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Por quem Cristo Morreu?

VIII. A Natureza da Substituição

IX. 0 Testemunho das Escrituras

No progresso da discussão entre os defensores da redenção limitada z os da redenção ilimitada, muitos textos da Escritura são citados por ambas as partes, naturalmente, num esforço feito para cada grupo de harmonizar o que poderia ser visto como conflitante entre essas linhas de raciocínio. Algumas das passagens citadas pelos defensores da redenção limitada são:

João 10.15: "Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a

minha vida pelas ovelhas". Essa orientação é clara, Cristo deu sua vida por seu povo eleito; entretanto, é para ser observado que a eleição de Israel e da Igreja estão referidas neste texto (v. 16).

O TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS

João 15.13: "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida

pelos seus amigos".

João 17.2, 6, 9, 20, 24. Neste texto muito importante da Escritura Cristo

declara que Ele dá a vida eterna a todos os que são dados a Ele pelo Pai; que u m grupo de eleitos lhe foi dado; que Ele ora agora somente pelo seu grupo de eleitos; e que Ele deseja que este grupo de eleitos possa estar com Ele na glória.

Romanos 4.25: "...o qual foi entregue por causa das nossas [a dos eleitos]

transgressões, e ressuscitado para a nossa [a dos eleitos] justificação".

Efésios 1.3-7: Nesta extensa passagem o fato de que Cristo é o Redentor do

seu povo eleito, é declarado com certeza absoluta,

Efésios 5.25-27: Passagem esta em que Cristo é revelado como o que ama a

sua Igreja e entregou-se por ela, para que pudesse fazê-la infinitamente pura e gloriosa, em sua própria posse e habitação.

Ao contemplar essas passagens, e muitas outras do mesmo caráter específico, os defensores da redenção ilimitada asseveram que o propósito principal de Cristo é trazer muitos filhos à glória e que Ele nunca perdeu de vista esse desejo; que isso o moveu em todo o seu sofrimento e morte é sem dúvida, e que o seu coração está centrado naqueles que lhe são dados pelo Pai. Contudo, nenhuma dessas passagens exclui a verdade, igualmente enfatizada nas Escrituras, de que Ele morreu pelo mundo inteiro. Há uma diferença a ser observada entre o fato de sua morte e o motivo dela. Ele facilmente pode ter morrido por todos os homens com a visão de dar segurança aos seus eleitos. Em tal caso, Cristo teria sido movido por dois grandes propósitos: um, pagar o preço do resgate forense por todo o mundo; o outro, garantir o seu povo eleito, o Corpo e Noiva.

O primeiro desses propósitos parece estar implícito em textos como Lucas 19.10: "Porque o Filho do homem veio para buscar e salvar o que estava perdido"; e João 3.17: "Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele", enquanto que mais tarde parece estar implícito em passagens como João 10.15 que diz: "...assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas". As Escrituras nem sempre incluem toda a verdade envolvida no tema apresentado, num determinado lugar. Semelhantemente, se o fato de que qualquer referência ao mundo não-eleito é omitida dessas passagens (que se referem somente aos eleitos) é uma base suficiente para a argumentação de que Cristo morreu somente pelos eleitos, então poderia ser argumentado com lógica inexorável que Cristo morreu somente por Israel (cf. Is 53.8; Jo 11.51); e que Ele morreu somente pelo apóstolo Paulo, pois Paulo declara: "...que me amou, e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2.20).

Assim como poderia ser afirmado que Cristo restringiu as suas orações a Pedro, por causa do fato de ter dito a ele: "Mas eu orei por ti" (Lc 22.32). Para os defensores da redenção ilimitada, esses textos não apresentam sequer uma pequena dificuldade. Eles interpretam estas grandes passagens exatamente como fazem os seus oponentes. Eles crêem na eleição soberana de Deus e no único propósito celestial de juntar todo o povo redimido para a glória celeste. Contudo, os defensores da redenção limitada não são capazes de tratar

facilmente com as passagens que falam da redenção ilimitada. As passagens importantes podem ser agrupadas da seguinte maneira:

1. PASSAGENS Q U E D E C L A R A M A M O R T E D E C R I S T O PELO M U N D O I N T E I R O (Jo 3.16; 2 Co 5.19; H b 2.9; 1 Jo 2.2). Os defensores daredençãolimitada afirmam que o uso da palavra mundo nestes e em outros textos semelhantes é restrito a mundo dos eleitos, e baseiam o argumento no fato de que a palavra

mundo pode às vezes ser restrita ao grau do seu escopo e significado. Eles alegam

que essas passagens universais estão em harmonia com a revelação de que Cristo morreu por um grupo de eleitos, e que devem ser restritas aos eleitos. De acordo com esta inteipretação, João 3.16 seria assim: "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele crê [os eleitos], não pereça, mas tenha a vida eterna". O texto de 2 Coríntios 5.19 seria lido assim: "Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo [os eleitos], não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação". Hebreus 2.9 seria lido assim: "...para que, pela graça de Deus, provasse a morte portodos [daqueles que são eleitos]". 1 João 2.2 seria lido assim: "...e ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo [dos eleitos]". João 1.29 seria lido assim: "Eis o Cordeiro de Deus que tira do pecado do mundo [eleitos]".

U m estudo da palavra cosmos já foi apresentado no volume II. Ali foi visto que usualmente essa palavra se refere a um sistema satânico que é antideus em seu caráter, embora em alguns poucos exemplos ela se refira a pessoas não-regeneradas que estão no cosmos. Três passagens servem para enfatizar a antipatia que se obtém entre os salvos que são "escolhidos do mundo", e o mundo em si mesmo: "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia" (Jo 15.18, 19); "Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo" (Jo 17.16); "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno" (1 Jo 5.19). Todavia, em apoio de uma teoria, é alegado que os eleitos, que o mundo odeia e do qual eles têm sido salvos, é o "mundo". O Dr. Shedd assinala certas passagens específicas: "Algumas vezes ele é o mundo dos crentes, a Igreja. Exemplos deste uso são: João 6.33, 51: 'Porque 0 pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo [dos crentes]'; Romanos 4.13: "Abraão é o herdeiro do mundo [dos redimidos]; Romanos 11.12: '...ora, se o tropeço deles é a riqueza do mundo'; Romanos 11.15: '...porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo'. Nestes textos, 'igreja' pode ser substituída por 'mundo'".38 É uma suposição, totalmente estranha ao

Dr. Shedd, declarar que a palavra ecclesia - chamados - deveria ser substituída pelo termo cosmos nessas passagens. Nenhuma delas exige essa consideração além do sentido normal que lhe é dado a não ser o sistema satânico.

2. PASSAGENS Q U E SÃO ABRANGENTES EM SEU ESCOPO (Rm 5.6; 2 Co 5.14;

1 T m 2.6;4.10;Tt2.11). Além disso, os defensores da redenção limitada assinalam em várias passagens que a palavra todos é restrita aos eleitos. Na verdade, tais passagens

CONCLUSÃO

devem ser restritas, se a causa dos defensores da redenção limitada deve prevalecer - mas são elas propriamente assim restritas? Pela interpretação dos defensores da redenção limitada, 2 Coríntios 5.14 seria lido: "Se um morreu pelos eleitos, então todos os eleitos morreram". 1 Timóteo 2.6 seria lido: "...que deu-se a si mesmo em resgate pelos eleitos, deve ser testificado no tempo devido". 1 Timóteo 4.10 seria lido: "...que é o Salvador dos eleitos, especialmente daqueles que crêem". Tito 2.11 seria lido: "A graça de Deus se manifestou salvadora aos eleitos". Romanos 5.6 seria lido:

"Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos eleitos".

3. PASSAGENS Q U E O F E R E C E M UM EVANGELHO UNIVERSAL AOS H O M E N S

(Jo 3.16; At 10.43; Ap 22.17 etc). As palavras quem quer que (ou aquele que quiser) são usadas ao menos 110 vezes no Novo Testamento, e sempre com significado irrestrito.

4. U M A PASSAGEM ESPECIAL (2 Pe 2.1), onde o falso ensino ímpio dos últimos dias traria repentina destruição sobre aqueles que "negam o Senhor que os resgatou". Os homens são mencionados como resgatados e que negam a verdadeira base da salvação e que são destinados para a destruição.

Duas afirmações podem ser feitas, a fim de concluir esta parte da discussão: (A) A interpretação de João 3.16, que os defensores da redenção limitada oferecem, tende a restringir o amor de Deus àqueles que não são regenerados, em favor dos que são eleitos. Em apoio a isso, são citadas passagens que declaram o amor peculiar de Deus pelo povo salvo. Não há uma questão sobre haver "muito mais" expressão do amor de Deus pelos homens, após terem sido salvos do que antes (Rm 5.8-10), embora o Seu amor pelos não-salvos esteja além da medida; mas asseverar que Deus ama os eleitos em seu estado de nào-regenerados mais do que os não-eleitos, é uma suposição sem prova na Escritura. Alguns defensores da redenção limitada têm sido atrevidos em dizer que Deus não ama os não-eleitos de forma alguma.

(B) O que aconteceria se Deus desse o seu Filho para morrer por todos os homens dessa dispensação num sentido igual, a fim de que todos pudessem ser legitimamente convidados para os privilégios do Evangelho? Poderia Ele, se movido por tal propósito, usar uma linguagem mais explícita do que usou para expressar tal intenção?

Conclusão

Seja dito uma vez mais que discordar de mestres bons e dignos não é algo desejável, para dizer o mínimo; mas quando esses mestres aparecem nos dois lados de u m problema, como na presente discussão, parece não haver alternativa. Por uma inclinação interior da mente, alguns homens tendem naturalmente a acentuar os valores imensuráveis da morte de Cristo, enquanto outros tendem a acentuar os resultados gloriosos da aplicação desses valores na salvação imediata dos perdidos. O Evangelho deve ser entendido por

aqueles a quem ele é pregado; e é totalmente impossível para os defensores da redenção limitada, quando apresenta o Evangelho, esconder com perfeição a sua convicção de que a morte de Cristo é somente para os eleitos. E nada poderia ser mais confuso para as pessoas não-salvas do que serem retiradas de consideração da graça salvadora de Deus em Cristo, quando se estuda a questão se elas são eleitas ou não.

Quem pode provar que elas são da eleição? Se o pregador crê que alguns a quem ele dirige sua mensagem poderiam não ser salvos debaixo de quaisquer circunstâncias, essas pessoas têm o direito de saber o que o pregador crê e logo vão saber. Igualmente, não é totalmente sincero evitar a questão, ao dizer que o pregador não sabe se os não-eleitos estão presentes. Estão eles ausentes de toda pregação? Não é razoável supor que eles estão usualmente presentes quando a vasta maioria da humanidade provavelmente nunca será salva? Nesta discussão deste e de outros problemas a respeito do valor da morte de Cristo, nenhum grande erro poderia ser imposto além do da contemplação filosófica das verdades que são palpitadas de glória, luz, bênção e fervor evangelístico de mesmo um que seja chamado para pregar o Evangelho através de Cristo aos homens perdidos e que seja refreado.

Possa o Deus, que amou o mundo perdido a ponto dele ter dado o seu próprio Filho por este mundo, sempre comunicar essa paixão de almas àqueles que empreendem a comunicação da mensagem desse amor imensurável aos homens!

A O B R A SALVADORA D O D E U S T R I Ú N Q

CAPÍTULO XI