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Pericardite Aguda

No documento SOS Plantão (OCR).pdf (páginas 48-51)

Eduardo Alvarenga Junqueira Filho • Aureo do Carmo Filho

INTRODUÇÃO

O processo patológico clínico que mais comumente envolve o pericárdio é a pericardite aguda. Esta enfermidade pode ser de etiologia infecciosa ou não infecciosa, sendo a infecção viral a causa mais comum. A síndrome clínica é relativamente breve e na maioria das vezes não complicada, va­ riando de dias a poucas semanas. No entanto, devemos sempre estar atentos à progressão para o

tamponamento cardíaco.

CONSIDERAÇÕES

Aproximadamente 90% dos casos de pericardite aguda são secundários a infecção virai ou têm etiologia idiopática. Quando não se encontra uma etiologia responsável, suspeita-se da etiologia virai como causa sempre que na história clínica do paciente estejam presentes pródromos de uma síndro­ me gripal ou história anterior de infecção de vias aéreas superiores.

Diversas podem ser as causas de pericardite aguda, as quais estão entre seus principais diagnós­ ticos diferenciais. Listamos a seguir os principais fatores etiológicos:

• Idiopática • Uremia

• Bacteriana (Pneumococcus, Streptococcus, Staphylococcus) • Neoplasia

• Trauma • Irradiação • Autoimune

• Virai (vírus coxsáckie A e B, vírus da caxumba, adenovirus, HIV, vírus da influenza) • Mycobacterium tuberculosis

• Fungos (histoplasmose, coccidioidomicose, candidiase) • IAM

QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico é caracterizado por dor torácica contínua, de caráter constritivo, que piora com a inspiração profunda e melhora quando o paciente se coloca em posição genupeitoral. O atrito pe-

ricárdico é o achado patognomônico da pericardite, mas nem sempre está presente. Podemos ainda

encontrar derrame pericárdico como achado bastante frequente. Pelo menos duas dessas manifesta­ ções devem estar presentes para que se estabeleça o diagnóstico.

A sintomatologia da pericardite aguda de causa bacteriana costuma ser mais grave que a virai, situa­ ção em que, além dos achados citados, estão febre, queda do estado geral e leucocitose com desvio para a esquerda no hemograma. Emagrecimento e caquexia devem levar à suspeita de neoplasias ou tuberculo­ se. Edemas, alteração do nível de consciência e diminuição do volume urinário são sugestivos de uremia.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de pericardite é sugerido a partir da correlação de dados clínicos com alguns métodos complementares. É importante salientar que não existe nenhum método complementar padrão-ouro para o diagnóstico de pericardite:

28 SEÇÃO I | CARDIOLOGIA

• O ECG mostra-se alterado em mais de 85% dos casos, sendo a alteração mais comum o supra- desnivelamento do segmento ST na maioria das derivações, com concavidade voltada para cima (importante para diferenciar do IAM, no qual a concavidade está voltada para baixo), poupando habitualmente as derivações V I e aVR. A depressão do segmento PR também é comum.

Estágios Alterações no ECG

Estágio 1 (prim eiras horas a dias) Elevação do segmento ST com concavidade voltada para cima em todas as derivações, exceto em aVR e V I; não respeita anatomia coronariana, diferentemente do IAM

Estágio 2 (dias a várias semanas) Ocorre retorno do segmento ST à linha de base; achatamento da onda T; em alguns casos, encontra-se ainda depressão do segmento PR

Estágio 3 (final da segunda/terceira semana) Inversão difusa de onda T, geralmente após o segmento ST ter normalizado

Estágio 4 (pode durar até 3 meses) Normalização do ECG ou persistência de onda T negativa

Figura 6.1 Estágio eletrocardiográfico da pericardite.

• Pacientes com pericardite aguda geralmente apresentam evidência de inflamação sistêmica, incluindo leucocitose, velocidade de hemossedimentação (VHS) aumentada e elevação de proteína C reativa (PCR). Entretanto, esses testes trazem poucas informações para o diagnóstico etiológico específico. • Ocorre aumento nas concentrações da troponina sérica em 35% a 50% dos pacientes com pericar­

dite. Pode ocorrer também aumento da CPK total e da CK-MB; estas enzimas, no entanto, têm menor sensibilidade.

• A radiografia simples de tórax tem maior valor diagnóstico quando há derrame associado à peri­ cardite. Observaremos, então, uma área cardíaca aumentada, o chamado " coração em moringa". • O ecocardiograma é de grande utilidade para identificação de derrames pericárdicos.

• A análise do líquido pericárdico é o exame que vai confirmar o diagnóstico etiológico.

COMPLICAÇÕES

Em geral, a doença é autolimitada e sem complicações, que, no entanto, podem ser observadas em uma pequena parcela dos casos, como:

• Tamponamento cardíaco: está presente em 15% dos casos (geralmente vai necessitar apenas de

uma pericardiocentese de alívio). É mais comum na pericardite de origem bacteriana, urêmica, pós-IAM e neoplásica.

• Pericardite recorrente: é a complicação mais comum (20% a 30% dos casos). Semanas ou meses

após o primeiro quadro, o paciente volta a apresentar sintomas, às vezes de forte intensidade.

• Pericardite constritiva: ocorre em 30% a 50% dos pacientes, sendo a tuberculose a principal

causa. A constrição produz manifestações de congestão venosa da grande circulação e deterio­ ração da função miocárdica. O tratamento cirúrgico com pericardiectomia deve ser proposto precocemente.

CAPÍTULO 6 | Pericardite Aguda 29

TRATAMENTO

O tratamento da pericardite aguda deve ser direcionado para a doença de base. Quando todas as causas possíveis de pericardite são excluídas, inicia-se uma terapia inespecífica, que consiste em: 1. Internação hospitalar para observação e exclusão de IAM.

2. Repouso no leito.

3. Anti-inflamatórios não esteroides (AINE): pode-se usar indometacina, 25 a 50mg VO de 8/8h, ou

ibuproíeno, de 600 a 800mg VO de 8/8h, ou AAS, lg VO de 8/8h. Todos por um período de 2 a 4

semanas.

• As diretrizes europeias de 2004 recomendam o ibuprofeno como primeira opção em razão da menor incidência de efeitos colaterais e do impacto favorável no fluxo arterial coronariano. • O AAS deve ser o agente de escolha nos pacientes com IAM recente, pois estudos sugerem que

os outros AINE interferem com a cicatrização do miocárdio.

4. Nos pacientes que apresentam falência ao tratamento ou recorrência dos sintomas, a colchicina pode ser uma boa opção terapêutica, na dose de lm g de 12/12h no I a dia, seguido por 0,5mg de

12/12h por 3 meses.

5. O uso de glicocorticoides deve ser reservado para pacientes refratários à terapia com AINE e colchicina, e caso uma causa específica de pericardite tenha sido descartada. Nesse caso, está in­ dicado o uso de prednisona, 40 a 60mg VO lx/dia por 3 semanas.

6. Pericardite aguda bacteriana: em caso de suspeita de etiologia bacteriana, devemos proceder a drenagem pericárdica cirúrgica, análise laboratorial e cultura do líquido.

7. O uso de anticoagulantes orais está proscrito em todos os casos de pericardite aguda, em função do risco de hemopericárdio.

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Capítulo 7

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