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Será Deus Derrotado, se os Homens por quem Cristo Morreu Forem Condenados?

Por quem Cristo Morreu?

VII. Será Deus Derrotado, se os Homens por quem Cristo Morreu Forem Condenados?

De volta a esta fase deste assunto, está a convicção frequentemente expressa pelos defensores .da redenção limitada: Se Cristo morreu por aqueles que nunca serão salvos, Deus experimentará uma derrota. Naturalmente, deve ser admitido que se a obra consumada é uma garantia de salvação para aqueles por quem Cristo morreu, há então uma derrota muito evidente, se alguém falha em ser salvo. Mas está meramente suposto que a redenção é uma garantia de salvação. Cristo se torna a certeza da salvação quando alguém crê. A morte de Cristo é uma transação consumada, o valor da qual Deus nem sempre tem aplicado a qualquer alma, até que esta passe da morte para a vida. Ela é real em sua disponibilidade, mas potencial em sua aplicação. Afirmar que o valor da morte de Cristo é suspenso até a hora da regeneração, não é insinuar que o seu valor seja algo menos do que o seria se fosse aplicado em outra hora.

Há razões que estão baseadas nas Escrituras por que Deus poderia providenciar uma redenção para todos, quando Ele meramente propôs salvar

alguns. Ele é justificado em colocar o mundo todo numa relação particular

consigo mesmo, para que o Evangelho pudesse ser pregado com toda sinceridade a todos os homens, e que, do lado humano, os homens pudessem ficar sem desculpa, por serem julgados, como realmente são, por sua rejeição daquilo que lhes foi oferecido. Os homens dessa dispensação são condenados por sua incredulidade. Isto está expressamente declarado em João 3.18 e implícito em João 16.7-11, e cujo último contexto o Espírito é visto em sua obra de convencer o mundo de apenas um pecado, a saber, que "eles não crêem em mim". Mas rejeitar Cristo e sua redenção, como todo incrédulo faz, é equivalente à exigência de sua parte que a grande transação do Calvário venha a ser reversa e que o seu pecado, que foi colocado sobre Cristo, venha a ser retido por ele próprio com todo o seu poder de condenar.

Não é asseverado aqui que o pecado é assim sempre retido pelo pecador. Está afirmado, contudo, que, visto que Deus não aplica o valor da morte de Cristo ao pecador até que o pecador seja salvo, Deus ficaria moralmente livre para manter o pecador que rejeita Cristo, como responsável pelos seus pecados, e a este fardo imensurável seria acrescentada toda a condenação que segue o pecado da incredulidade. Neste contexto, a referência é feita pelos defensores da redenção limitada às três passagens onde é argumentado que os homens impenitentes morrem com seus pecados sobre si e, portanto, é asseverado, Cristo não poderia ter levado os seus pecados. Estas passagens são:

João 8.24: "Se não crerdes quem eu sou, morrereis em vossos pecados". Esta

é uma afirmação clara que exige pouca exposição. E o caso de crer em Cristo ou de morrer na condenação do pecado. Não é somente ao único pecado de incredulidade, mas "vossos pecados" aos quais Cristo se refere. Há oportunidade para algum reconhecimento do fato de que Cristo falou essas palavras antes de sua morte e, que também requer que eles creiam que Ele é o EU SOU -Jeová. Estes fatos são de importância em qualquer consideração específica deste texto; mas pode ser dito o suficiente, se é assinalado que a questão é u m problema para u m lado desta discussão quanto para outro.

Se é alegado pelos defensores da redenção limitada que essas pessoas a quem Cristo falou morreriam em seus pecados, porque elas eram não-eleitas, e, portanto, seus pecados não foram levados por Cristo, poderia ser respondido: (1) que a condição indicada por Cristo sobre a qual eles poderiam evitar morrer em seus pecados não é baseada no fato de Ele não morrer por eles, mas, antes, no fato da crença deles nele, e (2) fosse verdadeiro que eles morrem em seus pecados por causa de sua posição como não-eleitos por quem Cristo não morreu, seria igualmente verdadeiro que aqueles dentre eles que eram dos eleitos (cf. v. 30) e cujos pecados foram colocados sobre Cristo, não teriam necessidade de ser salvos de u m estado de perdição.

Em outras palavras, essa importante passagem ensina que o valor da morte de Cristo, tão maravilhosa e completa como ela é, não é aplicada ao

SERÁ DEUS DERROTADO, SE OS HOMENS POR QUEM CRISTO MORREU FOREM CONDENADOS?

não-regenerado até que ele creia. E a chamada eficaz do Espírito que indica o eleito de Deus e não alguma discriminação parcial, não-identificada, e suposta, operada na morte de Cristo.

Efésios 5.6: "Porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos

da desobediência". A designação filhos da desobediência não se refere a uma desobediência pessoal de qualquer indivíduo nesta categoria, mas antes ao fato de que todas as pessoas não-regeneradas são desobedientes no cabeça natural, Adão. Isto inclui os eleitos e não-eleitos em seu estado de não-salvos; mas deveria ser observado que aqueles eleitos salvos a quem o apóstolo se refere, eram, até que foram salvos, não somente filhos da desobediência, mas estavam debaixo do poder energizante de Satanás, pois se encontravam no estado de morte espiritual (Ef 2.1, 2). Assim, além disso, está provado que o valor da morte de Cristo é aplicado aos eleitos, não na cruz, mas q u a n d o eles crêem.

Apocalipse 20.12: "...e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam

escritas nos livros, segundo as suas obras". Esta cena está relacionada ao grande trono branco de julgamento de todos os não-renegerados de todas as épocas, e deveria ser observado que, em outras gerações, os homens eram colocados mais sobre o pacto das obras do que estão agora. A soma total do pecado na presente época é a incredulidade (Jo 16.9), assim como a soma total da responsabilidade para com Deus em assegurar u m relacionamento correto com Deus, é a/é (Jo 6.29). E muito possível que aqueles desse vasto grupo que foram dessa dispensação podem ser julgados pelo único pecado abrangente da incredulidade, enquanto que aqueles das outras épocas p o d e m ser julgados pelos muitos e específicos pecados; mas das provas antecedentes fica evidente que não é de m o d o algum não-escriturístico reconhecer que os impenitentes desta era são julgados de acordo com os seus próprios pecados específicos, visto que o valor da morte de Cristo não é aplicado a eles ou aceito por eles até que creiam, e todos esses, evidentemente, nunca creram.

Até esta altura, e neste contexto, é apropriado considerar o desafio que os defensores da redenção limitada universalmente desenvolvem - que se Cristo suportou os pecados dos não-eleitos, eles não poderiam se perder; pois é alegado que mesmo o pecado condenatório da incredulidade seria, assim, pago e, portanto, perdeu o seu poder de condenar. Por este desafio, a importante questão levantada é se Cristo suportou todos os pecados dos indivíduos exceto a incredulidade.

Sobre esse aspecto do tema, John Owen escreveu cerca de três séculos atrás: "Deus impôs a sua ira a todos os pecadores, e Cristo suportou as dores do inferno por todos os pecados deles, ou todos os pecados de alguns homens, ou alguns pecados de todos os homens. Se diz respeito ao último, alguns pecados de todos os homens, então todos os homens têm alguns pecados pelos quais vai responder, e assim nenhum homem será salvo... Se é o segundo caso, que é o que afirmamos, de que Cristo no lugar deles sofreu por todos os pecados de todos os eleitos no mundo. Se é o primeiro [de que Cristo morreu por todos os

pecados de todos os homens], então por que não são todos libertos da punição de todos os pecados deles? Você dirá: Por causa da incredulidade deles; eles não crerão. Mas essa incredulidade, é u m pecado ou não? Se não, por que deveriam eles ser punidos por ele? Se é, então Cristo suportou a punição devida a ele ou não. Se Ele sofreu, por que deve este impedir, mais do que os outros pecados deles pelos quais Ele morreu, de participar do fruto de sua morte? Se não, então Ele não morreu por todos os pecados deles".56

A isto podemos responder que o pecado da incredulidade assume uma qualidade específica, em que é a resposta do homem àquilo que Cristo operou e terminou por ele quando suportou os seus pecados na cruz. Sem dúvida, há a liberdade divina assegurada pela morte de Cristo pela qual Deus pode perdoar o pecado da incredulidade, visto que Ele livremente perdoa todas as transgressões (Cl 2.13), e não há agora, portanto, nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1). O pecado da incredulidade, por ser particular em seu caráter, é evidentemente tratado como tal nas Escrituras. Além disso, se Custo suportou o pecado da incredulidade com os outros pecados dos eleitos, então nenhum pecador eleito em seu estado não-regenerado está sujeito a qualquer condenação, e não exige que ele seja perdoado ou justificado à vista de Deus.

Se é perguntado a esta altura, como frequentemente acontece, se a vocação geral de Deus (Jo 12.32) poderia ser sincera em cada caso, visto que Ele não designa a salvação dos não-eleitos, pode ser asseverado que, visto que a incapacidade dos não-eleitos de receber o Evangelho é devida ao pecado humano, de Seu próprio ponto de vista, Deus é justificado em estender o convite a eles. Neste contexto há uma distinção importante a ser observada entre o propósito soberano de Deus e seus desejos. Por razões específicas e dignas, Deus, como qualquer outro ser, pode propor fazer mais ou menos do que aquilo que deseja. Seu desejo é evidentemente para com todo o mundo (Jo 3.16), mas o seu propósito é muito claramente revelado no sentido de ser para com os eleitos. Na importante passagem, "o qual deseja que todos os homens sejam salvos" (1 T m 2.4), esta distinção é vista numa forma passiva antes da forma ativa do verbo salvar ser usado.