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A Purificação das Coisas no Céu

Coisas Realizadas por Cristo em seu Sofrimento e Morte

XIV. A Purificação das Coisas no Céu

O pecado provocou os seus efeitos trágicos tanto nas hostes angelicais quanto na raça humana, e a poluição do pecado vai além dos anjos no céu e além dos homens na terra. A sua corrupção se estendeu às "coisas" inanimadas em ambas as esferas. Está afirmado em Hebreus 9.23 que era necessário para as "coisas" celestes serem purificadas, e, em Romanos 8.21-23, que a própria criação, inclusive as criaturas da terra, foi posta em escravidão, da qual não será liberta até o tempo dos corpos dos salvos serem redimidos. Por causa dessa escravidão, a totalidade da criação geme e suporta angústias até agora. Mesmo os redimidos "gemem em si mesmos" durante o presente tempo em que esperamos a redenção de nossos corpos. O fato de que a corrupção alcançou as "coisas" no céu, assim como as "coisas" da terra é uma revelação muitíssimo importante e é, nas Escrituras, considerada totalmente à parte do efeito do pecado sobre os anjos e os homens.

Dentre os contrastes apresentados em Hebreus, capítulos 8-10, entre os cerimoniais típicos que prefiguram a morte de Cristo e a morte em si mesma, assinala-se (Hb 9.23) que, como o Tabernáculo sobre a terra era purificado pelo sangue de animais, assim as "coisas" celestes eram purificadas com base no sangue de Cristo quando Ele, como sumo sacerdote, entrou nas esferas celestiais. Assim lemos: "Mas Cristo, tendo vindo como sumo sacerdote dos bens já realizados, por meio do maior e mais perfeito tabernáculo (não feito por mãos, isto é, não desta criação), e não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção" (Hb 9.11, 12).

E, ao referir-se ao serviço do sumo sacerdote do antigo tempo no santuário terreno, o escritor acrescenta: "Semelhantemente aspergiu com sangue também o tabernáculo e todos os vasos do serviço sagrado. E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão" (Hb 9.21, 22). Assim era o tipo; mas do próprio serviço de Cristo no cumprimento do antítipo está afirmado: "Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios [o sangue de animais], mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que este. Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos [o velho tabernáculo], figura [CÍVTLTUTTOS] do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus" (Hb 9.23, 24). Os contrastes e os paralelos estabelecidos entre o tipo e o antítipo são óbvios.

O antigo santuário foi cerimonialmente purificado pelo sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue Cristo entrou no lugar santíssimo e

A PURIFICAÇÃO DAS COISAS NO C É U

com base nesse sangue as "coisas" celestiais foram purificadas e por "sacrifícios melhores" do que os de animais. O plural sacrifícios usado aqui da única oferta de Cristo, que Ele fez de si mesmo, pode ser assumido como categórico - e abrange suas muitas partes dentro daquilo que é uma categoria.

Várias teorias foram desenvolvidas para explicar por que as "coisas" no céu, isto é, na esfera do "lugar santo" que é celestial (Hb 9.23), necessitariam de purificação. Sobre este ponto Dean Alford cita F. Delitzsch, como se segue: "Se vejo corretamente, o significado do escritor é, em seu pensamento base, isto: o superno santíssimo lugar, i.e., como o versículo 24 mostra, o próprio céu, o céu incriado de Deus, embora em si mesmo em calma luz, todavia necessitado de uma purificação à medida que a luz do amor pelos homens ofuscou e obscureceu pelo fogo de ira contra o homem pecador; e o tabernáculo celestial, o lugar da revelação que Deus fez de sua majestade e graça aos anjos e homens, precisava de uma purificação, à medida que os homens tinham apresentado esse lugar, que lhes foi destinado desde o começo, inatingível pela razão dos seus pecados, e assim deve ser mudado para u m lugar inatingível pela manifestação de u m Deus gracioso aos homens" .3:>

Esta explicação do problema não é sem dificuldade. Não somente Delitzsch estendeu a graça de Deus aos anjos que, como já foi observado, não está nem implícito nas Escrituras, mas fez a purificação das "coisas" que devem ser removidas da ira de Deus contra os pecadores desta terra pela reconciliação da cruz de Cristo. É verdade que "as coisas na terra e coisas no céu" são reconciliadas pela cruz, com o fim de estabelecer a paz (Cl 1.20) - fato esse que está muito distante da reconciliação divina dos moradores da terra com Deus. Embora o estudante seja confrontado por esse problema de questões supramundanas, que são muito vastas para a apreensão finita, pode não ser impróprio ser lembrado que o pecado em seu aspecto mais terrível de rebelião ímpia, pelo pecado dos anjos, entrou no céu, ou o domicílio desses seres celestiais divinamente designado como "os anjos do céu" (Mt 24.36). Com respeito aos "céus incriados" aos quais Delitzsch se refere, a Escritura parece manter silêncio.

A revelação de que "as coisas na terra e coisas no céu" são reconciliadas pela cruz, ou que as "coisas" no céu foram purificadas com base no sangue de Cristo, assim c o m o o sangue de animais serviu para purificar os utensílios do tabernáculo terreno, não há u m suporte para u m a noção de "reconciliação universal". Ao contrário, as Escrituras declaram em termos exatos que todos os anjos caídos e todos os h o m e n s não-regenerados vão para os ais eternos.

Embora em seus aspectos essenciais ela transcenda o raio do entendimento humano, está claro que a purificação das "coisas" no céu constituiu u m dos principais objetivos da morte de Cristo.