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requerente: votorantim metais Zinco S.A reqdos: Wellington costa Ezequiel e outros

imóvel: Fazenda riacho

i - rElAtÓrio

VISTOS, ETC.

Cuida-se de AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE aforada por VOTORANTIM METAIS ZINCO S.A. contra

WELLINGTON COSTA EZEQUIEL, identificado como líder de movimento social vinculado à Confederação Na-

cional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, e “demais invasores” (sic). Diz-se a requerente proprietária e

possuidora do imóvel rural Fazenda Riacho, em Paracatu/MG, com área de 17.310,58,41 ha, de cuja posse teria

sido esbulhada pelos requeridos em 24.9.2005. Destaca que o imóvel é produtivo, onde exerce atividade agropecu-

ária, com plantio de arroz e soja e criação de gado bovino, e desenvolve projeto de reflorestamento. Acrescenta que

ali mantém uma vila residencial, escola, quadra de esportes, ambulatório médico e outras benfeitorias e instalações para o bem-estar dos empregados. Pede, desde a concessão liminar, a ordem de reintegração (f. 02-12). Junta

documentos (f. 13-111).

Citação e comparecimento ao processo de OFERTINA CÉLIA DE SOUZA BOTELHO e 34 (trinta e quatro) ocupantes (f. 136 e 143-147).

Visita em 16.12.2005 (f. 141-142) e audiência em 17.12.2005, sem conciliação (f. 143-147).

A requerente junta documentos (f. 150-153), vistos pelos requeridos (f. 155-156) e pelo M.P. (f. 157). O DNIT informa a largura da faixa de domínio da BR-040, lindeira à área ocupada (f. 160).

O M.P. é pelo deferimento liminar da ordem (f. 168-170).

Concessão liminar da ordem (f. 171-181), cumprida (f. 313).

A requerente junta documentos (f. 197-277), vistos pelos requeridos (f. 281v).

Contestação (f. 282-289) com argüição, em preliminar, de inépcia da inicial, por ausência de qualificação

da parte requerida. No mérito, negam o esbulho e a prova de posse e de cumprimento de sua função social pela requerente.

Impugnação (f. 290-291).

A requerente pede o julgamento antecipado da lide (f. 316-317); os requeridos não especificam provas. O M.P. é pela procedência do pedido (f. 326-330).

É o relatório.

ii – FuNDAmENtAção

* (...) *

3 – o cASo NA ESpEciAliDADE

Estabelecidas as premissas a cuja luz decidir-se-á a lide e desnecessária a produção de prova em audiência (art.

330, I do C.P.C.), passamos aos termos do caso na especialidade. 1 – Não prospera a preliminar de inépcia argüida pelos requeridos.

A ausência de qualificação de cada integrante do grupo invasor não torna inepta a inicial, a que não faltam causa

de pedir, pedido juridicamente possível e decorrente logicamente da narração dos fatos (art. 295, parágrafo único do C.P.C.).

Com efeito, existe pedido de recuperação da posse, fundado na alegação de perda em razão de esbulho prati- cado pelos requeridos; a conclusão, contemplada pelo ordenamento jurídico (art. 926 do C.P.C.), é, pois, consec-

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A inicial restou despachada sem desafiar emenda. Em se tratando de conflito coletivo, não se exige da parte re- querente a qualificação exaustiva de cada um dos agentes da suposta ofensa à posse, sob pena de inviabilizar-se a própria atividade jurisdicional, mesmo porque, ensina-nos a experiência, com freqüência os próprios requeridos

recusam-se a se identificar quando da citação pessoal.

Demais disso, revela-se descabida tal argüição em sede de contestação. Consta que os ocupantes que se encontravam no imóvel foram citados (f. 136), tanto assim que compareceram à audiência (f. 143-147) e con-

testaram (f. 282-289).

Ora, a nulidade porventura decorrente da ausência de qualificação convalida-se no momento mesmo em que a

parte oferece defesa, elidindo eventual prejuízo que a omissão ensejasse.

De outra sorte, a preliminar, tal como posta, revela mais um oportunismo processual à evidência mesmo do quanto já se tem construído em sede de um “direito processual coletivo (e agrário)” pela jurisprudência.

2 – A questão acerca do efetivo domínio e posse da requerente sobre a área invadida, que poderia pertencer ao

DNIT, restou dirimida pelo croqui de f. 152 e pela manifestação do próprio DNIT (f. 160).

3 – O esbulho, a par de relatado pela autoridade policial no boletim de ocorrência (f. 39-40), foi confessado

pelos requeridos em audiência:

“os ocupantes informaram que estão nesta área desde a data de 24.09.2005, uma vez que foram desalojados da fazenda que ocupavam há um ano e cinco meses, por força de uma liminar do Tribunal de Justiça; que referida fazenda está em processo de vistoria e de parecer para decreto de desapropriação por parte do INCRA” (f. 143-144).

4 – No tocante ao aproveitamento racional e adequado da propriedade, acompanham a inicial notas fiscais de produtor rural, hábeis a comprovar intensa atividade agropecuária no imóvel, com plantação de manga, milho,

abóbora, soja e arroz (f. 86-94, 96, 103-104, 107-112) e criação de gado bovino (f. 95, 97, 101, 102, 105, 106). As fichas de controle sanitário registram o efetivo pecuário de 947 cabeças de gado, ao tempo do ajuizamento da presente ação (f. 243-244). Do tão-só montante de tributos recolhidos em razão das atividades ali desenvolvidas infere-se a grande produtividade do imóvel. No período de janeiro de 2004 a agosto de 2005 foram recolhidos aos cofres públicos R$ 2.574.160,81 em impostos e contribuições sociais (f. 35).

Além, a matéria não foi eficientemente apreciada em contraprova pelos requeridos a sobreviver ao contraditório. Resta suficientemente demonstrado, pois, o exercício de atividade econômica no imóvel.

5 – Há nos autos prova da utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.

Com efeito, consta do laudo firmado por engenheiro florestal que “o imóvel possui uma área de 3.285,4 ha de reser- va legal, averbada (...) sob o no AV-12.17873, de 26.12.2002, no Cartório de Registro de Imóveis de Paracatu” (f. 33-38). Encontra-se atendida, pois, disposição da legislação ambiental (art. 16, §2o da Lei no 4.771/65).

Também evidenciam a utilização adequada dos recursos naturais os certificados de outorga de uso de águas

públicas estaduais, referentes a cursos d’água que integram a Bacia do Rio Paracatu, expedidos em favor da reque-

rente pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (f. 266-269). A exploração florestal no imóvel é precedida de

autorização pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), obrigando-se a requerente a respeitar as áreas de reserva legal

e as essências florestais nativas não-cultivadas (f. 270-277).

O laudo de f. 33-38 registra ainda a existência de 2.111.3 ha de área de preservação permanente, em conformi- dade com a legislação específica (art. 2o da Lei 4.771/65).

A prova documental sinaliza, pois, o bastante cumprimento da dimensão ambiental da função social, além do que a matéria não foi eficientemente apreciada em contraprova pelos requeridos a sobreviver ao contraditório.

6 – A par de racional e adequada, a exploração econômica também se mostra favorecedora da saúde, educação

e lazer dos proprietários, empregados, vizinhos, sem indícios de que ali se exerçam atividades periculosas, penosas ou insalubres, em risco à integridade física e psíquica de quantos circulem naquele microcosmo social. Tampouco há provas de que a posse exercida pelos requerentes gere conflitos e tensões sociais no imóvel.

De tudo, pelo contrário, extrai-se das certidões (f. 18-32) e fotografias (f. 67-69, 71 e 73-77) que acompanham a inicial que o imóvel é dotado de clube recreativo, armazém, grupo escolar, pátio para recreação, praça de espor-

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posto de saúde, rede de energia elétrica, sistema de telefonia e outros equipamentos, capazes de atender às necessidades básicas dos trabalhadores.

Além, a matéria não foi eficientemente apreciada em contraprova pelos requeridos a sobreviver ao contraditório.

7 – O valor social do trabalho, fundamento da República Federativa do Brasil e, de modo específico, da ordem

econômica (art. 1o, V e art. 170 da C.R.F.B./88), repercute na função social da propriedade, razão por que, no cum-

primento, hão de se observar as disposições de regência das relações de trabalho (art. 186, III da C.R.F.B./88). No caso concreto, há nos autos documentação idônea a demonstrar o atendimento da legislação trabalhista, consistente em comprovantes de recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e de contribuição para a Previdência Social, em benefício de mais de 300 (trezentos) trabalhadores (f. 198-206).

Demais disso, a valoração do trabalho há de privilegiar não apenas a observância de direitos trabalhistas em senti- do estrito (direitos do trabalho), mas também e principalmente o direito ao trabalho, assim entendida a oportuni- dade de emprego remunerado e, por corolário, de ascensão social, existência digna e redução de desigualdades. Sob esse aspecto, cumprirá a função social a posse que se exerça não mais individualmente, mas coletivamente, de modo compartilhado com aqueles que carecem de trabalho.

Na casuística, destaca-se do já mencionado laudo técnico que, contemporaneamente ao ajuizamento da ação, a empresa contava com 345 (trezentos e quarenta e cinco) empregados próprios e 69 (sessenta e nove) terceirizados. Além, o empreendimento gera diversos empregos indiretos, notadamente na área de operação de maquinário agrí- cola e transporte da produção (f. 33-38).

Aqui como aquém, a matéria não foi eficientemente apreciada em contraprova pelos requeridos a sobreviver ao

contraditório.

iii – DiSpoSitivo

POSTO ISSO, e considerando o mais quanto dos autos consta, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO AVIADO NA INICIAL POR VOTORANTIM METAIS ZINCO S.A. contra WELLINGTON COSTA EZEQUIEL, OFERTINA CÉLIA DE SOUZA BOTELHO, ANTÕNIO CAIXETA DE ARAÚJO, FRANCISCO GONÇALVES CARNEIRO, EUS- TÁQUIO PEREIRA CAIXETA, ADELÁDIO PEREIRA SILVA, PAULO ROBERTO CAIXETA, JOSÉ EUSTÁQUIO EZEQUIEL, ALCIR CORREIA GUIMARÃES, JURANDI BARBOSA LIMA, MOACIR SILVA BARBOSA, RUTH GONZAGA SANTOS OLIVEIRA, HILDA JOAQUIM DE ASSIS, ACINA RODRIGUES BARBOSA, GERALDO DO- MINGOS SILVA, MARIA BENEDITA BRAGA MELO, LÍDIA LIMA SOARES CHAVES, MÁRCIO SEVERINO BO- TELHO, HÉLIO GONÇALVES CABECEIRA, VANILDA GONÇALVES DA SILVA, ZACARIAS MARQUES NETO, MARIA BENEDITA GOMES DA CRUZ, ALDÁVIO RAMOS OLIVEIRA, EDSON JOSÉ OLIVEIRA, JANAÍNA DE JESUS LOPES, VALDERINO GOMES DE SOUZA, JOSÉ MELCHIOR OLIVEIRA MELO, VONES MONTEIRO DOS SANTOS, JONAS DA SILVA SOARES, JORGE ANTONIO DA SILVA, PATRÍCIA SANTOS FABIANE, JAQUE- LINE SANTOS CUNHA, JOSÉ MARIA ALVES VIANA, MARIZA JOSÉ DE OLIVEIRA, DOMINGOS LOPES DOS SANTOS e SEBASTIÃO MOREIRA MENDANHA, TORNANDO DEFINITIVA A LIMINAR CONCEDIDA.

Condeno os requeridos nas custas processuais, além de suportar honorários de R$1.000,00 (um mil reais) devi-

dos ao Advogado da requerente, tendo em conta, por um lado, o comprido tempo do serviço, a relevância da causa, que trata de um sério conflito social de proporção considerável, e o empenho demonstrado no trabalho do profis-

sional e, por outro, a relativa simplicidade da instrução do feito, limitada à prova documental (art. 20, §§ 4O e 3O do

C.P.C.), ficando suspensa a exigibilidade, em razão do benefício da assistência judiciária gratuita, ora deferida. Transitada em julgado, arquivar, com baixa.

P.R.I.C..

Belo Horizonte, 31 de agosto de 2007. (Publicação Minas Gerais, 5.9.2007) Osvaldo Oliveira Araújo Firmo

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