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A Ordem dos Decretos Eletivos

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E TODOS os DECRETOS DE DEUS, que atingem as coisas da infinidade, cinco deles estão diretamente relacionados com o propósito de Deus na eleição, assim como pertencem àqueles que abrangem a Igreja, o Corpo de Cristo. O problema que se apresenta à mente dos homens devotos e ponderados, é com respeito à ordem que estes cinco decretos estão colocados na mente de Deus. A ordem, por ser lógica antes que cronológica, é algo especulativo e, todavia, grandes coisas estão envolvidas. Pelo termo lógica quero dizer que, embora o programa total seja como apenas u m pensamento na mente de Deus, o princípio de causa e efeito está evidentemente envolvido. Isto é, uma questão pode preparar o caminho para outra e assim se tornar a causa da outra. Esses decretos específicos estão listados abaixo, mas sem levar em conta a esta altura a ordem correta mantida entre eles.

(1) O decreto de eleger alguns para a salvação e deixar outros entregues à justa condenação deles.

(2) O decreto de criar todos os homens. (3) O decreto de permitir a queda.

(4) O decreto de providenciar salvação para os homens. (5) O decreto de aplicar a salvação aos homens.

Quatro escolas de interpretação são reconhecidas, cada uma em defesa de uma ordem específica na ordenação desses decretos eletivos. Estas escolas são: a supralapsariana, a infralapsariana, a sublapsariana e a arminiana; as primeiras três classificadas são calvinistas. Embora a defesa dessas ordens variadas diga respeito principalmente a um assunto - a eleição de alguns para serem salvos e a de deixar outros à sua justa condenação — os títulos pelos quais três dessas escolas são identificadas as relaciona à queda do homem. A palavra lapsariano se refere àquele que crê na doutrina de que o homem é um ser caído. Desta linha particular de investigação, o Dr. Charles Hodge escreve estas palavras explicativas: "E preciso ter em mente que o objetivo dessas especulações não é intrometer-se na operação da mente divina, mas simplesmente certificar-se e exibir a relação que as várias verdades reveladas na Escritura concernentes ao plano da redenção mantêm entre si".51 Uma consideração mais detalhada de

I. A Ordem Apresentada pelos Supralapsarianos

Este grupo é algumas vezes chamado de hipercalvinistas ou ultracalvinistas. A questão principal na ordem proposta por essa escola de intérpretes é que o decreto de eleger alguns e o de reprovar todos os outros permanece em primeiro lugar na ordem dos decretos, e por essa disposição Deus é declarado como aquele que elegeu homens para o destino deles antes de eles mesmos terem sido criados e antes da queda. Na realidade, por este sistema, os homens estão destinados à perdição antes de eles pecarem e sem uma causa, exceto a vontade soberana de Deus. É verdade que Deus, como a Primeira Causa, efetuou a existência dos homens ciente que os reprovaria, mas essa responsabilidade, como a da presença do pecado no mundo, nunca é contada como vinda da criatura de volta para Deus. Anteriormente a essa discussão imediata, foi concluído que a eleição divina precede a determinação de providenciar u m Salvador. A presente questão é com respeito à ordem que se tem entre o decreto de eleger e o de permitir a queda.

A ordem defendida pelos supralapsarianos é:

(1) Decretar a eleição de alguns para serem salvos e reprovar todos os outros. (2) Decretar a criação dos homens, eleitos e não-eleitos.

(3) Decretar a permissão da queda.

(4) Decretar a providência da salvação para os eleitos. (5) Decretar a aplicação da salvação aos eleitos.

Sobre essa ideia sustentada pelos supralapsarianos, o Dr. W m . G. T. Shedd observa:

A teoria supralapsariana coloca, na ordem dos decretos, o decreto da eleição e da preterição antes da queda, ao invés de colocar após a queda. Ela supõe que Deus começa decretando que certo número de homens seja eleito, e outro reprovado. Esse decreto é antenor mesmo ao da criação, na ordem lógica... As objeções a essa posição são as seguintes: (a) O decreto da eleição e da preterição tem referência a coisas não existentes. O homem é contemplado como criável, não como criado. Consequentemente, o decreto da eleição e da preterição não tem um objeto real... O homem é somente idealmente existente, uma concepção abstrata; e, portanto, qualquer determinação divina a respeito dele, é determinação concernente a algo que não existe nem na ideia. Mas o decreto de Deus da eleição e reprovação supõe ser realmente cnado, em que possa selecionar ou rejeitar. "Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece" (Rm 9.18). O primeiro decreto, na ordem da natureza, deve, portanto, ser o decreto de criar. Deus deve pnmeiro trazer o homem à existência, antes de ele poder decidir o que o homem fará ou experimentará. Não há uma réplica a fazer, que o homem é cnado na ideia divina, embora não na realidade, quando o decreto da predestinação foi feito. E igualmente verdadeiro que ele é caído na ideia divina, quando esse decreto é feito. E a pergunta é: Qual é a ordem lógica, na ideia divina, da criação e da queda? (b) As Escrituras apresentam o eleito e o não-eleito, respectivamente, como retirados da

A O R D E M APRESENTADA PELOS INFRALAPSARIANOS

agregação já existente de seres 0o 15.19: "...eu vos escolhi a vós do mundo"). (c) Gs eleitos são escolhidos para a justificação e a santificação (Ef 1.4-6; 1 Pe 1.2). Portanto, eles devem já ter sido caídos, e, consequentemente, criados. Deus justifica "o ímpio" (Rm 4.5) e santifica o impuro, (d) A reprovação supralapsariana é um ato divino que não pode pressupor pecado, porque ela não pressupõe existência. Mas as Escrituras apresentam os não- eleitos como criaturas pecaminosas. Em Judas 4, os que "desde há muito estavam destinados para esse juízo" são "homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus". Adequadamente, a Confissão de Fé

de Westminster afirma (em III. 7) que Deus passa por cima dos não-eleitos, e

"os ordena para a desonra e ira, por seus pecados, para o louvor de sua justiça gloriosa". O supralapsariano cita Romanos 9.11, como prova de sua asserção de que a eleição e a preterição são anteriores à criação do homem:".. .pois não tendo os gémeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama". Jacó foi escolhido e Esaú foi deixado de lado. Esta é uma interpretação errónea. O nascimento não é sinónimo de criação. Os pais não são os criadores de seus filhos. O homem existe antes dele ser nascido no mundo. Ele existe no ventre; e ele existia em Adão.32

II. A Ordem Apresentada pelos Infralapsarianos

De acordo com esta escola — propriamente chamada de calvinistas moderados

- a questão distintiva é a de que o decreto de eleger alguns e deixar outros na

retribuição, segue a queda, e a ordem que eles defendem é a seguinte: (1) Decretar a criação de todos os homens

(2) Decretar a permissão da queda.

(3) Decretar a providência da salvação para os homens.

(4) Decretar a eleição daqueles que vão crer e deixar na justa condenação todos os que não crêem

(5) Decretar a aplicação da salvação àqueles que crêem.

O Dr. Charles Hodge, entre muitos, é u m que não faz distinção alguma entre as visões mfralapsanana e sublapsariana, por não mencionar esta última. O que ele escreve, entretanto, combina estes dois.pensamentos em alguma medida. Dos infralapsarianos, ele diz:

Esta teoria é coerente e harmoniosa. Como todos os decretos de Deus constituem u m propósito inclusivo, não se pode admitir u m ponto de vista da relação dos detalhes que abraçam esse propósito que não possa ser reduzido a uma unidade. Em todo grande mecanismo, seja qual for a quantidade ou complexidade das partes que o constituem, é preciso haver unidade de desígnio. Cada parte tem uma relação determinada com as outras, e faz-se necessária a percepção dessa relação para a compreensão adequada do

todo. Além disso, como os decretos de Deus são eternos e imutáveis, nenhum conceito sobre o seu plano de ação, o qual suponha que primeiramente ele propôs uma coisa e em seguida outra, pode ser coerente com a natureza desses decretos. E como Deus é absolutamente soberano e independente, todos os seus propósitos hão de ser determinados de dentro, ou conforme o conselho de sua própria vontade. Não se pode presumir que eles sejam contingentes ou suspensos com base na ação de suas criaturas, nem com base em coisa alguma externa a ele mesmo. O esquema ínfralapsariano, tal como o mantém a maioria dos agostinianos, cumpre todas as condições. Todos os particulares constituem um todo inclusivo. Todos seguem uma ordem que não pressupõe uma mudança de propósito. Todos dependem da vontade infinitamente sábia, santa e justa de Deus. E para este fim que Ele cria o mundo, que permite a queda; dentre todos os homens, Ele elege alguns para a vida eterna e deixa o restante entregue ajusta retribuição que merecem os seus pecados. Aos que elege, Ele os chama, justifica e glorifica. Esta é a cadeia de ouro cujos elos não podem ser quebrados nem transpostos. Esta é a forma na qual o esquema da redenção aparecia na mente do apóstolo, tal como ele nos ensina em Romanos 8.29, 30. *3

III. A Ordem Apresentada pelos Sublapsarianos

Este arranjo, sustentado por um grupo que também é chamado de calvinistas

moderados, difere apenas ligeiramente da ordem proposta pelos infralapsarianos.

Tecnicamente, os infralapsarianos colocam a eleição após o decreto de providenciar salvação, embora o Dr. Hodge, citado acima, não reconheça esse aspecto, quando lista a ordem dos decretos proposta pelos infralapsarianos. Os sublapsarianos são identificados por colocar o decreto da eleição depois do decreto da permissão da queda. Em geral, a ordem sublapsariana é uma refutação da ordem supralapsariana. A posição teológica do Dr. Hodge coloca-o mais próximo dessa escola. A distinção entre o ínfralapsariano e o sublapsariano é que a escola infralapsariana coloca o decreto da providência da salvação antes do decreto da eleição, enquanto que a sublapsariana coloca o decreto da eleição antes do decreto da providência da salvação. A ordem infralapsariana, que coloca o decreto da providência da salvação antes do decreto da eleição, permite possivelmente a argumentação de que Cristo operou uma redenção ilimitada, enquanto que a ordem sublapsanana, que coloca o decreto da eleição antes do decreto da providência da salvação, favorece a teoria de uma redenção limitada. A ordem prescrita pelos sublapsarianos é:

(1) Decretar a criação de todos os homens (2) Decretar a permissão da queda

(3) Decretar a eleição daqueles que crêem e deixar na justa condenação aqueles que não crêem

(4) Decretar a providência da salvação para os homens (5) Decretar a aplicação da salvação àqueles que crêem.

CONCLUSÃO

IV. A Ordem Apresentada pelos Arminianos

Aqui, a ordem é idêntica à apresentada pela visão infralapsariana, com uma única exceção: A visão arminiana da eleição, que eles fazem seguir o decreto da providência da salvação, é dependente das virtudes humanas previstas, a fé e a obediência, enquanto que a visão infralapsariana da eleição é investida da escolha soberana à parte de qualquer mérito previsto da parte do homem.

Ao refutar a ideia arminiana da eleição, o Dr. Shedd expõe a posição de Richard Watson - o principal dos teólogos arminianos - da seguinte maneira:

A respeito da eleição, Watson (Institutes, II. 338) observa o seguinte: "Ser eleito é ser separado do mundo ('Eu vos escolhi do mundo'), e ser santificado pelo Espírito ('eleitos para a obediência'). Segue-se, então, que a eleição não é somente u m ato de Deus no tempo, mas também que ele é subsequente à administração dos meios de salvação. A real eleição não p o d e ser eterna, porque desde a eternidade os eleitos não foram realmente escolhidos do mundo, e não poderiam ser realmente santificados para a obediência". Esta explicação faz a eleição ser a santificação em si mesma, ao invés de ser a causa dela. "Ser eleito, é ser separado do mundo, e ser santificado." O termo "separado" é usado aqui por Watson não como o apóstolo Paulo o usa, para denotar eleição, quando ele diz que "Deus desde o ventre de minha mãe me separou" (Gl 1.15); mas no sentido de santificação, quando o mesmo apóstolo o emprega em 2 Coríntios 6.17: "Separai-vos, diz o Senhor; e não toqueis coisa imunda". Por esta interpretação, a eleição é feita para ser a mesma coisa que santificação, ao invés de ser u m ato de Deus que a produz; como é ensinado em Efésios 1.4: "...nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis", e em 1 Pedro 1.2: "eleitos para a obediência".54

Conclusão

Será observado, do que veio antes que as diferenças apresentadas nessas várias ordens dos decretos, embora possam parecer altamente especulativas para alguns, que elas apresentam uma doutrina vital em seu fundamento. As três escolas calvinistas argumentam igualmente que a eleição divma é a escolha soberana de Deus que expressa a sua graça à parte de qualquer forma de obras humanas previstas ou reais; e que a escola arminiana, por tornar a eleição não mais do que o conhecimento antecipado do mérito humano, assevera que, no final, o h o m e m se elege a si mesmo por sua fé e obediência. As escolas calvinistas são o resultado de uma indução fiel da Palavra de Deus relacionada com os decretos eletivos, enquanto que a escola arminiana é uma intrusão da razão humana.