• Nenhum resultado encontrado

Introdução ao Sofrimento de Cristo

II. Sofrimento na Morte

A centralidade da cruz tem sido reconhecida por todas as mentes devotas, desde 0 começo até o presente. O não-regenerado vê nela pouco mais do que uma "pedra de tropeço" — que é para os judeus — ou uma "loucura" — que é para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus quanto gentios; ela é o poder de Deus - visto que pela cruz o Seu poder salvador é liberado - e a sabedoria de Deus — visto que por ela o maior problema é resolvido, isto é, como pode Deus permanecer justo e, ainda, justificar o ímpio que nada podia fazer, senão crer em Jesus (Rm 3.26; 4.5; 1 Co 1.23, 24)? Quando é afirmado que a cruz é loucura para os gentios, não está implícito que eles a ridicularizam, mas antes indica que as interpretações que eles dão à morte de Cristo são loucas no sentido dessas interpretações não serem dignas do Filho de Deus; e assim é toda interpretação, exceto aquela que está assinalada na Palavra de Deus, que é a de que o sangue sacrificial pelo pecado oferecido por um substituto que morre no lugar e em favor de pecadores. Para o apóstolo Paulo, a cruz tornou-se o tema supremo de sua jactância. Ele disse: "Mas longe esteja de mim gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gl 6.14).

No parágrafo de abertura de seu livro The Atonement and the Modem Mind, o Dr. James Denney assevera:

"Será admitido pela maioria dos cristãos que se a expiação, totalmente à parte das definições exatas, é algo para a mente, ela é tudo. Ela é a mais profunda de todas as verdades, e a mais criadora. Ela determina mais do que qualquer coisa mais de nossas ideias de Deus, do homem, da história, e mesmo da natureza; ela as determina; porque devemos trazê- las de algum modo em concordância com ela. Ela é a inspiração de todo pensamento, o impulso e a lei de toda ação, a chave, e o último recurso, para todo sofrimento. Se a chamamos um fato ou uma verdade, um poder ou uma doutrina, é aquilo em que a diferença do cristianismo, em

SOFRIMENTO NA MORTE

seu caráter peculiar e exclusivo, é especificamente mostrada; ela é o foco da revelação, o ponto em que vemos mais profundamente a verdade de Deus, e ficamos mais completamente debaixo do seu poder. Para aqueles que a reconhecem, ela é o cristianismo em suma; ela se concentra como em u m gérmen de poder infinito, tudo o que a sabedoria, poder e amor de Deus significam para os homens pecadores".

Uma ênfase igual foi dada pelo grande teólogo calvinista, Francis Turretin (1623-1687), quando escreveu a respeito da importância dessa morte, que ela é "a parte principal de nossa salvação, a âncora da fé, o refúgio da esperança, a regra do amor, o verdadeiro fundamento da religião cristã, e o mais rico tesouro da Igreja. Contanto que essa doutrina seja mantida em sua inteireza, o próprio cristianismo, a paz e a bem-aventurança de todos os que crêem em Cristo estão longe do alcance do perigo; mas se ela for rejeitada, ou de algum modo enfraquecida, a estrutura total da fé cristã deve se afundar em queda e ruína".10

Não somente o tema dos sofrimentos e morte de Cristo excedem todos os outros, como esses testemunhos apontam, e não somente Ele é o tema central da verdade bíblica, mas é eterno com respeito ao seu passado - Cristo é o Cordeiro morto antes da fundação do mundo (Ap 13.8) - e eterno com respeito ao seu futuro, e é o tema da glória vindoura: "E cantavam um cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nações; para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos; e o número deles era miríades de miríades e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Ap 5.9-12).

Na abordagem do tema dos sofrimentos e morte, certas verdades de importância geral a respeito de muita coisa do que tem sido entendido erroneamente, deveriam ser consideradas.

1. C O N T R A S T E ENTRE A C R U C I F I C A Ç Ã O E A C R U Z . Há uma distinção a ser

considerada entre a crucificação - o maior de todos os crimes — e a cruz - vista como o sinal da graça redentora de Deus, aquilo que o Dr. R. W. Dale descreve como "o momento mais sublime na história moral de Deus."11 Poderia ser

concebido u m contraste maior? È possível pensar-se nos sofrimentos da morte de Cristo somente como aquilo que se originou com os homens e foi executado pelos homens? Tal concepção restrita pode resultar em raciocínio estranho. O Dr. Henry C. Mabie cita a seguinte afirmação, ilustrando esse pensamento:

Na coluna escrita pelo Rev. R. J. Campbell, cie Londres, no periódico

British Weekly, uma pessoa fez recentemente esta pergunta: "Eu tenho

uma classe de estudos bíblicos; alguns dos membros dela são jovens bons e ponderados. Estamos estudando a vida de Cristo, e logo vamos chegar ao fato da crucificação. Como posso deixar claro que o ato da crucificação de Cristo foi um crime, enquanto ao mesmo tempo ela é a

de começar a responder, observa: "Esta dificuldade ocorre muito mais geralmente do que eu havia pensado". É dito que certa vez o Lord Beaconsfield caricaturou a expiação nos seguintes termos: "Se os judeus não tivessem prevalecido sobre os romanos na crucificação de nosso Senhor, o que haveria de ter sido a expiação? Os imoladores foram preordenados exatamente como a vítima; e a raça santa supriu os dois. Poderia ser u m crime aquilo que assegurou para toda a raça humana a alegria eterna?" U m ministro unitariano que era líder na cidade de Nova York, num sermão pregado em sua própria igreja há poucos anos, ao tocar neste assunto, usou estas palavras: "O que a expiação significa para o mundo? Ela significa que o Pai não receberá nem poderá admitir em seu coração o nosso próprio erro, confusão, filhos errantes, a menos que o unigénito Filho de Deus seja massacrado, e nós, como o antigo e terrível hino diz, 'somos imersos sob este oceano de sangue'". U m ministro americano supostamente evangélico, em seu recuo de certos conceitos erróneos do evangelismo, contra o qual ele protestava, certa vez foi longe demais ao dizer: "... Ele não era um suicida; Ele foi assassinado. Dizer que sua morte foi uma condição indispensável para a salvação humana é dizer que a graça de Deus teve que contar com a ajuda de assassinos, a fim de que pudesse encontrar u m caminho para os corações humanos. Eu não estou a fim de reconhecer qualquer dívida a Judas Iscariotes pelo perdão de meus pecados".12

Pareceria provável que a cegueira imposta por Satanás aos não-regenerados com respeito ao Evangelho (2 Co 4.3, 4), e a iluminação que o regenerado recebe, centra-se nesse ponto crucial, sobre o significado da morte de Cristo. No único exemplo, os homens vêem somente um assassino brutal, e, visto que a vítima era inocente — um caráter louvável e admirável - há um campo para meditação em certas lições que podem ser retiradas dessa trágica morte. Para muitos, a cruz foi uma loucura. Em outro caso, pela iluminação que lhes foi concedida, os não-regenerados são capazes de ver na cruz o escopo geral e o plano da graça redentora. Está declarado - e muitas passagens poderiam ser citadas - que Cristo foi "anunciado" (o que é evidentemente uma referência à sua posição como uma vítima sobre a cruz), para declarar a justiça de Deus, para que "pudesse ser justo, e o justificador daqueles que crêem em Jesus" (Rm 3.25, 26).

Visto que os sofrimentos e morte de Cristo são preponderantes em toda verdade revelada e que estas coisas podem ser avaliadas muito diferentemente - de um lado, como o maior crime, e do outro, como "o momento mais sublime na história moral de Deus" - os seus sofrimentos e morte exigem uma consideração cuidadosa e regada de oração, mais do que todos os fatos do universo. Provavelmente, nenhum escrito mais fielmente descreveu esse grande contraste com tudo o que ele envolve do que o Dr. Henry C. Mabie. Embora um pouco extensa, a citação a seguir é uma contribuição necessária neste ponto da discussão:

SOFRIMENTO NA MORTE

Neste estudo, então, eu começo por assinalar que a tragédia da crucificação de Cristo em sua terrível criminalidade, e a cruz da reconciliação divina em sua majestade moral singular são totalmente distintas em seu caráter. A crucificação do lado humano foi incipiente no pecado da raça; e a reconciliação, do lado divino, visto que Deus é o que Ele é em sua santidade cheia de longanimidade, esteve sempre e eternamente no coração de Deus, na esperança de ser realizada. E verdade que naquelas últimas horas sobre a cruz, a profunda obra espiritual de reconciliação era consumada simultaneamente com o crime que os crucificadores de Cristo impuseram sobre Ele: em espírito, contudo, e no caráter moral, as duas realizações estavam o quanto possível longe uma da outra... Uma descrição concreta retirada da narrativa do Novo Testamento a respeito da crucificação pode deixar clara a distinção vista neste capítulo. Ao observar o registro da execução de Jesus, um leitor cuidadoso notará as várias atitudes mentais dos diversos tipos de pessoas cujas atitudes eram fundamentalmente as mesmas; a multidão comum, que "passava meneando as suas cabeças"; os governadores dos judeus que foram coniventes com a crucificação; o malfeitor rebelde que rejeitou Cristo; os soldados romanos, que não reconheciam outro deus senão César; e os supersticiosos que no grito de "Eli, Eli", pensaram que Jesus chamava por Elias. Cada uma destas cinco classes apelou igualmente para Cristo, a fim de demonstrar que Ele era realmente o Messias, para descer da cruz e salvar a sua própria vida. A multidão disse: "Ah, tu que destróis o templo e o constróis em três dias, salva-te a ti mesmo e desce da cruz" (Mc 15.29). Os principais sacerdotes disseram: "A outros salvou; a si mesmo não pode salvar; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos" (Mc 15.31, 32). O malfeitor disse: "Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a n ó s " (Lc 23.39). Os soldados disseram: "Se tu és o rei dos judeus, salva- te a ti mesmo" (Lc 23.37). Os supersticiosos disseram: "Deixai, vejamos se Elias virá tirá-lo" (Mc 15.36). Cada um destes, observem, na verdade disse a Jesus: "Salva-te a ti mesmo". Esses todos viram principalmente a tragédia da crucificação, supuseram a cruz no sentido de ser o caráter final na vida de Jesus. A menos que Jesus usasse o seu poder miraculoso para salvar a si mesmo - e sobrenaturalmente se mantivesse vivo —, eles não creriam nele; a demonstração para as mentes deles seria completa, se Ele não fosse o que alegava ser, o Filho de Deus, o "Messias de Israel, o Salvador do mundo. Agora, em oposição a essas cinco classes, há uma única exceção ilustre, de uma posição radicalmente diferente desses tipos já observados, e ele se expressa de modo diferente: O moribundo penitente era o primeiro e o único entre todos que exclamou na execução de Jesus: "Salva-te a ti mesmo". Ele gritou: "Salva-me". Ele disse "Jesus"; isto é, ele usou o nome salvador, com discernimento de quem e do que Ele realmente era. Ele, e ele somente, viu que havia algo mais profundo

que transpirava além do que os crucificadores reconheciam; que Jesus realmente permitia que o santuário do seu corpo fosse tomado, a fim de que pudesse ser reconstruído. Ele discerniu que, se Jesus salvaria outros de suas necessidades espirituais, ele não poderia "salvar-se a si mesmo"; que Ele devia suportar o que o pecado devia impor sobre o Salvador; ele viu que Jesus realmente era "o Rei de Israel", "o escolhido de Deus", "o bom pastor", dava a sua vida pelas ovelhas, mas a entregava, para depois reavê-la. Esse pecador penitente foi o primeiro e o único na crucificação que viu u m reino totalmente novo que estava além da morte iminente de Jesus, do qual ele poderia se tornar um súdito. Esse reino, contudo, deveria ser construído sobre o lado divino daquilo que acontecia. Ele viu ao menos em princípio a ressurreição vindoura, e as possibilidades gloriosas que estavam envoltas nela... Sem dúvida, ele foi capacitado espiritualmente como aquele que está na fronteira do mundo celestial; e assim, ele viu ambos os lados do evento da crucificação, o lado humano e o divino. Mas ele viu especialmente com grande nitidez a realidade da reconciliação, e a viu do lado celestial, como Deus a vê - como todos nós aprenderemos a veda - e ele exclamou aquele modelo de oração, marcado com a sua iluminação peculiar: "Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino" (Lc 23.42); - u m reino condicionado naquilo que era gerado por Cristo. Esse homem e esse somente, tanto quanto sabemos, em tudo quanto aconteceu no Calvário, apreendeu a reconciliação, ato de Deus - um ato deliberado e permissivo - a reconciliação como distinta do crime humano, na crucificação. Não houve provavelmente u m discípulo que permanecesse ali, nenhuma das mulheres, nem mesmo a própria mãe do Salvador, que, se possível fosse, não na própria e completa incapacidade deles de perceber o que Deus realizava, não teriam evitado a realização do propósito de Cristo na cruz. Até agora, nenhum desses discípulos entendera como eles fizeram posteriormente à luz do Pentecostes - a cruz da redenção. Esse homem moribundo infelizmente estigmatizou no epíteto comum, "o ladrão moribundo", que é realmente o penitente ideal. Ele, e ele somente, teve a visão da cruz da reconciliação. Ele somente olhou para além dos horrores trágicos do ato crucificador. Ele foi absorvido por uma realidade maior, de que Cristo, a despeito do tratamento que os homens deram a Ele, realmente suportava os pecados do mundo, e tornava-os preparatórios para u m reino espiritual que pode estar além do momento crítico de sua hora da morte. O penitente procurou tornar-se súdito daquele reino, u m privilégio da graça assegurado instantaneamente pela resposta de Jesus: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23.43).13

Como foi sugerido anteriormente, as pessoas não iluminadas, nào- regeneradas, nada podem discernir a respeito da morte de Cristo, além da tragédia humana que ela foi, e em vão, sinceramente, elas tentam revestida com alguma importância espiritual. Ela é dramatizada, os crucifixos são

SOFRIMENTO KA MoRTK

multiplicados, as pinturas são feitas, os pregadores e os poetas debruçam-se sobre os aspectos físicos dessa morte e, muito frequentemente, nada descobrem além da angústia física que pertencia a Jesus. Contudo, ninguém tem trazido mais confusão do que a Igreja Romana, por asseverar a transubstanciação e, por sua abordagem à idolatria, que o uso de imagens produz. A Igreja de Roma é o exemplo supremo de uma religião baseada no crime da crucificação, que, ao mesmo tempo, é esvaziada de qualquer conceito da glória da cruz. Houve uma tragédia na crucificação que ninguém poderia minimizar, mas ela não é a base da redenção. Deus não baseia o seu dom de amor no supremo crime acima de todos os crimes. Ele o baseia na verdade sublime de que Ele amou o mundo de tal maneira, que deu o seu único Filho para ser o Cordeiro sacrificial. Cristo era o Cordeiro de Deus - não de Pilatos. Deus providenciou o sangue remidor - n ã o Caifás.

Como era de se esperar, não há um ponto na história humana onde a soberania divina e a responsabilidade humana, ou a vontade livre, vieram a uma justaposição tão vívida do que na crucificação de Cnsto. Do lado divino, a morte de Cristo foi predeterminada de tal modo que Deus assumiu toda a responsabilidade por ela, e ele não poderia compartilhar essa realização com alguém mais. Ela foi o seu propósito desde a eternidade. Ela foi apontada por sombras através de todos os tipos que Deus mostrou. Todos os seus detalhes foram preditos pelo Espírito que capacitou os profetas. No Salmo 22, há registrado o grito do sofrimento de Jesus: "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?" (v. 1); as palavras exatas dos atormentadores soariam: "Confiou no Senhor; que ele o livre; que ele o salve, pois que nele tem prazer" (v. 8); o reconhecimento da responsabilidade divina foi o seguinte: "A minha força secou-se como um caco e a língua se me pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte" (v. 15); sobre os pregos nas mãos e nos pés, está escrito: "transpassaram-me as mãos e os pés" (v. 16); e sobre a as vestes e sobre as sortes pelas vestes, está registrado: "Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes" (v. 18).

Com a mesma finalidade, há em Isaías, no capítulo 53, o recital da verdade de que foi Jeová que o moeu, que o colocou sob aflição, que fez de sua alma uma oferta pelo pecado (v. 10). Igualmente, a soberania de Deus é refletida em mais de 40 vezes na palavra cumprido, que ocorre no Novo Testamento e em referência à realização do propósito de Deus na morte de seu Filho. Do lado humano, os homens faziam e diziam exatamente o que estava predito deles; todavia, de tal modo que a responsabilidade caiu somente sobre eles. Cristo foi rejeitado pelos judeus, traído por Judas, condenado por Herodes, e crucificado sob Póncio Pilatos. Além de tudo isso, nessa açào humana, está declarado que foi Deus que estava em Cristo, a fim de reconciliar o mundo consigo mesmo (2 Co 5.19). Está escrito que Cristo foi feito pecado (pelo Pai — certamente, não por Judas Iscariotes), que as almas perdidas poderiam ser feitas (pelo Pai - certamente, não por Pôncio Pilatos) a justiça de Deus nele

Dois fatos imensuráveis - tão distantes u m do outro como o ocidente dista do oriente - foram falados por Pedro no seu sermão do Pentecostes: "...a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos" (At 2.23). Precisamente, da mesma maneira na qual não há uma gratidão devida a Judas, Herodes, ou Pôncio Pilatos, não há doutrina baseada no que eles fizeram. O poder transformador da morte de Cristo não está na tragédia humana; está na reconciliação divina. A morte e a ressurreição de Cristo são contrapartes de um empreendimento divino. Ninguém afirmará do homem que ele teve qualquer parte na ressurreição; todavia, a realização divina na cruz é tão esvaziada da cooperação humana quanto é a ressurreição.

2. Q U E M FEZ C R I S T O M O R R E R ? Intimamente relacionado com o contraste entre os lados divino e humano da morte de Cristo, está a questão: Quem levou Cristo à morte? Como já foi indicado, as Escrituras atribuem tanto à responsabilidade humana quanto à divina para a morte de Cristo — não há uma cooperação ou parceria, pois cada uma é tratada, em sua própria esfera, como totalmente respondível. Ao todo, oito indivíduos ou gmpos são considerados responsáveis. Quatro desses são nomeados em Atos 4.27, 28: "Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse".

Aqui outra vez o Espírito Santo salvaguarda a importante verdade de que esses indivíduos e grupos fizeram exatamente o que a mão e o conselho de Jeová predeterminaram. O quinto indivíduo responsável foi Satanás - embora ele possa ter sido ajudado por um grupo incalculável de espíritos malignos. No grande proto-evangelho de Génesis 3.15, está afirmado que não somente Cristo esmagaria a cabeça da serpente, mas que ela feriria o seu calcanhar. Assim, está implícito que Satanás fez o que pôde no exercício do seu poder — direta ou indiretamente, através dos agentes humanos - contra o Salvador. Há muito texto da Escritura que revela que u m poderoso conflito foi travado entre Cristo e os poderes das trevas. Está escrito: "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo" (Jo 12.31); "Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim" (Jo 14.30); "e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado" (Jo 16.11); "e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz" (Cl 2.14, 15). O que transpirava