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Teorias Falsas e Verdadeiras do Valor da Morte de Cristo

III. Teorias em Geral

Certas teorias mais ou menos bem definidas ou filosofias humanas foram apresentadas numa tentativa de explicar aquilo que Cristo realizou em sua morte. Cada uma delas, por sua vez, esteve sujeita a variações e modificações, as quais correspondem à ideia de que qualquer indivíduo poderia incorporar a determinado esquema. Alguns escritores têm procurado, mesmo de forma extensa, listar essas teorias. Na Neu> Schaff-Herzog Encyclopaedia ofReligious Knowledge, o Dr. B. B. Warfield apresenta a seguinte quíntupla classificação dessas teorias:

(1) Teorias que concebem a obra de Cristo como terminando sobre

Satanás, afetando-o para assegurar a soltura das almas presas em

escravidão por ele. (2) Teorias que concebem a obra de Cristo como

terminando fisicamente sobre o homem, assim afetando-o, trazendo-o através

de uma operação interior e escondida sobre ele em participação com a vida de Cristo; as chamadas "teorias místicas". (3) Teorias que concebem a obra de Cristo como terminando sobre o homem, no sentido de persuadi-lo à ação; afetando assim o homem, conduzindo-o a u m melhor conhecimento de Deus, ou a u m senso mais vívido de sua real relação com Deus, ou a uma mudança voluntária do coração e da vida com relação a Deus; as chamadas "teorias de influência moral". (4) Teorias que concebem a obra de Cristo como terminando tanto no homem quanto em Deus, mas sobre o homem

primariamente e em Deus somente secundariamente... as chamadas "teorias

governamentais". (5) Teorias que concebem a obra de Cristo como

terminando primariamente em Deus e secundariamente sobre o homem...

Esta teoria supõe que o nosso Senhor, por adentrar simpaticamente em nossa condição... muito agudamente sentiu os nossos pecados como se fossem Seus, que Ele pode confessar e adequadamente se arrepender deles perante Deus; e isto é tudo o que a justiça da expiação requer... as chamadas "teorias medianas" da Expiação.43

Como uma preparação adicional para o entendimento correio das várias teorias a respeito do valor da morte de Cristo, certos esquemas que atribuem pouca ou nenhuma importância à obra de Cristo deveriam ser identificados por todo estudioso de Soteriologia. Entre estas, e totalmente singular em suas alegações, está o Universalismo. Com uma positividade que excede os defensores da teoria da satisfação, este sistema declara que toda a raça humana foi arruinada pela queda, Ela também alega que Cristo morreu por todos os homens, no sentido mais absoluto e que nenhum outro passo é necessário. Todos os homens são salvos pela morte de Cristo. Para alguns, esta salvação é até estendida aos anjos caídos, inclusive Satanás. Igualmente, são propostos esquemas, os quais reivindicam que os homens podem ser perdoados por um ato soberano de Deus.

Esta concepção existe nas mentes de multidões e é o resultado natural de formas descuidadas de pregação e de ensino que lançam os não-salvos diretamente na misericórdia de Deus, sem referência à verdade imperativa de

TEORIAS EM GERAL

que a misericórdia divina é possível somente pela morte de Cristo, e através dela, como Redentor, Reconciliador e Propiciador que Ele é. A Escritura não diz:

"Crê na misericórdia de Deus e serás salvo"; antes, ela assevera: "Cré no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo". Que os pecadores, sejam eles perdidos ou salvos, da antiga ou da nova aliança, nunca são perdoados à parte do sangue de Cristo, ou por aquilo que o tipificou, é o ensino constante da Bíblia. Está afirmado muito b e m em Hebreus 9.22: "E sem derramamento de sangue não há remissão". Esta noção de perdão pela generosidade divina não é somente indiferente ao valor da morte de Cristo, mas desconsidera as questões a respeito da pessoa divina e de seu governo que a morte de Cristo tão perfeitamente protege.

Esta noção também fracassa em reconhecer que, se uma alma fosse perdoada de u m pecado por u m ato soberano de Deus, à parte da base justa proporcionada por Cristo em sua morte, u m princípio é introduzido que tornaria possível para Deus perdoar todo pecado por um ato soberano e, assim, tornar a morte de Cristo desnecessária. E esta mesma liberdade de pensamento que presume que o amor soberano de Deus livra as almas da perdição eterna; todavia, nenhuma alma pode ser salva da perdição, à parte da obra de Cristo. Nisto os universalistas são mais consistentes do que aqueles que magnificam o perdão soberano. O texto da Escritura do qual mais dependem os defensores da ideia do perdão pela soberania é o da parábola do "filho pródigo". Nessa parábola não há u m sangue eficaz, uma ideia sobre a regeneração, e um exercício da fé. Há confissão e perdão e o filho é restaurado à comunhão do Pai; todavia, esse perdão sempre repousa no sangue de Cristo (cf. 1 João 1.7, 9).

Fora da confusão da opinião humana e do ruído das vozes conflitantes, a Palavra de Deus traz uma segurança cristalina a respeito do valor da morte de Cristo. Contudo, diversas teorias devem ser consideradas especificamente e as primeiras três serão vistas de uma forma breve:

1. T E O R I A D O M A R T Í R I O . O apelo da teoria do martírio é que a incapacidade moral do homem é encorajada pela morte de Cristo como um mártir, e por sua ressurreição. É afirmado que Cristo morreu como um mártir, por causa da verdade que Ele ensinou e da vida que viveu; que por sua morte Ele deu a confirmação definitiva à sua doutrina; e que por sua morte Ele demonstrou sua própria sinceridade. A teoria carece de um reconhecimento da necessidade de sacrifício e pode bem ser classificada com aqueles esquemas que evitam qualquer referência à expiação objetiva. Está claramente ensinado no Novo Testamento que a morte de Cristo foi totalmente voluntária. As palavras de Cristo são uma refutação final da teoria do martírio: "Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse" (Mt 16.21); "Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai" (Jo 10.18).

Está também registrado que quando Cristo morreu, como o Soberano da vida, entregou o seu próprio espírito: "Jesus, clamando com grande voz,

disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou" (Lc 23.46). Somente o aspecto ético dos ensinos de Jesus, à medida que testemunham de sua vida e da existência futura, estão em vista nesta teoria; esses são tornados mais eficazes, é alegado, pela morte do mártir.

2. T E O R I A D A INFLUÊNCIA M O R A L . Este esquema de doutrina foi originado com Faustus Socinus (1539-1604) e tornou-se uma crença distinta de seus seguidores. A teoria assevera que o valor da morte de Cristo não é objetivamente em relação a Deus, mas cumpre o seu propósito na salvação humana, através da influência que essa morte exerce sobre a vida diária dos homens. Ela almeja a reforma, sem nenhum pensamento de regeneração no seu sentido bíblico. Em última instância, esse esquema seria classificado entre aqueles que não tentam um reconhecimento do valor da morte de Cristo. Tudo da vida de Cristo, seus ensinos e suas poderosas obras, sua morte, sua ressurreição, e sua ascensão, serve apenas para u m propósito, a saber, o de exercer uma influência moral sobre os homens. Esta teoria conduz a uma grande variedade de ideias, mas o seu princípio essencial não se altera.

Os unitarianos modernos, por serem os representantes mais próximos da ideias socinianas, são os que mais perpetuam a teoria da influência moral nos tempos de hoje. Os advogados dessa teoria nunca se preocuparam em interpretar os ensinos da Bíblia. E reconhecido por todos os estudiosos da Escritura que a morte de Cristo tem seus efeitos sobre as vidas daqueles que são salvos. N e n h u m texto declara isso tão bem quanto 2 Coríntios 5.15, que afirma: "E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou".

Uma teoria intimamente relacionada à da influência moral e a de ser classificada com ela argumenta que a morte de Cristo foi uma expressão da simpatia de Deus pelo pecador. Uma ilustração usada por aqueles que pregam essa ideia é a de uma mãe que se inclina para o berço de sua criança, a qual está doente, e há mais dor manifesta na face da mãe, através da simpatia do que na face da criança que sofre; mas Cristo não morreu meramente para se tornar um companheiro dos homens que morrem. Ele morreu, para que os homens pudessem não ter de morrer. Ele não sustenta meramente a mão deles, enquanto eles sofrem os juízos de seus pecados; antes, Ele suportou a penalidade para que eles nunca pudessem ter de suportá-la.

3. T E O R I A D A I D E N T I F I C A Ç Ã O . Esta avaliação do valor da morte de Cristo pode ser afirmada em poucas palavras: é declarado por aqueles que defendem esta ideia, que Cristo, ao identificar-se a Si mesmo tanto com os homens, que foi capaz de representá-los perante Deus, e assim confessar os pecados deles e se arrepender em favor deles. E óbvio que o elemento essencial da expiação não está incluído e que Deus, além disso, propôs em perdoar soberanamente aqueles que se arrependem, seja por um ato deles mesmos ou pelo ato de um outro identificado com eles.

4. T E O R I A GOVERNAMENTAL. Entrando na análise da teoria governamental, é reconhecido que ela é diferente, na verdade, das teorias já mencionadas, por

' TEORIAS EM GERAI.

ser a única teoria que reconhece a necessidade de uma obra objetiva de Cristo com relação a Deus. Outras teorias não procuram mais do que a remissão do pecado humano, sem considerar as questões morais mais profundas que surgem quando é afirmado que um santo Deus perdoa o pecado à parte de qualquer penalidade do pecado. Há apenas duas teorias — a da satisfação e a governamental - que podem reivindicar a atenção de homens sinceros que respeitam o santo caráter de Deus e a revelação que Ele concedeu. Assim, e por esta razão, essas duas interpretações são colocadas uma contra a outra em cada tratamento digno deste grande tema. Será igualmente necessário sustentar esses dois sistemas em constante comparação em toda esta discussão.

A história da teoria governamental foi bem delineada anteriormente. Ali, foi assinalado que, como uma interpretação natural das Escrituras, muitos crentes, desde o seu início sustentaram a doutrina da satisfação divina, através da morte de Cristo, e, embora a doutrina da satisfação tenha sido sistematizada por Anselmo, no século XI, a doutrina foi sustentada em geral, tanto quanto qualquer outra verdade, por toda a era cristã. No século 16, foram feitos ataques contra a doutrina da satisfação pelos socinianos, que eram racionalistas, e ataques contra os textos da Escrituras sobre os quais essa doutnna repousa. Esses textos da Escritura foram interpretados erroneamente e rejeitados no interesse da razão humana. Foi então que Hugo Grócio, um jurista da Holanda e homem de intelecto formidável, empreendeu planejar um esquema de interpretação que preservaria alguma reminiscência de u m valor objetivo na morte de Deus e, ainda, evitaria muita coisa da crítica racionalista que então foi lançada contra a doutrina da satisfação.

Embora os homens tenham se apartado em algum grau da filosofia de Grócio, os aspectos essenciais de sua teoria permanecem como ele os propôs. Essa teoria tem sido o refúgio dos arminianos, e é basicamente a crença dos teólogos da Europa continental, e tem sido a doutrina aceita pelos independentes da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Nesta última região, essa teoria tem sido defendida por homens como Joseph Bellamy, Samuel Hopkins, John Smalley, Stephen West, Jonathan Edwards Jr., Horace Bushnell, e Edwards A. Park. Este último nome afirmou que esta teoria era "a doutrina ortodoxa tradicional dos congregacionalistas americanos". Não obstante, a doutrina da satisfação tem sido, e é, sustentada por todos os calvinistas, e é aquela que aparece em todos os credos mais importantes da Igreja.

Estes dois sistemas de interpretação concordam que a morte de Cristo e o derramamento de seu sangue exercem uma parte muito importante na salvação dos homens. A doutrina da satisfação incorpora a concepção da morte de Cristo, que foi uma substituição penal que teve o propósito objetivo de proporcionar uma base justa, para que Deus pudesse perdoar os pecados daqueles por quem Cristo morreu. A equidade, afirma-se, é perfeita, visto que o Substituto suportou a penalidade. Isto está expresso nas palavras: "para que ele possa ser justo, e o justificador daquele que crê em Jesus" (Rm 3.26). A teoria governamental

argumenta que em sua morte Cristo proporcionou um sofrimento vicário, mas que de modo algum foi a determinação de uma punição. Os advogados

dessa teoria fazem objeção à doutrina da imputação em todas as suas formas, especialmente a de que o pecado humano tenha sido imputado a Cristo ou que a justiça de Deus tenha sido imputada àqueles que crêem.

Eles declaram que a verdadeira substituição deve ser absoluta e assim, por necessidade, deve automaticamente perdoar a penalidade daqueles por quem Cristo morreu. Portanto, é asseverado que, visto que Cristo morreu por todos os homens e que nem todos os homens são salvos, que a teoria da satisfação fracassa. Que houve uma substituição de caráter mais absoluto tanto com respeito ao mérito quanto ao demérito, que não se torna eficaz à parte de uma união vital com Cristo - o resultado da fé salvadora - , mas advém a todos que estão em Cristo, é rejeitado.

É admitido que há grandes dificuldades que surgem quando mentes finitas tentam reduzir o modo divino de operação com respeito à salvação dos perdidos - o maior empreendimento divino - às limitações de uma teoria humana. Crendo que a morte de Cristo de fato proporcionou uma satisfação absoluta e foi uma substituição completa e para evitar o problema que é gerado pelo fato de que multidões não são salvas, certa escola de calvinistas tem afirmado que Cristo morreu somente pelos eleitos, ou aqueles que são salvos. Alguns dos mais extremados dessa escola argumentam que, no caso dos eleitos, a fé salvadora é de importância, visto que a morte de Cristo é automaticamente eficaz. A maioria dos calvinistas, entretanto, reconhece o fato óbvio, que mesmo os eleitos não são mais salvos do que os não-eleitos, até que eles creiam em Cristo.

Julgando a partir dos seus escritos volumosos, não é fácil para os advogados da teoria governamental afirmar exatamente o que eles crêem que Cristo realizou por sua morte, e é igualmente difícil entender a exposição da teoria que eles oferecem. Dizer, como eles fazem, que os sofrimentos de Cristo foram sacrificiais, mas não punitivos, é igual afirmar que Cristo satisfez por sua morte alguma necessidade divina, além de ficar sujeito à penalidade da santidade e do governo divinos. E afirmado que o pecado do h o m e m fez Deus sofrer e que esse sofrimento caiu sobre Cristo, embora o Pai estivesse em completa harmonia com o Filho na hora do sofrimento. Os sofrimentos são para manifestar assim a compaixão divina, antes que o julgamento penal. Quando avaliado assim, os sofrimentos não são diminuídos nem a sua eficácia diminuída. Por esse sofrimento de Cristo, Deus revela seu santo ódio pelo pecado, e, por uma real demonstração na cruz, Ele mostra o infortúnio que o pecado causa nele. Isto é permitido e acontece como u m valor objetivo da morte de Cristo em relação a Deus, e é o mais próximo da propiciação que esse sistema é capaz de chegar.

O argumento daqueles que sustentam a teoria governamental é que, visto que Deus é amor e sempre o foi, não há uma ocasião para Ele ser propiciado. Todavia, a Escritura declara que os não-salvos são "filhos da ira" (Ef 2.3), e que por sua morte Cristo satisfez a Deus (1 Jo 2.2). Neste valor objetivo com relação ao homem, ou como isto afeta o pecador por quem Cristo morreu, pode significar não mais do que uma influência moral que surgiria na mente de alguém que fica impressionado pelo espetáculo da tristeza divina pelo pecado

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e da compaixão pelo pecador. Nesse caso, a morte de Cristo não provoca uma mudança no estado do pecador. Isto está tão próximo da reconciliação quanto a teoria pode trazer; todavia, a Bíblia declara que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, e, por essa morte, mudou o estado dos homens a ponto dele não imputar a eles as suas transgressões (2 Co 5.19).

Semelhantemente, considerando o valor da morte de Cristo em relação ao pecado, de acordo com essa teoria, Deus está pronto, no sentido governamental, em perdoar aquele que se torna penitente pelo reconhecimento do fato da morte de Cristo; e que é tão próximo quanto o sistema pode abordar à redenção. Todavia, este Cristo, de acordo com a sua própna declaração, deu a sua vida "em resgate por muitos" (Mt 20.28; cf. M c 10.45; 1 T m 2.6). Ateoria é exaurida por sua única reivindicação que, do lado governamental das exigências divinas, tendo pela morte de Cristo demonstrado a avaliação divina do mal e por seu sofrimento sacrificial mostrado a compaixão divina, Deus pode, com segurança para o seu governo, perdoar de u m modo soberano o pecador que, por ser influenciado pelo fato da morte de Cristo, é penitente.

Pensa-se que o governo divino deve ser protegido suficientemente na manutenção dos seus santos padrões, se o perdão, como uma generosidade divina, é estendido ao penitente. Argumentos trabalhados :ém s:do apresentados para demonstrar que um perdão baseado numa expressão de desprazer divino a respeito do pecado - expressão essa que é aceita como uma forma de expiação pelo pecado - não é um perdão soberano, mas é firmado em base digna. Tais argumentos falham em mostrar qualquer força de convicção com aqueles que se opõem a essa teoria.

Do que foi dito acima, pode ser concluído que Grócio. como aqueles que o seguem, distinguiu entre aquilo que era governamental e aquilo que é pessoal em Deus com respeito ao Seu julgamento do pecado. A tecria propõe que Deus não pode julgar o pecado numa base pessoal ou como o que ultraja a Sua santidade, visto que Ele é amor, mas Ele deve julgar o pecado com base na sua relação governamental com os homens. Nenhuma penalidade cai sobre o substituto e o pecador penitente é perdoado como um ato cia compaixão divina. Baur publicou uma avaliação da obra de Grócio no periódico teológico Bibliotheca

Sacra (IX, 259), e uma breve citação dessa fase da teona é dada aqui:

"O erro fundamental da posição sociniana foi encontrado por Grócio e é assim: que Socinus considerava Deus, na obra ca redenção, como o que sustenta meramente o lugar de u m credor, ou senhor, cuia mera vontade foi uma liberação suficiente da obrigação existente. Mas. como temos de tratar da punição e da remissão da punição, Deus não pode ser visto como u m credor, ou como uma parte prejudicada, visto que o ato de infringir punição não pertence a uma parte prejudicada como tal. O direito de punir não é parte dos direitos de senhor absoluto ou de u m credor, por serem estas coisas meramente pessoais em seu caráter; é direito de um governador somente. Consequentemente, Deus deve ser considerado como um governador, e o direito de punir pertence a Ele como tal, visto que existe, não por causa do pumdor, mas para causa do bem- estar público, para manter sua ordem e para promover o bem público."46

Desta breve análise será visto que as duas ideias principais são muito importantes nessa teoria apresentada por seus advogados, a saber, penitência e perdão, e nenhum outro aspecto do valor da morte de Cristo é reconhecido e nenhum outro aspecto da grande obra de Deus na salvação de uma alma é tão abrangente neste sistema. Deveria qualquer pergunta ser levantada a respeito da necessidade de uma penalidade que confirmaria a santidade da lei; o fato de que Cristo sofreu sacrificialmente, é considerado suficiente para satisfazer a exigência. Grócio era arminiano em sua teologia e sua teoria se encaixa bem num sistema de interpretação das Escrituras que se satisfaz com verdades modificadas e parciais.

Com relação aos métodos empregados por esses dois sistemas, pode ser observado que a doutrina da satisfação segue os ensinos óbvios da Bíblia. Ela é o resultado de u m raciocínio imparcial da Palavra de Deus, quando testemunha da morte de Cristo. Por outro lado, os defensores da teoria de Grócio constróem