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RYO MATSUURA, MARIA KOSIMA MATSUURA, SÉRGIO KENDI MATSUURA, LILIANE ESTEVES CARDO SO MATSUURA, HUMBERTO KEIJI MATSUURA, MIRNA IAMAMURA CARRARA MATSUURA, DALVA EIKO

Capitulo V – Dos Títulos

RYO MATSUURA, MARIA KOSIMA MATSUURA, SÉRGIO KENDI MATSUURA, LILIANE ESTEVES CARDO SO MATSUURA, HUMBERTO KEIJI MATSUURA, MIRNA IAMAMURA CARRARA MATSUURA, DALVA EIKO

MATSUURA FRONTINI, CARLO OTÍLIO PAOLO FRONTINI, ALBERTO MATSUURA, MARLI CRISTINA OLI- VEIRA MATSUURA e HORÁCIO MATSUURA aforaram AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO contra AFONSO

CORREIA GONÇALVES, PARAZINHO DE TAL e GASPAR DE TAL, “líderes do MOVIMENTO DOS SEM-TERRA”

(sic). Dizem-se possuidores das FAZENDAS RYO MATSU I, RYO MATSU II, RYO MATSU III, RYO MATSU IV e

RYO MATSU VI, em Unaí (MG), com área total 3.477,31 ha, sendo de seu conhecimento que os requeridos pre-

tendem ocupar referidos imóveis, como vem acontecendo em fazendas vizinhas. Assim, têm por justo o receio de

iminente moléstia à sua posse, pelo que pedem a concessão liminar, e sem audiência da parte contrária, da ordem

interdital, a fim de obstar aos requeridos a prática de atos que importem turbação ou esbulho (f. 2-7). Juntam do-

cumentos (f. 9-120 e 145-440).

O Ministério Público é pelo indeferimento da concessão liminar (f. 124-127).

Determinada aos requerentes a comprovação, mediante prova documental, do cumprimento da função social da propriedade (f. 128-130).

Citados os requeridos nominados (f. 472, 474 e 475), encontrando-se GASPAR DE TAL em local ignorado. Em audiências de 21.11.2006 e 13.12.2006, foram ouvidas testemunhas, ausentes os requeridos. Em curso ação de desapropriação da FAZENDA RYO MATSU I, de competência da Justiça Federal, segue o processo exclu-

sivamente com relação à posse dos demais imóveis (f. 446-447 e 478-493).

O Ministério Público é pelo deferimento da concessão liminar (f. 192-196). É o relatório.

Versam os autos, inequivocamente, sobre conflito coletivo estabelecido em torno da posse de imóvel rural de propriedade particular.

A matéria em questão desafia, como já observado na mais atualizada doutrina e mais competente jurisprudência, uma reflexão fundada prioritariamente em preceitos constitucionais, dentro daquilo que hoje já se conhece como o

movimento de constitucionalização do direito.

Assim, as exigências constitucionais que dizem respeito ao direito de propriedade, direito inequivocamente

fundamental – já não só de caráter individual, mas social – impõem uma leitura da lei civil sob as luzes e de acordo

com a Constituição vigente. Nessa esteira, exsurge a questão da função social da propriedade, que, intrínseca ao

exercício do direito de propriedade, salutarmente contamina o consectário da posse que lhe diga respeito.

Não há, pois, como discutir-se na atualidade qualquer questão possessória sem ferir, por natural, o atendimento ao requisito essencial da função social. Mais que rima, mostra-se como solução das questões possessórias que ocu- pam a Vara de Conflitos Agrários e parâmetro que norteia os debates possessórios.

Data venia a entendimentos contrários, mostra-se insubsistente qualquer argumento posto na perspectiva de que as questões sociais sejam matéria de polícia. Hoje, mais nunca, as questões sociais são de responsabilidade do

Estado, por todos os seus órgãos constitutivos. Assim, a questão agrária, bem além de ser “problema do governo”

(Poder Executivo), é também questão afeta ao Poder Judiciário.

Ora, a Constituição dispõe regras e, mais que regras, princípios que norteiam a vida dos cidadãos e orientam a

atuação do Poder Público, seja por que órgão ou função for. Assim, diz-se que na propositura de um pleito posses-

sório deva o autor declinar e comprovar que no exercício da sua posse preenche os requisitos legais que a Constitui- ção sintetizou na expressão função social.

É certo, no entanto, que em ações como a presente não se mostra razoável exigir uma prova completa, exaustiva, desse requisito para o fim de atender ao pedido de concessão liminar. Mas isso não isenta o autor da ação em ao menos indicar que tal se dá.

Aqui, os requerentes pleiteiam a concessão liminar da ordem interdital para obstar qualquer ato dos requeridos que importe esbulho ou turbação da posse que exercem sobre os imóveis descritos na inicial. Em se tratando de

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interdito proibitório, faz-se necessária a comprovação do justo receio de moléstia à posse, bem como da iminência de turbação ou esbulho. A par disso, a posse a que se pede proteção deve ser exercida em consonância com a sua

função social, nos termos previstos na constituição e nas leis.

O cumprimento da função social da propriedade, tal como delineado no art. 186, I a IV, da CRFB, exterioriza-se, em última instância, como posse qualificada pelos requisitos cumulativos da produtividade,

utilização adequada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente, observância de normas traba- lhistas e exploração conducente ao bem-estar de proprietários e trabalhadores, enfim, de toda a coletividade.

Com base nestes parâmetros, tenho por suficientes os indícios e provas produzidos pelos requerentes, ao menos em um juízo de cognição sumária em que se processa a análise da tutela de urgência pleiteada.

As notas fiscais de compra e venda de mercadorias agrícolas (f. 40-43, 55-59 e 73-120), bem como os contratos de arrendamento rural para a exploração de agricultura, com cultivo de café, soja, milho, feijão, algodão e sementes de capim (f. 35-39, 50-54, 66-71 e 90-92), indicam que os requerentes, de forma direta ou indireta, vêm exercendo posse sobre os imóveis e, mais, respaldam o alegado cumprimento da função social

da propriedade em seu aspecto de produtividade e aproveitamento econômico adequado.

À margem das certidões das matrículas imobiliárias (f. 23-34, 44-49, 60-65 e 82-89), encontram-se aver-

badas as áreas de reserva legal (art. 16, § 8o da Lei n° 4.771/65). Comprovam os requerentes a titularidade,

até 2004, do direito de uso de águas públicas estaduais (f. 214 e 226-228). Evidenciado, pois, ao menos em um sentido formal, o exercício da posse em cumprimento ao aspecto da preservação do meio ambiente e

utilização adequada dos recursos naturais disponíveis.

Invocam os requerentes, possuidores indiretos, a impossibilidade de comprovar a regularidade das relações

trabalhistas, vez que mantidas exclusivamente com os arrendatários. Olvidam-se, contudo, de que não se de-

soneram de produzir tal prova pelo só fato da transferência da posse direta a terceiros, vez que mero negócio jurídico de direito privado não tem o condão de afastar exigência de matriz constitucional que, demais disso, não excepciona qualquer qualidade de posse. Ainda é bom lembrar que a fiscalização da prática adequada das

relações trabalhistas é hoje imperioso dever do proprietário arrendante. Isso não obstante, sem prejuízo do

quanto venha a ser comprovado na fase de instrução do feito, tenho por indícios de regularidade das relações

de emprego as certidões de distribuição de reclamações trabalhistas (f. 169-177), suficientes a justificar, ao

menos em fase liminar, tal aspecto da posse dos requerentes.

A seu turno, o receio de moléstia se nos apresenta justo o quanto basta ao ensejo de concessão liminar da medida interdital. Confirmam as testemunhas Olímpio Antunes Ribeiro Neto e Alberto Correia Gonçalves que, de fato, correm notícias de ameaça de ocupação de fazendas na região, lideradas pelo primeiro requerido. Informam, até, que consumada a ocupação de fazenda vizinha, onde os requeridos se encontram acampados, sendo, pois, efetivamente temível a ocorrência de iminente turbação ou esbulho (f. 478-480).

Consigno, por fim, e lamentando profundamente, que os requeridos, embora regularmente citados (f. 474 e 476), não se dignaram a comparecer à audiência ou tampouco justificaram a ausência, pelo que se considera desde já deserta, à míngua de qualquer manifestação anterior, eventual impugnação dos requeridos aos atos praticados naquela oportunidade.

Por convencido, então, sobre a existência de indícios suficientes a comprovar os respectivos pressupostos,

DEFIRO A CONCESSÃO LIMINAR DA ORDEM INTERDITAL, ordenando aos requeridos que se abstenham de praticar qualquer ato que importe turbação ou esbulho à posse exercida pelos requerentes sobre as FAZENDAS RYO MATSUO II, III, IV e VI, sob pena de se configurar crime de desobediência, além de pagar

multa de R$100,00 (cem reais) por dia de desobediência.

Depreque-se a expedição e o cumprimento do MANDADO PROIBITÓRIO.

Cite-se por edital, com prazo de 20 (vinte) dias, o requerido Gaspar de Tal (art. 232, I e art. 231, II, do CPC).

Retifique-se na distribuição o nome do requerido designado como Parazinho de Tal (f. 476).

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Cientifiquem-se o Incra, o Iter e a PMMG do teor desta decisão. Intimem-se as partes e o Ministério Público.

Belo Horizonte, 19 de janeiro de 2007. (Publicação Minas Gerais, 24.1.2007)

Osvaldo Oliveira Araújo Firmo Juiz de Direito

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processo no 0024.07.485.096-7 (tJmG – Ai no 1.0024.03.059797-5/001)

SOUZA CRUZ S.A. aforou AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO contra LIGA DOS CAMPONESES PO-

BRES, “na pessoa dos líderes/integrantes” EUFLÁSIO ALVES DOS SANTOS e JOÃO BATISTA FERREIRA; e re-

queridos incertos ou desconhecidos. Diz-se proprietária e possuidora do imóvel rural FAZENDA BURITI DA PRATA, em Prata (MG), com área de 2.833,93,13 ha, onde exerce o plantio de florestas renováveis para a

produção de lenha. Alega que o imóvel é produtivo e que a exploração atende à legislação ambiental. Receia a

perda iminente da posse, ao argumento de se tratar de região palco de recentes conflitos possessórios, existindo

acampamentos de sem-terra em torno do imóvel. Acrescenta ser notório o fato de que as invasões se intensifica- riam a partir de abril de 2007. Pede desde a concessão liminar à ordem interdital (f. 2-12). Junta documentos (f. 13-60 e 72-205).

O Ministério Público é pela justificação e tentativa de conciliação (f. 207-208), audiência realizada em 23.5.2007, ausentes os requeridos, com substituição dos indicados como líderes do movimento (f. 244-245).

Citação pessoal (f. 283) e ficta (f. 265, 279-281).

Em audiência de 5.7.2007, novamente ausentes os requeridos, foram ouvidas duas testemunhas (f. 299-303). O Incra informa inexistir procedimento administrativo com relação ao imóvel e não ter interesse na sua obten- ção (f. 310).

A requerente reitera o pedido de concessão da ordem (f. 314-317). O Ministério Público é pela negativa (f. 319-324).

É o relatório.

Os requerentes pleiteiam a concessão liminar da ordem interdital para obstar qualquer ato dos requeridos que importe esbulho ou turbação da posse que exerce sobre o imóvel descrito na inicial.

Em se tratando de INTERDITO PROIBITÓRIO, faz-se imperiosa a comprovação do justo receio de moléstia à posse, bem como da iminência de turbação ou esbulho. A par disso, a posse a que se pede proteção deve ser exercida em consonância com a sua função social, nos termos previstos na Constituição.

O cumprimento da função social da propriedade, tal como delineado no art. 186, I a IV, da CRFB, exterioriza- se, em última instância, como posse qualificada pelos requisitos cumulativos da produtividade, utilização ade-

quada dos recursos naturais e preservação do meio ambiente, observância de normas trabalhistas e exploração

conducente ao bem-estar de proprietários e trabalhadores.

Relativamente à função social, tenho por suficientes os indícios e provas produzidos pela requerente, ao menos em um juízo de cognição sumária em que se processa a análise da tutela de urgência pleiteada.

As declarações de produtor rural (f. 37-42) comprovam a produção de lenha em 1.702,00 ha do imóvel. À margem do respectivo registro, encontram-se averbados a área de reserva legal e os termos de compromisso de

execução e preservação florestal, celebrados com o Ibama (f. 26-27). Há indícios do cumprimento das normas trabalhistas, consistentes em fichas de registro de empregados e guias de recolhimento de contribuição social

e FGTS (f. 144-157). Nada veio aos autos que sinalizasse exploração desfavorável ao bem-estar.

Isso não obstante, a seu turno, o receio de moléstia não se me apresentou justo o quanto baste a possibilitar a concessão liminar da medida interdital.

Com efeito, a ameaça de turbação ou esbulho não vai além de mera alegação, não corroborada por qualquer indício ou prova. Nem sequer existe relato da prática de atos concretos preparatórios de eventual invasão, vindo a inicial desacompanhada de boletim de ocorrência, como mesmo aponta o Ministério Público (f. 319-324).

Para que se apresente justo o receio, não bastam as matérias jornalísticas que vaticinam a intensificação de inva- sões durante o famigerado “Abril Vermelho” (f. 33 e 36). Até aqui, entrado já o mês de agosto, nenhum ato concreto e potencialmente ofensivo à posse da requerente foi praticado.

A requerente traz à baila os episódios da invasão da Fazenda Aracruz Celulose e do Congresso Nacional, ocorridos em 2006, em São Paulo e no Distrito Federal (f. 44-54). A alegação de receio, assentada em fatos a tal distância no

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Conquanto não se desconheça a atuação dos movimentos sociais na região, a mera presença do movimento re- querido nas imediações do imóvel não se revelou fundamento idôneo a justificar o temor de ameaça iminente. A tal propósito, extrai-se dos depoimentos das testemunhas:

“Quanto a uma possível invasão da fazenda por movimentos sociais, o declarante só sabe dizer pelo que viu na mídia e pelo coordenador da fazenda. O próprio declarante não ouviu de nenhum membro do movimento social notícia de que invadiria a fazenda, mas o coordenador colheu informações, seja no Sindicato de Prata, seja com os proprietários vizinhos da fazenda. Tem conhecimento da existência de um movimento social denominado Liga dos Camponeses Pobres, e sabe dizer que eles estão acam- pados na fazenda Douradinho, só conhecendo a atual localização do acampamento nesta mesma fazenda, por meio de mapa. Não conhece a Fazenda Rio das Pedras. Não tem conhecimento de que a LCP já tenha estado nessa fazenda. Não sabe precisar o tempo que os trabalhadores estiveram na fazenda Douradinho, muito menos se houve transferência do acampamento ali dentro. (...) Que não sabe onde se localizam as fazendas Canhambola, Vertente do Rio Tejuco e Douradinho, conquanto não tenha visitado todas elas, sendo que não sabe se alguma delas é vizinha do imóvel da requerente. (...) Conquanto haja indícios, atos concretos, porém, não são de conhecimento do declarante como praticados pelos movimentos sociais para a invasão da Fazenda Buriti da Prata.” (Depoimento de EDSON HERALDO DIRGON – f. 302-303).

“A ocupação mais próxima que já aconteceu da fazenda da requerente se deu a 20 km em estrada ou 10 km em linha reta. Como a fazenda da requerente é cortada por uma via municipal, ali transitam várias pessoas, dentre elas componentes dos movimentos dos sem-terra, mas não necessariamente porque estejam rondando a fazenda. O declarante acredita que os membros dos movimentos passem ali apenas como tran- seuntes, mas não pode afirmar isto com certeza.” (ANDRÉ APARECIDODE FREITAS ROSA – f. 300-301). Por convencido, então, sobre a inexistência de indícios suficientes a comprovar os respectivos pressupostos,

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