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REIRA ROCHA, PAULO MATOS CAMARGOS, MARLEY FERNANDES DE SOUZA, CLEIDSON FERREIRA DA

Capitulo V – Dos Títulos

REIRA ROCHA, PAULO MATOS CAMARGOS, MARLEY FERNANDES DE SOUZA, CLEIDSON FERREIRA DA

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ROCHA, VALDEIR ARAÚJO LIMA, JOSÉ APARECIDO FERNANDES, JOSÉ DOS REIS NASCIMENTO, JOVITO FERNANDES DE SOUZA, AGAPINTO FERNANDES DE SOUZA, ALBERTINO MOURA DA SILVA, PEDRO DE LIMA SILVA, MARIA JUDITE FERREIRA DE SOUZA, AGENARO FERNANDES DE SOUZA, ERALDO FER- NANDES DE SOUZA, VANILSON FERREIRA ROCHA, ELIANE FERREIRA SANTOS, JANEIS FERNANDES DE SOUZA, ANA MARIA BARBOSA DE JESUS e VANETE APARECIDA FERNANDES SOUZA RIBEIRO, também

integrantes da associação requerida, que se encontravam no local onde cumprida a ordem de citação.

Em audiência de justificação, os requeridos então presentes identificaram-se como membros da associação quilom-

bola e, expressamente, ressalvaram que os demais litisconsortes são componentes da LIGA DOS CAMPONESES POBRES DO NORTE DE MINAS, havendo mesmo seu patrono ressaltado não deter poderes de representação destes.

As certidões de f. 144-154 corroboram a alegação da existência, no imóvel, de dois grupos de ocupantes. De fato, delas consta que VALDETE FERNANDES DE SOUZA, TIAGO PEREIRA DA SILVA (nome verdadeiro JOSÉ OSMAR GONÇALVES DA SILVA), MANOEL LOPES DOS REIS, JAKSON OLIVEIRA (nome verdadeiro EVANIRO BATISTA CELESTINO), JOAQUIM PEREIRA DA CUNHA e JOÃO DA LIMEIRA SILVA “não faz[em] parte da ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE BREJO DOS CRIOULOS”.

No mesmo sentido, excerto do laudo de fiscalização do Incra:

“Por ocasião da fiscalização, a propriedade estava ocupada por 2 (dois) grupos distintos de trabalha- dores rurais sem-terra, sendo um deles constituído por famílias de quilombolas e o outro por de não quilombolas, vinculadas à Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas” (f. 301).

Na inicial, encabeça o polo passivo a ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE BREJO DOS CRIOULOS, seguida de diversos requeridos ali nominados, sem menção à LIGA DOS CAMPONESES POBRES DO NORTE DE MINAS nem distinção a que movimento social pertença cada qual. Ali tampouco se delimita, especificando, a área eventual- mente ocupada por um e por outro grupo, nem se individualiza a conduta espoliativa imputada a cada qual.

Da narração dos fatos na inicial, extrai-se, pois, que o requerente trata indistintamente, como gênero, as diferen-

tes espécies de movimentos sociais em luta pela posse da terra, no caso, descendentes de quilombolas e sem-terra. E

é razoável que assim seja porque, sob a ótica daquele que sofreu esbulho, são irrelevantes as motivações de fundo que inspiram os agentes da invasão. O foco de seu interesse é único: reaver a posse de quem quer que a tenha esbulhado. Sob a mesma lógica, a perda parcial da posse também é sentida como perda da posse sobre a integralidade do

imóvel, motivo por que a pretensão deduzida em juízo é de reintegração do imóvel rural como um todo.

Demais disso, dada a natureza multitudinária dos movimentos sociais, há, em ambos os grupos, requeridos in-

certos ou desconhecidos, citados por edital, inviabilizando, nos planos fático e processual, a identificação de cada

um dos requeridos e a individuação das condutas.

Na casuística, porém, essa lógica de sentir e narrar os fatos redunda grave ao requerente, pois necessariamente se refletirá na análise dos fundamentos do pedido liminar. É dizer: o exame dos pressupostos da concessão liminar far-se-á quanto às circunstâncias da perda da posse em decorrência de ato violador uno ou, quando muito, de atos

praticados em continuidade delitiva, mas sempre a partir de um esbulho original.

Assim, muito embora alguns dos requeridos admitam como verdadeiro o fato da ocupação em 28.8.2005 (f. 141), e, no mesmo sentido, o boletim de ocorrência lavrado pela PMMG em 30.8.2005 (f. 58-59), resta inequívoco que tais provas referem-se à ocupação perpetrada exclusivamente por parte dos requeridos (descendentes de quilombolas).

A tal propósito, consta da ata de audiência, textualmente (f. 163-166):

“Os ocupantes são membros da associação ré e que tiveram notícia de que a Fazenda Bonanza faz parte de um território em que estudos antropológicos e documentais afirmam ser área remanescente de antigos qui- lombos e ocupantes descendentes dos quilombolas; que a área fora ocupada anteriormente por outro grupo de pessoas integrantes da Liga Operária e Camponesa do Norte de Minas e que a ocupação pelos requeridos visa impedir que o resultado de negociação existente entre os autores e o Incra proporcione

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a aquisição da terra por este órgão federal e sua destinação a outros” (...). Por outro lado, segundo o douto advogado dos requeridos, as pessoas relacionadas na inicial e abaixo nominadas não são membros da Associação dos Moradores do Brejo dos Crioulos, mas da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas: Tiago Pereira da Silva, Manoel Lopes dos Reis, Jakson de Oliveira, Joaquim Pereira da Cunha, João da Limeira Silva. (...) O doutor procurador dos requeridos requereu que fossem intimados aqueles citados e que não estão presentes e nem representados por ele sobre a decisão desta audiência” (grifo nosso).

Do mesmo modo, a autoridade policial reporta, em 30.8.2005, tão somente atos praticados pelo subconjunto

quilombola dos requeridos:

“Comparecemos ao endereço mencionado, Fazenda Bonanza, de propriedade do Sr. Dilson Júnior de Quadros Godinho, onde, em data de 28 de agosto do ano em curso, por volta das 2 horas, segundo o solicitando, pessoas adentraram na fazenda e invadiram-na, dizendo que não iam sair, pois as terras lhe pertencem, pois os mesmos são do movimento quilombolas (quilombos). Ao chegarmos no local, tal fato ficou constatado” (f. 58-59).

Um segundo boletim de ocorrência juntado aos autos pelo requerente relata uma ocupação concomitante, pe- los dois movimentos sociais, supostamente dada em 2005. Na valoração racional das provas, porém, atribui-se-lhe

menor força, ante a unilateralidade da elaboração e contrariedade ao conjunto probatório. Cuida-se, com efeito, de

tão só transcrição de depoimento de empregado do requerente, e não de registro das circunstâncias efetivamente

verificadas no lugar dos fatos pela autoridade policial (f. 94-96).

A seu turno, o laudo de f. 263-303 nos dá conta de que o requerente teve a sua posse pioneiramente esbulhada pelos requeridos integrantes da LIGA DOS CAMPONESES POBRES DO NORTE DE MINAS em 9.7.2004, há mais

de ano e dia, pois, da distribuição da ação (11.10.2005 – f. 79):

“O imóvel foi primeiramente ocupado pelos não quilombolas, em 9.7.04. O grupo, composto por 30 (trinta) famílias, está acampado às margens do córrego São Vicente, nas proximidades da divisa com o imóvel de Raul e Vito Ardito Lerário. Mesmo sabendo que a Fazenda Bonanza está inserida em território quilombola a ser regularizado, esses acampados reivindicam a instalação de um projeto de assentamento no imóvel.

Em 28.8.05, o imóvel foi ocupado pelos quilombolas. Cerca de 40 (quarenta) famílias estão acam- padas defronte ao pátio da casa-sede nova. Segundo elas, a ocupação foi motivada pela falta de terras próprias para o plantio de culturas anuais de subsistência” (grifo nosso – f. 301-302).

No caso, a anterioridade da perda da posse decorrente da ação dos requeridos integrantes da LIGA DOS CAM-

PONESES POBRES DO NORTE DE MINAS (ou ao menos a incerteza quanto à data do primeiro esbulho) elide a qualidade de “força nova” da presente ação, independentemente da posterior ocorrência de atos similares, pratica-

dos simplesmente em continuidade ou adesão ao esbulho primitivo.

Ora, o procedimento que autoriza a eventual concessão de mandado liminar em sede de ações possessórias condiciona-se ao ajuizamento da respectiva demanda há menos de ano e dia da ocorrência do esbulho ou da turbação da posse (art. 924, do CPC), pressuposto indesviável da concessão liminar, no caso, ausente.

À míngua, pois, de indícios suficientes a comprovar os respectivos pressupostos, INDEFIRO O PEDIDO

DE CONCESSÃO LIMINAR DA ORDEM DE REINTEGRAÇÃO do requerente na posse do imóvel rural FA- ZENDA BONANZA.

Proceda-se à inclusão, no polo passivo, de MARLEY FERNANDES DE SOUZA, CLEIDSON FERREIRA DA

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