de urato ou à hiperuricemia no organismo.

CONSIDERAÇÕES

A concentração de ácido úrico considerada dentro dos padrões de normalidade é de 7mg/dL em homens e 6mg/dL em mulheres. Cerca de 20% dos indivíduos com hiperuricemia podem apresentar gota.

A presença de hiperuricemia mantém correlação com a presença da síndrome metabólica, ma­ nifestada por hipertensão arterial sistêmica, resistência insulínica com ou sem diabetes mellitus, disli- pidemia à custa de baixo HDL e aumento dos triglicerídeos.

QUADRO CLÍNICO

A apresentação aguda de gota é bastante típica, com o surgimento de dor lancinante em arti­ culação metatarsofalangiana do hálux, hiperemia e edema que podem simular a celulite, de cará­ ter principalmente notumo, em cerca de 50% dos casos (podagra). As manifestações poliarticulares com distribuição ascendente progressiva podem ocorrer em longo prazo. Alguns indivíduos idosos podem apresentar quadro clínico inicial em articulações interfalangianas das mãos. Outros sintomas observados são febre baixa e calafrios. Os sintomas regridem naturalmente em cerca de 3 a 10 dias após iniciados. Novas crises podem ocorrer sem tempo estimado para o intervalo entre as crises, que pode ser de alguns meses a anos. Sem o tratamento adequado, as crises têm suas frequência e intensidade aumentadas, podendo haver deformidades articulares com erosões ósseas e esclerose marginal visível à radiografia e manifestações renais (doença intersticial e nefrolitíase) e dermatológicas (tofos gotosos).

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de gota depende de um quadro clínico compatível que leve em consideração os fatores de risco, como sexo masculino, meia-idade, alimentação hiperproteica, hiperuricemia, consu­ mo abusivo de álcool, presença de síndrome metabólica, uso de diuréticos tiazídicos e história fami­ liar. O diagnóstico definitivo é obtido mediante a presença de cristais de urato com birrefringência negativa à luz polarizada em microscopia com aumento de 400x, em formato de agulha ou bastão, intra ou extracelular, em amostras do líquido sinovial coletadas por punção.

TRATAMENTO

O tratamento é dividido em tratamento das crises e prevenção de novos episódios de gota me­ diante o controle da hiperuricemia.

Tratamento das crises

• Anti-inflamatório: os AINE demonstram excelente resposta para o controle das crises agudas de gota:

178 SEÇÃO IV | ORTOPEDIA

• Indometacina: 25 a 50mg, VO 3x/dia, até a resolução do quadro. • Naproxeno: 500mg, VO, 2x/dia, até a resolução do quadro.

• Ibuprofeno: 300mg, VO, de 6/6h ou 8/8h, até a resolução do quadro.

• Cetoprofeno: a dose indicada é de lOOmg como dose de ataque e 50mg, VO, 3x/dia, até a resolu­

ção do quadro.

• Diclofenaco: 50mg, VO, 3x/dia, até a resolução do quadro.

• Colchicina: é o medicamento mais utilizado para o tratamento da gota, entretanto vem caindo

em desuso devido aos efeitos colaterais gastrointestinais. Cada comprimido apresenta 0,5mg de colchicina e sua dose de ataque consiste em um comprimido de hora em hora ou de 2/2h até a elim inação de fezes diarreicas ou o aparecimento de náuseas e vômitos. O seguimento do tratamento se dá com um ou dois comprimidos de 12/12h até o desaparecimento total da crise.

• Corticoide: sua aplicação é contraindicada em pacientes com insuficiência renal e/ou cardíaca

grave. Prednisona: devem ser administrados de 30 a 60mg/dia por 3 dias, com redução da dose em 10 a 15mg/dia por 3 a 7 dias.

Obs.: outra opção terapêutica consiste na infiltração de corticoide com metilprednisolona, de 25 a 50mg, intra-articular, para alívio mais rápido dos sintomas, sobretudo em crises monoarticulares.

Tratamento da hiperuricemia

O tratamento da hiperuricemia deve ser conduzido após a supressão da crise de gota, sendo prudente a manutenção do uso profilático de colchicina, 0,5mg, VO, 2x/dia, durante o tratamento:

• Dieta: aumento da hidratação, redução do peso, dieta pobre em purinas (restrição de anchovas,

sardinha, caviar, carnes de pato, ganso ou perdiz, molhos, peixes como arenque, caldos de carne, vísceras, ostras e mexilhões), limitação no uso do álcool e redução do consumo de frutose.

O paciente deve ser avaliado se a hiperuricemia tem origem na hiperprodução de ácido úrico ou se há deficiência em sua eliminação renal, por meio de urina de 24 horas. Pacientes com ácido úrico > 800mg na urina de 24 horas são hiperprodutores e aqueles com eliminação < 800mg nas 24 horas apresentam distúrbio na eliminação renal de ácido úrico.

• Inibidor de síntese (hiperprodutores de ácido úrico): deve ser utilizado o alopurinol, 100 a

300mg, VO, lx/dia.

• Alcalinização da urina (distúrbio de eliminação renal): pode ser utilizado o citrato de potássio,

l,08g, VO, 3x/dia, nas refeições. A probenecida, 500mg/dia, VO, até 1 a 2g, e a sulfimpirazona, 50 a 100mg/dia, VO, até 200 a 400mg, podem ser utilizadas. Deve-se buscar um pH urinário de 6,0 e uma diurese de 2L/dia. Contraindicados para portadores de creatinina > 2mg/dL.

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