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A Reconciliação em Relação ao Homem

Coisas Realizadas por Cristo em seu Sofrimento e Morte

IV. A Reconciliação em Relação ao Homem

O aspecto da obra de Cristo na cruz com relação ao homem é chamado

reconciliação, e é estritamente uma doutrina do Novo Testamento, ou, mais

especificamente, uma realidade tornada possível pela morte de Cristo. As palavras reconciliar e reconciliação ocorrem duas vezes no Antigo Testamento (1 Sm 29.4), onde é meramente aquele que se faria agradável a outro (2 Cr 29.24), onde se refere à oferta feita. As outras passagens do Antigo Testamento assim traduzidas - Levítico 6.30; 8.15; 16.20; Ezequiel 45.15, 17, 20; Daniel 9.24 - devem ser consistentes com o original, e deveriam ser traduzidas

A RECONCILIAÇÃO EM RELAÇÃO AO HOMEM

como expiação. Semelhantemente, Hebreus 2.17 deveria ser traduzida como

propiciação, assim como Romanos 5.11 deveria ser traduzida como reconciliação.

A doutrina do Novo Testamento é, contudo, de grande importância. A raiz grega KaTaWáaaw tem apenas u m significado, a saber, mudar completamente. Esses duas palavras deveriam ser substituídas no texto do Novo Testamento, onde quer que as palavras reconciliar e reconciliação ocorressem (exceto Hebreus 2.17), pois a verdadeira força da passagem seria preservada.

Está escrito: "Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados [mudados completamente] com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Rm 5.10); "Porque, se a sua rejeição é a reconciliação [mudança completa do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?" (Rm 11.15): "se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie [mude completamente] com o marido; e que o mando não deixe a mulher" (1 Co 7.11); "Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou [mudou completamente consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação [mudança completa]" (2 Co 5.18); "e pela cruz reconciliar [mudar completamente] ambos com Deus em u m só corpo, tendo por ela matado a inimizade" (Ef 2.16); "e que. navendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse mudasse completamente] consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus. A vós também, que outrora éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más" (Cl 1.20, 21).

O s dois aspectos da reconciliação são m e l h o r revelados em 2 Coríntios 5.19, 20. No versículo 19 está declarado que o mundo (KÓO\LOÇ, cujo termo nunca por qualquer força de exegese deve representar os eleitos que são salvos dele, está reconciliado com Deus. Essa passagem vital apresenta a verdade que, em e através da morte de Cristo, Deus estava mudando completamente a posição do mundo em sua relação com Ele próprio. A Bíblia nunca assevera que Deus está reconciliado. Se fica suposto que Deus é apresentado como tendo mudado completamente a sua atitude para com o mundo por causa da morte de Cristo, deverá ser lembrado que é a sua justiça que está envolvida. Antes da morte de Cristo, a sua justiça exigia os julgamentos devidos; mas após a morte de Cristo, essa mesma justiça é livre para salvar o perdido.

A sua justiça, assim, não é mudada n e m ela age diferentemente além de ser de perfeita equidade. Portanto, Deus, que vê o mundo mudado completamente em sua relação consigo pela morte de Cristo, Ele próprio não é reconciliado ou mudado. A mesma interpretação é exigida em Romanos 11.15. Não há uma necessidade de ser crítico em demasia neste ponto. Há na cruz uma aparência exterior de atitude mudada da parte de Deus; mas isto pertence antes à propiciação do que à reconciliação. A última não é mais relacionada a Deus em suas realizações objetivas do que à redenção. Certamente a redenção não é relacionada a Deus, nem, em última análise, o é a reconciliação; pois Deus é imutável. Ele é sempre justo, e bom. A propiciação, será ainda visto, não infunde compaixão em Deus; ela antes assegura a liberdade de Sua

parte para exercitar a sua compaixão imutável à parte daquelas restrições que os julgamentos penais de outra forma imponam. Há uma verdade a ser reconhecida com respeito a Deus, a de que em Seu próprio Ser e desde toda eternidade a sua santidade e o seu amor encontraram u m ajuste a respeito do pecador através da morte de seu Filho; mas esta é somente outra abordagem à mesma propiciação divina.

Tem sido alegado que para Deus ajustar o mundo no seu relacionamento com o próprio Deus, da forma como é cumprido no aspecto da reconciliação da morte de Cristo, é universalismo. Assim, presume-se que a reconciliação geral é equivalente à salvação geral. Para evitar tal conclusão, é asseverado que Cristo morreu pelos eleitos somente. Eles somente foram mudados completamente na esfera da relação deles com Deus. De u m m o d o mais convincente, o apóstolo vai para o versículo 20, a fim de afirmar que os embaixadores de Cristo, a quem é confiada a palavra da reconciliação, saem e, no lugar de Deus, rogando aos homens que, de acordo com o versículo 19, já estão divinamente reconciliados com Deus. A palavra rogamos sugere que

eles p o d e m ser ou não reconciliados em resposta aos embaixadores de Deus. O que é pedido que os homens façam? Simplesmente isto: Deus está satisfeito com a solução do pecado pelo que Cristo fez em sua morte, e ao pecador é solicitado que fique satisfeito com aquilo que satisfaz Deus.

Assim, o elemento de fé está presente, e nunca está ausente quando a salvação dos homens está em vista. Então, fica evidente que qualquer que seja a mudança completa que seja indicada - para o KÓo~|ios, de acordo com o versículo 19, não é equivalente à salvação de qualquer pessoa - eleito ou não-eleito - que tornou possível a reconciliação do versículo 20, que é equivalente à salvação. Os não-regenerados são salvos, quando eles individualmente são eleitos para permanecer ajustados com Deus através da morte de Cristo. Esta é, de fato, uma mudança total da incredulidade e rejeição de Cristo para a crença e aceitação de Cristo. Em outras palavras, o valor da morte reconciliatória de Cristo não é aplicado ao pecador no t e m p o daquela morte, mas, antes, quando ele crê.

Esta reconciliação dupla - a do mundo e a que é operada quando o indivíduo crê - está em evidência novamente em Romanos 5.10, 11 - "Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora temos recebido a reconciliação". No primeiro exemplo, a morte de Cristo é dita ter reconciliado "inimigos" com Deus, verdade essa que corresponde com a reconciliação do mundo; no segundo exemplo, "sendo reconciliados" por uma fé pessoal, assim como pelo fato da morte de Cristo, os salvos são mantidos salvos pela presença viva de Cristo como Advogado e Intercessor no céu.

Não pode haver uma pergunta levantada a respeito do fato de que há dois aspectos da reconciliação: u m operado para todos por Deus em seu amor pelo mundo e o outro operado no indivíduo que confia quando ele aceita a Jesus.

A PROPICIAÇÃO EM RELAÇÃO A DEUS