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Pontos de Concordância e Discordância Entre as Duas Escolas do Calvinismo Moderado

Por quem Cristo Morreu?

II. Pontos de Concordância e Discordância Entre as Duas Escolas do Calvinismo Moderado

Primeiro, é uma crença comum a de que todos os homens não são salvos,

Ambas as escolas se uniriam numa rejeição de qualquer forma de universalismo ou restitucionismo. U m grupo muito grande vai ser salvo e u m número também muito grande vai ser condenado.

Segundo, é uma crença comum que a morte de Cristo seja apropriada no

sentido de que ela satisfaria a necessidade de cada homem caído.

Terceiro, é uma crença comum a de que os homens não poderiam ser salvos

por outros meios, a não ser pela morte e ressurreição de Cristo.

Quarto, o Evangelho deve ser pregado a todos, mas a liberdade subjacente

de pregar o Evangelho é diferente dentro de u m grupo em relação ao outro.

Quinto, a fé deve ser operada nos não-salvos pelo Espírito Santo. Sexto, somente os eleitos serão salvos.

Sétimo, o que quer que Cristo tenha feito, seja para o eleito ou não-eleito, é

suspenso na espera da aquiescência da parte dos não-salvos com as condições divinamente impostas. Nenhuma pessoa nascida é perdoada ou justificada.

Oitavo, a crença de um grupo é a de que Deus proporciona salvação para

PONTOS DE CONCORDÂNCIA E DISCORDÂNCIA ENTRE AS DUAS ESCOLAS DO CALVINTSMO MODERADO

a de que Deus providenciou salvação para todos os homens, a fim de que os eleitos possam ser salvos. Ambas as escolas apelam para as Escrituras, embora a primeira seja forçada, por causa de sua natureza restritiva, ao fazer interpretações forçadas das chamadas passagens universais. Será feita referência a essas interpretações forçadas à medida que o capítulo se desenvolve.

Não são requeridas concessões da parte dos que defendem a redenção ilimitada. O sistema deles não é complicado ou confuso. O sistema da redenção limitada admite que o que Cristo fez seria suficiente para salvar os não-eleitos, se eles cressem; mas os ultracalvinistas jamais poderiam admitir que os eleitos seriam perdidos se eles não cressem, visto que sob esse sistema a morte de Cristo por uma alma torna certa para ela em tal grau que não pode ser perdida.

Neste contexto, é bom observar que a salvação é muito maior do que o perdão dos pecados. Não é difícil demonstrar que os pecados são explicados pelo fato de que Cristo os suportou na cruz, mas asseverar que o suportar o pecado seja equivalente à salvação daquele por quem Cristo sofreu, é outra coisa totalmente diferente. Certos aspectos da salvação do homem através de Cristo estão diretamente assegurados através da cruz de Cristo - perdão, vida eterna, justificação, todas as suas posições em Cristo, e alguns aspectos da santificação. Contudo, outros aspectos da salvação — um lugar na família de Deus, adoção, cidadania celestial, acesso a Deus, liberdade sob a graça do sistema meritório — são operados por Deus como a expressão da benevolência divina e estão relacionados com a morte de Cristo somente, embora Deus seja livre, através da morte de Cristo, para agir em favor daqueles que crêem.

Portanto, não somente não é bíblico como também erróneo, sugerir que não há uma distinção a ser vista entre aquele aspecto particular da obra salvadora de Deus na providência de um Salvador, e a obra salvadora de Deus em que as transformações poderosas, que constituem u m cristão no que ele é, são realizadas. Nenhuma responsabilidade de fé é colocada sobre o pecador para proporcionar os valores da morte de Cristo, mas a salvação em si mesma é somente realizada na resposta da fé salvadora. Nada há de inconsistente, se Deus assim deseja, nunca há uma circunstância que deixe mesmo os eleitos num estado de perdidos até que eles creiam; nem há qualquer inconsistência se alguém, por quem Cristo morreu, seja deixado no estado de perdido para sempre. O defensor da redenção limitada considera a morte de Cristo como real para os eleitos e de nenhum benefício para os não-eleitos, enquanto que o defensor da redenção ilimitada considera a morte de Cristo como real para os eleitos e potencial e provisória para os não-eleitos. A noção sem fundamento é a que presume que uma coisa é menos real, porque a sua aceitação pode ser incerta ou condicional.

A avaliação humana do valor imensurável da morte de Cristo em favor dos homens perdidos é de nenhum modo diminuída ou desacreditada pela crença de que o seu valor é recebido no tempo em que a fé salvadora é exercida, ao invés de ser no tempo da morte do Salvador. O defensor da redenção ilimitada de nenhum modo é forçado, por causa de sua crença, a tomar u m segundo lugar na magnificação da obra gloriosa e salvadora do Senhor Jesus Cristo.

O caminho da eleição divina é totalmente à parte do percurso da redenção. Com respeito à eleição, está declarado que "aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou" (Rm 8.30), e nesta grande certeza todo crente pode se regozijar. Com relação à redenção, está escrito que Cristo morreu por homens caídos e que a salvação, baseada nessa morte, é oferecida a todos os que crêem; e que a condenação cai sobre aqueles que não crêem, e com base em que eles recusam aquilo que lhes foi proporcionado. Pareceria desnecessário assinalar que os homens não podem rejeitar o que nem mesmo existe, e se Cristo não morreu pelos não-eleitos, eles não podem ser condenados pela incredulidade (cf. João 3.18). Tanto a salvação quanto a condenação são condicionadas à reação dos indivíduos a uma e a mesma coisa, a saber, a graça salvadora de Deus, tornada possível através da morte de Cristo.

No contexto anterior, a extensão do alcance da morte de Cristo foi considerada. Ao todo, catorze imensuráveis realizações divinas foram listadas. Somente uma porção restrita dessas realizações está envolvida nesta discussão. A luz da obra grande e complexa de Cristo, que alcança as épocas passadas e as vindouras, à nação inteira dos eleitos, a anulação do sistema total meritório, as esferas angelicais, ao próprio céu, o julgamento da natureza pecaminosa, a propiciação pelos pecados do cristão, e o retardamento dos justos juízos contra todo o pecado, a questão de se Ele morreu pelos eleitos ou pelo mundo inteiro é reduzida, comparativamente, a uma questão muito pequena. Os defensores da redenção limitada admitem, com os seus oponentes, que os juízos divinos são pospostos com base numa coisa universal que Cristo realizou em sua morte; mas, o princípio de u m valor universal em sua morte é reconhecido e o passo é, de fato, ainda insignificante desta posição para a ocupada pelos defensores da redenção universal.

Dentro do raio da ação humana, surge um problema que tem sido o ponto de ataque contra os calvinistas pelos socinianos e arminianos — que se Cristo suporta o pecado de cada pessoa, ela deveria beneficiar-se desse sacrifício divino e ser livre do julgamento que o Salvador suportou. Para evitar este problema, os defensores da redenção limitada argumentam que Cristo morreu somente pelos eleitos. Os defensores da redenção ilimitada crêem que, conquanto Cristo tenha morrido provisoriamente por todos os homens, o benefício é aplicado quando a condição de fé pessoal é satisfeita. Os defensores da redenção limitada da escola moderada crêem com seus oponentes que ninguém é perdoado, até que creia, mas falham em resolver o problema para o que o seu sistema foi originado. Para o defensor da redenção ilimitada, a aparente injustiça de u m julgamento cair sobre uma pessoa após Cristo ter suportado aquele julgamento no lugar dela é apenas mais u m mistério que a mente finita não pode entender.

O defensor da redenção ilimitada reconhece duas revelações que são igualmente claras - a de que Cristo morreu pelo cosmos, e a de que a sua morte é a base da salvação para os que crêem e a base da condenação para os que não crêem. Que os homens são salvos sob a condição de fé pessoal e que os

ASPECTOS DISPENSACIONALISTAS DO PROBLEMA

homens são condenados por ausência dessa fé, são ensinos claros do Novo Testamento. E igualmente tão grande mistério aquele que está intimamente relacionado ao problema presente que, embora a fé seja divinamente operada no coração humano, os homens são tratados como se a fé se originasse neles. São abençoados eternamente aqueles que possuem essa fé, e são condenados eternamente aqueles que não a possuem. A alma devota deve reconhecer as suas próprias limitações e aqui, como em qualquer outro lugar, ficar satisfeita em receber como verdadeiro o que Deus falou.

Muitas das verdades incorporadas nestas observações introdutórias serão tratadas mais plenamente nas páginas a seguir. A discussão proposta dessa questão que divide as duas escolas de calvinistas moderados seguirá a seguinte ordem: (a) aspectos dispensacionalistas do problema; (b) três palavras doutrinárias; (c) a cruz não é o único instrumento de salvação; (d) a pregação universal do Evangelho; (e) será Deus derrotado, se os homens por quem Cristo morreu forem condenados? (f) a natureza da substituição; (g) o testemunho das Escrituras.